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A ofensiva dos bombardeiros americanos contra a Alemanha, teve

como um dos resultados, a mais sangrenta das batalhas aéreas da história.


No dia 6 de março de 1944, a 8ª Força Aérea do Exército dos Estados
Unidos realizou sua primeira operação diurna de esforço máximo contra a
capital alemã. Essa operação veio a ser a maior batalha entre todas, com
elevadas perdas de ambos os lados.
Em março de 1944 a 8ª Força Aérea baseada na Inglaterra
considerou-se forte o suficiente para realizar um grande desafio, qual seja,
um ataque diurno de esforço máximo contra o mais bem defendido alvo da
Alemanha – Berlim. Após um par de ataques falsos, o primeiro grande ataque
a luz do dia contra a capital alemã, aconteceu no dia 6 de março de 1944.
Um total de 563 B-17 Fortalezas Voadoras e 249 B-24 Liberators
foram alocados à missão. A 1ª Divisão de Bombardeiros, com 301 B-17 em
cinco grupos, atacaria a fábrica de rolamentos V.K.F. em Ekner, a terceira
maior indústria desse tipo na Alemanha. A 2ª Divisão de Bombardeiros, com
249 B-24 em três Grupos, bombardearia a fábrica da Daimler-Benz em
Genshagen, que produzia mais de mil motores aeronáuticos por mês. A 3ª
Divisão de Bombardeiros, com 262 B-17 em seis Grupos, atacaria a fábrica
da Bosch em Klein Machnow, onde eram produzidos equipamentos elétricos
para aeronaves e veículos militares.

Para um ataque tão profundo dentro do espaço aéreo inimigo, a cerca


de 600 milhas da costa
holandesa, tudo dependeria da
habilidade dos caças da escolta
em evitar os ataques dos caças
alemães. Quinze grupos de P-38
Lightnings, P-47 Thunderbolts e
P-51 Mustangs da 8ª Força
Aérea, quatro grupos de P-47 e
P-51 da 9ª Força Aérea e três
esquadrões da RAF com P-51,
num total de 691 caças, apoiariam a operação. Após terem escoltado os
bombardeiros na fase inicial da operação, os planos previam que 130 P-47
retornariam às suas bases, reabasteceriam e seriam rearmados, quando
então retornariam à Holanda para cobrir a fase final do retorno dos
bombardeiros.

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Plano da Escolta

O Plano da Escolta dos bombardeiros previa a utilização de 700 caças,


entre P-38, P-47 e P-51. A leva de bombardeiros teria um total de 94 milhas de
comprimento, divididas em três grupos. No retorno, os bombardeiros voariam
em formação de linha de frente. Cada grupo de caça voaria aproximadamente
100 milhas, junto aos bombardeiros.
Legenda:
1 - Dois grupos de P-47 se juntariam aos bombardeiros neste ponto, e
escoltariam a 1ª e 3ª Divisão de Bombardeiros.
2 - Dois grupos de P-47 se juntariam aos bombardeiros neste ponto, e
escoltariam a 1ª e 2ª Divisão de Bombardeiros.
3 - Dois grupos e meio de P-47 se juntariam aos bombardeiros neste
ponto, com um grupo escoltando a 1ª Divisão, um grupo escoltando a 3ª
Divisão e meio grupo escoltando a 2ª Divisão.
4 - Três grupos de P-51 se juntariam aos bombardeiros neste ponto,
cada um escoltando uma divisão.
5 - Três grupos de P-38 se juntariam aos bombardeiros neste ponto,
cada um escoltando uma divisão.
6 - Três grupos de P-51 da RAF se juntariam aos bombardeiros, cada
um escoltando uma divisão.
7 - Dois grupos e meio de P-47 se juntariam aos bombardeiros neste
ponto.
8 - Três grupos de P-47, um deles voando sua segunda missão do dia,
se juntariam aos bombardeiros neste ponto.
9 – Dois grupos de P-47, ambos voando sua segunda missão do dia, se
juntariam aos bombardeiros neste ponto.

Numericamente a escolta era formidável, mas vários fatores


contribuíram para limitar a distribuição da mesma ao longo da rota dos
bombardeiros, de modo a protegê-los em qualquer lugar ou hora. A primeira
restrição era o limitado raio de ação da escolta: com tanques suplementares
de combustível, poderiam penetrar profundamente em território alemão,
mas se voassem somente em linha reta. Quando tinham que acompanhar os
bombardeiros, a escolta teria que manter velocidade compatível,
significando que teriam que voar em zig-zag, o que na realidade aumentava
em muito o percurso. Eles também necessitavam ter alguma reserva para o

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caso de engajar combate. Esses fatores limitavam o tempo em que um Grupo
de caça poderia permanecer junto aos bombardeiros sobre a Alemanha, a
cerca de 30 minutos, ou 100 milhas de penetração. Então, esperava-se que
um outro Grupo de caças chegasse para substituir o anterior. Assim, a
escolta numa penetração profunda, lembrava uma corrida de revezamento,
com algumas unidades movendo-se em direção aos bombardeiros e outras
retornando às suas bases após terem passado algum tempo na escolta.
Resumindo, na realidade os aliados teriam no máximo 140 caças de cada vez,
escoltando os bombardeiros, ou seja, apenas a sexta parte de toda a força
disponível.

A rota planejada, mostrando as zonas de antiaérea.

Como era usual, os planos de ataque procuravam evitar que os


bombardeiros sobrevoassem as zonas de antiaérea, sempre que possível, ao
mesmo tempo em que tentavam minimizar a necessidade de que os
bombardeiros fizessem muitas curvas. A menos do alvo, os planos previam que
os bombardeiros só passariam por uma zona de antiaérea, moderadamente
defendida, próximo a cidade de Vechta. A força cruzaria a costa holandesa
próximo a Egmond, quando então voaria para leste em direção a Celle. Em
seguida iria para sudeste até alcançar o ponto inicial da corrida de bombardeio,
a cerca de 18 milhas dos alvos. Após o ataque, os bombardeiros sairiam da
zona da antiaérea de Berlim, o mais rápido possível, se reagrupariam com
qualquer outro grupo e retornariam a Inglaterra.

A segunda restrição era o comprimento da onda de bombardeiros, que


chegaria a 94 milhas neste ataque, ou seja, se a cada momento os aliados
tivessem apenas 140 caças, e eles estivessem cobrindo toda a onda, ter-se-
ia apenas três caças para cada duas milhas. Taticamente seria uma escolta
inútil. A solução encontrada foi a de concentrar metade da escolta em torno
de um ou dois grupos de bombardeiros, que estivessem à frete da leva, pois
esses seriam aqueles que deveriam sofrer os maiores ataques dos caças
alemães. O restante da escolta seria dividida em esquadrilhas de oito
aeronaves cada, e patrulhariam os flancos da restante leva de

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bombardeiros. Esse arranjo significaria que na maior parte do tempo, boa
parte da formação de bombardeiros não teria escolta alguma próxima, ou
seja, em caso de ataque, não haveria caças próximos e os bombardeiros
teriam que utilizar seu poder de fogo defensivo, de modo a conter os
ataques.
Precisamente às 07:50 horas, os bombardeiros da 8ª Força Aérea da
USAAF começaram a decolar de suas bases, no leste da Inglaterra. Uma
vez no ar, eles formavam inicialmente os Grupos, que depois formariam os
Grupos de Combate. Quando os Grupos de Combate cruzassem a costa
inglesa, em local e hora previstos, eles formariam as Divisões. Às 10:35 a
vanguarda da Divisão que liderava o ataque, a 1ª, cruzou a costa holandesa,
cerca de três horas após os primeiros bombardeiros terem decolado.
Conforme eles entravam em formação, os bombardeiros já ficavam
sob os feixes dos radares alemães de longo alcance, Mammut e
Wassermann, instalados na Holanda e na Bélgica. Eles passavam então,
relatórios às centrais de controle da caça, de onde a defesa aérea dos céus
da Alemanha era controlada. Essa ação, acionaria três grandes centros de
controle: a 3ª Divisão de Caça próximo a Arnhein na Holanda, a 2ª Divisão
de Caça em Stade próxima a Hamburgo e a 1ª Divisão de Caça em Döberitz
próxima a Berlim.

O Me-110G era o principal tipo de aeronave da Luftwaffe dedicada a


atacar os bombardeiros.
O modelo acima está equipado com dois canhões de 30 mm, quatro de
20 mm e quatro lançadores de foguete de 21 cm sob as asas.

Com as três Divisões de Bombardeiros voando em linha, uma atrás da


outra, a 1ª e a 3ª com B-17 e a 2ª com B-24, eles voavam em direção leste
sobre a Holanda a três milhas por minuto, a uma altitude em torno de 20 mil
pés. Essa armada, levava mais de trinta minutos para passar por um
determinado ponto de navegação. Para quem estivesse observando do solo,
era um espetáculo de poder militar.
Alguns críticos comparam as ações dos bombardeiros pesados
americanos sobre a Alemanha com as batalhas que aconteceram sobre a Grã
Bretanha durante a Batalha da Inglaterra no verão de 1940. Ambas as ações
foram realizadas à luz do dia, na qual numericamente inferiorizados, os
defensores protegiam a terra natal contra ataques de bombardeiros

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inimigos com forte escolta de caça. Entretanto, a enorme distância dos
alvos na Alemanha, significava que essa campanha era muito diferente. Os
defensores tinham tempo suficiente para se agruparem e podiam organizar
muito melhor suas ações do que os caças da RAF. Durante a Batalha da
Inglaterra, os bombardeiros alemães levavam apenas trinta minutos para
alcançar Londres, um de seus alvos mais distantes. Em 1944, os
bombardeiros americanos levavam não menos que quatro horas, sobre
território hostil, antes que alcançassem seus alvos na Alemanha. Em
contraste com as nervosas decolagens de 1940, os controladores da caça
alemã tinham tempo suficiente para preparar sua tática e direcionar os
caças em posição adequada. Certamente, este foi o que aconteceu no dia 6
de março de 1944.
Nos aeródromos da Alemanha, Holanda, Bélgica e norte da França, as
unidades de caça foram levadas a diferentes estados de alerta, até que os
pilotos estivessem dentro dos cockpits, amarrados e aguardando ordem
para decolar. Conforme a força de ataque penetrava na Holanda, os
controladores alemães avaliavam que o alvo deste dia estaria localizado no
norte da Alemanha.
Neste dia, a Luftwaffe dispunha apenas de pouco mais de 900 caças
disponíveis para defesa do Reich. Os caça-pesados eram bimotores Me 110 e
410, especialmente armados para derrubar os bombardeiros com seus
pesados canhões e foguetes ar-ar de 21 cm. Além desses, havia cerca de
600 Me 109 e Fw 190, caças monomotores e 200 caças noturnos Me 110 e
Ju 88, que poderiam auxiliar nas operações diurnas.

O Me-109G formava o núcleo da defesa aérea do Reich.


O modelo acima era equipado com três canhões de 20 mm e duas
metralhadoras de 13 mm

Do mesmo modo que haviam restrições operacionais que limitavam as


operações de escolta dos caças aliados, outras restrições também limitavam
a força de defesa. As distâncias a serem cobertas afetavam ambos os lados.
As forças de defesa, deveriam ser espalhadas por uma enorme área, que
cobria a França, a Holanda, a Bélgica e praticamente toda a Alemanha. Os
controladores teriam que ser bastante habilidosos, para poderem utilizar
unidades de caça que encontravam-se a certa distância da rota dos
bombardeiros, como por exemplo as localizadas no leste da França ou no sul

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da Alemanha. Embora os caças bimotores possuíssem raio de ação suficiente
para alcançarem qualquer local da Alemanha, essas grandes e pouco
manobráveis aeronaves, sofreriam enormes perdas caso fossem atacadas
pela escolta aliada, e por isso, a ação dessas aeronaves ficou limitada a
combates na região a leste de uma linha que unia as cidades de Bremen,
Kassel e Frankfurt. Os caças noturnos, mais lentos devido ao peso de seus
equipamentos extras (radares e antenas), só seriam empregados contra
aeronaves solitárias e com problemas.
O fato dos bombardeiros estarem acompanhados de escolta,
representou um problema sério para os pilotos de caça alemães. A solução
encontrada foi a utilização de ataques em massa, sobre julgando
numericamente a escolta, num determinado lugar e hora. E mais, de modo a
reduzir a efetividade do fogo das metralhadoras dos bombardeiros, o
ataque seria realizado pela frente da formação, procedimento este que
requeria uma cuidadosa orientação dos controladores de terra, bem como
uma habilidosa tática no ar, por parte do líder da formação.
Às 11:00 horas, sete minutos após o bombardeiro líder ter cruzado a
costa holandesa, a primeira unidade de caça alemã decolou: 107 Me 109 e
Fw 190 dos JG 1, 11 e 54. Uma vez no ar, esses caças se juntaram em grupos
de 25 a 30 aeronaves, e começaram a subir para a altitude determinada,
quando então dirigiram-se para Lake Steinhuder, próximo a Hanover, local
designado para a interceptação. Embora esse grande Grupo fosse duas
vezes maior do que aquele liderado pelo famoso Douglas Bader durante a
Batalha da Inglaterra em 1940, ele não sofreria dos mesmos problemas
então encontrados. Inicialmente, a formação americana ocupava um volume
muito maior do que o ocupado pelos bombardeiros da Luftwaffe em 1940.
Depois, os caças atacariam as formações pela frente. Esses dois fatores
impediriam que os caças da escolta pudessem realizar ações conjuntas.
A escolta dos bombardeiros, durante a parte inicial da penetração,
era realizada por 140 P-47 dos Grupos de Caça Nº 56, 78 e 353. Embora
numericamente superiores, a escolta não tinha vantagem. Os pilotos alemães
focariam seu ataque nos bombardeiros, e até o último instante, a escolta
não saberia aonde o ataque seria realizado. Como dito anteriormente,
metade da escolta estava concentrada das formações que iam à frente, com
o restante distribuído pelo resto da força,
Logo que a vanguarda da força atacante cruzou a costa holandesa, o
B-17 Pathfinder equipado com radar de superfície, que ia à frente da
formação, apresentou problemas no equipamento. Como resultado, a
formação que liderava a força tomou um rumo ligeiramente errado, mais
para o sul do que a rota planejada, com o restante da formação seguindo-o.
Após voarem cerca de 20 milhas num rumo errado, o líder descobriu o erro,

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tomando agora um rumo mais para o norte, de modo a compensar o engano
cometido, mas agora, esse erro já se propagava. O Grupo Nº 13, que voava
no meio da leva, estava a alguns minutos da costa holandesa, quando perdeu
contato com o grupo que ia à sua frente, o Nº 4. Ignorando o desvio
cometido pelos bombardeiros a sua frente, o Grupo Nº 13 manteve seu
curso, opção esta que iria lhe custar caro.
Vetorados pelos controladores da 3ª Divisão de Caças em Stade, o
líder da formação de caças da Luftwaffe vislumbrou a formação americana
às 11:55. Os controladores de terra tinham realizado um belo trabalho, pois
os atacantes estavam exatamente á frente dos defensores, mas longe o
suficiente para que os caças defensores pudessem realizar pequenas
correções de rumo, de modo a alinhá-los com a leva atacante. Essa formação
americana contava com apenas oito caças como escolta. Era o Grupo Nº 13.
Os P-47, ao verem os caças da Luftwffe se aproximando, tentaram
interceptar os atacantes, mas os Me 109 e os Fw 190, simplesmente os
ignorou, focados nos bombardeiros. Eles se encontraram à 21 mil pés, sobre
a pequena cidade alemã de Haselünne, próxima a fronteira holandesa.
Um ataque frontal contra os bombardeiros, exigia um elevado grau de
perícia de um piloto de caça, para ser bem sucedido. A velocidade relativa
era de aproximadamente 200 jardas por segundo, e por isso os pilotos de
caça tinha menos do que meio segundo para atirar de uma distância de 500
jardas, antes que tivessem que puxar o manche para evitar uma colisão. Para
pilotos experientes, como o Hauptmann Anton Hackl, o maior ás entre os
pilotos dos Fw 190 do III/JG 11, aquele dia seria diferente. Para um
experiente piloto, meio segundo de fogo, era suficiente para derrubar um
quadrimotor, com toda certeza. O grande perigo desse tipo de ataque, era
quando os caças passavam pela formação e eram alvejados pelos artilheiros
de ré.
O ataque durou menos do que um minuto. Então, quase que em câmera
lenta, uma sucessão de mortalmente feridos bombardeiros começaram a
sair de formação. O Grupo Nº 13, voava em duas formações, separadas
entre si de uma milha. A formação B, era constituída de 36 bombardeiros
pertencentes aos Grupos Nº 100 e 390, e o grupo que voava mais embaixo,
constituído de 16 bombardeiros, foi quem mais sofreu. Todas as seis
aeronaves da esquadrilha mais alta foram abatidos; duas das seis da
esquadrilha intermediária também, assim como, duas das quatro da
esquadrilha inferior.
Após o passe de ataque inicial, os caças alemães dividiram-se em
elementos (duas aeronaves) ou esquadrilhas (quatro aeronaves), realizaram
uma longa curva e retornaram para um novo ataque. Alguns ultrapassaram os
bombardeiros, aceleraram e posicionaram-se para um novo ataque frontal,

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outros atacaram de ré, e outros mergulharam em busca dos bombardeiros
que haviam abandonado a formação e tentavam escapar em direção ao oeste.
A partir do momento em que os caças alemães foram vistos, o Grupo
Nº 13 chamava desesperadamente por auxílio através do rádio. O Coronel
Hub Zemke, comandante do Grupo de Caças Nº 56, que liderava aqueles oito
P-47, conseguiu chegar junto aos bombardeiros, no exato momento que o
Oberleutnant Wolfgang Kretschmer da JG 1 alinhava-se para realizar um
segundo ataque. Zenke vislumbrou aquele solitário Focke Wulf abaixo de sua
aeronave e ordenou que uma de suas esquadrilhas permanecesse naquela
altitude para cobri-lo, enquanto mergulhava com seus outros quatro caças
para atacar aquele alemão.

O fantástico Mustang P-51 possuía raio de ação suficiente para escoltar


os bombardeiros até Berlim.

Antes de abrir fogo contra o bombardeiro que havia selecionado como


alvo, Kretschmer olhou sua cauda para ver se estava livre de alguma ameaça.
Mas não estava. O piloto alemão ficou em pânico quando viu o Thunderbolt
de Zemke aproximando-se rapidamente de seu caça, seguido de outros três.
Kretschmer realizou então uma curva para à esquerda muito fechada com
seu Focke Wulf, numa tentativa de escapar do ataque, mas já era muito
tarde. Nessa hora, Zemke já começava a atirar com suas oito metralhadoras
.50, cujos projéteis atingiam a asa e a fuselagem do caça alemão. Conforme
Zemke puxava seu caça para recuperar altitude, ele olhou para trás e viu o
caça inimigo caindo envolto em chamas.
Kretschmer ainda conseguiu abrir o canopy de seu caça e saltou de
para-quedas. Chegou ao chão com algumas queimaduras nas mãos e na face,
além de estilhaços nas pernas.
Essas ações duraram apenas 10 minutos, quando então os caças
alemães já se munição, mergulharam em direção às suas bases, de modo a

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evitar a escolta, ao mesmo tempo em que uma segunda formação de caças
alemães posicionava-se para engajar os atacantes. De seus postos de
comando em Döberitz, próximo a Berlim, os controladores do JG1
agrupavam seus caças disponíveis naquela região da Alemanha. Esses caças,
eram os 42 Me 110 e 410 do II e do III Gruppen da Zerstörergeschwader
26 e do I e II Gruppen da ZG 76, que tinham como escolta 70 Me 109 e Fw
190 do I, II e IV Gruppen da JG 3, do I Gruppen da JG 302 e do
Sturmstaffel 1.
Esses caças atacariam dois grupos de Fortalezas Voadoras,
compostas de 51 aeronaves do 91º e 381º Grupo de Bombardeiros e de 61 do
401º e 457º Grupo, esta última voando a algumas milhas à direita do
primeiro. Mas essas duas formações, por estarem à frente dos demais
bombardeiros, eram protegidas por 80 caças Mustangs P-51 do 4º e do 354º
Grupo de Caças.

O P-47 Thunderbolt

Desta vez, os caças estavam no lugar certo, na hora certa e em


quantidade suficiente para enfrentar o ataque alemão. Como os caças
alemães estavam voando mais alto, deixavam rastros de condensação, que
puderam ser vistos a mais de 30 milhas de distância, o que fez com que os
Mustangs pudessem se posicionar adequadamente a aguardar o ataque em
alerta. Quando os caças alemães atacaram, os Mustangs conseguiram fazer
com que muitos dos Me 110 e 410 fossem obstruídos, mas mesmo assim,
alguns prosseguiram em seu mergulho, numa tentativa de lançar seus
foguetes de 21 cm contra os bombardeiros.
De modo acidental ou deliberado, um dos Me 410 colidiu com uma das
B-17 do 457º Grupo, cortando-lhe a cauda, fazendo com que ela perdesse o
controle imediatamente e entrando num forte mergulho para a esquerda da
formação. Algumas aeronaves quase foram atingidas pela aeronave, mas uma
que estava posicionada mais abaixo não teve a sorte, sendo atingida em
cheio. Apenas o metralhador traseiro desta última sobreviveu.

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Conforme os Me 110 e 410 surgiam por detrás da formação de
bombardeiros, outros Mustangs os atacavam, realizando um excelente
trabalho de cobertura, abatendo rapidamente 14 caças alemães. Mas por
trás desses caças pesados, chegou a força de ataque principal, que era
constituída de 70 caças monomotores Me 109 e Fw 190. A velocidade
relativa era muito elevada, algo em torno dos 800 km/h, e tudo acontecia
muito rapidamente. Os combates duraram aproximadamente dez minutos, e
graças ao esforço dos Mustangs, as perdas sofridas foram muito menores
do que as do primeiro ataque, com apenas sete bombardeiros abatidos ou
forçados a abandonar a formação e abatidos em seguida.
Passava pouco das 13:00 horas, e as unidades atacantes estavam
posicionando-se para iniciar a corrida de bombardeio. Defendendo Berlim,
estava a 1ª Divisão da Flak (antiaérea), composta dos Regimentos Nº 22, 53,
126 e 172, com mais de 400 armas, desde os famosos 88 , passando pelos
105 e chegando aos 128mm. Conforme as formações de bombardeiros
aproximavam-se da capital alemã, entravam no inferno da antiaérea
enquanto que os caças alemães se retiravam.
Aproximando-se do alvo, os bombardeiros dividiram-se em três
grupos e alinharam-se para a corrida de bombardeio. Os primeiros a
sentirem a fúria da antiaérea foram os tripulantes da B-17 da 1ª Divisão de
Bombardeiros. A flak estava extremamente pesada neste dia, com os
projéteis explodindo à várias altitudes e extremamente densos.
Exatamente nesta hora, a meteorologia interveio e protegeu o alvo
primário, muito mais do que a flak poderia fazer. Inicialmente, parecia que
os bombardeiros líderes poderiam realizar uma corrida visual através dos
buracos existentes nas nuvens, mas no momento crítico, os pontos a serem
visados estavam encobertos, mas já tarde de mais para utilizar o ataque por
radar. Nenhuma aeronave da 1ª Divisão atingiu o alvo primário, lançando suas
bombas nos subúrbios de Berlim, mais precisamente em Köpenick e
Weissensee, que não estavam cobertos por nuvens.
Estória similar aconteceu com os bombardeios da 3ª Divisão, pois seu
alvo primário, Klein Machnow, foi perdido e eles atacaram os subúrbios de
Steglitz e Zehlendorf.
Apenas alguns bombardeiros B-24 da 2ª Divisão, a última a atacar,
atingiu seu alvo principal, a fábrica de motores aeronáutica da Daimler-Benz
em Genshagen. Os demais atacaram seu alvo secundário. A antiaérea abateu
apenas 4 bombardeiros, mas muitos foram atingidos pelos disparos,
forçando-os a abandonar a formação. Cerca da metade dos bombardeiros
que alcançaram Berlim foram atingidos pela flak.
Conforme os bombardeiros saíam da zona da antiaérea, alguns caças
monomotores alemães tentaram ataca-los, juntamente com 14 caças

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bimotores noturnos Me-110 da NJG 5, mas a escolta americana rapidamente
tomou conta da situação, afastando os Me-110, e abatendo dez.
Substituídos por Thunderbolts recém-chegados, os Mustangs
dirigiram-se para a Inglaterra, não sem antes abater um solitário Me-109,
pilotado pelo Oberleutnant Gerhard Loos, comandante da JG 54, e um dos
grandes ases alemães, então com 92 vitórias.

As Fortalezas Voadoras em formação

As ações aéreas junto aos bombardeiros, recomeçaram às 14:40,


quando eles foram atacados por Me-109 e Fw-190, que haviam pousado para
reabastecerem e re-armarem, após terem participado anteriormente das
ações que ocorreram próximo à Haselünne. A estes, juntaram-se outros
caças, vindos da França e da Bélgica, que não tinham conseguido interceptar
os atacantes anteriormente. A formação mais atingida nessa fase da missão
foi o 45º Grupo de Bombardeiros. Um total de 7 aeronaves foram abatidas,
sendo que houve um caso de colisão entre dois bombardeiros. Os alemães
perderam um caça, pilotado pelo Hauptmann Hugo Frey da JG 11, um ás em
abater bombardeiros pesados, com 26 vitórias, cujo Fw-190 foi abatido
pelos artilheiros americanos.
Em 6 de março de 1944, um total de 814 Fortalezas Voadoras e
Liberators decolaram da Inglaterra, dos quais, 672 conseguiram atacar os
alvos primários e secundários na área de Berlim. Setenta e nove não
retornaram, incluindo quatro que foram parar na Suécia. Sessenta pousaram
na Inglaterra com danos pesados, e 336 com danos leves. Dos que não
retornaram, 42 com certeza foram abatidos pela caça, 13 pela flak, cinco
para a caça e flak e cinco por colisões com aeronaves amigas ou inimigas. Os
quatro que faltam, foram perdidos por causas desconhecidas. Um total de
691 caças participaram da escolta, dos quais 11 foram abatidos e 8
retornaram com bastante danificados. Dez foram abatidos pela caça alemã

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e um pela flak. Das aeronaves americanas que penetraram no espaço aéreo
alemão, um bombardeiro em cada dez e um caça em cada 75, foi abatido.
Numa ação deste tipo, caça versus bombardeiro, era normal que as
perdas ficassem concentradas em algumas unidades, e nesta missão, eram
todas unidades que voavam em B-17. A unidade mais atingida foi o 100º
Grupo de Bombardeios, que perdeu 15 das suas 36 aeronaves que cruzaram a
costa holandesa, com a maioria das perdas acontecendo próximo a
Haselünne. O 95º Grupo de Bombardeios, que juntamente com o 100º Grupo,
compunham o Grupo 13B, perdeu 8 aeronaves. O 388º Grupo de
Bombardeiros perdeu sete aeronaves e o 91º perdeu seis. Esses quatro
grupos, perderam juntos, mais da metade de todos os bombardeiros que não
retornaram da missão. As demais 33 aeronaves perdidas, foram distribuídas
quase que uniformemente pelos demais 19 Grupos, sendo que seis Grupos
não sofreram perda alguma.
Em termos de pessoal, 701 homens não retornaram imediatamente da
missão. Desses, 229 foram mortos ou considerados desaparecidos em ação e
411 foram feitos prisioneiros. Treze caíram na Holanda, estabeleceram
contato com a Resistência e escaparam de serem capturados. Oito caíram no
Mar do Norte e foram salvos pelo Serviço de Busca e Salvamento da RAF.
Finalmente, os 40 homens, que estavam a bordo das quatro aeronaves que
aterrisaram na Suécia, após alguns meses, foram repatriados.
Neste dia, a Luftwaffe realizou 528 saídas de caças, dos quais,
sessenta e dois foram abatidos e 13 danificados, sendo que os caças
bimotores foram os que tiveram perdas. A NJG 5 perdeu 10 de seus 14
caças Me-110; a Zerstörergeschwader 26 perdeu 11 de seus 18 caças entre
Me-110 e Me-410. Em termos de pessoal, a Luftwaffe perdeu 42
tripulantes, incluindo dois grandes ases. Vinte e três tripulantes ficaram
feridos.
A tentativa de cortar a produção dos três alvos primários em Berlim,
foi um fracasso. Nenhum dos objetivos foi atingido efetivamente, somente
a fábrica de motores em Genshagen foi realmente atingida, por apenas um
quarto das aeronaves a ela destinada, e mesmo assim com as bombas caindo
muito espalhadas.
Por outro ponto de vista, pode-se dizer que o ataque a Berlim foi um
sucesso, pois provou ser possível daqui para frente, atacar qualquer alvo na
Alemanha, independentemente das defesas, à luz do dia, com escolta.
A 8ª Força Aérea da USAAF, rapidamente tirou lições dessa missão.
Dois dias depois, ela enviou 539 bombardeiros novamente para Berlim,
repetindo a missão no dia 9, com 490 bombardeiros e no dia 22 com 657,
sendo que nesses dias, as nuvens não esconderam a capital alemã. No total,
durante o mês de março, a 8ª e a 9ª Forças Aéreas do USAAF na

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Inglaterra e a 15ª Força Aérea da USAAF na Itália, lançaram 18 grandes
ataques contra alvos em territórios em territórios dominados pela
Alemanha, perdendo apenas, entre bombardeiros e caças, pouco mais de 400
aeronaves, e graças a logística e ao treinamento de tripulações, essas
perdas foram rapidamente repostas.

Outras Fortalezas Voadoras

Durante o mesmo período, as unidades da Luftwaffe que defendiam


os céus alemães, tiveram 356 caças destruídos e 163 danificados, com
reposição difícil. Perderam também 219 tripulantes e teve 103 feridos, a
maioria deles pilotos, mas seu sistema de treinamento, principalmente nessa
fase da guerra, contava com poucas aeronaves, instrutores e combustível, e
mesmo sacrificando qualidade por quantidade, ela foi incapaz de repor esses
perdas.
No início de maio de 1944, o Generalmajor Adolf Galland, Inspetor
Geral da Caça, foi forçado a escrever em relatório enviado ao Ministério do
Ar: Entre janeiro e abril de 1994, nossas unidades de caça perderam mais
de um milhar de pilotos, incluindo nossos melhores comandantes de Staffel,
Gruppe e Geschwader. Cama ataque inimigo, nos custa, pelo menos, 50
tripulantes. Logo nossa força colapsará.
Quando os aliados desembarcaram na Normandia, no dia 6 de junho, a
Luftwaffe foi incapaz de intervir eficazmente. A supremacia aérea sobre a
França, necessária para garantir segurança da operação, havia sido obtida,
após uma longa e desgastante campanha de atrito sobre a Alemanha,
realizada nos cinco meses anteriores.

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