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LIVRO

CHARLES RICHET

A GRANDE ESPERANÇA

PRIMEIRA PARTE

POR QUE EXISTES?

LIVRO I

A expansão do homem e da inteligência

LIVRO II

A defesa do indivíduo contra a morte

LIVRO III

A defesa da espécie e o amor

SEGUNDA PARTEA GRANDE ESPERANÇA

LIVRO I

O mundo habitual

LIVRO II

O Inabitual
CAPÍTULO I - O Inabitual na biologia
CAPÍTULO II - O Inabitual no conhecimento
CAPÍTULO III - O Inabitual no mundo material
CAPÍTULO IV – Discussão

Conclusão
Notas de Rodapé

PRIMEIRA PARTE

POR QUE EXISTES?

LIVRO I

A EXPANSÃO DO HOMEM E DA INTELIGÊNCIAI


Por que existes?
Não és realmente curioso se nunca fizeste esta pergunta. Feliz negligência, não
obstante bem singular! Pois jamais pediste para viver e a existência te foi
imperiosamente imposta.
Por quem? Para quê? Por quê?
No entanto tens em parte o direito de o saber, ou pelo menos de interrogar o
destino, interrompendo O curso do teu trabalho, dos teus prazeres, dos teus amores e de
tuas inquietações.
Mas não! Contenta-te com viver, antes vegetar, porque viver sem refletir sobre
seu destino é lamentável. Andas, dormes, comes, bebes, amas, choras, ris, estás triste ou
alegre e jamais te preocupas com a sorte que esperam teus bisnetos, nem com o
universo misterioso que te cerca, universo esse estranhamente colossal do qual não és
mais que um átomo. Desse mundo, apesar de tuas pretensões à ciência, não vês mais
que as aparências, porque dele não compreendeste grande cousa.
Então nunca procuraste saber por que existes?
Contudo és um ente sensível, sentindo alegrias e pesares. Para que servem esses
pesares? Para que servem essas Mas não! Contenta-te com viver, antes vegetar, porque
viver sem refletir sobre seu destino é lamentável. Andas, dormes, comes, bebes, amas,
choras, ris, estás triste ou alegre e jamais te preocupas com a sorte que esperam teus
bisnetos, nem com o universo misterioso que te cerca, universo esse estranhamente
colossal do qual não és mais que um átomo. Desse mundo, apesar de tuas pretensões à
ciência, não vês mais que as aparências, porque dele não compreendeste grande cousa.
Então nunca procuraste saber por que existes?
Contudo és um ente sensível, sentindo alegrias e pesares. Para que servem esses
pesares? Para que servem essas alegrias? Eis aí o que seria bom saber. Eis aí o que é
justo aprofundar. Mas não és curioso.
Pois bem! se não és curioso, eu o serei por ti e procurarei, sem frases vãs, ver se
nossa existência, nossa mesquinha e fugaz existência tem um fim; se temos um papel a
desempenhar, por pequeno que seja, neste imenso Cosmos. Tudo é possível! e talvez os
homens e os animais nada mais sejam do que pequenos bonecos, que uma força
misteriosa, sem dúvida caprichosa, se diverte a movimentar. Seja como for, ela infligiu
a todos o regalo da vida e a nós impôs a consciência. Sem nos consultar, concedeu-nos
esse dom doloroso e sublime de sofrer, amar e pensar.
Podes então perguntar a essa força misteriosa: por que te ocupaste de nós'? Que
queres?

II

Sabemos perfeitamente, não por que, mas como nasceste. Duas pequeninas
células microscópicas encontraram-se um dia (ou antes uma noite) numa úmida e
sombria caverna e tu és o resultado dessa união silenciosa.
Ora não havia senão uma célula fêmea entre cem milhões de células machos que
turbilhonavam em redor dela. O pequeno macho que teve o privilégio de penetrar a
célula fêmea, foste tu !Sim!já eras tu. De tal forma eras tu que nada mais poderia
modificar tua forma e tua evolução.
Mais tarde cresceste, tomaste a forma de embrião, de feto, de homem. Adquiriste
hábitos, ganhaste teu pão, procuraste ser amado ou amar; sentiste a sede de prazeres, de
amores, de dinheiro ou de glória. As duas células, depois de unidas para formar um ente
humano, seguiram uma rota longa e complicada.
Mas se um outro dos dez milhões de machos que volitavam em redor da célula
fêmea tivesse tido mais apetite, se tivesse mostrado mais ágil ou mais vigoroso, não
mais serias tu quem alcançaria a inefável felicidade de desenvolver-se: seria teu irmão
quem teria nascido. Portanto, bem vês que ro momento fatídico do teu nascimento
podiam ter nascido milhares de seres diferentes de ti.
Na verdade, tu és o resultado de um acaso prodigioso, porque nada poderia fazer
prever que essa célula macho fosse a privilegiada, e certamente no teu ponto de vista
pessoal é muito interessante, mas no ponto de vista geral, que tenha sido tu ou um dos
milhares dos teus possíveis irmãos, isso nada significa. Para a humanidade imensa,
nenhuma importância haveria se tivesse nascido um de teus irmãos, sendo um pouco
maior ou menor do que tu, com o nariz mais longo ou mais curto.

III

Transponhamos, pois, o imenso passado que te precede. Cem milhares de


séculos. Isso nada é do ponto de vista da eternidade do tempo.

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