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A invenção do cachorro

Mapeamento do genoma do cão, um animal com evolução


atrelada à do homem, pode ajudar a curar as doenças
humanas 
Bia Barbosa

Depois do homem, seu melhor amigo. Um grupo


de pesquisadores americanos está mapeando o
genoma do cão, num projeto bem mais ambicioso
do que qualquer um daqueles atualmente
desenvolvidos com insetos e larvas por toda a
parte. A razão é simples: homem e cão têm
histórias evolutivas paralelas e, por isso,
compartilham uma infinidade de doenças
genéticas. Há outras semelhanças notáveis.
Ambas as espécies possuem um código genético
composto de cerca de 100.000 genes. Perto de
90% do DNA é absolutamente idêntico. Não é
tanto se comparado ao do chimpanzé, nosso
parente mais próximo na árvore da evolução, com
o qual compartilhamos 99%. O que importa nesse
estudo, contudo, não é a quantidade, mas a
qualidade. Já se descobriu que somos iguais aos
cães em 21 genes cruciais, cujas mutações geram
problemas de saúde. Pesquisas recentes mostram que 222 das 370 doenças
genéticas caninas conhecidas também afligem os humanos. São males como
epilepsia, surdez, cegueira, malformações ósseas e alguns tipos de câncer.
Identificar os genes que causam doenças em nosso melhor amigo pode ser um
atalho para encontrar seus equivalentes no DNA humano. Um caminho, por sinal,
bem mais barato.

O Projeto Genoma Canino é um primo pobre do Projeto Genoma Humano. Enquanto


o mapeamento de nosso DNA envolve um orçamento de cerca de 800 milhões de
dólares e é cotado na bolsa de valores, o estudo com os cães, que começou há oito
anos, consome uns poucos milhões de dólares anuais. A geneticista Elaine
Ostrander coordena o estudo no Centro de Pesquisas de Câncer Fred Hutchinson,
em Seattle, com a participação de meia centena de pesquisadores em outros
laboratórios dos Estados Unidos e na Europa. Outros 100 centros de pesquisas
contribuem com informações esparsas. Os primeiros resultados dos trabalhos já
começaram a aparecer. Há dois anos, o oftalmologista americano Gustavo Aguirre
localizou o gene causador de cegueira hereditária em dez raças de cães, incluindo o
poodle e o cocker spaniel. A doença é equivalente à retinite pigmentosa que afeta
os humanos. No ano passado, o psiquiatra Emmanuel Mignot, da Escola de
Medicina da Universidade Stanford, descobriu no DNA de dobermanns e labradores
a mutação genética responsável pela narcolepsia, a doença do sono que também
vitima os humanos. "Os cachorros de raça pura são ideais para mapear doenças
genéticas", diz Elaine. "Como têm variabilidade genética pequena e um pedigree
que recua várias gerações, são ideais para mapear doenças humanas."
As incríveis semelhanças entre humanos e cães decorrem dos
séculos de convivência no mesmo ambiente e, até, de terem
compartilhado a alimentação. Estima-se que o cão se tenha
separado do lobo há cerca de 100.000 anos – provavelmente por ter
abandonado a caça e passado a viver dos restos de comida deixados
pelo homem da idade da pedra. O ser humano não apenas
domesticou o animal mas também o moldou a sua vontade. O
processo de criação de novas raças é corriqueiro. A cada geração,
selecionam-se para acasalamento os animais com características desejadas ou mais
bem adaptados a determinada tarefa. Existem atualmente cerca de 500 raças
registradas, do minúsculo chihuahua, de 1,5 quilo, até o dogue alemão, com mais
de 60 quilos. Trata-se da maior variedade de tamanho e forma existente numa
mesma espécie, com a exceção do próprio homem. Ocorreram tantos cruzamentos
que hoje é impossível dizer qual raça está mais próxima do lobo original, mesmo
que algumas se pareçam fisicamente com ele, como o husky siberiano. "Quase
todas as raças que vemos hoje surgiram no final do século XIX", diz a bióloga
portuguesa Isabel Amorim do Rosário, pesquisadora da Universidade da Califórnia,
em Los Angeles.

Nessa busca por animais perfeitos o homem cometeu um erro. "Para


garantir os aspectos que queriam, criadores cruzavam animais com
alto grau de parentesco", explica o americano Donald Patterson,
professor de genética da Universidade da Pensilvânia. Quando isso
ocorre, multiplica-se o risco de surgirem doenças genéticas. Foi o
que aconteceu. Os pastores alemães, por exemplo, têm elevada
incidência de distrofia muscular. A alta taxa de doenças genéticas em algumas
raças ajuda o trabalho dos pesquisadores. Como elas se manifestam em um grande
número de espécimes da mesma raça, são mais facilmente identificadas nos cães
do que no homem. Esse é outro motivo pelo qual os pesquisadores estão tão
interessados em destrinchar o genoma canino. Se as pesquisas continuarem nesse
ritmo, poderemos identificar praticamente todas as doenças genéticas dos cães e
promover uma verdadeira revolução na veterinária. "Quando estiverem mapeadas,
será possível fazer o caminho inverso e eliminá-las, por cruzamentos seletivos, nos
próximos vinte anos", diz Gregory Acland, pesquisador do Instituto de Saúde
Animal James A. Baker, da Universidade Cornell, nos Estados Unidos.

Genoma do gato é decodificado


Thursday, November 1st, 2007

Uma equipe de cientistas americanos decifrou o genoma do gato doméstico, o sétimo


mamífero a ter os genes completamente identificados. O trabalho abre um novo campo
de investigação médica para esses felinos, mas também para os humanos.

A pesquisa, publicada no jornal Genome Research (o jornal é para assinantes; ver


análises, em inglês, do Science Daily e do National Geographic), foi realizada no DNA
de um gato da espécie abissínio, de quatro anos, chamado Cinnamon (canela), com
linhagem remontando a várias gerações na Suécia.

Cinnamon é atualmente objeto de uma análise comparativa com outros trabalhos


genéticos já conduzidos sobre gatos, assim como os genomas de outros mamíferos.

Os cientistas do Laboratório Cold Spring Harbor, de Nova York, identificaram 20.285


genes formadores do genoma do gato. Para tanto, analisaram as semelhanças entre o
genoma do felino e dos outros seis mamíferos já seqüenciados: homem, chimpanzé,
camundongo, cão, rato e vaca.

O gato doméstico é um excelente modelo de investigação para estudar as doenças


humanas e, por isso, a análise do genoma desse felino pode levar a descobertas médicas.

Esses animais sofrem mais de 250 problemas hereditários, dos quais boa parte é similar
a patologias genéticas humanas, afirmam os pesquisadores.

O gato pode ser também um modelo de estudo sobre doenças infecciosas como a Aids.
O FIV (vírus da imunodeficiência felina) é geneticamente próximo ao que afeta o ser
humano, o HIV.

Os cientistas conseguiram ainda identificar milhares de mutações que podem servir para
determinar a origem genética de doenças hereditárias comuns.

A decodificação do genoma do gato provavelmente também pode gerar tratamentos que


permitam cuidar melhor desse animal doméstico. A sociedade protetora dos animais
estima que existam hoje cerca de 90 milhões de gatos nos Estados Unidos.

O projeto do genoma do gato é dirigido pelo Instituto Nacional do Câncer dos Estados
Unidos em Frederick, Maryland. O Cinnamon cobaia desse experimento vive em uma
colônia de gatos da Universidade de Missouri, Columbia.

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