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FACULDADES MONTENEGRO

INTRODUÇÃO A CIÊNCIA DA LINGUÍSTICA


CURSO: LETRAS
PROFª ESP.: XEILA MAIANE DA SILVA FREITAS

LINGUÍSTICA COMO CIÊNCIA

1. CIÊNCIA, LÍNGUA E LINGUAGEM

Por que estudar língua?


A resposta a esta pergunta parece óbvia. Se todos falamos, nos comunicamos,
interagimos com nosso interlocutor naturalmente, qual é a necessidade – então- de
estudarmos língua, se já fazemos uso dela a priori sem problemas.
Pois bem, a priori!
Nas situações de comunicação em que nos encontramos, já ouvimos de alguém:
o que é mesmo que queremos dizer? Ou nós próprios falamos: Não foi bem isto que eu
quis dizer. Entendeste mal. Ora, tal fato denota que pode haver problemas em nossa
forma de expressar as idéias. Nosso desempenho está condicionado ao domínio que
podemos ter do idioma através do qual nos comunicamos.
Outras perguntas surgem e poderão ser respondidas, no todo ou em parte, através
de estudos de língua e de linguagem. Vejamos os exemplos a seguir, quando uma
criança começa a falar, o que será que acontece em sua mente? Quando alguém aprende
duas línguas ao mesmo tempo, será que consegue dominar as duas? Quando alguém
sofre um acidente e tem problemas no funcionamento de seu cérebro, afetando a
linguagem, será que poderá recuperar a sua fala? Por que os falantes de uma mensagem
língua podem falar com sotaques diversos?
O que nos permite entender uma mensagem, sem que dominemos
“perfeitamente’’ o código lingüístico? Por que um texto bem escrito pode resultar
incoerente? Como é possível entender imagens sem texto e texto sem imagens? Por que
nosso interlocutor nos entende, mesmo se nos expressamos, incorrendo em falhas? Por
que trememos a voz sob forte emoção? por que atropelamos as palavras em algumas
situações?
Estes e muitos outros questionamentos poderão ser respondidos certamente, se
conhecermos os mecanismos de funcionamentos da própria língua. A vida em sociedade
requer uma compreensão dos processos que envolvem a linguagem de modo geral e a
língua de modo especifico. Somente com este conhecimento nos será possível
compreender situações de comunicação as mais diversas, bem como solucionar
problemas de origem lingüística, visando o bem estar do homem na sociedade.
Quando ouvimos uma musica, somos capazes de reconhecer a língua estrangeira
na qual ela é cantada. Com isto é possível? Ouça musicas em língua estrangeira e faça
você mesmo o teste, você às vezes reconhece?
A identidade da língua em que cada musica é apresentada torna- se possível
devido ao nosso conhecimento de mundo em primeiro lugar, caso não dominemos as
línguas estrangeiras em questão.
Quem de nós nunca ouviu japonês? Por certo, todos já ouviram alguma vez,
música árabe e musica alemã. Como as reconhecemos? Naturalmente o ritmo se torna

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inconfundível em se tratando, por exemplo, de música tocada por uma banda alemã. E o
canto gregoriano? A cultura geral nos permite reconhecer vozes de monges entoando
orações sem acompanhamento de instrumentos musicais. Como tudo isto é possível?
Somos observadores na vida em sociedade, e já a atenção espontânea nos alerta
para tudo o que ouvimos. Nossa memória registra tudo o que para nos passa a ter algum
significado. Fazemos a associações com o que já conhecemos. Aliamos os novos
conhecimentos às informações resultantes de leituras anteriores. A tudo somamos nossa
experiência de vida.
Assim, constatamos o quanto estudos em linguagem, entre outros fatores,
considerando também a interdisciplinaridade, nos permitirão uma compreensão maior
dos próprios fatos da vida, permitindo – nos uma interação cada vez mais significativa
com o outro. Oportunamente trataremos do fato, especificamente, ao estudarmos a
abordagem global de textos.
Iniciamos, a partir de tais questionamentos, nossa incursão pelo mundo da
ciência que tem a língua como seu objetivo de estudo, a lingüística.
O campo da lingüística é “dividido por meio de três dicotomias: sincronia vs.
Diacronia; teórica vs. Pratica e micro – vs. Macrolinguística”.
Por microlinguística se compreende o estudo da língua em si mesma , a sua
fonética, fonologias, morfologia, sintaxe, semântica e lexicologia. A macrolinguística se
ocupa de estudos de língua sob uma visão ampla, isto é verificando o que acontece com
a língua nas suas relações na sociedade de modo geral. A macrolinguística inclui
estudos em lingüística de texto, analise da conversação, pragmática, sociolingüística,
psicolingüística, analise do discurso, neurolinguística, lingüística histórica.

2. TEORIA DOS SIGNOS

Ao falarmos sobre língua no início deste tópico, referimo-nos a ela como um


conjunto de signos, ou seja, como algo que substitui alguma coisa para alguém. Por
exemplo, se passamos em frente a um edifício e vemos fumaça nas janelas dos
apartamentos, pensamos em um incêndio, fogo. A fumaça é significante para a idéia de
fogo. Ou ainda, se damos “bom dia” a alguém, estamos articulando sons significativos.
Este enunciado é significativo e pode desencadear um comportamento lingüístico (um
sorriso) sobre quem recebeu a saudação. Desse modo, os signos são uma forma de
apreensão da realidade, e nós, enquanto falantes, criamos conceitos para as palavras e
esses conceitos organizam a realidade1.
Segundo Saussure, o signo lingüístico é a união de um conceito (significado)
com uma imagem acústica (significante), que não é o som emitido, mas a impressão
psíquica do som, ou seja, a impressão que temos quando pensamos em uma palavra,
mas não a pronunciamos.
O signo lingüístico é considerado uma entidade bifacial e indiissolúvel. É
bifacial porque possui duas faces (significante e significado), como em uma moeda e é
indissolúvel porque ambas as faces são necessárias, uma vez que não há significante

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. As línguas organizam a realidade de formas diferentes. Por exemplo, em português, a
palavra carneiro significa tanto o animal como a porção de carne do animal servida à mesa
para comer. Já em inglês, temos duas palavras para definir o que exprimimos com apenas a
palavra carneiro em português: sheep (carneiro, animal) e mutton (porção do carneiro pronta
para comer).

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sem significado, pois o significante sem o significado é somente um objeto, que existe,
mas não significa e o significado sem o significante é impensável.
O signo lingüístico, segundo Saussure, apresenta duas características principais:
a linearidade e a arbitrariedade.
A linearidade diz respeito à combinação dos elementos que o compõem, isto é,
estes se apresentam sucessivamente. Por exemplo, os fonemas, as sílabas, as palavras
não ocupam o mesmo lugar no tempo e no espaço. Assim, a seqüência / K A N E T A /
só pode ser realizada nesta ordem.
Já a arbitrariedade, segundo Saussure, afirma que não há uma relação necessária
entre o conceito e a seqüência de sons de uma palavra. Por exemplo, o significado de
caneta não possui nenhuma relação intrínseca com uma seqüência de sons
(significante) / K A N E T A //. Na verdade, o significado de caneta poderia ser
representado por qualquer outro significante. No entanto, como o signo lingüístico é
social, a arbitrariedade não significa que o significado dependa da livre escolha do
falante, pois um indivíduo não pode mudar o significado de uma palavra.

3. A CLASSIFICAÇÃO DAS LÍNGUAS

A Lingüística também se interessa por organizar, segundo critérios


científicos, as diversas línguas humanas. Esta tarefa é realizada pelo método
comparativo, que tem como objetivo agrupar as línguas em blocos ou famílias, de
acordo com suas características, propriedades estruturais (traços fonético-fonológicos,
morfológicos ou sintáticos);
Este tipo de classificação é denominado de classificação genética. Segundo
Câmara Jr. (1974), este tipo de classificação acredita que existiu uma protolíngua2.
O primeiro bloco de famílias lingüísticas que foi melhor depreendido e
esclarecido foi o das línguas indo-européias. Essas línguas originaram-se há uns 3000
a.C. em uma região meridional da Rússia, por meio de movimentos migratórios, que a
trouxeram para a Ásia e Europa e também devido à evolução lingüística e ao contato
com outros povos, esta protolíngua permitiu uma diferenciação entre diversas línguas
cognatas.
As classificações das línguas, segundo critérios genéticos, foram realizadas
pelo alemão Jacob Grimm e pelo dinamarquês Karl Verner, que se baseavam nas
mudanças sonoras, portanto, em aspectos fonológicos para estabelecer o parentesco
entre as línguas. Assim, as semelhanças entre uma língua e outra permitiam hipotetizar
que no passado essas línguas pertenceram a uma única língua, a língua comum ou
língua-mãe.
O alemão Augusto Schleicher, no século XIX, fez um diagrama em árvore
que ilustra o relacionamento genético entre as línguas:
A

B C D

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Protolínguas segundo Lyons (1987), são construtos hipotéticos sobre a existência da relação genética
entre duas ou mais línguas comprovadas. Por exemplo, o protogermânico é tido como um ancestral das
línguas germânicas, como o inglês, o alemão, o sueco, etc.

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No diagrama, A representa a língua-mãe, e as línguas B, C e D são consideradas
línguas-irmãs entre si. Por exemplo, o latim seria a língua-mãe do francês, português,
italiano e espanhol.

Latim (Língua-mãe)

francês português italiano espanhol


(Línguas-irmãs)

O critério genético de classificação das línguas não é o único a ser utilizado


para tal fim. Existe, pelo menos, outra classificação: as extralingüísticas. Estas agrupam
critérios: o antropológico, o cultural e o geográfico.
O critério antropológico relaciona as línguas com as raças humanas,
condição não aceita pela Lingüística.
O critério cultural acredita que há semelhanças entre as manifestações
culturais de um povo e sua língua. Este critério também não é aceito pela Lingüística,
pois uma língua pode exprimir qualquer cultura. Assim, não existem culturas nem
línguas inferiores ou superiores, simples ou complexas.
Já o critério geográfico une idioma e território, elo também não admitido
pela Lingüística.
Segundo Câmara Jr (1974), este critério só é aceito cientificamente, quando
uma região é utilizada para estudar as características lingüísticas da comunidade de fala
presente naquele lugar.
Na verdade, a classificação de uma língua não depende de fatores
geográficos, pois uma língua é produto da mente coletiva de um povo, repassada por
meio de geração como uma herança social. De fato, é o contato que facilita a difusão de
uma língua e não o solo, o lugar geográfico propriamente dito.
Lyons (1987) ainda enumera os troncos que originaram as diversas línguas
humanas. Assim as línguas eslavas, como o russo, o polonês, o theco, o búlgaro, dentre
outras, originaram-se de um mesmo ancestral, o proto-eslavo, já as línguas latinas ou
neolatinas entre elas, o português, o espanhol, o francês e italiano originaram-se do
chamado proto-romance.

4. SISTEMA DE ESCRITAS

“A escrita é uma das maiores descobertas da historia, talvez a maior, exatamente


porque é ela que torna possível a Historia”(Robinson, 1995 ).
Normalmente automatizamos de tal forma o ato da leitura no seu primeiro
estágio, isto é, na decifração do código, que sequer questionamentos a nossa própria
competência lingüística. Só podemos ler, porque somos capazes de decifrar
determinados códigos, e ate mesmo pensar em um milagre. ( idem, 1995).

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Robinson apresenta os seguintes questionamentos, por exemplo, a partir dos
hieróglifos egípcios como estes pioneiros da escrita aprenderam sua arte no período
compreendido entre os anos 4 000 e 5 000? Como representaram a língua e
pensamentos com símbolos? Como foram decifrados após século de silencio? Será que
as escritas atuais diferem das antigas? Será que os hieróglifos chineses e japoneses se
assemelham aos hieróglifos egípcios? Finalmente, que tipos de homens foram os
primeiros escribas, e que informações, idéias e sentimentos eternizaram?
Tais reflexões procedem se considerarmos as implicações do processo de escrita
nas mais diversas perspectivas.
Dubois ET AL.(1973) conceituam escritas como uma representação da língua
falada por meio de signos gráficos. Trata – se de um código de comunicação de segundo
grau com relação á linguagem, que por sua vez é um código de comunicação de
primeiro grau. A fala se desenrola no tempo e desaparece: a escrita tem como suporte o
espaço que a conserva.
Anteriormente mencionamos que dependemos da escrita para conhecermos a
própria Historia. Enfatizamos, pois que somente através da oralidade não nos seria
possível conhecer determinadas culturas, quando elas não dispuserem do registro
escrito, isto é quando se tratar de comunidades ágrafas. Pensemos nas comunidades
indígenas. Como preservar a cultura, se maioria das comunidades restantes (já que a
maioria foi extinta ) é grafa? Esforços precisam ser enviados, sob pena de se perderem
valores culturais ímpares.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARVALHO, Castelar de. Para compreender Saussure. Rio de Janeiro, Petrópolis:


Vozes, 2003.
FIORIN, José Luís. Teoria dos signos. In: FIORIN, José Luis (org.), Introdução à
Lingüística. Vol.1, São Paulo: Contexto, 2004.
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Lingüística Geral. São Paulo: Cultrix, 1999.
ORLANDI, ENI Pulcinelli. O que é Lingüística? São Paulo: Brasiliense, 1999.
CÂMARA JR. Princípios de Lingüística Geral. Rio de Janeiro: Acadêmica, 1974.
LYONS, Jonh. Linguagem e Lingüística. Rio de Janeiro: Guanabara

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