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TODA
(SECULAR\
RELIGIOSA)
2007-
2008
(c)
J.T.PARREIRA
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REGRESSO
23-12-2008
COMPANHEIROS DA ILHA
Ao mar
azul e ferido pelo bico das gaivotas
Carecemos da mente
que está no firmamento
das estrelas estendidas
sobre o mar?
A noite aveludará nosso sono
e o amor será um alvor no horizonte.
21-12-2008
CANTANTE \ CANTAOR
20-12-2008
CASA NO DESERTO
17-11-2008
ANUNCIAÇÃO
Um anjo imune
ao calor de dia, ao frio
do fundo das almas desertas,
desceria
do tecto do céu
para anunciar os rumos
de Deus no mundo.
A AUSÊNCIA DE ESPELHOS
El viento no lo sabe
Dámaso Alonso
1-11-2008
CONTO CURTO
A car door slamming in the night
John Ashbery
Os teus ruídos
chegaram a casa
A casa pairou
na luz
das janelas
uma corrente de ar
nas cortinas
voou o vento
quando tornaste
a sair
era já o último
silêncio.
O BEIJO DE JUDAS
nessa noite o ar
amacia a face
de Cristo, confiante
daquele beijo triste.
25-1-2008
CASA DE JUDEUS, ANO 1940
NOVOS CANTARES
14-10-2008
OS DOIS JOGADORES
É o silêncio como o ar
em movimento, às vezes os dois
jogadores baixam os gestos,
14-10-2008
27-9-2008
O PESCADOR
9-2008
Já devíamos desconfiar
por não haver
um fio de água
e o rio ser uma seara
de trigo
no caudal do vento
16-9-2008
Posso escrever
a noite tem altas
ramadas inquietas
onde as aves chegam
sem bagagem, repousam
e espalham
com as asas os cristais
do ar.
SETEMBRO
Vamos recordar-nos
e esperar o próximo Verão
dentro de um jarro
de sangria, recuperado
o ânimo que o sol e o mar
sempre trazem nesses dias
15-9-2008
Uma parte
morreu em mim. A outra
entre o coração e a boca
ainda se espanta como um menino
que vê o perdão
como sorriso de Deus.
9-2008
Hoje não:
amanhã cantarei
Corsino Fortes
Hoje não:
amanhã cantarei
ACRÓPOLE
PENÉLOPE
no meio do vozeario
só a espuma, sozinha
vai e vem, e branqueia
os limos, o sonho
verde de qualquer cais.
SALMO, OP.137
TRUMAN CAPOTE
18-5-2008
ENCONTRO
18-5-2008
VULCÃO
Vigio o acontecimento do verso
uma fumarola pode ser
um aviso
a primeira sílaba
ígnea, solidificada
12-5-2008
SUICIDOLOGIA
Um tiro na cabeça
deste cavalo que me gasta
como um dia hípico
saltando de algodão em algodão
das nuvens
Um estampido seco
sem eco na cabeça
que vem de dentro
e conduz as lágrimas aos olhos
Não a morte
não é este tiro
que se acerca do coração
até ser completo silêncio
Este é um tiro que deveria dar
11-5-2008
PIÉTA
e
lhe regresse aos olhos
se não a alegria, a planície
vã sob o sol em chamas
5-5-2008
NOCTURNO
No escuro
tudo volta ao início do abismo,
a espessura do ar
se atravessa demoradamente,
o mundo é plano, os olhos
não têm onde ancorar
seu passado e seu futuro
A noite
devora os marcos do correio,
as flores públicas
só os semáforos pairam no ar
E,
mesmo que as janelas abram
e repartam entre si vozes,
a noite é um poço
fechado até à madrugada.
POEMA MARÍTIMO
4-5-2008
HAICAI Nº-
Pressente-se o céu
desde um espelho manso
dentro de um ribeiro
HAICAI
A janela ri
debruçada de um cravo
preso no vermelho.
O HOMEM A DESCONTO
Tijolo a tijolo
(e está um monte deles
mesmo em frente)
Diante de Adão o mundo
grita com o grito surdo
que trazia nos seus olhos
o horizonte, a altitude
a noite de frente para o dia
desde a primeira flor, tudo mudou
a composição do ar
as moléculas das estrelas
as palavras
que agora ferem os lábios
as que se debatem em silêncios
o homem à procura de uma casa.
30-4-2008
ARTE MUSICAL
28-4-2008
EXPLICAÇÂO DO SALMO UM
MODERNIDADE
15-4-2008
GLOSA DO SALMO 8
?-4-2008
A SAÍDA
Tout s,éteignit
Le jour, la lumière interieure
René Char
Tudo se apaga
as janelas, os espelhos interiores
depois os silêncios
são varridos, gestos lentos
no tempo repetido
na sala o dia apaga-se
26-3-2008
A MORTE DE OFÉLIA
LANDSCAPES
Carruagem cheia
olhos presos
às janelas
20-3-2008
O CÃO DE ULISSES
DESPEJO
7-3-2008
o silêncio,
mas um trovão se ergue
e de repente um raio risca
um fósforo pelos ares
3-3-2008
Contemplo-me
meu rosto se manteve
só minha anca foi tocada
e enlaçaram meus braços
o peso e a simetria
de um anjo
2-3-2008
AUSÊNCIA
Enfrento-me no espelho
e o rosto
não está lá
cada olho se reveza
em procurar-me.
25-2-2008
OS 12 GIRASSÓIS
Somente irradiam
os girassóis amarelos
sem o esplendor da sombra
a mão de Van Gogh
andou à solta
aveludando corolas
e pétalas
as sombras
hão-de vir depois
quando a noite levar tudo
dentro da sua caixa preta.
22-2-2008
ANIVERSÁRIO
da mesma papelaria
que já não existe ninguém
dá por nada
manda-me um postal
com o teu cheiro
abrindo caminho entre as outras
cartas banais
8-2-2008
CAMILO PESSANHA
Quem quebrou
a sua mesa de pinho, tosca
e a rasgou
como se fosse um lençol de linho?
Quem arruinou os altos
girassóis
quem os partiu
hastes de um sol exíguo?
Quem dissolveu a neve
no sangue acidulado do seu vinho
e apagou depois
a brancura do caminho?
Quem passeava a sombra
nas janelas, o frio
que no vento começou
quando o lume se extinguiu?
5-2-2008
O ASSALTO
ACORDAR
Todas as manhãs
e não tenho espaço
para continuar na transparência
que se pendura,
como uma cortina, na janela
Todas as manhãs
quando perco o rasto aos sonhos
recomeço
Um anjo descia
era o mesmo? era outro
no vento irrequieto
sobre as águas
num gesto branco e largo
Para os absortos nada
nem para os solitários
mesmo para os confiantes
da vida sem finalidade
Só os doentes mais hábeis
entravam no torvelinho
das águas lavradas
na velocidade da luz
27-01-2008
ARQUITECTURA DA SECA
canasfolhasnada
canasfolhasnada
canasfolhasnada
canasfolhasnada
canasfolhasnada
15-1-2008
ENCOMENDA A STRAVINSKY
1-1-2008
MAGNIFICAT
24\25-12-2007
23-12-2007
As tuas pernas
sustentavam as minhas quedas.
SYLVIA PLATH
16-12-2007
A IMOBILIÁRIA
A casa vende-se assim, imóvel
no chão, os objectos na penumbra
deixados na dimensão do natural
sobre um móvel e também
ao fundo da memória
A mesa de que tanta boca dependeu
a um canto um sofá disciplinado
fazem parte do recheio
A porta verde à frente, que não abre
a luz para os insectos
a colcha amarelada sobre a cama
cinco almofadas melancólicas
ficarão no reflexo do espelho
que abre na parede o infinito.
22-11-2007
CATHAY
ao som da música
que se desfaz, quase
entre os dedos.
PATMOS
João também
o som ouviu do Egeu,
como Sófocles também
em tempo antigo, ouvindo o rumor
da dor humana, a recordar-lhe
o vaivém do mar
da Galileia.
POEMA
DRAMA CLÁSSICO
SÚPLICA
DEPOIS DO DILÚVIO
O HÓSPEDE
15-10-2007
BABEL
25-9-2007
POMPEIA
A SEGUNDA VINDA
4-8-2007
Entorna os olhos
sobre o lago, como duas contas
de vidro
os versos e os dias
à flor da melancolia.
1-8-2007
O SORRISO DE GIOCONDA
E OS OLHOS DE GIOCONDA
E os olhos de Gioconda
à superfície de uma alegria
qualquer, parados
são outra forma
burocrática do olhar
a Gioconda
não põe nos olhos nada.
28-7-2007
A SMILE OF GIOCONDA
MÁQUINA DE ESCREVER
HAIKUS
O pescoço do
cisne, acima e abaixo
no lago sonolento.
A CURVA
OS LIVROS
Desarrumados da estante
esticam suas folhas
como pernas, os volumes
folheados tomam ar
respiram
entre sílabas as palavras
e os autores sacodem
a penumbra, tossem
os poetas novelos de pó.
Desarrumado o verbo, vem à luz
e diz o quê? o inesperado.
A DEMOLIÇÃO
2-6-2007
as sílabas contadas,
entre a ponta dos dedos
e os olhos, descreviam
quase um círculo.
à décima sétima
sucedeu uma
soma aritmética:
Velas no céu-
um Quixote quebra uma
a uma suas nuvens.
Velas no céu-
um Quixote quebra uma
a uma cada nuvem.
HAICAI
A Serra da Estrela-
no inverno dorme cedo
sob alvo lençol.
HAICAI
Moínhos no céu.
Um Quixote vai partindo
o vento das nuvens.
HAICAI
A Serra da Estrela-
esconde o seu pudor do corpo
sob alvo lençol.
1-6-2007
19-5-2007
O OLHO DO FALCÃO
Atentamente gira
como um reflexo
do sol,
gira e cai
em linha recta
sobre a presa
a brancura veloz
da presa
OS PASTORES DA ARCADIA
A VILEGIATURA
1-5-2007
AS MÁQUINAS
«Ó rodas, ó engenagens,r-r-r-r-r-r-r eterno!»
Álvaro de Campos
Os êmbolos deslizam
sem transparências, estão ocultos
como um coração monótono
há umas trevas de ferro
e frio no fundo das máquinas
êmbolos, volantes, correias
de transmissão
são silêncios antes de todas as chaves
de ignição e dos magnetos deslizarem
a chama pelos fios adiante
até à combustão e à dentada
da roda num mundo parado
quando às mãos da máquina
o tempo começa o movimento.
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LA VICTOIRE
de Magritte
ao longe o leite
do luar derrama-se nas águas
ULISSES
para James Joyce
REUNIÃO DE PÁSSAROS
o amanhecer rompe
as janelas
e num rio de folhas
de água parada
os ramos empinam
a luz, as penas, os bicos
morenos, gorgeios, o amor
planando nas asas
o amanhecer leva
as brisas às janelas
e o dia começa
numa torrente de pássaros
transparentes.
28-4-2007
um silêncio frágil
espalhado pelos dedos.
23-4-2007
O PINTOR DE MOLICEIROS
18-4-2007
DESPEDIDA
16-4-2007
TEORIA DA SERENIDADE
É um homem tranquilo
nunca veste, sem propósito
um sorriso, mas ele lá está
mesmo para a mulher-a-dias
quem por ele passa
sente uma corrente de ar
serena, dessas que vêm
de uma porta que bate, ao de leve
do bater das pálpebras
há quem diga que tem um vulcão
no interior, não dos olhos
mas lá no fundo
onde a alma tropeça, às vezes
na solidão
É um homem tranquilo quando leva
com a pluma do sol, na cabeça
ou nesta sente o cabelo à chuva
em todo o caso menos tranquilo
do que um bébé dormindo
vogando no leite maternal.
As suas mãos
vão guardar mémorias
O CONSTRUCTOR
5-4-2007
e encostes da pele
a intimidade
ao coração da pedra
sabe que há olhares enternecidos
que estão ainda à tua espera
e da estrela inacessível.
18-3-2007
15-3-2007
PIANISTA
3-2007
A MÃO NO ARADO
E o arado
a entretecer nas mãos,
a gastar o ferro
o arado, até que
se converta
a áspera
espessura da argila
se converta em quase nuvem
quase água, em rosa
a entregar as pétalas
ao vento,
lançar o arado
até nas estrelas,
fazer sulcos
de luz na noite, como elas.
INVENÇÃO DE UM PAÍS
Eu vivo
numa Holanda de baixo
do nível do mar
estou sempre à espera
de acordar em líquido
amniótico.
AS MINHAS CRIANÇAS
?.02.2007
6-1-2007
A HARPISTA
A entrançar o som como uma velha
cigana o vime, a harpista
põe cetim nos dedos,
nenhuma aresta ferirá a polpa
desses dedos, deslizam
como no céu o próprio azul
e a ave, um acorde
primeiro, um ar percutido,
um vento, nas cordas a vibrarem
uma alma.
8-1-2007
Tosse
como o último ruído
da ligação ao mundo
fixa o silêncio
como se esperasse de uma fonte
a cristalina música da água
escutam-se, sonoras
vão desvelando
a música.
NÃOTÍCIA LOCAL
10-1-2007