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Cuida-se de processo de reparação de danos morais e materiais movido em face da

Rápido Araguaia Ltda. Segundo os autores – a viúva e os quatro filhos de Ricardo de


Souza Santana, esse veio a óbito no dia 10/12/2006, por um disparo de arma de fogo,
ocorrido dentro do ônibus da empresa ré, durante um assalto. Narra a inicial que não
se tratou de reação ao assalto, mas o disparo fatal ocorreu no momento em que um
dos assaltantes teria agarrado a filha de Ricardo e esse por sua vez tentou resgatá-la.

Os autores requerem indenização pelos danos materiais, assim dividos em emergentes


e lucros cessantes. A título de emergentes reivindicam o pagamento da quantia de R$
1.760,62. Pelos lucros cessantes, nesse caso entendidos como a expectativa de
alimentos que poderiam ser prestados pela vítima, a quantia de 2/3 do salario mínimo,
até a ocasião em que o de cujus completaria 65 anos de idade, levando-se em conta o
valor do salaria mínimo vigente no momento do protocolo da presente ação, devendo
ser pago aos autores em única parcela. À viúva esse cálculo se daria até à expectativa
de vida do de cujos e em relação aos filhos até à idade de 25 anos. A correção
monetária requerida é a atualização do salario mínimo vigente à época do pagamento.
Pelos danos morais ou autores requerem a quantia entre 360 e 5.400 salários mínimos,
para cada um dos autores, porém sugere a quantia inicial de R$ 250.000,00 mil reais,
a título de danos morais.

MARIA HELENA DINIZ asseverou que: "poder-se-á definir a responsabilidade civil


como a aplicação de medidas que obriguem alguém a reparar dano moral ou
patrimonial causado a terceiros em razão de ato do próprio imputado, de pessoa por
quem ele responde, ou de fato de coisa ou animal sob sua guarda (responsabilidade
subjetiva), ou, ainda, de simples imposição legal (responsabilidade objetiva)".

Os Sistemas de Responsabilidade Civil comportam: a) o subjetivo; b) o subjetivo com


presunção de culpa; c) o objetivo baseado na atividade de risco; d) o objetivo fundado
no risco integral. No caso em tela, os autores reclamam a reparação do dano moral e
material baseado no sistema subjetivo com presunção de culpa. Culpa presumida não
se confunde com responsabilidade objetiva. Na culpa presumida a culpa é
imprescindível para a responsabilização. Acontece que cabe ao demandado afastar a
presunção de culpa mediante contraprova no sentido de, in concreto, não ter tido
responsabilidade pelo dano. A presunção de culpa importa inversão do ônus da prova,
cabendo ao réu provar que não agiu com culpa.
Ocorre que o transporte urbano é um Serviço Público delegado do Município ao
particular, sendo que este possui a obrigação de o prestar de forma eficiente e
adequada, cabendo ao Poder Público o dever de fiscalização e de intervenção para que
este serviço seja prestado com qualidade. Logo, a ré é empresa concessionária de
serviço público. Conforme se sabe, as concessionárias de serviço público têm a
responsabilidade objetiva pelos serviços que prestam ao público, consoante dispõem o
caput e o § 6º, do artigo 37, da Constituição Federal.
A responsabilidade civil das pessoas de direito público e das de direito privado
prestadoras de serviços públicos tem por base a teoria do risco administrativo,
sendo de natureza eminentemente objetiva.
Assim, basta que se demonstre o nexo causal entre o fato lesivo (omissivo ou
comissivo) e o dano, bem como seu montante para ser a parte autora ressarcida.

Tal conclusão, todavia, não significa que a concessionária deva indenizar sempre e em
qualquer caso em que o particular sofra um dano, mas apenas de que este está
dispensado de provar a culpa daquela. Inexiste em nosso ordenamento jurídico,
portanto, a teoria do risco administrativo total.
Muito se tem discutido recentemente pela

Bandeira de Melo, in Curso de Direito Administrativo, 21ª edição, São Paulo, editora
Malheiros, ano 2006, página 968, assim leciona:
"Em síntese: se o Estado, devendo agir, por imposição legal, não agiu ou o fez
deficientemente, comportando-se abaixo dos padrões legais que normalmente
deveriam caracterizá-lo, responde por esta incúria, negligência ou deficiência, que
traduzem um ilícito ensejador do dano não evitado quando, de direito, devia sê-lo.
Também não o socorre eventual incúria em ajustar-se aos padrões devidos.
Reversamente, descabe responsabilizá-lo se, inobstante atuação compatível com as
possibilidades de um serviço normalmente organizado e eficiente, não lhe foi possível
impedir o evento danoso gerado por força (humana ou material) alheia".
In casu, em que pese todo o pavor e o sofrimento pelos quais passaram os apelados
durante o assalto ao ônibus em que viajavam, tenho que a empresa apelante não pode
ser responsabilizada.
Data venia, mesmo que o ônibus em que viajavam os apelados estivesse equipado
com equipamentos de segurança e o motorista atento, o roubo, infelizmente, teria
ocorrido.
Conforme informado pelos próprios apelados na inicial, "após efetuada a parada,
adentraram ao veículo três meliantes armados, dois deles, de pistola, e o terceiro com
uma escopeta calibre 12, arma de alto poder de fogo", de modo que não seria possível
esperar que o motorista da empresa apelante pudesse ter reagido ou tentado impedir o
ocorrido.
Ante o exposto, o MPGO é pelo não acolhimento dos pedidos feitos na inicial.

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