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A TRANSIÇÃ O DO HOMO OECONOMICUS

PARA A SOCIOLOGIA ECONÔ MICA NA


POLÍTICA ATUAL DO ESTADO BRASILEIRO:

O PAPEL DO LULISMO DA TEORIA PARA O MERCADO


Patrícia Roseflâine Gonçalves da Silva; graduando em Ciências Econômicas pela
Universidade Federal de Ouro Preto.

Resumo: Esse artigo objetiva demonstrar como o conceito de homo oeconomicus está
deixando de ser o ponto essencial para a formação de políticas do Estado. Muito se
discute na teoria a respeito da introdução da sociologia nos estudos econômicos (assim
como o inverso). Essa discussão, estritamente teórica, acaba por não ter, ainda,
demonstrado que na prática esse impasse vem sendo solucionado. Como exemplo,
temos as políticas sociais do Estado atual brasileiro, em especial o Bolsa Família,
verificadas principalmente no período conhecido como “Lulismo”, que vem colocando
em xeque a visão anterior de políticas voltadas para uma “massa” nacional. Porém, essa
“massa” não é homogênea encontrando-se grupos diferenciáveis com necessidades
peculiares e distintas. Não cabe a este trabalho se tais políticas são mais eficientes ou
não. Nosso objetivo é trazer à luz como a sociologia econômica está modificando o
mercado brasileiro por meio de políticas sociais voltadas para os grupos. Através da
análise crítica das obras de autores clássicos, como Weber, assim como estudiosos da
sociologia econômica como Bourdieu, Abramovay, entre outros, e autores
contemporâneos sobre a política nacional, chegamos à conclusão que, o mercado está
voltando-se para grupos antes desfavorecidos da sociedade exatamente pela criação de
políticas sociais que visam impactá-los como grupos e não como indivíduos e muito
menos como uma “massa” cujos agentes teriam interesses e necessidades iguais (homo
oeconomicus). Esses pontos serão mais bem detalhados e esclarecidos ao longo deste
trabalho.

Palavras-chave: homo oeconomicus, teoria econômica, sociologia econômica,


mercado, políticas sociais, Lulismo.

1
Introdução

É importante demonstrar como as análises teóricas/acadêmicas vêm sendo


introduzidas na prática de uma sociedade. Confrontando as idéias de diferentes autores
quanto à sociologia econômica e observando a realidade atual da política brasileira
percebemos uma aproximação desses campos.
Foram escolhidos, para defender essa aproximação, textos de autores clássicos
voltados para a análise do conceito de mercado. Também foram utilizados textos que
abordam o tema Sociologia Econômica e artigos que retratam a política social atual do
Estado Brasileiro.
Este trabalho não pretende analisar se as políticas sociais do “Governo Lula” são
de fato eficientes ou se tratam de políticas assistencialistas. Cabe a este, apenas a
utilização de tais políticas como exemplo de como o Estado está interferindo no
mercado por meio políticas não embasadas somente na visão do homo oeconomicus,
mas de uma sociedade cujos grupos precisam de atenção diferenciada (atenção esta,
afirmada pela sociologia econômica).

 A TRANSIÇÃO DO HOMO OECONOMICUS PARA A SOCIOLOGIA


ECONÔMICA NA POLÍTICA ATUAL DO ESTADO BRASILEIRO - O
PAPEL DO LULISMO DA TEORIA PARA O MERCADO

De acordo com Swedberg, a sociologia econômica pode ser definida como a


aplicação de idéias, conceitos e métodos sociológicos aos fenômenos econômicos. Com
bases preliminares nos anos 1980, a sociologia econômica passou por modificações no
início dos anos 1990 expandindo os estudos na área, principalmente na Europa e nos
Estados Unidos, ressalva o autor.
Pierre Bourdieu (1930-2002), francês, filósofo de formação e sociólogo, afirma
serem as pessoas que formam o mercado e, portanto, deve-se tratar a economia como
um fato social e não somente como resultado das escolhas estritamente racionais dos
indivíduos (homo economicus). Defende que, os comportamentos podem ajustar-se à
finalidade, sem passar por cínicos ou oportunistas, na busca da maximização do lucro
individual.
Ricardo Abramovay afirma que “(...) a economia é a ciência que explica

2
como os indivíduos fazem escolhas, enquanto a sociologia dedica-se a mostrar que eles
não têm qualquer escolha a fazer”(p.37, ABRAMOVAY)
Já Cécile Raud-Mattedi, autora especializada em socioeconomia, inicia seu
artigo sobre as idéias de Granovetter, autor contemporâneo e principal sobre a “nova”
sociologia econômica, relatando que, para Granovetter, o seu objetivo não é criticar a
Economia Neoclássica, mas sim reforçá-la pela perspectiva sociológica. Afirma ser
necessário acrescentar as motivações não econômicas ao tratar do comportamento do
ator econômico. Para Granovetter, como afirma Cécile, não se separa a ação econômica
da ação social, sendo a ação econômica socialmente situada e as instituições
econômicas construções sociais (embeddedness). Concordando, portanto, com a idéia de
Bourdieu em ser o mercado formado além do simples interesse individual, mas pela
ação de todo o conjunto de fatos sociais.
Como se observa, são várias as bases teóricas de autores que defendem uma
espécie de “junção” da teoria econômica (cujas bases teóricas fundamentam-se no
conceito de homo oeconomicus) e da sociologia, dando origem, então, à sociologia
econômica. Assim defende Steiner:

“John Stuart Mill explicava que não havia um único economista


que acreditasse que os indivíduos agissem realmente da maneira
como agiria o homo oeconomicus; da mesma forma, sua
representação teórica do mercado não se confunde com
representação do mercado que eles têm enquanto indivíduos.

[...]

É preciso partir do que há de profundo e de importante nessa


representação abstrata de modo a tornar clara a contribuição da
teoria econômica e, assim, registrar essa interface à qual a
sociologia econômica resiste” (p.32, STEINER) 1

Essa discussão, estritamente teórica, acaba por não ter, ainda, demonstrado que
na prática essa junção vem sendo aplicada. Como exemplo, temos as políticas sociais do
Estado atual brasileiro, verificadas principalmente no período conhecido como
“Lulismo”, que vem colocando em xeque a visão anterior de políticas voltadas para uma

1
Onde se lê apresentação abstrata está referindo-se aos modelos baseados no homo oeconomicus.

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“massa” nacional que não é homogênea, encontrando-se grupos diferenciáveis com
necessidades peculiares e distintas.
Em especial, com o programa Bolsa Família (programa de transferência de renda
para as famílias situadas abaixo da linha de pobreza, como define Àquilas Mendes e
Rosa Maria Marques) o Governo adotou uma política que trabalhou um grupo (aqueles
abaixo da linha de pobreza) deixando de considerar uma postura estritamente racional
de que todos os indivíduos possuem o mesmo interesse e necessidades (homo
oeconomicus), ou seja, de que compõem uma “massa” homogênea.
Em vez de uma política voltada para aplicação primeira do “todos”, deu-se
ênfase a um grupo significativo específico cuja alteração em sua renda acarretará
alterações em todo o mercado. Como explica Mendes e Marques sobre o Bolsa Família:

“Esse programa, ainda no dizer oficial, foi criado para combater


a miséria e a exclusão social e para promover a emancipação das
famílias mais pobres (...) em vários municípios brasileiros, os
recursos recebidos constituem a principal fonte de renda,
superando enormemente não só a arrecadação municipal como
as transferências constitucionais, os recursos destinados à saúde
pública, entre outros indicadores. Há municípios em que quase a
metade da população é beneficiada por esse programa
(MARQUES et al., 2004). Todas as pesquisas apontam que as
famílias destinam os recursos para a compra de alimentos,
animando o mercado local”(p. 20 , MARQUES; MENDES)

É o que Luiz Werneck Vianna propôs “(...) a reforma do Estado deve estar
dirigida à sua abertura (...) realizando o seu papel democrático na administração e
composição dos diferentes e contraditórios interesses socialmente explicitados” (p.
36, VIANNA).

No caso do Bolsa Família, ao reduzir o número de famílias abaixo da linha da


pobreza reduz-se a distinção social (mesmo que não a elimine) e insere esse grupo ao
mercado como observado acima por Marques e Mendes.

De maneira geral, verifica-se que, ao reduzir o número de famílias abaixo da


linha da pobreza, consegue-se reduzir a discrepância da heterogenia da sociedade

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brasileira. Por isso, adotar medidas econômicas objetivando os grupos, ou seja, o
conjunto de indivíduos que possuem interesse e necessidades, que não são
necessariamente iguais, mas que se assemelham, é extremamente válido.

Conclusão: Verificou-se com o estudo em questão que, o conceito de homo


oeconomicus está deixando de ser o único ponto, o essencial, para a formação de
políticas do Estado.
Como foi possível observar, são várias as bases teóricas de autores que
defendem uma espécie de “junção” da teoria econômica (cujas bases teóricas
fundamentam-se no conceito de homo oeconomicus) e da sociologia, dando origem,
então, à sociologia econômica.
Logo, percebeu-se ao longo deste trabalho que, o Estado está interferindo no
mercado por meio de políticas não embasadas somente na visão do homo oeconomicus,
mas de uma sociedade cujos grupos precisam de atenção diferenciada (atenção esta,
afirmada pela sociologia econômica). A principal política social adotada para a defesa
dessa junção da teoria econômica com a sociologia na política atual do Estado brasileiro
seria o Bolsa Família.
Este, portanto, reduz o número de famílias abaixo da linha da pobreza inserindo-
as no mercado. Reduz-se, então, a distinção social (mesmo sem eliminá-la). Com isso,
verificou-se que o Governo adotou uma política que trabalhou um grupo (aqueles
abaixo da linha de pobreza) deixando de considerar uma postura estritamente racional
de que todos os indivíduos possuem o mesmo interesse e necessidades (homo
oeconomicus), ou seja, de que compõem uma “massa” homogênea. Este ponto
demonstra a sociologia econômica sendo aplicada na adoção de políticas sociais
brasileiras e não apenas ficando no terreno da teoria resultando em impacto sobre o
mercado.

Referências:

 ABRAMOVAY, Ricardo. “Entre Deus e o diabo. Mercados e interação humana nas


ciências sociais.” Tempo Social, 16 (2), 2004.

5
 BOURDIEU, Pierre. “As Estruturas Sociais da Economia”. Campo das Letras,
2006 (pag.13 a 29) .

 VIANNA, Luís Werneck. “Weber e a interpretação do Brasil”. Novos Estudos,


n. 53. Março de 1999.

 MARQUES, Rosa Maria; MENDES, Áquila. Servindo a dois senhores: as


políticas sociais no governo Lula. Rev. Katál. Florianópolis v. 10 n. 1 p. 15-23 jan./jun.
2007.

 RAUD-MATTEDI, Cécile. “Análise crítica da Sociologia Econômica de Mark


Granovetter: os limites de uma leitura de mercado em termos de redes de imbricação”.
Política e Sociedade. n. 6, abril de 2005.

 STEINER, Philippe. A sociologia econômica. São Paulo: Atlas, 2006, PP. 31-46
(cap. 2: “A sociologia econômica do mercado”).

 SWEDBERG, Richard. “A sociologia econômica hoje e amanhã.” Tempo


Social, Revista de Sociologia da USP, v. 16, n.2. 2004.

 WEBER, Max. Economia e Sociedade. Brasília: UnB, 1991. Vol. I, cap.2: As


categorias sociológicas fundamentais da economia).

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