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USO DE GÁS TÓXICO OU


ASFIXIANTE

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31.1 CONCEITO, OBJETIVIDADE JURÍDICA E SUJEITOS DO


CRIME

O tipo penal encontra-se no art. 252 do Código Penal, assim: “expor a perigo a
vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, usando de gás tóxico ou asfixiante”. A
pena cominada é reclusão, de um a quatro anos, e multa.

Mais uma vez o Direito Penal protege a segurança coletiva, voltando seus olhos para
situações de perigo concreto para a vida, a integridade corporal e o patrimônio de pessoas
indeterminadas. É a incolumidade pública tutelada.

Sujeito ativo do crime é qualquer pessoa que realizar a conduta. Sujeito passivo é o
Estado, a sociedade, a coletividade, e também a pessoa que ficar exposta a situação de
perigo criada pelo sujeito ativo.

31.2 TIPICIDADE

31.2.1 Conduta e elementos do tipo

A conduta típica, a exemplo dos delitos anteriormente comentados, é a de expor a


perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de indeterminadas pessoas. Nesse tipo, o
agente, ao realizá-la, utiliza gás tóxico ou asfixiante. Conduta de forma livre pode ser
realizada por qualquer meio.

Gás tóxico é o venenoso. Capaz de matar. São tóxicos os gases derivados do ácido
cianídrico, amoníaco do anidro sulfuroso, benzina, iodacetona, cianuretos alcalinos de
potássio, sódio e outros. Sua ação é intoxicante do organismo, provocando muitas vezes a
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morte. O ácido cianídrico produz a morte de maneira quase fulminante.

Asfixia é a supressão da respiração, com a cessação das trocas orgânicas,


reduzindo-se o teor de oxigênio, aumentado o de gás carbônico no sangue arterial. Gás
asfixiante é o oxicloreto e tetraclorossulfureto de carbono, o cloroformiato de metila
clorado, o bromo, fosgeno etc.

O gás deve provocar uma situação concreta de perigo para um número


indeterminado de pessoas, não sendo necessário que qualquer delas sofra intoxicação ou
asfixia.

A referência ao patrimônio, feita pela norma, faz sentido porquanto os efeitos do


gás podem-se fazer em relação a bens semoventes e vegetais que integram o patrimônio
das pessoas. Não haverá, porém, perigo para as coisas inorgânicas porque estas não podem
sofrer intoxicação ou asfixia.

A lesividade do gás deverá ser objeto de determinação por meio de prova técnica,
sem a qual não se poderá reconhecer a situação de perigo.

Deve o agente ter agido com dolo. Consciência da danosidade do gás que utiliza, da
situação de perigo, que sua conduta causará e vontade livre de realizá-la com o fim de
expor a vida, a integridade física ou o patrimônio de indeterminadas pessoas.

Ignorando o agente a lesividade da substância utilizada ou a possibilidade de criar a


situação de perigo, deve ser afastado o dolo, por erro de tipo, punindo-o na forma culposa,
adiante analisada. Possível a realização do tipo com dolo eventual quando o agente
consente na causação da situação de perigo, mesmo não a desejando.

31.2.2 Consumação e tentativa

Como em todo crime de perigo comum, a consumação só acontece quando se


verifica a situação de perigo para bens jurídicos de um número indeterminado de pessoas.
A tentativa é possível.

31.2.3 Forma culposa

O parágrafo único do art. 252 descreve a forma culposa, cominando a pena de


detenção, de três meses a um ano.
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Sendo previsível a instalação de perigo comum, realizando o agente a conduta com


negligência, imprudência ou imperícia, não desejando, nem aceitando, mas causando o
perigo para os bens jurídicos mencionados no tipo penal, o fato será culposo.

31.2.4 Formas qualificadas pelo resultado

Resultando lesão corporal de natureza grave, a pena será aumentada de metade. Se


resultar morte, será aplicada em dobro.

Tais resultados mais graves devem ter sido produzidos por culpa do agente,
caracterizando, assim, crimes preterdolosos, nos quais o agente atua com dolo na produção
do perigo comum e culpa no resultado que não fora alcançado por seu dolo. Indispensável
a demonstração do nexo causal entre a situação de perigo causada pela conduta e o
resultado mais grave.

Se a morte ou lesão corporal tiver sido desejada pelo agente ou pelo menos
consentida, haverá concurso formal imperfeito entre o crime de perigo comum e o crime
contra a pessoa.

Se a conduta culposa der causa à lesão corporal – leve ou grave, porque a norma do
art. 258 não exige apenas a lesão grave como resultado qualificador do delito culposo –, a
pena será aumentada de metade. Se resultar morte, será aplicada a pena cominada para o
homicídio culposo, aumentada de um terço (art. 258, do CP).

31.2.5 O tipo da Lei dos Crimes Ambientais

O art. 54 da Lei nº 9.605/98 criou o seguinte tipo penal:

“causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam


resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de
animais ou a destruição significativa da flora: Pena – reclusão, de 1 (um) a 4
(quatro) anos, e multa”.

No § 2º, inciso V, é incriminado o “lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou


gasosos, ou detritos, óleos ou substâncias oleosas, em desacordo com as exigências
estabelecidas em leis ou regulamentos”, com pena de reclusão, de um a cinco anos.

Essa norma não revogou o art. 252 do Código Penal. Convivem os dois tipos penais. O do
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Código Penal como crime de perigo comum, genérico, ao passo que o tipo da lei especial,
por seus elementos especializantes, vai incidir quando, na situação concreta, ajustar-se mais
perfeitamente ao fato concreto.

Os crimes são distintos. Um é de perigo comum, outro o de poluição, de dano, com


a possibilidade de também causar perigo à saúde do homem.

31.3 AÇÃO PENAL

A ação penal é de iniciativa pública incondicionada. A competência, no caso de


crime culposo, é do juizado especial criminal, possível a suspensão condicional do processo
penal na forma dolosa apenas no tipo simples e na forma culposa, inclusive quando
qualificada esta por lesão corporal.

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