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FAVORECIMENTO À PROSTITUIÇÃO

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8.1 CONCEITO, OBJETIVIDADE JURÍDICA E SUJEITOS DO


CRIME

O art. 228 do Código Penal contém a descrição típica: “induzir ou atrair alguém à
prostituição, facilitá-la ou impedir que alguém a abandone”. A pena: reclusão, de dois a
cinco anos.

O bem jurídico protegido é o interesse da sociedade em que a prostituição não seja


disseminada, incentivada, facilitada, tutelando, ainda, o direito da pessoa de não se
prostituir ou o de deixar de exercer a prostituição. Nesse sentido protege a liberdade
individual. Não há proteção à moral ou aos bons costumes.

Sujeito ativo é qualquer pessoa que realiza a conduta.

Sujeito passivo é, igualmente, qualquer pessoa, homem ou mulher, de qualquer


idade ou condição social, inclusive a que já exerce a prostituição, em relação às duas
últimas figuras típicas. Modernamente também o homem tem-se prostituído, daí que
também ele pode ser sujeito passivo desse crime.

8.2 TIPICIDADE

O tipo fundamental está no caput do art. 228. O § 1º manda aplicar a esse crime as
formas qualificadas previstas no § 1º do art. 227. O § 2º contém a forma qualificada pelo
emprego de violência ou grave ameaça e o § 3º refere-se ao fim de lucro que também
qualifica o crime.
2 – Direito Penal III – Ney Moura Teles

8.2.1 Forma típica simples

8.2.1.1 Conduta

São os seguintes os verbos empregados no tipo: induzir, atrair, facilitar e impedir.


Deles decorrem as condutas proibidas. Induzir ou atrair alguém à prostituição. Impedir
alguém de deixar a prostituição. Facilitar a prostituição. As condutas são, em regra,
comissivas, todavia podem algumas ser realizadas também por omissão, como se verá a
seguir.

8.2.1.2 Elementos objetivos e normativos

Prostituição é a atividade laborativa lícita, através da qual uma pessoa celebra, com
qualquer pessoa que a procure, um contrato de prestação de serviços de natureza sexual,
mediante o pagamento de um preço, acordado entre os dois.

Apesar de atividade lícita, o Direito busca coibir seja incentivada e explorada por
pessoas que se aproveitam de quem a exerce. Não incrimina seu exercício, mas pune
aquele que realizar determinados comportamentos tendentes a incrementá-la no seio da
sociedade.

Induzir quer dizer persuadir, convencer, aconselhar, fazer nascer na vontade de


alguém a vontade de entregar-se ao exercício da prostituição.

Atrair tem significado muito parecido com induzir. É, também, fazer com que a
vítima se interesse pela prostituição, nela ingressando.

Facilitar é realizar qualquer ato no sentido de proporcionar melhores condições,


especialmente materiais, para o exercício da prostituição.

Alcança o agenciamento de clientes, a oferta de local para os encontros, o


fornecimento de vestuário, veículos, agenda telefônica contendo informações sobre
clientes, publicação de anúncios em jornais, enfim, qualquer ato que contribua para a
prostituição de alguém ou de várias pessoas.

A última ação típica é impedir que alguém abandone a prostituição. Significa


impossibilitar, obstar, criar empecilho capaz de manter alguém exercendo o meretrício.

Assim, quando o agente convence ou pressiona a vítima a permanecer na vida de


prostituição ou pratica atos materiais que a impeçam de conseguir dedicar-se a outras
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atividades laborais.

Normalmente a conduta é comissiva, mas é possível que o garante a realize por


omissão quando, por exemplo, tendo o dever de, protegendo a menor, proporcionar-lhe
meios de subsistência ou outra atividade laborativa, permite que ela se prostitua.

8.2.1.3 Elemento subjetivo

É crime doloso. Atua o agente com consciência de que está induzindo ou atraindo a
vítima para a prostituição, facilitando esta ou impedindo que a pessoa a abandone, e
vontade livre de realizar a conduta, sem qualquer outro fim, senão o de contribuir para o
exercício da prostituição.

8.2.1.4 Consumação e tentativa

O momento consumativo varia conforme a descrição típica. Nas modalidades de


induzimento e atração da vítima e de impedimento do abandono da prostituição, o crime
consuma-se quando a vítima começa a exercer a prostituição ou nela permanece, não
sendo necessário que ela pratique um ato de comércio sexual.

Basta que tenha-se integrado ou permanecido no ambiente destinado à


prostituição. Assim, quando a vítima, induzida ou atraída, dirige-se à rua onde outras
pessoas oferecem-se para os clientes interessados. Ou quando a vítima que pretendia
abandonar a vida que levava, deixa de fazê-lo continuando a ofertar seu corpo em troca de
pagamento.

Na modalidade de facilitação da prostituição a consumação acontece quando o


agente pratica o ato de colaboração, quando aluga a casa destinada aos encontros ou
entrega a agenda de clientes para a prostituta, enfim, quando contribui, efetivamente, para
a prostituição.

É possível a tentativa desse crime, nas modalidades de induzimento, atração e


impedimento desde que, nada obstante a conduta do agente, a vítima não realiza o que ele
dela esperava, isto é, não ingressando na vida de prostituição ou deixando-a.

8.2.2 Formas qualificadas


4 – Direito Penal III – Ney Moura Teles

“Se a vítima é maior de 14 (catorze) anos e menor de 18 (dezoito) anos, ou se o


agente é seu ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro, irmão, tutor ou
curador ou pessoa a quem esteja confiada para fins de educação, de tratamento ou
de guarda:

Pena – reclusão, de 2(dois) a 5 (cinco) anos.”

É circunstância que qualifica o crime a menor idade da vítima ou uma das relações
entre ela e o agente, referidas no preceito. Alcança os professores, educadores, diretores de
estabelecimentos de ensino, de saúde, internatos, externatos, casas de internação de
menores, enfim, pessoas que estejam exercendo um poder de autoridade, decorrente das
relações de tratamento e guarda. Estando o agente nas condições referidas na norma,
merecerá maior reprovação pela violação do decorrente dever, legal ou jurídico, de
proteger a vítima.

Se essa não é maior de 14 anos, já se sabe, em face da presunção de violência de que


trata o art. 224 do Código Penal, será vítima de estupro ou atentado violento ao pudor,
caso venha a realizar atos sexuais com alguém.

A segunda forma qualificada cuida dos meios empregados pelo agente para induzir
ou atrair a vítima, para impedi-la de deixar a prostituição ou para facilitá-la. Se usa
violência, grave ameaça ou fraude, a pena será de reclusão de quatro a dez anos (§ 2º do
art. 228). Por violência devem-se entender as lesões corporais, leves, graves ou
gravíssimas e também as vias de fato. Grave ameaça é a promessa da causação de um mal
importante. Fraude é o engodo, o engano, o meio que o agente emprega para manter a
vítima em erro ou levá-la a apreciar mal a realidade.

Além da pena mais severa o agente responderá, em concurso material, pelo crime
contra a pessoa decorrente do emprego da violência – lesão corporal ou morte –, a não ser
quando tais resultados sejam derivados de culpa, caso em que incidirá o art. 223, aplicável
também ao delito do art. 228, por força do que dispõe o art. 232.

Assim, se o agente, ao induzir, atrair ou impedir a vítima com violência, causa-lhe


lesões corporais graves ou morte, por negligência, imprudência ou imperícia, sua pena será
reclusão de oito a doze ou de doze a vinte e cinco anos, respectivamente.

A última circunstância qualificadora, definida no § 3º do art. 228, é o elemento


subjetivo que move o agente: fim de lucro. Incidirá sobre o fato concreto, quando o agente,
ao induzir, atrair a vítima para a prostituição ou impedi-la de abandoná-la, buscava a
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satisfação de um lucro pessoal.

Esse proveito é de natureza econômica e não precisa ser efetivamente obtido pelo
agente para a incidência da qualificadora, que impõe, além da pena privativa de liberdade,
a pena de multa.

8.3 AÇÃO PENAL

A ação penal é de iniciativa pública incondicionada.

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