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Um caso óbvio é o dos veteranos das Falintil que não integraram as novas Forças
de Defesa (FDTL). Em 2006, foi a 200 desses "civis" que o brigadeiro-general
Taur Matan Ruak recorreu num momento crítico de sobrevivência do Estado. O
Estado-Maior timorense está, porém, a contas com a justiça. Se passar da fase
de inquérito, talvez o processo das armas e da milícia "20-20" abra um debate
que devia ter acontecido antes. O lugar das "reservas morais" tem de ser
formalizado, sob pena de não haver linha de separação entre patriotismo e
delinquência. O major Alfredo Reinado ilustrou, de forma trágica, a facilidade
deste salto.
José Ramos-Horta, diasporizado das Falintil e do mato até 1999, não tem cão
mas caça com gato. O chefe de Estado, em linha com os símbolos maçónicos
debruados nas suas camisas, é desde há dois anos o segundo "pai" da Sagrada
Família. É uma sociedade fundada em 1989 pelo comandante Cornélio Gama
"L7", que evoluiu para uma combinação algo mística de grupo religioso, partido
político e milícia justiceira. Foi "L7", com a bênção de Xanana Gusmão, que
apresentou a candidatura de Ramos-Horta à Presidência em Fevereiro de 2007,
em Laga. Vários elementos da Sagrada Família integram a guarda do chefe de
Estado.
Chama-se extorsão
Todo esse dinheiro nada produz. Algum sai para a Indonésia, que os novos-ricos
timorenses consideram um sítio mais seguro para investir. O que fica compra
motorizadas e telemóveis. A Timor Telecom vai fechar o ano com 120 mil clientes
na rede móvel, 12 por cento da população, uma taxa ao nível de países com o
triplo de rendimento per capita do timorense.
A maioria dos timorenses não paga o que consome: água, electricidade (por isso
o consumo aumenta 25 por cento ao ano, um ritmo impossível de acompanhar
por qualquer investimento nas infra-estruturas), casa, terra, crédito, arroz. Este
modelo de pilhagem e esbanjamento é insustentável na economia, na banca, na
ecologia, na demografia e, a prazo, até na política.
5. A ocupação indonésia
Timor é uma ficção lusófona onde a língua portuguesa navega contra uma
geração culturalmente integrada na Indonésia, contra a geografia, contra
manipulações políticas internas e contra a sabotagem de várias agências
internacionais. A reintrodução do português só poderá ter êxito com a cumulação
de duas coisas: firmeza política, em Díli, sobre as suas línguas oficiais;
massificação de meios ao serviço de ambas.
Na "Babel lorosa'e", como lhe chamou Luiz Filipe Thomaz, não se fala bem
nenhuma das línguas da praça (tétum, português, inglês, indonésio). Uma língua
é a articulação de um mundo e do nosso lugar nele. Perdidos da gramática e do
vocabulário, uma geração de timorenses chegou à idade adulta e ao mercado de
trabalho sem muitas vezes conhecer conceitos como a lei da gravidade, o fuso
horário ou as formas geométricas, apenas para dar exemplos fáceis.
Aos poucos bancos com balcão em Díli (três) chegam projectos de investimento
estrangeiro cujos planos de amortização não prevêem mão-de-obra timorense ou
que contam os timorenses como peso-morto na massa salarial, ao lado de
operários ou técnicos importados que responderão pela produção.
Diz um diplomata que gosta do teatro de sombras javanês: "A ONU em Díli está
em sintonia com os dirigentes timorenses. Todos fabricam fantasmas: o grande
estratego, o grande diplomata, o grande guerrilheiro. Se não fosse assim, as
máscaras cairiam e seria um grande embaraço..."