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OMISSÃO DE SOCORRO
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O art. 135 do Código Penal: “deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo
sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida,
ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da
autoridade pública”. A pena é detenção, de um a seis meses, ou multa.
A solidariedade que deve existir entre todos os homens e mulheres é o bem jurídico
tutelado. Todos têm o dever de prestar auxílio a seus semelhantes que estiverem em
situações de perigo para a sua vida e sua saúde.
Sujeito ativo é qualquer pessoa, porque todos têm o dever geral de solidariedade
para com seu próximo.
12.2 TIPICIDADE
Se houver esse risco, manda a norma que o agente procure ajuda à autoridade
pública. Há, pois, duas formas de realização do tipo: deixar de prestar assistência, e
deixar de pedir o socorro da autoridade pública.
12.2.1.1 Conduta
É um crime omissivo próprio, em que o tipo, descrevendo uma conduta negativa, determina
ao sujeito um comportamento positivo que ele, podendo, não realiza.
Criança abandonada é aquela vítima do crime do art. 133 ou do art. 134, incluído, é
óbvio, o recém-nascido. Criança extraviada é a que se perdeu de quem a guardava. Criança,
consoante a norma do art. 2º da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, o Estatuto da
Criança e do Adolescente, é a pessoa que tem até 12 anos de idade, incompletos.
Pessoa inválida ao desamparo é aquela que, por uma razão de natureza física ou
psíquica, ou por uma doença ou uma condição anatômica, natural ou adquirida, não está
em condições de enfrentar a situação de perigo. Deve estar, é certo, desamparada, para que
surja o dever, para o agente, de prestar-lhe assistência. Se alguém a estiver assistindo,
faltará esse elemento, daí que a omissão não será típica.
Pessoa ferida é a que teve sua integridade corporal lesionada, ainda que por uma
causa natural. Não basta que esteja ferida, mas que também esteja desamparada, deixada à
própria sorte, e por isso carente da assistência.
Pessoa em grave e iminente perigo é aquela que, ainda que não inválida nem ferida,
encontra-se numa situação em que sua vida ou sua saúde está na iminência de ser
lesionada.
Para realizar o tipo o agente deve estar, portanto, presente no local onde a vítima
enfrenta o perigo. Ali não estando, dele não podia saber, logo não pode omitir-se.
Entretanto, se o agente está nas proximidades, é avisado da situação de perigo e deixa de
prestar o socorro, aí sim terá agido com dolo.
consumado.
Não há forma culposa. Se o agente omitiu-se por negligência, por imaginar que a
vítima não estava em perigo, não era inválida, nem estava ferida, ou que não se tratava de
uma criança, errando, ainda, sobre o estado de perdida ou de abandonada, crime não terá
havido por erro de tipo. Também não haverá dolo, por erro de tipo, se o agente imagina a
possibilidade de sofrer risco pessoal caso realize a conduta exigida pela norma.
Atente-se ainda para as hipóteses em que, consumada a omissão que contribui para
a produção do resultado mais grave, ocorrer causa superveniente, relativa ou
absolutamente independente da conduta do agente, que, por si só, venha a produzir o
resultado. Nestes casos, igualmente, o resultado mais grave não poderá ser atribuído ao
omitente.
A única conclusão a que se pode chegar é a de que o tipo do art. 304 só pode ser
realizado pelo condutor de veículo que, envolvido no acidente de trânsito, não tenha agido
culposamente quanto à produção da situação de perigo para a vítima. Se tiver agido
culposamente, responderá por lesão corporal ou homicídio culposo, com o aumento de
pena, pela omissão do socorro.
O condutor de veículo que não se tenha envolvido em acidente de trânsito e que não
presta socorro à vítima deste responde pelo tipo fundamental do art. 135 do Código Penal.
6 – Direito Penal II – Ney Moura Teles
O tipo do art. 304 do Código de Trânsito não prevê as formas qualificadas pelo
resultado mais grave, lesão corporal ou morte, como o faz o art. 135 do Código Penal.
Essa lacuna leva a um caso concreto cuja solução é complexa. Se o condutor sem
culpa envolvido no acidente deixa de prestar socorro, provando-se que da omissão resultou
a morte da vítima, responderá por qual crime? Antes do advento do Código de Trânsito,
responderia por omissão de socorro seguida de morte, art. 135, parágrafo único, última
parte. Mas, com a nova lei, a dúvida se instalará, porque nesta não há previsão da forma
qualificada pelo resultado.
Penso que, nesse caso, o agente deve responder pela norma do art. 135, parágrafo
único, porque é a norma que se ajusta com perfeição ao fato.
A realização dos elementos desse tipo especial afasta a incidência do art. 135.
Idosa é a pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos (art. 1º da Lei nº
10.741, de 1º de outubro de 2003).
A vigência dessa lei ocorre 90 dias após sua publicação, que se deu no DOU de 3-10-
2003.
O art. 100, inciso III, da mesma lei, contém outro tipo penal: “recusar, retardar ou
dificultar atendimento ou deixar de prestar assistência à saúde, sem justa causa, a
pessoa idosa”. A pena é reclusão, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa. Esse tipo é
idêntico a uma das formulações típicas do art. 97 e nada justifica sua existência nem a
cominação de pena de reclusão. Uma incoerência do legislador.
Omissão de Socorro - 7