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100 anos com o

núcleo atômico
Há exatos 100 anos, um dos maiores cientistas de todos os tempos,
o físico neozelandês Ernest Rutherford (1871-1937),
faria um anúncio que mudaria para sempre os rumos da ciência:
o átomo tem uma região central ultraminúscula, na qual está
concentrada toda sua carga elétrica positiva e praticamente toda sua
massa. Esse caroço central foi batizado por ele de núcleo atômico.
O conhecimento sobre essa diminuta região de matéria
e as tecnologias daí decorrentes vêm desde então proporcionando
à humanidade melhor saúde, conforto e bem-estar.

Odilon A. P. Tavares
Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (RJ)

Figura 1. Breve cronologia sobre a


física atômica no período 1896-1910
J. J. Thomson (1856-1940) Becquerel
No final do século 19 e início do século 20, conclui que os raios identifica os raios
importantes descobertas, tidas mesmo como catódicos são corpúsculos beta como sendo
revolucionárias na ciência, foram feitas sobre menores que o átomo. elétrons energéticos.
fenômenos inteiramente novos, que chegaram Mais tarde, essas
a causar nos cientistas da época certa partículas ganhariam
perplexidade, espanto e até mesmo cepticismo o nome elétron.

1896 1897 1898 1900

O físico francês Antoine Henri O físico francês Pierre Curie (1859-1906)


Becquerel (1852-1908) e sua mulher, a física e química polonesa
descobre a radioatividade, Marie Sklodowska Curie (1867-1934),
um novo tipo de radiação, descobrem dois novos elementos
invisível, espontânea, de origem radioativos, o polônio e o rádio; e Rutherford
desconhecida, emitida pelos conclui que as radiações do urânio eram de
sais de urânio e de tório, dois dois tipos, ambas de natureza corpuscular,
elementos então conhecidos. nomeando-as raios alfa e beta.

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SICA

m 1898, Rutherford, então com 27 anos, aceitou o hon-


roso cargo de Professor na Universidade McGill, em
Montreal (Canadá), onde permaneceria por nove anos.
Três anos antes, ele havia sido agraciado com uma
bolsa de estudos e deslocou-se de Christchurch (Nova
Zelândia), onde havia se formado no Canterbury Col-
lege, para a Universidade de Cambridge (Inglaterra),
onde trabalharia sob a tutela do físico inglês Joseph
John Thomson (1856-1940), descobridor do elétron.
Aquele final de século era um período de grande
entusiasmo científico, sobretudo para os físicos e químicos, em
função da descoberta de novos fenômenos, relatados brevemente
na cronologia da figura 1.
O período canadense seria frutífero na carreira de Rutherford.
Lá, ele dispunha de um laboratório bem equipado e um bom esto-
que de brometo de rádio, na época um composto raríssimo e, por
isso, bastante caro. Um ano depois de sua chegada, descobriu um
gás nobre, radioativo, que, mais tarde, recebeu o nome radônio. >>>

Rutherford e o O físico japonês Rutherford e o físico


químico inglês Hantaro Nagaoka inglês Thomas Royds
Frederick Soddy (1865-1950) publica seu modelo (1884-1955)
(1877-1956) atômico no qual um caroço central de identificam os raios
descobrem a massa elevada e carga positiva é rodeado alfa como sendo
transmutação dos de anéis contendo os elétrons. O modelo átomos do gás hélio
elementos ganhou o nome ‘átomo saturniano’, por sua duplamente
radioativos. semelhança com o planeta e seus anéis. ionizados.

1902 1903 1904 1908 1909 1910

J. J. Thomson lança, em palestra O físico francês


na Universidade de Yale (EUA), a ideia de que Jean Perrin (1870-1942)
o átomo é um substrato esférico de matéria divulga resultados Rutherford propõe
carregada positivamente, onde experimentais que seu modelo de átomo
estariam dispersos, de maneira acabam com as dúvidas com um núcleo
uniforme, os elétrons. sobre a veracidade diminuto, confirmado
Esse modelo ganhou o sugestivo da teoria atômica experimentalmente
nome ‘pudim de passas’. da matéria. por sua equipe.

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Figura 2. Transmutação dos elementos radioativos Elemento Família do urânio Família do tório
na ‘árvore genealógica’ do urânio e do tório,
segundo notação da época de Rutherford. Urânio UI UII
Mediante desintegrações sucessivas alfa (setas
verticais) e beta (setas inclinadas), urânio e tório UX2
acabam, com o tempo, transformando-se em chumbo Tório UX1 Io Th RdTh
(elemento estável), após terem gerado elementos
radioativos em série (rádio, radônio, polônio, bismuto) MsTh2

Rádio Ra MsTh1 ThX

Radônio Rn Tn
Em Montreal, Rutherford conheceu
o químico inglês Frederick Soddy (1877-
1956), que se tornou seu assistente e cola- Polônio RaA RaC’ RaF ThA ThC’
borador por anos. Juntos, em 1902, fariam Bismuto RaC RaE ThC
uma descoberta importante: um elemento se
Chumbo RaB RaD Ra-G ThB ThD
transforma (ou se desintegra, ou decai) em (estável) (estável)
outro, em decorrência da emissão espontâ-
nea de raios alfa ou beta. Essa é a chamada
transmutação dos elementos radioativos.
Nessa época, Rutherford propôs a ‘árvore genealógica’ Manchas e bordas mal definidas_Ainda em
das famílias de dois elementos radioativos, o urânio e o Montreal, Rutherford havia observado, em uma câmara
tório (figura 2). Concluiu ainda que as par­tículas alfa emi- de vácuo (caixa de onde se retirou o ar), que raios alfa es-
tidas pelo rádio e o radônio tinham car­ga elétrica positi­va, tavam sendo ligeiramente desviados de sua direção inicial,
por causa dos desvios observados quando elas passa­vam quando passavam através de folhas de mica muito finas
por campos elétricos fortes. Nessa mesma ocasião, Soddy (cerca de três centésimos de milímetro). O feixe de alfas
e o químico escocês William Ramsey (1852-1916) obser- produzia uma mancha mal definida – um ‘borrão’ – em um
varam algo igualmente im­portante: o gás hélio era emitido filme fotográfico.
por sais de rádio. Nesse experimento, Rutherford também observou que,
quando um feixe de raios alfa passava através de uma fenda
Contagem de alfas_Em 1907, agora na Univer­ estreita, a imagem da fenda formada pela incidência dessas
sidade de Manchester (Inglaterra), Rutherford reuniu partículas sobre um filme fotográfico apresenta­­va-se alar-
ao redor de si jovens talentosos que o assistiram em expe- gada – isto é, com bordas mal definidas – toda vez que se
rimentos que confirmaram serem as partículas alfa cor- deixava um pouco de ar na câmara. Isso demonstrava que
púsculos de carga elétrica positiva. Com um desses as­ alguns raios alfa tinham sido desviados de sua direção ori-
sistentes, o físico alemão Johannes Geiger (1882-1945), ginal em decorrência de colisões com as moléculas de ar.
Rutherford desenvolveu um equipamento capaz de contar Mais tarde, a mesma observação foi registrada em
partículas alfa individualizadas – conhecido mais tarde Manchester por Rutherford e seus assistentes quando
como contador Geiger. usaram a tela de sulfeto de zinco. Em uma câmara de vá-
Uma técnica alternativa para contagem de partículas cuo, quando um feixe de raios alfa passava por um peque-
alfa, entretanto, foi também aprimorada por Rutherford no orifício circular – o que tornava o feixe bem ‘estreito’
e Geiger, quando tomaram conhecimento, em 1908, ou colimado – as cintilações eram observadas em uma
por meio de uma carta do químico alemão Otto Hahn área circular bem definida e de diâmetro igual ao do ori­
(1879-1968), com quem Rutherford havia trabalhado fício. Entretanto, quando uma folha finíssima de mica era
em Montreal, de que era possível visualizar sinais lumi- interposta entre o orifício e a tela, a região onde ocorriam
nosos (cintilações) produzidos pelos raios alfa, quando as cintilações tornava-se maior, com bordas não bem de-
estes atingiam uma tela revestida com uma camada de finidas, mostrando de novo que parte das partículas alfa
sulfeto de zinco (sal que tem a propriedade de lumines- era desviada de sua direção original (figura 3).
cência). Esse método de contagem por cintilação tornou-se
a ferramenta principal de trabalho nos experimentos Perplexidade de todos_Não conseguindo expli-
que envolviam detecção de partículas alfa. cação convincente para aquelas observações intrigantes,
No ano seguinte (1909), com a ajuda do físico inglês Rutherford, em 1909, confiou a um jovem estudante, o
Thomas Royds (1884-1955), Rutherford identificou os físico inglês-neozelandês Ernest Marsden (1889-1970), a
raios alfa como sendo átomos do gás hélio que perde­- tarefa de procurar por partículas alfa defletidas em ângu-
ram seus dois elétrons. Portanto, íons de carga elétrica los bem maiores que 10 graus. Marsden, em vez de mica,
dupla e positiva. serviu-se de folhas finíssimas de ouro. E, para detectar as

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Figura 3. Esquema
utilizado por Rutherford
Folha em experimentos
Fonte Te que demonstravam
radioativa de mica cint la de
ilaç que um pequeno
ão
número de partículas
alfa de um feixe
colimado era desviado
Orifício de de sua direção original
colimação
quando passava
através de uma lâmina
de mica finíssima
Câmara de vácuo

Figura 4. Arranjo
Luneta para Detector do experimento
observação de cintilação de Marsden para contar
partículas alfa defletidas
Colimador em diferentes ângulos
Blindagem
Ângulo de deflexão

Feixe Feixe de alfa


colimado não defletido
Fonte de rádio de alfas Folha de ouro
Saída
ou radônio para vácuo
Câmara de vácuo

partículas alfa, montou uma tela com sulfeto de zinco que Rutherford e Geiger demonstraram que, se o modelo
podia se mover em todas as posições, na frente, dos lados atômico de Thomson – aquele do ‘pudim de passas’, des-
e até mesmo na região da câmara próximo ao feixe inci- crito na figura 1 –, fosse correto, o número de alfas des­
dente, atrás do alvo de ouro. Com uma luneta focalizada viadas em ângulos maiores que cerca de 10 graus iria se
sobre a tela, era possível observar, em uma sala escurecida, tornar nulo. Essa previsão, porém, contradizia as obser­
os pontos luminosos individualizados, os quais indicavam vações. O modelo de Thomson, que implicava espalha-
o número de partículas alfa desviadas da direção de inci- mentos múltiplos, não conseguia explicar o desvio das
dência (figura 4). A tarefa era cansativa aos olhos, de modo partículas alfa em direções bem afastadas da do feixe in-
que, após poucos minutos, Rutherford e Marsden trocavam cidente – muito menos aquelas lançadas para trás. Assim,
de função, isto é, enquanto um observava os sinais lumi- a ideia do átomo ‘pudim de passas’ teve de ser abando-
nosos, o outro fazia anotações. nada, e se tornava imprescindível uma nova imagem para
Para perplexidade de todos, Marsden descobriu que o átomo que desse conta daquelas observações.
umas poucas partículas alfa eram lançadas para trás, ou
seja, elas estavam sendo literalmente ‘refletidas’ pela finís- Sem recuo_Ao final de 1910, Rutherford vislumbrou
sima folha de ouro. A novidade foi divulgada por Geiger e o que significavam as partículas alfa que ricocheteavam
Marsden em 1909, mas ninguém do grupo de Rutherford – de volta. Em essência, eram resultado de uma única inte-
nem mesmo este – pôde entender aqueles eventos raros, ao ração (colisão) entre elas (com dupla carga positiva) e a
mesmo tempo intrigantes, surpreendentes e enigmáticos. carga positiva do átomo, sendo que agora esta última esta-
ria supostamente concentrada em uma minúscula região
Nova imagem_A espessura das folhas de ouro usadas central do átomo, que ele denominaria núcleo.
no experimento era da ordem de 30 a 50 milionésimos de cen­ Nesse novo modelo atômico, os elétrons orbitavam
tímetro. Portanto, nelas caberiam, em média, pouco mais de o núcleo, como um sistema planetário, em uma região
mil camadas de átomos do metal. Assim, as partículas alfa, es­férica de raio comparável ao tamanho do átomo. A
ao atravessarem as folhas, deveriam sofrer desvios múltiplos de­fle­­xão provocada pela força atrativa entre a partícu-
(deflexões, espalhamentos, como dizem os físicos) por encon- la alfa incidente e os elétrons podia ser desprezada, seja
trarem grande número de átomos à sua frente. Além disso, porque a velocidade das alfas era muito elevada (cerca
em cada átomo, o espalhamento dessas partículas de carga de 15,7 mil km/s), seja porque a massa dos elétrons era
elétrica positiva resultaria de dois efeitos: i) o da repul­são apro­ximadamente 7 mil vezes menor que a das partí-
pela carga positiva do átomo; ii) o da atração pelos elétrons. culas alfa. >>>

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t
A B C

Ângulo de
deflexão
r r
Núcleo
d

Figura 5. Em A, representação de um feixe de partículas alfa (setas) incidindo perpendicularmente sobre uma folha de ouro de espessura equivalente a cerca
de 1,2 mil camadas atômicas. Pontos indicam os centros de espalhamento (núcleos). Em B, o feixe de alfas incidente vê os núcleos como que afastados uns
dos outros por uma distância (d), em média, de 6 x 10-10 cm. O número de partículas alfa que incidem em uma região circular de raio r em torno de um núcleo é
proporcional à área desse círculo. Em C, quanto melhor a ‘pontaria’ (ou seja, menor o valor de r), mais raras serão as deflexões de ângulo grande (para trás)

Rutherford supôs também que, com as colisões, o nú- Para as lâminas de ouro do experimento, pode-se es­
cleo não sofria recuos, pois quase toda a massa do átomo timar em aproximadamente 6 x 10-10 cm a distância mé­-
estaria nele concentrada (a massa do núcleo do ouro é cer- dia entre os núcleos atômicos como visto pelas partículas
ca de 50 vezes maior que a de uma partícula alfa). alfa incidentes (figura 5B). Isso significava que a chance
Por último, a força de repulsão entre as cargas elétricas de uma alfa passar nas proximidades de um núcleo – e,
positivas da alfa e do núcleo atômico seguia a lei da varia- portanto, sofrer desvio – era bem pequena. Mais rara ain-
ção com o inverso do quadrado da distância. Ou seja, à da seria uma aproximação quase de frente contra o nú­cleo,
medida que a alfa e o núcleo se aproximam, a força de re- com a consequente deflexão da alfa em sentido contrário.
pulsão aumenta de acordo com o quadrado da distância Embora pequenas, essas chances eram não nulas, em
entre eles. conformidade com o que era observado – vale ressaltar
que Marsden registrou um único desvio para trás em cada
Uma em 20 mil!_A hipótese de Rutherford de um 20 mil alfas! Quanto mais próximo do núcleo fosse a di­
centro espalhador, o núcleo do átomo, para explicar o gran- reção de incidência – em outras palavras, quanto melhor
de desvio de algumas partículas alfa é inteiramente com- fosse a ‘pontaria’ –, maior seria o ângulo de desvio, até
patível com a observação de que a grande maioria das a situação extrema em que elas retrocederiam pratica-
partículas alfa incidentes passava pela lâmina de ouro mente na direção original, mas esses eventos seriam ra­
sem sofrer deflexão (ou experimentava desvios mínimos, ríssimos (figura 5C).
menores que 1 grau), como se a lâmina fosse transparente
a elas (figura 5A). Verdadeiro impacto_Rutherford calculou, com
relativa facilidade, quão próximo do núcleo poderiam che-
gar as partículas alfa, situação na qual, literalmente, in-
verteriam o sentido do movimento, possibilitando assim
Radioatividade e fissão nuclear obter uma estimativa para a dimensão nuclear. Sua pri-
O autor, desde 1967, vem se dedicando à pesquisa em física meira avaliação deu como resultado 6,6 x 10-12 cm. Esse
nuclear, tanto experimental quanto teórica, notadamente em valor deixou-o completamente atônito. Tal resultado in-
reações nucleares que envolvem o fenômeno da fissão e temas dicava que o tamanho do núcleo podia ser avaliado em
sobre radioatividade. Foi um dos que, no Brasil, utilizaram 10-12 cm, isto é, cerca de 20 mil vezes menor que a dimen-
o chamado método fotográfico nessas investigações, e um são do próprio átomo. E mais: significava que o núcleo
dos descobridores, em 1975, do decaimento exótico, no qual o ocupava uma fração ínfima do volume do átomo, cerca de
núcleo atômico emite fragmentos nucleares mais pesados que um décimo de trilionésimo deste, mas continha pratica-
a partícula alfa. mente toda a massa atômica (99,97%!). Essas conclusões
causaram em todos verdadeiro impacto.

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F Í SICA

Baseado em Geiger and Marsden / Philosophical Magazine, 25, 604 (1913)


Grande vazio_O conceito nuclear de átomo susten-
tou-se por estar completamente de acordo com a experi-
mentação. Depois, percebeu-se que o modelo continha
F
sérias limitações: i) falha na explicação de desvios em ân-
M S R B gulos muito pequenos (menores que 1 grau); ii) não levava
em conta outras forças, além da repulsão eletrostática, que
eventualmente pudessem atuar a distâncias bem próximas
do núcleo; iii) e, sobretudo, o comprometimento da esta-
bilidade atômica. Aqui, os elétrons, no modelo de Ruther-
ford, por girarem ao redor do núcleo, deveriam emitir
radiação, o que os levaria a perder progressivamente ve-
locidade, seguindo então uma trajetória espiralada, até
caírem no núcleo. Mas, na realidade, isso não ocorre.
T Essas limitações, contudo, em nada diminuíram o mé-
rito da conclusão sobre a presença de um núcleo no átomo,
imagem que permanece absolutamente correta até os dias
de hoje. Rutherford, ao contrário de Thomson e Nagaoka,
percebeu que o átomo deveria ser em realidade um gran-
de vazio e que sua essência (carga e massa) estaria na mi-
Figura 6. Esquema do aparelho utilizado por Geiger e Marsden, núscula região central.
em 1913, para comprovar a hipótese do átomo nuclear, segundo a teoria
de Rutherford. B é uma câmara contendo a fonte de alfas (R), a folha
metálica finíssima (F), ambas fixas, bem como a tela de cintilação (S), De menino pobre a barão_De personalidade
acoplada à luneta de observação (M). O sistema SM pode girar, que impressionava a todos, por seus feitos pioneiros na
permitindo fazer contagens de alfas em diferentes ângulos ciência nuclear, Ernest Rutherford – prêmio Nobel de
de deflexão (o ar da câmara é retirado através do tubo T) Química de 1908 e, mais tarde, barão Rutherford de
Nelson – encontra-se, segundo o astrofísico norte-ameri-
cano Michael Hart, entre os 60 primeiros personagens que
Coincidentemente, o físico japonês Hantaro Nagaoka mais exerceram influência nos destinos da humanidade
(1865−1950) estava na ocasião em viagem pela Europa e, e, para o jornalista de ciência norte-americano John Sim-
em fins de 1910, passou por Manchester, onde foi recebi- mons, entre os 20 mais importantes cientistas de todas as
do cordialmente por Rutherford. Certamente, Nagaoka áreas do conhecimento e de todos os tempos.
fez-lhe saber de sua antiga imagem sobre a estrutura atô- Sem dúvida, uma bela trajetória para um menino
mica (seu ‘átomo saturniano’) (figura 1). Por ocasião dessa pobre que nasceu em Spring Grove, na província rural de
visita, a hipótese do átomo nuclear já havia sido experi- Nelson, na Nova Zelândia, filho de um mecânico e uma
mentalmente confirmada. professora primária.

Teoria comprovada_Apresentado a público pela


primeira vez na Sociedade Filosófica e Literária de Man-
chester em 7 de março de 1911, a teoria do átomo nuclear
de Rutherford seria publicada com pormenores em maio
seguinte, no volume 21 do Philosophical Magazine. Sugestões para leitura
O que fez o modelo nuclear do átomo prevalecer sobre
RUTHERFORD, E.; CHADWICK, J.; ELLIS, C. D.
os de Thomson (1903) e Nagaoka (1904) foi o fato de ele Radiations from radioactive substances (Cambridge (Inglaterra):
ser capaz de explicar quantitativamente os resultados do Cambridge University Press, 1930, cap. I, II e VIII)
experimento de deflexão de partículas alfa por lâminas SEGRÈ, E. Dos raios X aos quarks: físicos modernos e suas descobertas
metálicas finíssimas. (Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1980), Cap. III e VI.
PHYSICAL SCIENCE STUDY COMMITEE-PSSC
Nos dois anos seguintes, Geiger e Marsden fizeram
Física, Parte IV (São Paulo: Edart Livraria Editora, 1967, cap. 32).
inúmeros testes experimentais sobre o espalhamento alfa. EISBERG, R. M. Fundamentos da Física Moderna
Utilizaram lâminas de prata, estanho, cobre, ouro e alumí­- (Rio de Janeiro: Editora Guanabara Dois, 1979, cap. 4).
nio, de diversas espessuras, bem como partículas alfa com CLOSE, F.; MARTEN, M.; SUTTON, C. The particle explosion
diferentes velocidades (provenientes de fontes de rádio e (Oxford: Oxford University Press, 1987, cap. 2).
radônio) e ângulos de espalhamento que cobriam o largo in-
tervalo de 5 a 150 graus (figura 6). Em todas as situações, re- Veja mais na internet
sultou comprovada a teoria de Rutherford. Apenas pequenas
>>Prêmio Nobel de Rutherford (em inglês):
diferenças foram notadas no caso dos alvos de alumínio ou http://nobelprize.org/nobel_prizes/chemistry/laureates/1908/#
quando a velocidade das alfas era suficientemente elevada.

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