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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS

4ª Promotoria de Justiça de Aparecida de Goiânia

EXCELENTÍSSIMA SENHORA JUÍZA DE DIREITO DA ___ VARA CÍVEL


DA COMARCA DE APARECIDA DE GOIÂNIA-GO

O MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL, através da 4ª


Promotoria de Justiça de Aparecida de Goiânia, com atribuições na defesa
do meio ambiente, nos termos do art. 5º, da lei 7.347/85, de 24 de julho
de 1985, vem perante esse juízo, propor

AÇÃO CIVIL PÚBLICA AMBIENTAL, em face de

3Q – Industrial do Brasil Ltda., pessoa jurídica de direito


privado, registrada no CNPJ/MF sob o n.º 02.729.307/0001-53, com sede
na rua Dona Juraci de Paula Teixeira, quadra 21, lote 8/9, Bairro Ilda,
Aparecida de Goiânia-GO,

pelos fatos e fundamentos de direito a seguir expostos:

DOS FATOS

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Em 18.09.2001, foi instaurado o inquérito civil público de n.º


27/2001, para apurar a denúncia trazida pelos moradores vizinhos da
indústria ré, via abaixo assinado de fls. 3/4, de que essa vem produzindo
sérios incômodos à todos através de suas atividades de produção de
produtos metalúrgicos.
O prédio onde está instalada a indústria ré, construído na
divisa do terreno, não possui sistema de vedação acústica adequado para
suas atividades. O funcionamento do maquinário da indústria, nas
atividades de metalurgia e serralheria provoca um barulho diário
insuportável, emitindo ruídos acima dos índices permitidos em lei. Os
odores dos produtos químicos utilizados na fabricação dos produtos da 3
Q Industrial do Brasil, de igual modo, extrapolam os limites do prédio da
indústria, prejudicando e causando doenças e mal-estar aos vizinhos, por
não ser essa dotada de sistema de controle de poluição atmosférica.
Em relatório enviado ao Ministério Público a Secretaria
Municipal de Ação Urbana e Meio Ambiente fez uma medição sonora que
constatou índices entre 40 e 70 decibéis.
Constatou ainda que a metalúrgica utiliza “produtos que
produzem fortes odores capazes de provocar dores de cabeça e
desconforto nos vizinhos. Segundo vistoria os produtos utilizados são a
base de tinner e diluente texsol V e tinta a base de resina alquidica,
pigmento orgânicos e inorgânicos, solvente aromáticos e alifáticos,
cargasinerticos e aditivos, todos os produtos de fabricação da Solventex
Indústria Química Ltda” (relatório de fls. 11).
Em 23.05.2002, por volta das 14:00 horas, o Oficial de
Promotoria do Ministério Público realizou vistoria no local e realizou
medição de som utilizando-se de decibelímetro modelo Sonômetro
Integrador de precisão – SC – 20C, calibrador DB-5 (IEC 942), 1988, classe
II, aferido pelo INMETRO, que produziu os seguintes resultados:
I – nos termos da lei estadual de controle de poluição – n.º
8.544/78 (art. 69, decreto estadual n.º 1.745/79), o índice de ruídos no

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período entre 7:00 e 19:00 deve ser de 55 decibéis e entre 19:00 e 7:00
horas de 45 decibéis, mas registrou-se:
• Ponto n.º 01 – 5 metros das divisas do imóvel:
Frente – 86,2 db;
Lado direito – 76,7;
II – Nos termos da Resolução nº 001/90 CONAMA – NBR
10.152, no dormitório deveria registrar entre 35 e 45 decibéis
e na sala deveria registrar entre 40 e 50 decibéis, mas
registrou-se:
• Ponto n.º 01 (dormitório do reclamante) – 52,6 db;
• Ponto n.º 02 (sala de estar do reclamante) – 52,7 db.
Como se não bastasse a poluição sonora e atmosférica, no
interior da indústria ré existe uma máquina, que amolda as chapas
metálicas na forma côncava para a fabricação dos “carrinhos de mão”,
para a construção civil. Tal equipamento provoca um forte impacto no
solo, durante o seu funcionamento, causando além do barulho excessivo,
rachaduras nas paredes das residências vizinhas e até mesmo o
afastamento das telhas. Essa máquina possui um dispositivo que bate na
chapa metálica para que essa tome a forma côncava de uma forma que
está em baixo, para fazer os carrinhos de mão. Esse impacto é que
provoca o tremor no solo.
No cumprimento à requisição do Ministério Público, o Oficial
de Promotoria esteve no local e forneceu o seguinte relatório, a respeito
desse maquinário:
“Em atendimento à diligência da 4ª Promotoria de Justiça,
estive na Empresa 3 Q Industrial do Brasil, para realizar
vistoria e medição de som. Na oportunidade constatei que
existe uma máquina, usada na fabricação de carrinhos de
mão. Constatei ainda, eu referida máquina quando está em
funcionamento causa um grande impacto, que chega a tremer
o solo. Segundo os moradores vizinhos, esses impactos são

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tão fortes que chegam a causa o deslocamento das telhas e


rachaduras nas paredes das casas.
No momento da vistoria, essa máquina estava em
funcionamento. Quando coloquei uma pasta de papéis em
cima do carro, que estava estacionado ao lado da indústria 3
Q do Brasil, essa vibrava, em razão do impacto provocado
pela máquina”.
Ante a constatação da produção de poluição sonora e
atmosférica por parte da indústria ré, o Ministério Público notificou o
representante legal dessa empresa a fim de viabilizar um termo de
ajuste.
Entretanto, no dia 27/06/2002, no gabinete da 4ª Promotoria
de Justiça de Aparecida de Goiânia, o representante legal da indústria ré
disse que não haveria possibilidade de assinar um termo de ajustamento
de conduta, pois não possui condições financeiras para efetuar as
modificações acústicas necessárias no prédio da indústria 3 Q do Brasil, a
fim de resolver o problema ambiental.
Disseram ainda que a Agência Ambiental do Meio Ambiente
não lhes concedeu a licença ambiental, justamente por causa da poluição
sonora produzida pela empresa e pela máquina que fabrica carrinhos de
mão, causadora do tremor no solo.
Constata-se portanto a situação irregular da Indústria ré que
produz poluição sonora e atmosférica, impedindo a tranqüilidade e
sossego dos moradores vizinhos, causando-lhes prejuízos de ordem física
e psíquica, provocando desequilíbrio ao meio ambiente. A situação da
empresa é irregular por não possuir o licenciamento ambiental, que
deveria ser prévio ao seu funcionamento.
Além da 3 Q Industrial do Brasil, pertence também ao
representante legal dessa empresa, a Indústria Aço Nobre que também já
foi acionada judicialmente pelo Ministério Público em razão de poluição
sonora e atmosférica, tendo obtido nesses autos de ação civil pública, a
medida liminar de suspensão das atividades, até que essa se adeque à
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legislação ambiental (documento em anexo). Portanto, vislumbra-se que


a direção dessas empresas não tem a menor preocupação com os custos
ambientais e sociais de sua produção. O lucro fácil a qualquer preço é o
que lhes interessa.

DO DIREITO

A Constituição Federal consagra a tese que se desenvolveu


especialmente na doutrina italiana, segundo a qual a propriedade não
constitui uma instituição única, mas várias diferenciadas.1 Garante o
direito à propriedade em geral (art. 5º, XXII; garantia de um conteúdo
mínimo essencial, irredutível sem indenização), mas distingue claramente
a propriedade urbana (art. 182, § 2º) e a propriedade rural (arts. 184, 185
e 186), com seus regimes jurídicos próprios.
Entretanto, diz ainda o art. 5ª, XXIII, da Constituição que a
propriedade em geral atenderá sua função social. Foi mais além a Carta
Magna dizendo que a instituição da propriedade privada e sua função
social é princípio da ordem econômica (art. 170, II e III), relativizando,
assim, seu significado.
Enfim, a função social se manifesta na própria configuração
estrutural do direito de propriedade, pondo-se concretamente como
elemento qualificante na predeterminação dos modos de aquisição, gozo
e utilização dos bens.2 Por isso é que se conclui que o direito dae
propriedade não pode mais ser tido com um direito individual.
O que se pretende no caso em tela é o combate à poluição
sonora e atmosférica.
O art. 3º, III, da Lei 6.938/81 define poluição como sendo “a
degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta
ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da
população; b) criem condições adversas às atividades sociais e

1
PUGLIATI, Salvatore. La proprietá nel Nuovo Diritto, pp. 145-309.
2
D’ANGELO, Guido. Urbanística e Diritto. Nápoles, Morano, 1969.
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econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as


condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) lancem matérias
ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos”.
A atividade da empresa ré, ao emitir ruídos em índices acima
dos permitidos e lei e poluir o ar com tintas em área residencial, está
causando poluição, enquadrando-se no conceito acima descrito, haja vista
que a vizinhança está incomodada com o barulho do maquinário da
indústria, com o cheiro de tinta diários e com o tremor do solo, pelo uso
da máquina de cortar chapas metálicas na fabricação de “carrinhos de
mão.” Não há como descansar ou desenvolver as atividades sociais no
local próximo à indústria, com o barulho contínuo das máquinas da
indústria ré.
Estudo publicado pela Organização Mundial de Saúde3
assinala com efeitos do ruído; perda da audição; interferência com a
comunicação; dor; interferência no sono; efeitos clínicos sobre a saúde;
efeitos sobre a execução de tarefas; incomodo; efeitos não específicos.
A tutela do meio ambiente, definido no inciso I, art. 3º, da lei
de Política Nacional do Meio Ambiente (6.938/81) como o conjunto de
condições, leis, influências e interações de ordem física, química e
biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas é o
objeto de tutela na presente ação.
O art. 225, caput, da Constituição Federal, constituindo-se o
cerne da política ambiental nacional, dispõe que todos têm direito ao
meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo
e essencial à sadia qualidade devida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e
futuras gerações”.
De fato, a defesa do meio ambiente, tratando-se de tutela
coletiva – presença de interesses e direitos difusos – é freqüente a
conflituosidade entre os próprios grupos envolvidos (enquanto, no

3
Le Bruit – Critéres d’Higyène de l’Environment, Genebra, Organisation Mondiale de la
Santé, 1990, p. 114.
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conflitos tipicamente individuais, a lide se estabelece entre autor e réu,


ainda que agindo em conjunto com litisconsortes, já nos conflitos
coletivos, temos, não raro, grupos, categorias ou classes de pessoas com
pretensões conflitantes entre si, como as de um grupo de, ao invocar o
direito o meio ambiente sadio, deseje o fechamento de uma fábrica, e as
de outro grupo de pessoas que dependem, direta ou indiretamente, da
manutenção dos respectivos empregos, para sua subsistência).4
No caso em tela, vê-se os interesses da indústria ré, de
produzir seus produtos metalúrgicos, sem qualquer sistema de controle
de poluição sonora e atmosférica e o direito da vizinhança do meio
ambiente equilibrado, sem ruídos e sem odores constantes de produtos
químicos, que tanto lhe provoca mal-estar.
A proteção do meio ambiente, assegurada
constitucionalmente há que ser valorada de forma superior, posto que a
propriedade há de ter sua função social e a lei é para todos devendo o
réu se adequar ao disposto com relação à redução dos ruídos e dos
odores de tinta implantando sistemas adequados para tal em sua
indústria.
Não é dado a ninguém o direito de poluir.
O parágrafo único da lei 6.938/81, diz que As condutas e
atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os
infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e
administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos
causados”.
Tendo em vista a responsabilidade objetiva, em se tratando
de Direito Ambiental, o art. 14, § 1º, da lei 6.938/81 diz que sem prejuízo
das penalidades definidas pela legislação federal, estadual e municipal, o
não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção
dos inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidade
ambiental sujeitará os transgressores:

4
MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo. Editora Saraiva: São
Paulo, 2001, pág. 45.
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I - à multa simples ou diária nos valores correspondentes, no


mínimo, a 10 (dez) e, no máximo, a 1.000 (mil) obrigações reajustáveis
do Tesouro Nacional - ORTNs, agravada em casos de reincidência
específica, conforme dispuser o regulamento, vedada a sua cobrança pela
União se já tiver sido aplicada pelo Estado, Distrito Federal, Território ou
pelos Municípios;
II - à perda ou restrição de incentivos e benefícios fiscais
concedidos pelo Poder Público;
III - à perda ou suspensão de participação em linhas de
financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito;
IV - à suspensão de sua atividade.
§ 1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste
artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa,
a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros,
afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e Estados terão
legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por
danos causados ao meio ambiente”.
O Conselho Nacional do Meio Ambiente baixou a Resolução
001/90, no dia 8.3.1990, tendo mesa sido publicada no DOU de 2.4.1990.
No item I prevê: “a emissão de ruídos, em decorrência de quaisquer
atividades industriais, comerciais, sociais ou recreativas, inclusive as de
propaganda política, obedecerá no interesse da saúde, do sossego
público, aos padrões, critérios e diretrizes estabelecidas nessa resolução:
II – são prejudiciais à saúde de ao sossego púbico, para os fins do item
anterior, os ruídos superiores aos considerados aceitáveis pela norma
NBR 10.152, Avaliação de Ruídos em Áreas Habitadas – visando ao
conforto da comunidade – da Associação Brasileira de Normas Técnicas –
ABNT”.
Citamos alguns valores da NBR 10.152:

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Locais Db
(A)
Hospitais
– apartamentos, enfermarias, berçários, 35-45
centros cirúrgicos
Escolas
- bibliotecas, salas de música, salas de 35-45
desenho
- salas de aula, laboratórios 40-50
Residências
- dormitórios 35-45
- salas de estar 40-50
Escritórios
- salas de reunião 30-40
- salas de gerência, salas de projetos e de 35-45
administração
- salas de computadores 45-65
- salas de mecanografia 50-60
Igrejas e templos 40-50
A lei estadual de controle de poluição lei n.º 8.544, de
17.10.1978, dispõe no art. 69, de seu decreto regulamentador que “o
nível máximo de som ou ruído permitido a máquinas, motores,
compressores, vibradores e geradores estacionários, que não se
enquadram no artigo anterior, e de 55 db (B) cinqüenta e cinco decibéis
medidos na curva (B), no período diurno, das 7 às 19 horas, e 45 db (A)
quarenta e cinco decibéis, medidos na curva (A), no período noturno, das
19 às 7 horas, do dia seguinte, ambos à distância de 5m (cinco metros)
no máximo, de qualquer ponto das divisas do imóvel onde se localizam
ou no ponto de maior nível de intensidade de ruídos do edifício do
reclamante (ambiente do reclamante).
Está portanto, o réu praticando poluição sonora e atmosférica
nos termos da legislação ambiental competente.

DA MEDIDA LIMINAR

Nos termos do art. 12, da lei n.º 7.347/85 é permitido ao Juiz,


o poder de conceder medida liminar, sem justificação prévia, para evitar
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dano irreparável ou ameaça de danos, bastando, para tanto, a presença


do fumus boni iuris e do periculum in mora.
O fumus boni iuris se caracteriza na demonstração inequívoca
do direito alegado, pela apresentação de farto repertório jurídico legal
enquanto que o periculum in mora caracteriza-se pelo perigo de danos à
saúde dos moradores vizinhos da indústria 3 Q do Brasil, que já convivem
há muitos anos com a situação de poluição sonora e atmosférica no dia a
dia em suas residências.
O Direito Ambiental tem atuação preventiva, reparatória e
repressiva. È pertinente observar que a reparação e a repressão
ambientais representam atividade menos valiosa do que a prevenção.
Aquelas cuidam do dano já causado. Esta, tem sua atenção voltada para
momento anterior, o do mero risco. Nesse sentido, o Princípio 15 da
Declaração do Rio, ao afirmar que “De modo a proteger o meio ambiente,
os Estados deverão aplicar amplamente o critério de precaução conforme
suas capacidades. Quando houver perigo de dano grave ou irreversível, a
falta de certeza científica absoluta não deverá ser utilizada como razão
para se adiar a adoção de medidas eficazes em função dos custos para
impedir a degradação do meio ambiente”.
Ante o exposto, o Ministério Público requer liminarmente –
“inaudita altera parte”, a determinação à 3Q – IDUSTRIAL DO BRASIL
LTDA, para que essa suspenda as atividades industriais que
provocam poluição sonora e atmosférica, em especial na suspensão do
funcionamento da máquina que amolda as chapas metálicas para a
fabricação dos carrinhos de mão, que provoca forte impacto no solo e
vibrações nos prédios vizinhos, até que sejam feitas as adequações nas
instalações da indústria ré, de modo a fazer cessar essas atividades
lesivas ao meio ambiente e à sadia qualidade de vida dos cidadãos, bem
como regularize a documentação da indústria, junto à Agência Ambiental
do Estado de Goiás com a obtenção do licenciamento ambiental, sob pena
de multa pecuniária diária no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), no

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termos do § 4º, do art. 461, do Código de Processo Penal c/c art. 19, da
Lei de Ação Civil Pública (lei 7.347/85).

DO PEDIDO

Ante o exposto, o Ministério Público requer:


I - A concessão initio litis da medida liminar, na forma
requerida;
II - A citação pessoal da pessoa jurídica ré, na PESSOA DE
SEU REPRESENTANTE LEGAL, para vir, querendo, responder a presente
ação, sob pena de revelia;
III - A procedência in totum do pedido, com a condenação da
ré:
a) na obrigação de não fazer consistente em fazer cessar a
poluição atmosférica e sonora, provocada pelas atividades industriais da
3 Q - Industrial do Brasil Ltda., nos termos da legislação pertinente;
b) na obrigação de fazer consistente em determinar que
essa
b.1) implante sistema de vedação acústico no prédio da
empresa 3Q – INDUSTRIAL DO BRASIL LTDA, de modo a fazer cessar a
poluição sonora constatada, bem como a adequá-lo nos termos do código
de edificações do município.
b.2) instale, junto à máquina que amolda as chapas
metálicas, na forma côncava, para a fabricação de carrinhos de mão,
equipamentos eficientes e eficazes, que impeçam que haja o impacto no
solo capaz de provocar vibrações, causadoras das rachaduras nas
residências vizinhas ao prédio da indústria 3 Q do Brasil, além de outros
malefícios verificados. Se a adequação dessa máquina não for possível de
modo que cesse o incômodo à população vizinha, que seja proibido o
funcionamento dessa máquina.
b.3) obtenha o devido licenciamento ambiental, junto à
Agência do Meio Ambiente do Estado de Goiás.
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c) condenação da ré ao pagamento de INDENIZAÇÃO no


valor de R$ 30.000,00 (trinta mil reais), a serem pagos ao Fundo
Municipal do Meio Ambiente (Prefeitura Municipal de Aparecida de Goiânia
– CODEMAP), conta n.º 620055-9, agência n.º 155, Banco do Estado de
Goiás, pelos danos já causados ao meio ambiente.
IV - Requer-se ainda, a publicação de edital, com prazo de 15
(quinze) dias, para se dar conhecimento a terceiros interessados e ao
público em geral, considerando-se, notadamente, o caráter erga omnes
da ação civil pública.
V - Protesta-se, desde já, pela produção de prova pericial
durante a instrução do feito, bem como todos os demais tipos de prova,
permitidos em lei;
VI - Protesta-se, também, por possível emenda, retificação e
complementação da presente inicial, se porventura necessário.
Dá-se à causa o valor de R$ 30.000,00 (trinta mil reais), para
efeitos fiscais e de atendimento à lei.
Aparecida de Goiânia, 18 de setembro de 2002.

Miryam Belle Moraes da Silva


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