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Amazônia Azul: do orgulho do fundo do mar as necessidades da

superfície.

Peterson Wilson Fontes1

Este é um breve ensaio sobre a plataforma continental brasileira, suas 200


milhas que hoje é conhecida como Amazônia Azul, sua importância estratégica e
econômica, desde sua fixação como território brasileiro. E os desafios do Brasil em
manter toda uma estrutura de defesa para garantir sua soberania.

Águas brasileiras, de seu limite à estratégia

O mar territorial brasileiro na qual chamamos de Amazônia Azul corresponde


aproximadamente em 3,5 milhões de km². “O Brasil está pleiteando, junto à
Comissão de Limites da Plataforma Continental (CLPC) da Convenção das Nações
Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM), a extensão dos limites de sua Plataforma
Continental, além das 200 milhas náuticas (370 km), correspondente a uma área de
963 mil km²” (Brasil, 2010). Após serem aceitas as recomendações da CLPC feitas
pelo Brasil, o espaço marítimo nacional poderá atingir aproximadamente 4,5 milhões
de km². Isso corresponderia à metade do território terrestre nacional.
O Brasil é um dos países signatários da CNUDM, também conhecida como
Convenção da Jamaica, de1982. A partir desta convenção, ficou definido em três os
limites marítimos. Primeiro as 12 milhas marítimas ou Zona Contígua, cuja jurisdição
do país é plena. Na Zona Economicamente Exclusiva (ZEE), o país tem jurisdição
para agir em assuntos de comércio, portos e circulação. Já plataforma continental,
inclui o leito marítimo e o subsolo das áreas submarinas que se estendem além de
seu mar territorial. O limite da plataforma continental pode ser maior do que 200
milhas marítimas, se autorizado pela Comissão de Limites da Plataforma Continental
da ONU.
Nessa área da ZEE, circulam 95% do nosso comércio exterior. Entretanto, a
grande maioria dos navios que navegam em nossas águas possui outra bandeira.

1
Graduando de Relações Internacionais Universidade Federal de Santa Catarina
Mostrando-nos das necessidades de ampliar o setor marítimo brasileiro, em especial
a indústria naval.
Outro setor muito importante em nossa ZEE é a indústria da pesca, com
grande potencial de divisas para o país. Porem sabe-se, que vários países do
mundo vêm buscar suas presas nos mares do sul, é preciso impedir a pesca ilegal, e
melhorar nossa produtividade pesqueira.
O potencial econômico da Amazônia Azul não se esgota nas três atividades
acima mencionadas. “Poderíamos ainda citar os recursos biotecnológicos presentes
nos organismos marinhos, a navegação de cabotagem, o turismo marítimo, os
esportes náuticos, e, no futuro, a exploração dos nódulos existentes no leito do mar”
(Brasil, 2010).
A Amazônia, área de elevada importância estratégica, é cortada em sua
totalidade pelo Rio Amazonas, que deságua em nossa Amazônia Azul, sendo a sua
principal via de acesso. Assim, o mar está intimamente ligado às duas áreas de
maior importância para o país: as “duas Amazônias”.
Neste mesmo pensamento estratégico Lima Filho [entre 2005 e 2009] diz, “Os
nossos principais pólos industriais e grandes centros urbanos estão a menos de 250
milhas do litoral, podendo vir a constituir vulnerabilidades estratégicas”. Vale
ressaltar, que os portos, as linhas de comunicação marítimas, a pesca e,
especialmente, as nossas plataformas de petróleo são fator de extrema relevância
econômica e estratégica para o Brasil.

Marinha do Brasil e suas perspectivas para o futuro

Precisamos nos defender? Pode ser uma resposta muito óbvia, mas é comum
ouvir-se a opinião ingênua de que está não é uma prioridade brasileira, pelo fato de
não termos inimigos. Fato este bastante interessante, principalmente depois do
Brasil ter se tornado auto-suficiente em petróleo.
“A Estratégia Nacional de Defesa (END), aprovada pelo Decreto nº 6.703, de
18/12/2008, pode criar novas perspectivas para as Forças Armadas brasileiras”
(PESCE 2009). Para que essas novas perspectivas no setor de defesa se
concretizem, é necessário que haja um fluxo ininterrupto de investimentos para as
necessidades de modernização das forças, neste caso especifico da Marinha.
“No Orçamento da União para 2009, a dotação de recursos originalmente
autorizada para o Ministério da Defesa era de R$ 50,2 bilhões. À Marinha do Brasil
estavam destinados R$ 2,627 bilhões, para despesas discricionárias”, (Pesce,
2009). Entretanto, no dia No dia 27/01/2009, o governo anunciou o bloqueio de R$
37,2 bilhões, dos recursos para custeio e investimento no orçamento. O Ministério
da Defesa, que contava com R$ 11,05 bilhões, ficou com apenas R$ 4,484 bilhões
(redução de 59,5%). A crise econômica mundial, fez reverter os investimentos na
área de defesa.
Nesse processo de reestruturação da Força Naval brasileira, a END propõe
priorizar inicialmente a tarefa de negação do uso do mar, em relação às de controle
de área marítima e de projeção de poder sobre terra. Em tal contexto, o emprego
das forças navais, aeronavais e de fuzileiros navais visará

A defesa pró-ativa das plataformas petrolíferas; defesa pró-ativa das


instalações navais e portuárias, dos arquipélagos e das ilhas oceânicas nas
águas jurisdicionais brasileiras; prontidão para responder a qualquer
ameaça, por Estado ou forças não-convencionais ou criminosas, às vias
marítimas de comércio; e capacidade de participar de operações
internacionais de paz, fora do território e das águas jurisdicionais brasileiras,
sob a égide das Nações Unidas ou de organismos multilaterais da região.
(PESCE, 2009, p.3)

Nas águas territoriais brasileiras há dois pontos considerados críticos em


relação à soberania e defesa. A que vai de Santos a Vitória e a situada em torno da
foz do Rio Amazonas. Para isso, a Marinha deverá se modernizar por etapas, de
forma balanceada e polivalente. Com um planejamento para a distribuição espacial
das frotas no território nacional.
Entretanto, nos últimos anos os investimentos militares feitos no Brasil
sempre ficaram a baixo dá média mundial. Desta Forma, os recursos destinados a
Marinha do Brasil, não foi diferente como já visto anteriormente. Porem, o governo
brasileiro vem fazendo um grande esforço para reequipar nossa frota.
O Programa de Reaparelhamento da Marinha (PRM) contempla a obtenção
ou modernização de meios flutuantes, aéreos e de fuzileiros navais, segundo metas
de curto, médio e longo prazo. Conforme (Pesce, 2009), “Estão previstos no PRM
(em valores de 2007) investimentos da ordem de R$ 5,8 bilhões, no período 2008-
2014. Uma segunda fase do programa seria implementada entre 2015 e 2030”.
O PRM está dividido em oito grupos de prioridades: (1) submarinos e
torpedos; (2) navios-patrulha; (3) helicópteros; (4) navios de escolta; (5)
navios-patrulha fluviais; (6) sinalização do transporte aquaviário e navios-
hidrográficos; (7) navio-aeródromo (modernização), mísseis, minas e
munição; e (8) equipamentos para o Corpo de Fuzileiros Navais e navios de
desembarque. (PESCE, 2009, p.4)

O valor desse total desses projetos seria de aproximadamente R$ 7,5 bilhões.


Onde desse dinheiro se aplicara a projetos cujo período se estendera além de 2014,
como é o caso da modernização dos submarinos.
Mesmo com as limitações impostas pela conjuntura, o PRM se apresenta com
uma visão estratégica moderadamente conservadora, procurando viabilizar a
aquisição de meios capazes de desempenhar as quatro tarefas básicas do Poder
Naval, que são a negação do uso do mar; controle de áreas marítimas; projeção de
poder sobre terra; e contribuição para a dissuasão (Pesce, 2009).
Esses investimentos previstos no PRM poderão ser revistos em função das
metas da END e pelos documentos decorrentes que deverão ser editados até 2010.
Segundo (Pesce, 2009), “numa estimativa moderadamente conservadora, ao final da
terceira década do Século XXI a Marinha do Brasil poderia ser constituída por 140
ou 150 navios e por um número equivalente de aeronaves”.

Considerações finais

Verificou-se no decorrer desta pesquisa da importância de uma estrutura para


poder usufruir dos benefícios do grande mar territorial brasileiro, na qual chamamos
de Amazônia Azul. Principalmente para evitar que outros países venham contestar
essa área de tamanha riqueza, e por onde passa 95% de toda riqueza gerada pelo
país.

Observou-se também da importância de uma Marinha bem estruturada para


garantir a soberania do Estado brasileiro nessas águas e persuadir qualquer invasor,
seja ele estatal ou por grupos terroristas. Entretanto, essa reestruturação da
Marinha, não tem por objetivos transformar o Brasil em uma superpotência militar. E
sim apresentar capacidades e credibilidade suficientes para dar respaldo ao poder
político em situações de crise político-estratégicas.
Referencias:
BRASIL, Marinha do. A nossa última fronteira. Disponível em:
<http://www.mar.mil.br/menu_v/amazonia_azul/nossa_ultima_fronteira.htm>. Acesso
em: 27 nov. 2010.
LIMA FILHO, Wilson Pereira. A Amazônia Azul e a importância do poder
naval brasileiro. Disponível em: <
http://www.egn.mar.mil.br/viEnee/palestras/limaFilho.pdf> Acesso em 22 out. 2010.

PESCE, Eduardo Italo. Marinha do Brasil: perspectivas. Revista Marítima


Brasileira, Rio de Janeiro, n. , p.104-120, 22 fev. 2009. Trimestral.

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