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POESIA Ou se ao menos julgasse que sim

Falaria com um ar afectado


Ser Poeta Aprenderia Latim
Ser Poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija! Só faria canções eruditas
É ser mendigo e dar como quem seja E se as ditas ninguém entendesse
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor! Rematava com frases bonitas
P'ro que desse e viesse
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja! Refrão:
É ter cá dentro um astro que flameja, Eu não sou poeta, não
É ter garras e asas de condor! Não sou poeta
Nunca fui um grande sofredor
É ter fome, é ter sede de Infinito! Eu não sou poeta, não
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim... Não sou poeta
É condensar o mundo num só grito! Não te sei falar de amor

Carlos Paião
E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma e sangue e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda gente!
Pó de Arroz
Florbela Espanca
Pó de Arroz,
Na face das pequenas
Será beleza apenas, só
Eu Não Sou Poeta Uma corzinha com
Quem me dera saber Pó de arroz
Fazer versos, rimar
Para um dia escrever Rosa é, mulher o pôs
Que tu és a mulher que eu quero amar E o homem vai nas cenas
Eva e Adão outra vez
Quem me dera fazer poesia É como enfeitar um embrulho
Inspirada na minha paixão Arroz com gorgulho talvez
Inventar sofrimento, agonia,
O amor de Platão (Refrão)
Pó de arroz
Quem me dera chamar-te de musa Do teu arrozal
Em sonetos e coisas que tais Esse pó que é fatal
Uma escrita solene e confusa És a tal que me encanta com
Com palavras a mais Pó de Arroz
Não faz nenhum mal
Refrão: É de arroz integral
Eu não sou poeta, não Infernal, quando chegas com
Não sou poeta Todo o teu arroz (bis)
Nunca fui um grande sofredor
Eu não sou poeta, não Pó de Arroz
Não sou poeta Tens hoje só pra mim
Não te sei falar de amor Pós de perlimpimpim
És um arroz doce sim
Mas seu eu fosse poeta dotado
Pode ser
Um canto de sereia
Serei a tua teia
E tu serás meu algoz
Baile da biblioteca
Mas quando te vais alindar
Sou o vosso professor
Alindada vens dar-me o arroz
E sei de um baile de gala
Carlos Paião Que se dá todas as noites
Nas estantes da tua sala

Orlando De Vez Em Quando Olha Ulisses o Argonauta


A dançar com o mar à proa
 Sou um patinho assim assim Aquele é o senhor Fernando
Não há quem repare em mim A dançar com a sua Pessoa
Não sou triste nem zangado
Eu sou só um pouco reservado Olha o mestre Gil Vicente
Entre a raínha e o bobo
Não sou loiro não sou alto E aquele à frente é o Aleixo
Não corro muito depressa É o poeta do povo
Não tenho tempo de salto
É o baile, é o baile, é o baile
Não remato nunca de cabeça
É o baile, é o baile, é o baile
É o baile, é o baile, é o baile, é o baile
Eu sou o Orlando
Da biblioteca
E só venho à escola
De vez em quando Sai o Zorro de rompante
Numa lombada de couro
Os dias lá no meu meio A declarar ser migrante
São muito mais não que sim Para a ilha do tesouro
Não sou um patinho feio
As águas é que fogem de mim Ao piano o Conde d'Abranhos
Não dá sinais de abrandar
Se as águas fossem iguais É preciso o sol nascer
Para quem começa a nadar Para o baile acabar
Talvez eu viesse mais
Como se anda Dom Quixote
Talvez até ousasse voar
Largando da mão a lança
Vamos dormir criaturas
Eu sou o Orlando
Que amanhã também se dança
E só venho à escola
De vez em quando É o baile, é o baile, é o baile
É o baile, é o baile, é o baile
Se alguém se lembrar de mim É o baile, é o baile, é o baile, é o baile
E disser o Orlando não veio Da biblioteca
Digam-lhe que eu hoje vim
Carlos Tê
Mas fiquei sozinho no recreio

Eu sou o Orlando
E só venho à escola
De vez em quando Carlos Tê
A Corrente de Jogo És como sofrer um golo
Contra a corrente do jogo
Na toada do Inverno
Quando o frio dá o mote Carlos Tê
Não há maior riqueza
Que ter em cima um capote
O Deserto de Sara
Mas mal uma bola pincha
O sol brilha-me no rosto A minha amiga Sara
Atrás dela um compincha Deita sempre má cara
Cada um logo ao seu posto Quando a chamam ao quadro
Não sabe a matéria dada
Sinto-me que nem archote Fica tensa e não diz nada
Já em mangas de camisa
E tu ó meu rico capote Ela tem uns olhos verdes
Já és poste de baliza De uma tristeza de musgo
Onde correu muita água
Toca, toca, toca a campainha Onde secaram caudais
És balde de água no fogo Rios e rios de mágoa
És como sofrer um golo
Toca, toca, toca a campainha É como se em cada dia
És como sofrer um golo Haja uma travessia
Contra a corrente do jogo Longa de mais para fazer
Mas que deserto é o teu ?
Venha lá o Universo
Venha o Sistema Solar Quem me dera um oásis meu
Quanto a mim não há melhor Plantava-o na tua cara
Que ter bons pés para fintar Para ver a jóia dar
Que é o teu sorriso Sara
Venha o corpo em pormenor
Falanginha, falangeta Sara, Sara
Quanto a mim não há pior Sara, Sara...
Que ter na equipa um perneta
Dizem que acontece a quem
Foi tão breve o intervalo Tem o pai longe da mãe
E o jogo ainda empatado Parte-se ao meio a pessoa
Quem nos dera o regalo Anda-se um tempo a toa
De a seguir haver feriado Leva muito a ficar bem

Toca, toca, toca a campainha Pus-lhe a mão no cabelo


És balde de água no fogo E arranquei-lhe um sorriso
És como sofrer um golo Ouço nela um apelo
Toca, toca, toca a campainha Tenho um vazio em mim
És como sofrer um golo A quem me ajuda a enchê-lo
Contra a corrente do jogo (bis)
É como se em cada dia
Toca a campainha Haja uma travessia
Toca a campainha Longa de mais para fazer
Toca a campainha Mas que deserto é o teu ?
Quem me dera um oásis meu Canção dos Cinco Dedos
Plantava-o na tua cara
Para ver a jóia dar São cinco dedos,
Cada qual com seus segredos,
Que é o teu sorriso Sara
Lado a lado, lado a lado.
Do teimoso polegar,
Sara, Sara
Sara, Sara... Que dá dedadas, a agarrar,
Ao mais fininho, o mindinho.

Cinco dedos
A Fonte das Palavras São cinco bons brinquedos
A fonte das palavras Em sincronização.
É uma fonte de água viva
Jorra desde Adão e Eva Um por um aqui estão,
Para dar o nome às coisas, Resguardados no dedal da nossa mão.

que eram órfãs à deriva O dedo médio


Fica ao meio, que remédio,
Todas as línguas são águas É sina sua, capicua…
Umas vivas, outras mortas O altivo indicador
Umas ditas estrangeiras Aponta o bem, indica a dor.
Mas todas regam bem as hortas e cumprem função E o anelar dá jeito a quem noivar.
nas ribeiras
Polegando,
Ver as águas a passar Palmo a palmo palmilhando,
Debaixo daquela ponte Como um circo em construção.
Vão ver o mar e ao chegar
Trazem o mar à velha fonte Um por um aqui estão.
São diferentes, mas, unidos, dão a mão.
A fonte das palavras
Já falou grego e latim E assim como a cinco, sinto os dedos musicais.
E se agora fala inglês E os meus cinco sentidos, em crescendo, já são mais
Na corrente é assim, Cinco dedos sincopados sustenizam num bemol,
Mudam o som de quando em vez Dó ré mi fá sol lá cinco, simples, simples como o sol
E brinco com afinco,
Ver as águas a passar Queria ser um girassol…
Debaixo daquela ponte
Vão ver o mar e ao chegar (Até para ser dedo é preciso ter unhas…)
Trazem o mar à velha fonte
São cinco dedos,
A fonte dos sinónimos. São delícias, são enredos
A velha fonte Dedicados, dedilhados…
A fonte dos antónimos, E, num dédalo de dedos,
A velha fonte Deduzimos a lição:
A fonte dos Jerónimos, São amigos que nós temos mesmo à mão!
É a nossa fonte…
Sempre à mão…
Carlos Tê
Carlos Paião

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