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OU ISTO OU AQUILO Carolina

(Cecília Meireles) corre por entre as colunas


. da colina.
Ou se tem chuva e não se tem sol
ou se tem sol e não se tem chuva! O colar de Carolina
colore o colo de cal,
Ou se calça a luva e não se põe o anel, torna corada a menina.
ou se põe o anel e não se calça a luva!
E o sol, vendo aquela cor
Quem sobe nos ares não fica no chão, do colar de Carolina,
quem fica no chão não sobe nos ares. põe coroas de coral

É uma grande pena que não se possa nas colunas da colina.


estar ao mesmo tempo em dois lugares!

Ou guardo o dinheiro e não compro o Gato pensa?


doce, (Ferreira Gullar)
ou compro o doce e gasto o dinheiro.
Dizem que gato não pensa
Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo . . . mas é difícil de crer.
e vivo escolhendo o dia inteiro! Já que ele também não fala
como é que se vai saber?
Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranqüilo. A verdade é que o Gatinho,
quando mija na almofada,
Mas não consegui entender ainda vai depressa se esconder:
qual é melhor: se é isto ou aquilo. sabe que fez coisa errada.

E se a comida está quente,


A FOCA ele, antes de comer,
(Vinicius de Moraes) muito calculadamente,
Quer ver a foca toca com a pata pra ver.
Ficar feliz?
É por uma bola Só quando a temperatura
No seu nariz. da comida está normal,
vem ele e come afinal.
Quer ver a foca
Bater palminha? E você pode explicar
É dar a ela como é que ele sabia
Uma sardinha. que ela ia esfriar?

Quer ver a foca


Fazer uma briga?
É espetar ela
Bem na barriga!

COLAR DE CAROLINA
(Cecília Meireles)

Com seu colar de coral,


A MENINA AVOADA Sempre a gente só chegava no fim do
Manoel de Barros quintal
E meu irmão nunca via a namorada dele
Foi na fazenda de meu pai antigamente -
Eu teria dois anos; meu irmão, nove. Que diz-que dava febre em seu corpo.

Meu irmão pregava no caixote PARAÍSO - José Paulo Paes


duas rodas de lata de goiabada.
A gente ia viajar.
Se esta rua fosse minha,
As rodas ficavam cambaias debaixo do eu mandava ladrilhar,
caixote: não para automóvel matar gente,
Uma olhava para a outra. mas para criança brincar.
Na hora de caminhar Se esta mata fosse minha,
as rodas se abriam para o lado de fora. eu não deixava derrubar.
De forma que o carro se arrastava no Se cortarem todas as árvores,
chão. onde é que os pássaros vão morar?
Eu ia pousada dentro do caixote Se este rio fosse meu,
com as perninhas encolhidas. eu não deixava poluir.
Imitava estar viajando. Joguem esgotos noutra parte,
que os peixes moram aqui.
Meu irmão puxava o caixote Se este mundo fosse meu,
por uma corda de embira. eu fazia tantas mudanças
Mas o carro era diz-que puxado por dois que ele seria um paraíso
bois. de bichos, plantas e crianças.

Eu comandava os bois:
- Puxa, Maravilha!
- Avança, Redomão!

Meu irmão falava


que eu tomasse cuidado
porque Redomão era coiceiro.

As cigarras derretiam a tarde com seus


cantos.
Meu irmão desejava alcançar logo a
cidade -
Porque ele tinha uma namorada lá.
A namorada do meu irmão dava febre
no corpo dele.
Isso ele contava.

No caminho, antes, a gente precisava


de atravessar um rio inventado.
Na travessia o carro afundou
e os bois morreram afogados.
Eu não morri porque o rio era
inventado.

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