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Centro Universitário FIEO

Ciências Biológicas

Evolução

O mal batizado, maltratado e mal


compreendido alce irlandês
Evolução

O mal batizado, maltratado e mal


compreendido alce irlandês

Professor Dr. Leonardo Marconato

Carla Carloto

Rosangela Pontes

Marcelo Martinelli
Introdução

O alce irlandês não era exatamente um alce e sim um veado, e nem ao menos era
irlandês. A primeira descrição publicada deste animal surgiu em 1697. Descrevia-o como
sendo um animal de tamanho bastante grande e com uma galhada com cerca de 12 pés de
envergadura total, algo bastante significativo em tamanho levando-se em conta que esta
estrutura era trocada anualmente como outros veados.

Estes animais eram chamados de alces irlandeses porque constituíam um grupo


diferente de outros alces encontrados. A primeira descoberta feita fora da Irlanda e Inglaterra
deu-se na Alemanha e o primeiro esqueleto completo achado foi encontrado na Ilha de Man
no Reino Unido em 1820. Hoje sabe-se que o veado gigante habitou, a leste, até a Sibéria e
China e, ao sul, até o norte da África, tendo exemplares encontrados até na Eurásia. O veado
gigante desenvolveu-se durante os últimos milhões de anos, no período glacial, e talvez tenha
sobrevivido até períodos mais recentes na Europa, tendo se extinguido na Irlanda há cerca de
11 mil anos.
A importância no campo da Evolução

A principal importância desta espécie se dá no campo do debate sobre a teoria da


evolução, sendo concentrada a polêmica em duas questões principais:

1. Haveria uma utilidade numa galhada tão volumosa?


2. Porque o veado gigante teria desaparecido?

Molyneux, em 1697, publicou um artigo em que o objetivo seria provar que o animal
ainda viveria: “Que nenhuma espécie real da criatura viva tenha-se extinguido tão
completamente a ponto de estar inteiramente perdida para o mundo, desde a sua
criação, é a opinião de muitos naturalistas; e é fundada em tão bom princípio quanto a
Providência cuidando de todos os seus frutos animais, que merece nosso assentimento”.

Molyneux achava que o alce irlandês e o americano deveriam ser o mesmo animal,
isto foi devido ao fato dele não possuir nem dados e nem uma descrição detalhada do alce
americano. A grande discussão, no século seguinte, foi então saber a que espécie moderna era
originada do alce gigante.

Estudos realizados em 1812 por Curvier, através de minuciosa descrição anatômica,


demonstraram que o alce irlandês não se parecia em nada com nenhum outro animal moderno,
resolvendo assim a questão sobre a extinção.

Resolvido isso a grande polêmica girou em torno de como o alce se extinguiu? Causas
naturais ou causadas pelo homem? Em 1846, Sir Richard Owen conclui que o alce irlandês
havia sido extinto antes da chegada do homem. O que teria então causado seu
desaparecimento? Estes questionamentos só começaram a ser solucionados em quando em
1859, Charles Darwin publicou a Origem das Espécies. Nele a Teoria da Seleção Natural
proposta, exige que mudanças evolutivas sejam adaptativas, quer dizer, que sejam úteis ao
organismo.
A Teoria da Ortogênese e a Hipótese Alométrica

Segundo a Teoria da Ortogênese, a evolução ocorreu em linhas retas, onde a seleção


natural não poderia regular. Certas tendências não poderiam ser contidas uma vez que fossem
iniciadas, mesmo que levasse o animal à extinção.

O alce irlandês seria o melhor exemplo da ortogênese, pois o animal teria se


desenvolvido de espécies menores com galhadas menores. Uma vez que sua galhada foi
atingindo tamanhos maiores e não pode ter seu crescimento contido, essa característica que
embora inicialmente fosse útil acabou por causar sua própria extinção.

Em 1925 o paleontólogo R. S. Lull tentou atacar o darwinismo: “A seleção natural


não responde pela superespecialização, sendo patente que, por intermédio dela, um
órgão pode ser levado à perfeição, mas nunca a uma condição tal que ameaçasse sua
sobrevivência... [como acontece] na grande ramificação da galhada do extinto alce
irlandês”.

Os darwinistas contra atacaram. Julian Huxley notou que à medida que o veado
aumenta de tamanho, a sua galhada não cresce na mesma proporção do corpo e cresce numa
velocidade maior. A essa mudança regular deu-se o nome de Alometria.

A Alometria então veio explicar o porquê daquele tamanho da galhada do alce gigante.
Uma vez que o alce irlandês é o maior de todos os veados, sua galhada enorme poderia ser o
simples resultado da relação alométrica presentes entre todos os veados. E presumindo que o
tamanho do alce fosse resultante de um processo de seleção natural, as galhadas poderiam ter
sido conseqüências automáticas deste crescimento.

Embora a Alometria falasse deste crescimento corporal em relação à galhada, nunca se


havia feito uma efetiva medição desta proporção.

Para se determinar o crescimento alométrico foi comparado então o tamanho da


galhada e o tamanho do crânio, uma vez que para o tamanho do corpo não haveria material
suficientemente conservado e disponível.
As medições feitas mostraram um à correlação positiva entre o tamanho do corpo e da
galhada. Provando que a hipótese alométrica estava correta: o tamanho da galhada crescia
duas vezes mais que o tamanho do corpo.
Considerações Finais

Para os darwinistas do século 19, a galhada gigante destes alces servia para lutas: seja
para afastar seus predadores como para afastar rivais. Estudos modernos de comportamento
animal sugerem que estruturas usadas como “armas” ou para atrair as fêmeas, na verdade
serviam para evitar uma batalha real em combates ritualizados entre machos para se
estabelecer uma hierarquia, antes que ocorresse algum combate mais fatal.

Segundo Valerius Geist, estas estruturas de galhadas e chifres conferem status e acesso
as fêmeas. Essas estruturas como forma de ostentação explicariam a forma espalmada das
galhadas, embora o animal tivesse problemas para girar a cabeça exibindo seus galhos.

O que teria então causado a extinção do alce irlandês (ao menos na Irlanda)? A
resposta seria a mudança de ambiente. Embora estes animais estivessem adaptados as regiões
abertas à mudança do ambiente que ocorreu mais tarde transformando a paisagem em uma
densa floresta não garantiram a adaptação do animal a este novo ambiente. Como diz a
evolução darwiniana onde animal algum desenvolve uma estrutura que lhe seja prejudicial,
mas não dá garantias de que estas estruturas úteis sejam adaptativas em circunstâncias
diferentes.

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