na grande, diversificada e surpreendente obra de moacyr scliar, “o centauro
no jardim” ocupa papel de destaque. É o seu livro mais traduzido – apareceu em
inglês, francês, espanhol, alemão, sueco, hebraico e russo – e foi objeto de numerosos artigos e ensaios em vários países; foi, inclusive, adaptado para o teatro, na alemanha. recentemente o national yidish book center, dos estados unidos, incluiu-o na lista dos cem livros de temática judaica mais importantes da modernidade, junto com autores como franz kafka, isaac bashevis singer e saul bellow. já o crítico francês bernard pivot coloca “o centauro no jardim” na “biblioteca ideal” como um dos 50 melhores livros de sua seção de língua portuguesa, numa relação que inclui camões, euclides, machado, eça, graciliano, guimarães rosa. esta repercussão deve-se, em primeiro lugar, à originalidade da narrativa. na região de colonização judaica no interior do rio grande do sul uma mulher dá à luz a um bebê-centauro que é criado em segredo pela família; mais tarde foge pelo interior do rio grande do sul, encontra uma centaura, pela qual se apaixona; os dois são operados no marrocos por um médico que os transforma em seres humanos aparentemente normais. a normalidade, porém, não representa o fim das inquietudes do ex-centauro; ele resolve voltar à sua condição anterior e pede ao médico que faça isso. mas, enquanto está internado, vive uma nova e estranha paixão, desta vez com uma esfinge... a trajetória do centauro guedali, as aventuras que vive funcionam como uma metáfora, em primeiro lugar para a questão da identidade e depois para as inquietudes da classe média brasileira nos anos em que o país, ainda sob o regime militar, interrogava-se sobre seu destino. clássico exemplo do fantástico na ficção, o livro despertou a admiração da crítica mundial. “É uma novela cômica, é uma novela realista sobre a alienação burguesa, é uma novela de debochado erotismo, é uma novela metafórica, é uma novela fantástica – um entrelaçamento do mítico com o cotidiano, uma soma de contrastes e opostos”, disse o crítico jack dann no washington post. alberto manguel, no village voice, faz coro a este aplauso, classificando scliar como um dos melhores ficcionistas brasileiros; e ilan stavans no prefácio a uma das várias edições da obra nos estados unidos, diz “o estilo é tipicamente scliar: rápido, cinemático, sucinto. não há nada ‘menor’ aqui. ao contrário, o livro emerge como uma monumental peça de arte existencial.” moacyr scliar (porto alegre, 1937) é autor de 68 obras, em vários gêneros: romance, conto, ficção juvenil, ensaio. várias de suas obras foram premiadas, várias foram adaptadas para o cinema, tevê, teatro e rádio. colabora em vários periódicos do país e do exterior. recentemente foi eleito para a cadeira 31 da academia brasileira de letras. “estou deitado sobre a mesa. um bebê robusto, corado; choramingando, agitando as mãozinhas – uma criança normal, da cinbtura para cima. da cintura para baixo: o pelo de cavalo. as patas de cavalo. a cauda de cavalo. da cintura para baixo sou um cavalo. sou – meu pai nem sabe da existência deste termo – um centauro.” assim começa a trajetória de guedali, o centauro. uma trajetória que inclui aventuras engraçadas, dramáticas, mirabolantes, mas que refletem, antes de mais nada, a busca do ser humano por sua verdadeira e autêntica natureza, a luta contra as convenções e a alienação, magistralmente descritas pela mágica literatura deste grande escritor moacyr scliar. traduzido em numerosos idiomas, este romance encantou leitores no mundo inteiro. “É uma novela cômica, é uma novela realista sobre a alienação burguesa, é uma novela de debochado erotismo, é uma novela metafórica, é uma novela fantástica – um entrelaçamento do mítico com o cotidiano, uma soma de contrastes e opostos” (jack dann, the washington post.)