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Se faz, se paga

Ah… vou te contar que a Lurdinha fodia bem, viu. Era um primor de
mocidade, aquela menina.

Eu gostava era de pegar a pequena em pé mesmo, com as mãos na parede,


bundinha empinada e na ponta dos pés. Lembrar dela me chamando de
‘painho’ enquanto gemia até hoje me deixa aceso. Não que isso seja lá
algum grande feito. Ainda mais lá no bar. O povo de lá vive com a cabeça
pros lados errados.

Meu amigo, quando a Lurdinha passava na frente da bodega, geralmente


com aquele vestidinho de um azul quase mórbido que ela tinha que usar pra
trabalhar, era um deus-nos-acuda com a rapaziada lá da sinuca. Não ficava
um sem ouvir aquele capetinha bem do sacana a sussurrar putarias
deliciosas de se fazer naquele corpinho que deslizava por debaixo daquele
vestidinho azul “de funerária”.

E pensar que nem foi difícil. Bastou uma meia-dúzia de papo no ponto de
ônibus ali pelas bandas da Cardeal Maior e ela já estava se
engalfinhando comigo por aí.

Quando passava lá na frente do bar, fazia nem me conhecer, pra não dar
nas vistas, sabe. A gente se achava quando ela descia do trabalho,
encaixada naquele tubinho azul-defunto (ela ria de se mijar todinha quando
eu botava esses nomes no azul do vestido). Ela ia por um lado da rua, eu
seguia pelo outro lado, sabe como é. E a gente se acabava em algum
daqueles quartinhos da pensão na Cardeal Maior.
Nunca vi uma apetência que nem aquela. A pequena me chegava cansada
toda do trabalho e, mal fechava a gente no quarto, me agarrava todo,
buscando os meus colhões. Dizia que só eu nesse mundo tinha colhões que
nem aqueles meus. Dizia isso justamente porque só eu que tive a
destemidez de querer algo assim com ela e que por mais que muitos
homens por aí ficassem de cara quando ela passava, eu só que fui me
aproximar pra mostrar esse intento.

A Lurdinha não dava mole pra ninguém porque ninguém chegava a dar bola
pra ela e, quando a porta de qualquer que fosse o nosso quartinho se
fechava, a Lurdinha despirocava de vez.

Eu só não sabia que a Lurdinha, mulher direita que se fazia na rua e na


frente da bodega, ficava assim como ficava era por vingança. Eu nem sabia
que a pequena era casada e muito menos que ela não recebia um
tratamento desses quase que nada em casa. Mas o que eu deveria saber,
meu irmão (e deus é testemunha que eu queria era saber), é que o marido
da Lurdinha era polícia. Nada de graduação das grandes. Chutador de
pombo mesmo. Mas ainda sim, um polícia.

Belo dia, como qualquer outro dia desses aí, apareceu arrebentando a porta
do quartinho que eu estava. A Lurdinha lá, se enfiando embaixo do lençol
pra me fazer um carinho e nem viu o primeiro murro. Tomei tanta pancada,
tanta cacetada que fui enxergar com o olho esquerdo uns quatro dias
depois.

Chutaram o pobre aqui nas costelas, o marido e mais dois lá do quartel. O


danado do dono da pensão, cansado de ver tanto carnaval com a mulher de
um cumpridor da lei, deu com a língua nos dentes e deu no que deu.
Apanhei que nem homem feito e, por graças, não me deixaram desmaiar.

A coronhada no nariz me causou a dor maior. Naquele momento eu quis


chorar de verdade. Mas não dava. Não quando se está apanhando por
comer a esposa de um polícia. Se eu não firmo a cara, não estaria tomando
aqui contigo.

A danada ainda passa por aqui. Nem veste mais aquele vestido com o
azulado horroroso. Ainda faz nem me ver, mas agora é mais que
compreensível. Não levantaram um dedo pra ela. E ela, esperta que só, não
levanta um olhinho sequer pra ver como eu estou.

A Lurdinha foi, sem dúvida, a melhor foda que eu já tive.

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