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indefinições
Dúvidas só serão esclarecidas com a publicação do novo
"Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa", em fevereiro
MÁRCIO PINHO
LUISA ALCANTARA E SILVA
Dúvidas
Segundo a consultora de língua portuguesa do Grupo Folha, Thaís
Nicoleti de Camargo, as principais indefinições estão centradas na
aglutinação ou no uso do hífen.
Daí surgem dúvidas como "subumano" ou "sub-humano", "co-
habitar" ou "coabitar" e "abrupto" ou "ab-rupto". Quanto ao prefixo
"re" (usado em palavras como "reeditar" ou "re-editar"), Thaís afirma
que o Acordo não faz menção específica a ele, o que provoca
diferentes interpretações.
Outra palavra que vem gerando dúvidas é "para-raios" (que perde o
acento diferencial do "pára"). No "Minidicionário Aurélio da Língua
Portuguesa", grafa-se "pararraios". Já o "Meu Primeiro Dicionário
Houaiss" e o "Minidicionário Houaiss" grafam "para-raios".
O motivo da dúvida é que o Acordo diz que devem ser aglutinadas,
sem hífen, as palavras compostas quando "se perdeu, em certa
medida, a noção de composição", conceito usado na agora
"paraquedas".
Para Thaís, "é provável que a perda da percepção dos elementos
constitutivos da palavra "pára-quedas" se deva à existência dos
derivados "pára-quedista" e "pára-quedismo". A ausência das
palavras "quedista" e "quedismo" na língua favorece o processo
natural de aglutinação". "No caso de "pára-raios" e "pára-brisa", isso
não ocorre, pois não há derivados", explica ela. Nesses casos, só
há a perda do acento diferencial da forma "pára", e não deve ser
feita a aglutinação.
A recomendação de Thaís é adotar a grafia antiga apenas em casos
de dúvidas causadas pela subjetividade do Acordo, para que a
assimilação do novo sistema não seja adiada.
A Folha já adota a nova grafia a partir de hoje.
foco
"Veteranos" em reformas afirmam que irão
ignorar novas mudanças na grafia
Rafael Hupsel/ Folha Imagem
A aposentada Maria Aparecida do Rio Pinho, que diz que nem vai
se informar sobre o novo Acordo
DA REPORTAGEM LOCAL
Para quem já passou por outras reformas ortográficas, as novas
regras válidas para a língua portuguesa a partir deste ano não
deverão gerar problemas na hora de escrever. Eles afirmam que
não darão atenção ao novo Acordo.
"Até hoje, só coloco acento quando acho óbvio", afirma a
aposentada Maria Aparecida Pires do Rio Pinho, 82.
Nascida em 1926, Cida, como é chamada pelos amigos, foi
registrada na certidão de batismo como Maria Apparecida, com "p"
duplo. Já na primeira carteira de identidade, expedida depois da
reforma da década de 40, seu nome apareceu com um "p" só.
Ela conta que isso lhe causou problemas quando foi tirar a carteira
profissional de bibliotecária. "Não queriam me dar porque os dados
nos documentos não batiam", lembra ela, rindo.
Sobre o Acordo atual, ela diz que nem vai lê-lo. "Ah, o trema vai
cair, é? Acho ótimo, porque é uma perda de tempo", diz ela, que até
hoje se recusa a usar o teclado de um computador para escrever
projetos para a ONG em que é voluntária, Lar do Caminho.
"E vou continuar entregando o texto do meu jeito. Quem for digitá-lo
arruma."
O mesmo pensamento tem o bibliófilo José Mindlin, 94. "Já vivi
vários acordos ortográficos sem tomar conhecimento deles", diz ele,
que escreve a palavra "húmido", com "h", até hoje. "Mas, pelo jeito,
eu escrevo razoavelmente bem", brinca.
Mindlin diz que se adaptou a algumas mudanças pelas quais
passou, "mas só a algumas". "Se me parecia razoável, tudo bem,
mas, às vezes, são coisas sem grande importância. Nem todas as
inovações são razoáveis."
E ele inclui nas inovações sem razão a queda do acento agudo em
ditongos abertos, como "idéia", que passa a ser "ideia". "Eu vou
continuar escrevendo "ideia" com acento."
Questionado sobre se vai tentar se adaptar desta vez, disse: "Não
perco o sono com isso. O mais importante é entender o significado
do que se diz ou do que se escreve".
Já quem trabalha com educação afirma que vai tentar se adaptar.
"Ah, tenho de aprender essas regras", diz Tiyomi Misawa, 58,
orientadora de um colégio em São Paulo. "Só acho que poderiam
ter caído todos os acentos. Quanto menos, melhor", diz ela, que já
era professora em 71, quando houve a última reforma. Agora, diz,
seus alunos estão aprovando as mudanças recém-chegadas.
"Acento, por exemplo, eles quase já não usam mesmo."
(LUISA ALCANTARA E SILVA)
DA REPORTAGEM LOCAL
Concursos
Os concursos e vestibulares admitirão as duas grafias por quatro
anos, mas a maioria não adotará as novas regras em seus
enunciados de imediato.
Uma das exceções é a FGV Projetos, que adota a nova ortografia
em suas questões a partir de janeiro na aplicação de um concurso
para vagas no MEC. Da mesma instituição também provém uma
iniciativa no ensino superior para a adaptação.
O professor de português jurídico Leonardo Teixeira é o
responsável por ensinar as novas regras às turmas de graduação
da Fundação Getulio Vargas. "Se houver resistência das
instituições, da imprensa, será mais difícil a assimilação."
Também há movimentação na rede pública. O governo de São
Paulo disse que 17 mil dos 230 mil professores da rede já foram
treinados em outubro e que, neste ano, passarão noções da nova
ortografia aos alunos.
"No começo, haverá certa confusão. Mas é algo que em quatro
anos pode ser aprendido. O professor deve ir chamando a atenção
às regras. A criança tem memória visual desenvolvida, o que
facilita", diz Bernardete Gatti, diretora de pesquisa da Fundação
Carlos Chagas e docente da PUC. (MÁRCIO PINHO E LUISA
ALCANTARA E SILVA)
OPINIÃO
O (Des)Acordo Ortográfico
Não teria sido melhor
esperar que tudo estivesse
realmente pronto para
"cortar a fita" do bendito
Acordo Ortográfico?
inculta@uol.com.br
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0101200901.htm
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