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1959
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ANO //
ÍNDICE
Pág.
I. CIENCIA E RELIGIAO
H. DOGMÁTICA
IV. MORAL
V. HISTORIA DO CRISTIANISMO
CORRESPONDENCIA MIÚDA 89
Ano II—N? 14 — 1
I. CIENCIA E BELIG1
*
W. M. (Rio Negro):
1. O Calendario Gregoriano
— 51 —
chamado día bissextil. Éste nome se deve ao íato de que a insergáo
se íazia entre 23 e 24 de íevereiro; ora, o dia 24 de fevereiro sendo
o sextus calendas martii, o dia intercalado ou suplementar passou
a ser bissextus calendas martii, e o ano correspondente tomou o nome
de ano bissextil.
— 52 —
Era preciso, porém, evitar a repetigáo do desajuste... Já
que éste provinha do fato de que o ano civil era desde Julio
César (e continuava sendo) considerado 1/128 de dia (11 mi
nutos e 12 segundos) mais longo do que o ano trópico (isto é,
mais ou menos tres dias em 400 anos), Gregorio Xm dispos
nao fóssem considerados bissextos os anos de século nao divi-
síveis por 400 (assim em todo período de 400 anos, tres dias
eram supressos). Por conseguinte, seriam bissextos os anos
de 1600, 2000, 2400, nao, porém, os de 1700, 1800, 1900, 2100.
Éste corretivo (chamado equagáo solar) tornar-se-ia plena
mente eficaz pelo prazo de mais de 3000 anos: de 3320 em
3320 anos, porém, será preciso suprimir um dia.
. A reforma gregoriana aos poucos foi sendo adotada pelos
povos cultos. Na Espanha, em Portugal e em parte da Italia
a supressáo de dez dias féz-se na mesma data que em Roma.
Na Franca ela se realizou pouco depois : o dia seguinte ao
domingo 9 de dezembro de 1582 foi contado como segunda-feira
20 do mesmo. A Polonia adotou a mudanca em 1586 ; a Hun
gría, em 1587. Nos Estados protestantes, porém, a resistencia
féz-se sentir: a Alemanha só aceitou o calendario «novo estilo»
em 1700; a Inglaterra, em 1752.
Quanto aos cristáoa-cismáticos orientáis, ainda seguem o
calendario juliano, ao menos na Liturgia : no ano 2100 estaráo
com um atraso de tréze dias em relagáo a Igreja universal.
É de crer, porém, que nao tardaráo a reconhecer as vantagens
do calendario corrigido. Antes de empreender a sua reforma,
Gregorio XIH, alias, consultou o Patriarca de Constantinopla
sobre o assunto; mas, longe de obter resultado, seu sistema
foi explícitamente condenado por um sínodo oriental em 1593.
Contudo em 1923 o patriarcado de Constantinopla, as circuns-
crigóes eclesiásticas de Atenas, Cipro, da Polonia (cismática)
e da Ruménia adotaram o calendario gregoriano para designar
ao menos as suas festas fixas (o dia seguinte a 30 de setem-
bro foi dito 14 de outubro de 1923). Em 1948 o sínodo «pan-
-ortodoxo» de Moscou resolveu deixar liberdade de escolha,
no caso, a todas as comunidades cristas da órbita soviética.
De resto, tém-se registrado nos últimos tempos adesóes notá-
veis: a Turquía adotou o calendario gregoriano em 1924; o
Japáo já o introduzira em 1873; a China, em 1912 ; a Bulgaria,
em 1916. Mugulmanos e israelitas ainda nao o reconhecem.
— 53 — —
antigo calendario romano. Há, por isto, quem julgue que os
astrónomos de Gregorio Xin nao foram suficientemente longe
em suas reformas... : porque teráo guardado a desigual du-
ragáo dos meses, a yariabilidade da data de Páscoa, etc. ?
Estas consideracóes tém dado ocasiáo a projetos de renova~áo
do calendario. Procuraremos abaixo delinear rápidamente o
historio do movimento para depois apreciar as suas princi
páis teses.
a) Esbóco histórico
b) As teses reformistas
— 54 —
a falta de correspondencia regular dos días do mes com
os dias da semana (o dia 1* de Janeiro, se num ano cai em
domingo, no ano seguinte cai em segunda ou, no caso de bis-
sextilidade, em terga-feira);
a mutabilidade da data de Páscoa. Esta solenidade é tra-
dicionalmente celebrada no domingo que se segué a primeira
lúa cheia após o equinóxio da primavera. Ora, sendo o equi-
nóxio da primavera colocado no dia 21 de margo (de acordó
com o concilio de Nicéia), a data de Páscoa pode deslocar-se
de 22 de margo a 25 de abril. A variabilidade de Páscoa acar-
reta naturalmente a de urna serie de celebragdes religiosas e
civis (Ascensáo, Pentecostés, Quaresma, Carnaval, etc.).
Nao há dúvida de que estas duas características do ca
lendario vigente causam transtomos aos diversos setores da
atividade humana, principalmente á industria, ao comercio e
ao ensino. Além disto, a vida crista, diz-se, seria beneficiada
pela fixagáo da data de Páscoa, pois o culto sagrado se desen
volvería dentro de um quadro mais regular e compreensivel
aos fiéis.
Em vista désse estado de coisas, os estudiosos, coligindo
os diversos postulados dos grupos interessados, elaboraram o
seguinte plano, que se tornou o mais focalizado dentre os seus
congéneres:
32. lí fover. 32. 1' malo 32. 1' asusto 32. le novembro
62, 1? marco 62. 1' junho 62. lv setembro 62. 1' dezembro
— 55 —
Como se vé, o ano de doze meses estaría repartido em
quatro trimestres, cada qual constando de dois meses de 30
dias e um mes de 31 dias (ao todo, 91 dias). Cada trimestre
comegaria por um domingo e terminaría por um sábado; o
dia 1» de Janeiro seria sempre um domingo. O 365* dia do
ano tomaría lugar após o dia 30 de dezembro, com o nome
de «sábado bis» ou «dia branco», podendo ser equiparado a
um domingo. O dia bissextil (outro «dia branco»), quando
ocorresse, ocuparía o fim do segundo trimestre, após 30 de
junho ; seria o dia 31 de junho, assemelhado a um domingo.
Quanto á Semana Santa, a sua estipulacáo dependería
naturalmente das autoridades religiosas, as quais, conforme
alguns liturgistas, com vantagem poderiam escolher os pri-
meiros dias de abril, ficando a solenidade de Páscoa definiti
vamente fixa no dia 8 désse mes.
Tal projeto tem merecido aplausos e apóio crescentes do
público internacional. É natural, porém, que o cristáo, antes
de lhe aderir, examine se é ou nao compatível com os dados
da Revelagáo.
A esta dúvida deve-se responder que da parte da fé nao
há objeráo dirimente contra o esquema proposto. A lei do Sanhor
manda, sim, que o homem, numa serie de sete dias, de maneira
especial consagre o sétimo a Deus, interrompendo seu traba-
lho material para se aplicar mais livremente aos valores eter
nos. A maneira, porém, de calcular os períodos de sete dias
ou as semanas nao é determinada pela lei divina. A Igreja só
teria objecóes contra o abandono da semana, ou seja, da dis-
tribuigáo do tempo em períodos de sete dias.
Contudo insiste-se : em vista da legislagáo do Pentateuco
e da praxe tradicional vigente desde os tempos de Moisés
(séc. XIII a.C), de certo modo mesmo inculcada pelo con
cilio de Nicéia (325), seria realmente lícito aos cristáos dis-
sociar das fases da Lúa a festa de Páscoa ?
Em resposta, observe-se que o cálculo da data de Páscoa
na base do ciclo da Lúa, por muito tradicional que seja, per-
tence aos preceitos rituais da Antiga Lei, preceitos em parte
condicionados pelas instituigóes vigentes na civilizacáo ante
rior a Cristo (o mes lunar e o calendario luni-solar tinham
outrora urna importancia de que hoje já nao desfrutam); ora
os preceitos rituais do Antigo Testamento, sendo evidente
mente provisorios, nada tem de dogmático; cabe, portante,
á autoridade da Igreja dispor a seu respeito, adaptando-os
aos usos de épocas posteriores ; a fé crista apenas exigirá que
Páscoa continué a ser celebrada em domingo. — Verdade é
que a Igreja nunca aceitará sem serios motivos a derrogagáo
— 56 —
á tradigáo que sempre estéve em vigor no povo de Deus; ela
só aprovará a fixagáo da data de Páscoa, caso esta corres
ponda realmente as aspiragóes do bem comum, tanto no setor
religioso como no civil.
II. DOGMÁTICA
— 57 —
torna invisível, porque se mergulha no seio da agua. Contudo;
ao desaparecer, ele desencadeia um movimento de ondas con
céntricas, que se váo propagando através do espaco e do
tempo ; essas ondas váo atingir os mais diversos e remotos
objetos, pondo-os em contato com o próprio seixo, pois por
elas passa o dinamismo do pedregulho; mediante essas ondas,
estabelece-se continuidade entre um acontecimento capital ve
rificado no passado e seres ou acontedmentos existentes no
presente; por elas o feito primordial se prolonga.
De modo análogo se há de conceber a vinda do Filho de
Deus ao mundo. Subtraiu-nos a sua presenca visível, mas
prolonga a agáo de sua humanidade através dos séculos ;
entre a carne de Cristo e a carne de cada cristáo contem
poráneo há continuidade ininterrupta de vida através de 55
gerag5es (continuidade que o movimento dos círculos concén
tricos ilustra bem). Diz-se, por conseguinte, que Cristo está
presente a cada geragáo de cristáos por urna presenta onto-
lógica, isto é, por urna presenca objetiva, real, nao apenas
pela recordagáo ou pelas idéias que os homens possam ter a
respeito d'Éle. Em conseqüéncia, a sociedade que se deriva
do Cristo, através dos Apostólos e dos sucessores dos Apostólos
sem ruptura até hoje, nao é senáo a continuagáo do Cristo ou
o Cristo prolongado; nela, e sómente nela, se vai encontrar
o Senhor Jesús ontológicamente presente, isto é, presente nao
só porque é evocado, mas presente porque a sua vida está
encerrada nessa sociedade.
Fora desta, nao se encontra o Cristo vivo, mas um Cristo
que é idéia ou doutrina apenas. É isto o que Sao Paulo quer
dizer quando ensina que a Igreja é o Corpo de Cristo (cf.
Col 1,24) ou que Ela é a plenitude do Cristo (cf. Ef l,22s).
É plenitude... nao por acrescentar algo aos méritos do Senhor,
mas por constituir o ambiente homogéneo em que Éste pro
paga a sua agáo através dos séculos.
Tal é a concepgáo católica da vinda e da presenga -do
Cristo na térra. Em conseqüéncia, para o católico a via para
encontrar o Cristo é a Igreja ; mais precisamente ainda... é
o ambiente criado pelo último círculo concéntrico de vida que,
irradiando-se a partir do Cristo, atinge a geragáo presente.
É nesse ambiente que o homem sequioso do Divino Mestre
tem que entrar; ai será afetado pela vida do Senhor, lera e
ouvirá a Palavra do Salvador comunicada por órgáos fide
dignos (fidedignos, porque por éles é Jesús mesmo quem pro
longa seu magisterio e seu sacerdocio).
A luz desta concepgáo, vé-se que nao tem cabimento a
expressáo : «Aceito o Cristo e seus ensinamentos, nao, porém,
— 58 —
a Igreja». — Como saberia eu quáis sao os ensinamentos de
Cristo senáo através désse órgáo vivo do Cristo que é a Igreja?
A doutrina de Jesús (como, alias, o próprio Jesús) nao é mera
palavra encerrada em código, mas é vida, e só se pode
apreender numa comunidade viva, na familia dos discípulos
do Senhor. Ninguém entenderá o Cristo senáo dentro da Igreja,
porque nao há outro rneio de contato de Jesús conosco senáo
o dos círculos concéntricos.
Resumindo, diremos que a concepgáo católica ácima ex
posta se formula no axioma: «Onde está a Igreja, ai está o
Cristo». O que quer dizer: quem procura o Salvador, terá
primeiramente que indagar, entre as múltiplas sociedades que
hoje em dia professam o Cristo, onde está aquela que inin-
terruptamente prolonga o Senhor até hoje ; dentro desta, e
sómente pelo magisterio desta, é que encontrará a face autén
tica de Jesús.
— 59 —
Cristo» ; ou talvez: «Nenhuma é minha Igreja; o ensinamento
do Cristo foi deturpado por todas as sociedades cristas hoje
existentes; o Cristo, eu O entendo, ao passo que nenhuma
das instituicóes cristas O entende».
Para quem assim pensa, «Igreja» é algo de relativo e
contingente; é tentativa humana, mais ou menos bem suce
dida, de realizar os ensinamentos de Cristo; e, como toda ten
tativa humana, é criticável, até mesmo dispensável.
Brevemente, esta posicáo se resume na fórmula: «Onde
está Cristo, ai está a Igreja». Fórmula que quer dizer : «onde
julgo encontrar o Cristo, cujos tragos concebí em minhas lei-
turas e meditagóes, ai deve estar também a Igreja (= a so-
ciedade humana que mais se aproxima do Cristo)».
Tal é a concepgáo de Cristo e de Igreja que caracteriza
principalmente as confissóes protestantes. Deduzindo as últi
mas conseqüéncias destas idéias, varias dessas confissóes em
nossos dias professam um Cristianismo táo depauperado que
o reduzem a u'a «manifestacáo inefável de Deus em Cristo» ;
tudo que seja capaz de transmitir ésse fato «inefável» (escri
tos do Novo Testamento, documentos da tradigáo) vem a
ser jugado digno de respeito, mas de modo nenhum inerrante.
— 60 —
a imagem dos círculos concéntricos), pode-se ter certeza de
que se perde por completo a verdade do Cristo, na qual está
a Vida.
F. F. P. (Belo Horizonte) :
— 61 —
pessoa privada, poderia cair em heresia (muitos acrescentam, porém,
que a Providencia Divina jamáis permitiu nem permitirá isso).
Com mais razáo ainda, vé-se que nao gozam de infalibilidade os
decretos das Congregares Romanas, mesmo que estejam munidos
da aprovacáo do Sumo Pontífice (íoram decretos dcsse género que
entraran! em causa no episodio de Galileu).
— 62 —
5) Precisando ainda mais a doutrina, deve-se afirmar
que a infalibilidade pontificia nao é senáo urna das formas
pelas quais se concretiza aquela infalibilidade que Jesús Cristo
outorgou á sua Igreja, conforme Mt 18,18; 28,18-20;
Me 16.15s.20; Le 10,16 ; Jo 16,13.16s.26. Em outros termos :
a infalibilidade do Sumo Pontífice está implicada na infalibili
dade da Igreja,. de que tratava o fascículo «P. R.» 10/1958,
qu. 2 e 3.
b) Le 22,32 : «Simao, orei por ti, para que tua íé nao desfaleca;
e tu, quando te tiveres voltado, confirma teus irmáos».
— 64 —
déstes perguntaram se nao convinha mencionar na bula o voto íavo-
rável do episcopado ; ao que um dos prelados replicou que os bispos
nao estavam reunidos era concilio, e, portante, nao lhes competía pro
ferir juízo dogmático ; acrescentava :
«As comunhoes separadas (protestantes, orientáis cismáticos) po-
dem estar obrigadas a tomar decis5es dogmáticas sob forma sinodal
por maioria de yozes. Sonriente a Igreja Católica, possuindo urna hie-
rarquia de instituigao divina, cuja cabega náo pode errar, está em
condicóes de definir um dogma por via de autoridade ; é preciso que
ela náo perca éste privilegio. Se o Soberano Pontífice pronunciar a
sos a definicáo á qual todos os fiéis aderiráo espontáneamente, seu
julgamento se tornará a demonstracáo prática da autoridade suprema
da Igreja em materia de doutrina e da infalibilidade de que Jesús
Cristo revestiu seu Vigário sobre a térra».
Esta declaragáo era altamente significativa pelos conceitos que
emitía a respeito do magisterio da Igreja, opondo-se a qualquer tipo
de galicanismo moderado.
A definicáo foi realmente proferida por Pió IX usando da sua
autoridade própria, aos 8 de dezembro de 1854. Féz-lhe eco o júbilo
geral da Cristandade.
Quatro anos mais tarde, a declaracáo papal era confirmada de
modo extraordinario pelas aparicOes de Lourdes ; neste.s a Virgem
Santíssima afirmou explícitamente sua Imaculada Conceicáo obtendo
milagres que até hoje corroboram suas palavras.
Tais fatos, como se entende, repercutiam nao sómente na teología
mañana, mas também na doutrina concernente ao magisterio da
Igreja: a prerrogativa dá" infalibilidade pessoal e direta de que
Pió IX acabara de fazer uso. recebia do céu como que a sua com-
provacáo... Conseqüentemente nos anos seguintes a atencáo dos
tiéis se voltava repetidamente para a autoridade de Roma : vozes da
imprensa católica do mundo inteiro, encabezadas por L. Veuillot e
J. de Maistre, acentuavam o primado do Sumo Pontífice ; foi to
mando vulto a idéia de se definir a infalibilidade do Papa, idéia mais
e mais incutida pela atitude anticatólica dos governos (a comecar
pelo do Piemonte-Sardenha, na Italia) ; essa atitude levava a temer
que cedo ou tarde o Papa se visse impedido de entrar em comunicacáo
com os bispos a respeito de questóes vitáis da Igreja ; pelo que mui-
tos bons católicos desejavam se declarasse que os Papas, mesmo
exilados e encarcerados, possuem toda a autoridade na Igreja.
Nessas circunstancias, Pió IX resolveu convocar o concilio geral
do Vaticano para 8 de dezembro de 1869, visando por ele afirmar a
dignidade do sobrenatural contra o racionalismo do século. A infali
bilidade pontificia, previamente estudada por comissoes especializa
das, foi proposta á deliberagáo dos Padres conciliares ¡ ao passo que
a grande maioria déstes era favorável á definicáo da mesma, pequeño
número se lhe opunha, principalmente porque a julgavam inopor
tuna, isto é, apta a aumentar as distancias entre os cristáos separados.
Por fim, aos 13 de julho de 1870 a fórmula já longamenle buri
lada foi submetida á votacáo do plenário : dos 601 votantes, 451 res-
ponderam afirmativamente. 88 negativamente e 62 com propostas
de emendas. Nos dias seguintes, enquanto estas eram estudadas, mui-
tos dos oponentes resolveram anexar-se simplesmente ao bloco afir
mativo ; varios dos outros, náo querendo render-se, também náo que-
riam proferir voto negativo, a fim de nád dar a crer que eram con
trarios ao próprio dogma ; julgaram entáo melhor deixar Roma, o
que se lhes tornou licito, quando aos 16 de julho o Presidente do
concilio deu licenga aos Padres sinodais para se retirarem da Cidade
— 65 —
Eterna até o dia 11 de novembro (a situacao internacional na Europa
se agrayava progressivamente). Em conseqüéncia, á votagáo final
(18 de julho) comparecerán! 535 padres conciliares ; déstes, apenas
dois deram parecer negativo. Pío IX entáo confirmou a decisáo da
maioria; houve intensa vibracáo da assembléia ; os dois prelados
renitentes foram logo declarar sua submissSo ao Pontífice e se uniram
ao «Te Deum» que encerrou a sessáo !
Quanto aos bispos da oposicao, a sua retirada de Roma antes da
votacáo final significava, em última análise, deferencia para com a
doutrina da infalibilidade, que éles nao queriam marcar com o seu
voto negativo. A deferencia se confirmou pela submissáo ao dogma
que éles foram professando sucessivamente após a definicáo. Nenhum
dos membros do episcopado deixou de aderir a definicáo.
Chama a atencáo o fato de que a proclamacáo da infalibilidade
pontificia (urna das mais «ousadas» que a Igreja tenha jamáis pro
ferido a respeito de si mesma) teve lugar justamente quando estava
para ruir o poder temporal ou o prestigio político do Papado (em
setembro de 1870 a cidade de Roma foi ocupada pelas tropas do reí
Vítor Emanuel). Longe de se sentir combatida pelas perdas tempo-
rais que vinha experimentando desde o inicio do século, a Santa
Igreja em 1870 parecía mais do que nunca consciente de sua missáo
de continuar na térra a obra de Cristo, ensinando a Verdade e a Vida!
Com o decorrer dos anos, a Cristandade foi percebendo o alcance
da definicáo da infalibilidade pontificia. Era a confirmacáo do prin
cipio de autoridade, principio que é essencial em toda auténtica reli-
giosidade, pois religiSo significará sempre submissáo do homem a
Deus, e a religiáo crista, em particular, implicará sempre submissáo
a Deua encarnado, a Deus encoberto pela face humana das criaturas
(dos seus ministros e da sua Igreja); sem fé na Encarnacáo, jamáis
se poderia conceber o Cristianismo.
Costumam ser formuladas, em nome da historia, objec5es á infa
libilidade pontificia (assim os casos dos Papas Libério, no séc. IV;
Vigilio, no séc. VI; Honorio, no séc. VII; Joáo XXII, no séc. XIV;
Paulo V e Urbano VIH no séc. XVII ou no processo de Galileu).
. Contudo, quando se examinam serenamente os episodios apresen-
tados, verifica-se que néles nao se tratava própriamente de erro dou-
trinário, ou que nao foram preenchidas as condicoes necessárias para
que houvesse urna definicao infalivel; com efeito, esta, con-
soante o concilio do Vaticano, só tem lugar quando
1) o Papa ensina como Supremo Doutor da Igreja, nao qual
mestre particular,
2) o Pontífice tem em vista proferir sentenca definitiva, a ser
aceita pela Igreja universal,
3) em assuntos de fé ou de moral.
Sobre o caso «Galileu». veja «P.R.» 4/1958, qu. 12; a respeito
dos Papas Libério, Honorio, Joáo XXII veja «P. R.» 7/1958, qu. 10.
— 66 —
MARTINHO (S. Paulo) :
— 67 —
base destas consideragdes, vai sendo propalada a tese de que é no
centro do globo que se encontra o fogo do inferno...
Apenas a titulo de ilustrado, notamos ainda as seguintes sen-
tengas sobre a localizagáo' do inferno :
1) Sao Joáo Crisóstomo (t407) supunha que o lugar dos repro
bos existe íora do nosso planeta;
2) Sao Gregorio de Nissa (t394 aproximadamente) colocava-o
no ar tenebroso ;
3) Swinden, autor inglés do séc. XVIII. dizia estar o inferno
no sol;
4) outros enfim, como o monge dsterciense St. Wiést, teólogo
do séc. XVIII, localizam-no na Lúa, em Marte ou nos extremos con-
fins inferiores do universo.
Já a variedade destas opini5es é indicio de que carecem de sólido
fundamento objetivo.
— 68 —
limbo (posse definitiva de Deus, fim último do homem, me
diante as facilidades limitadas da natureza humana ; a exis
tencia do limbo nao constituí estritamente dogma de fé) ;
purgatorio (alheamento temporario de Deus, que a alma há
de chegar a contemplar face a face).
2) A Tradicáo associou ésses estados de alma (e corpo)
a certos lugares,, lugares que ela indicava de acordó com as
concepcóes cosmológicas dos antigos judeus e cristáos (veja-se
o catálogo do parágrafo anterior; supóe o geocentrismo, visto
que coloca o inferno abaixo da térra e o céu ácima da mesma).
Hoje em día os teólogos reconhecem que tais concepcóes topo
gráficas sao arcaicas (o sistema geocéntrico de Ptolomeu ser-
viu em determinada época para dar expressáo contingente a
concepgóes religiosas cristas). Contudo os teólogos conservam
a idéia de que os estados fináis estáo associados a certos luga
res (se bem que de modo nenhum apresentem tal associacáo
como materia de fé).
3) Para explicar melhor o seu pensamento, recorrem
os autores á seguinte distingáo :
a) Após a ressurreigáo da carne, no fim dos tempos,
entende-se que o homem, constando de alma e corpo dimen
sional, esteja situado num lugar dimensional, pois é normal
que criaturas quantitativas se achem contidas em um mundo
quantitativo.
— 69 —
rados do corpo (anjos bons e maus, almas humanas), exoegáo
feita dos poucos casos abaixo mencionados. Ora, segundo a
filosofía tomista, o espirito por si mesmo nao ocupa determi
nado lugar; nao tendo dimensóes, nao está contido dentro
de um espago dimensional. Sendo assim, vé-se que a questáo
do local dos estados postumos antes da ressurreigáo toma
caráter diverso do que ela tem após a ressurreigáo. Embora
associe, como os autores anteriores, os estados postumos a
certos lugares físicos, Sao Tomaz observa explícitamente que
as almas depois da morte «se acham em seus lugares dimen-
sionais segundo o modo conveniente as substancias espirituais,
modo que a nos nao pode ser plenamente manifestó» (In IV
Sent, dist. 45,q. 1, a.l, sol. 1 ad 1).
— 70 —
novo e térra nova, a visáo beatífica esteja associada a deter
minado espago dimensional.
Quanto ao inferno, o fato de que néle se encontra um
agente físico chamado «fogo do inferno» tem levado varios
teólogos a admitir que, mesmo antes da ressurragáo dos cor-
pos, ele se situé em alguma regiáo geográfica. Contudo a
quem assim pensa, é preciso lembrar que a natureza do fogo
do inferno escapa as nossas nogóes comuns (cf. «P. R.»
12/1958, correspondencia miúda), tornando-se destarte exigua
base para se deduzirem conclusóes sobre a possível topografía
do estado dos reprobos.
— 71 —
pugnante e nauseabunda. A seguir, imaginai ésse desatinante mau
cheiro multiplicado milhóes e milhóes de vézes pela multidáo de mi-
Ihóes e milhóes de carcassas fétidas acumuladas ñas trevas enfuma-
gadas, nesse imenso cogumelo de podridlo humana...
Mas o mau cheiro. por muito horroroso que seja, nao constituí
a maior tortura física que sofrem os reprobos. A tortura pelo íogo
é a mais cruciante que ura tirano tenha jamáis infligido aos seus se-
melhantes. Colocai por um instante vosso dedo na chama de urna vela
e sentiréis a dor que o fogo causa. Mas o nosso fogo terrestre foi
criado por Deus para bem do homem, para conservar neste a centelha
da vida, para o auxiliar em seus trabalhos úteis, ao passo que o fogo
do inferno é de natureza totalmente diversa ; foi criado por Deus para
torturar e punir o pecador impenitente... O enxófre que arde no in
ferno, é urna substancia especialmente destinada a arder eternamente
com indescritível furor; o fogo do inferno possui a propriedade de
conservar o que ele queima, se bem que ele se enfurega com incrível
impetuosidades».
Na obra de Joyce, dizíamos, éste sermao é concebido pelo orador
com o fim de incutir temor e. conseqüentemente, arrependimento,
conversáo do pecador. O escritor irlandés, porém, mostra bem como
Stephen, o destinatario1 de tais palavras, reagiu : acabou julgando in
digna de fé urna religiáo que atribuía á Justica Divina tao requintadas
atrocidades ; justamente a pega de pregacáo que o devia converter,
acabou por distanciá-lo da fé !
Infelizmente a narrativa de romance ácima nao carece de base
na realidade histórica.
As representagoes iconográficas do inferno também deixam muito
a desejar. Urna imagem assaz comum é a de enorme güela de animal,
disforme, munida de dentes agudos, escancarada para receber suas
vitimas. Também se vé o quadro de um fósso ou de urna caverna
subterráena, donde jorram chamas ou torrentes de fogo a envolver
os reprobos á guisa de espiral.
O purgatorio é muitas vézes representado como o inferno, o que
vem a ser diretamente contrario á Teología. No purgatorio as almas
nao sao atormentadas pelo demonio ; sofrem voluntariamente a dila-
cáo da visáo beatífica, desejosas elas mesmas de se purificar; expe-
rimentam, portanto, alegría profunda ao verificar que se preparam
para ver face a face a Beleza incriada. É esta atitude de alma, e nao
a respectiva moldura sensivel, que constituí a esséncia do purgatorio;
essa atitude interior, porém, é o elemento que menos se focaliza ñas
descricSes oráis e gráficas do estado de purificacao; déste desvio de
acento resulta naturalmente detrimento para a crenga e a piedade
dos fiéis.
Sendo assim, só se pode recomendar aos cristaos, em vista da
honra de Deus e da salvacáo das almas, evitem concepgSes fantasistas
relativas aos estados postumos, lembrando-se de que mais vale a
sobriedade do que o prolixo saber em assuntos sobre os quais a Re-
velagáo Divina nao nos transmite senáo o essencial para grangear-
mos a salvacáo eterna !
— 72 —
foro religioso e o foro político e que, ao agir como político,
nao cstou obligado a aceitar normas da Religiao».
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preendiam a necessidade de se submeter ao Imperador; pre-
feriam mesmo a autoridade de César a tiranía de Herodes.
A resposta do Senhor, porém, ultrapassou os termos do
guesito : «.. .e a Deus o que é de Deus». Além do dever para
com o Imperador, acrescentou Jesús, existem incólumes os
deveres para com Deus ; a fidelidade ao Altíssimo é plena
mente compatível com a submissáo ao poder imperial. Com
estas palavras, diz o texto evangélico, Jesús só fez provocar
á admiracáo de seus contendentes, reduzindo-os ao silencio.
Cristo em sua resposta estabeíecia um principio de dou-
trina assaz fecundo, que nos convém agora explanar.
2. A mensagem do texto
— 74 —
O pressuposto, pois, para que o cristáo sirva ao Estado e
exerga a sua ac.áo política, é a sujeigáo do Estado e da política
a Deus. Nao há, para o cristáo, duas esferas de atividade inde-
pendentes urna da outra : a esfera sacra!, na qual se afirmaría
a personalidade religiosa do individuo, e a esfera política ou
profana, neutra do ponto de vista religioso, esfera na qual
se exerceria outra personalidade do mesmo sujeito — a per
sonalidade política ou profissional.
— 75 —
Em urna palavra : do famoso dístico de Mt 22,21: «Res
tituí a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus»,
falso seria concluir que César é Deus ou um absoluto ao lado
de outro Absoluto ; segundo o pensamento de Cristo, César
só é César na medida em que é lugar-tenente de Deus, subor
dinado a Deus e subordinando os homens a Deus.
A respeito da «Moral leiga, sem Deus» veja «P. R.» 7/1958, qu. 5.
IV. MORAL
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dido, decidiu-se a mover urna acáo judiciária, na qual o tribunal de
Madras deu ganho de causa ao anciáo, reconhecendo-lhe o direito de
chamar seu filho a si. Como, porém, o jovem estivesse na Europa, isto
é, fora do alcance do tribunal de Madras, a Sra. Besant apelou para
o Conselho Privado de Londres, o qual a habilitou a guardar Krishna-
murti consigo (para grande contentamento do próprio jovem). Éste
continuou, pois, na Inglaterra, sem, porém, íreqüentar alguma Uni-
versidade.
Em 1922 Krishnamurti foi para a California, passando anos depois
para a Holanda, onde o baráo Philip van Pallandt, teosoiista e grande
admirador do jovem, Ihe doara o castelo de Eerde em Ommen. Come-
caram entáo a se reunir anualmente nesta regiáo os admiradores de
Krishnamurti, provenientes do mundo inteiro. Em 1927, o filósofo
hindú declarou, perante numeroso auditorio, ter conseguido a plena
liberdade da mente e, por conseguinte, a identificagáo com o Todo ou
o «Bem-Amado» !
Inesperadamente em 1929 Krishnamurti dissolveu a «Ordem da
Estréla do Oriente», alegando que qualquer organizacáo constituiría
barreira a procura da verdade ; desligou-se também definitivamente
da Sociedade Teosófica e, como pensador independente, pós-se a viajar
pelo mundo inteiro, fazendo conferencias em toda a parte no intuito
de despertar a consciéncia dos homens contemporáneos. No Brasil es-
teve Krishnamurti em 1935. Estabelectu urna sede importante na Ca
lifornia denominada «Centro de Estudos Filosóficos Espiritualistas»,
contando com discípulos das mais variadas nacionalidades.
E qual seria a mensagem de Krishnamurti ?
2. A ideología do filósofo
— 77 —
Para incutir essas idéias, o filósofo hindú usa de termos caracte
rísticos, que constituem a trama de seus escritos : de um lado, há
no homem «médo, temor, condiclonamento, sofrimento, cativeiro...»;
de outro lado, deve haver «auto-protegáo. reagáo, apercebimento,
conhecimento, entendimento, discernimento...».
d) Deus, nesse quadro filosófico, é concebido como a Grande
Energía que passa pelo homem e pelo universo ; é urna fórca impes-
soal que cada um tem que descobrir primariamente dentro de si pela
auto-percepcáo.
e) O Eu nao é senáo um feixe de percepcSes e recordacóes, de
crendices, preconceitos, preocupagSes de seguranga e conforto. En-
quanto o individuo se deixa avassalar por ésses elementos estranhos,
ele está sujeito á lei das reencarnagóes sucessivas ; desde, porém, que
se liberte de toda essa bagagem, já nao conhece nem reencarnagáo,
nem nascimento nem morte; o sabio ou o homem liberto! perde sua
personalidade no Grande Todo, na Substancia Universal.
Tal é. em poucas palavras, a estrutura do pensamento de
Krishnamurti.
3. Apreciado do sistema
— 78 —
3. Rejeitando-se, pois, o panteísmo e a teoría ética que
Krishnamurti sobre ele constrói, admita-se, conforme a sá
razáo, que Deus é Personalidade, e Personalidade que nao se
identifica com o homem. Entende-se entáo que é Deus quem
dita á criatura qual a via que a leva á perfeigao; nao é o
homem quem define os meios de sua ascensáo, pois Deus por
definicáo é o Autor do homem, mais sabio do que éste. Á
criatura tocará sempre o papel de ouvir humildemente a Deus,
quer Éste fale diretamente por si, quer por meio de represen*
tantes visíveis (representantes que o Altissimo nao pode dei-
xar de credenciar devidamente, ficando a cada individuo o
direito de investigar com a razáo essas credenciais).
4. A verdadeira liberdade nao consiste em que o homem
se emancipe de qualquer escola, mas consiste em que o indi
viduo atinja o seu Fim último — a Verdade e a Vida — en
trando de maneira espontánea na posigáo subordinada que
lhe compete. A liberdade é perfeigáo que Deus outorgou ao
homem nao para que éste caia na imperfeicjio (desastre ine-
vitável para quem rejeita a auténtica escola), mas para que
mais nobremente atinja a Verdade e a Vida.
— 79 —
engañadores para a unidade de um grande Ideal... Ora também esta
mensagem é genulnamente crista; é, alias, no Cristianismo que ela
se realiza por excelencia, pois no Cristianismo o próprio Deus outorga
ao homem os meios necessários para que se emancipe da sedugáo das
coisas criadas. O Deus transcendente que os cristSos professam, nao
é mera figura majestática nem entidade abstrata, mas é muito intimo
ao homem, como lembra S. Agostinho numa írase lapidar : <t(Deus)
superior summo meo, intimior intimo meo. — Deus é mais elevado que
o que concebo de mais elevado, e me é mais íntimo do que o que
tenho de mais Intimo» (Confissóes).
6. Estas duas tendencias tém certamente concorrido para dar
voga as idéias de Krishnamurtl. Eis, porém, que um terceiro titulo,
desta vez menos nobre, também as torna atraentes ao mundo contem
poráneo: a atitude íilosófica do pensador hindú corresponde ao orgulho
íortemente acentuado da mentalidade moderna. Krishnamurti aparece
como a expressáo de uma época em que o individuo quer ser autónomo,
legislador, para si e para os outros, segundo o seu bom senso...
Na verdade, só há, para o homem, uma possibilidade de se emancipar
e de reinar: é a que consiste em esquecer o próprio eu e aderir incon-
dicionalmente a Deus, Criador e Pai providente, pois «servir a Deus
é reinar» (Missal Romano, Postcomunháo da Missa pela paz), servir
a Deus é entrar no lugar muito elevado que o Criador se dignou
assinalar ao homem na hierarquia dos seres.
V. HISTORIA DO CRISTIANISMO
A. R. (Luziánia) :
— 80 —
Os 111 dísticos no «Lignum Vitae» sao acompanhados de
breve comentario do historiador espanhol Alonso Ciacconio
O.P. (fdepois de 1601). O comentario aplica os disticos da
Profecía aos 74 Papas que governaram desde Celestino II
(11144), um dos contemporáneos de S. Malaquias, até Ur
bano VII (f 1590) ; mostra como o conteúdo de cada oráculo
se cumpriu adequadamente na figura de cada Pontífice a que
é referido. O comentario de Ciacconio, indicando onde comeca
a serie dos Papas visados pelos dísticos, permite calcular apro
ximadamente a época em que se dará o fim do Papado e a
segunda vinda do Senhor; assim contam-se 38 Pontífices
desde Urbano VII (t 1590) até o fim do mundo, sendo que
S. Santidade Joáo XXHI, que vem a ser o «Pastor et Nauta»
(Pastor e Navegante) da lista, ainda terá cinco sucessores, o
último dos quais, Pedro II, verá, com a geragáo dos seus con
temporáneos, a consumaeáo da historia.
2. A autoridade da Profecía
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«Pastor et Nauta» (Pastor e Navegante) parece caracterizar bem
o Papa atual Joao XXIII, ex-Patriarca de Veneza, cidade das gdndolas,
reconhecido por sua ardente tempera de Pastor de almas...
— 82 —
aos oráculos de S. Malaquias; nem os historiadores medievais e renas-
centistas, ao escrever a Vida dos Papas, mencionam tal documento, que
certamente deveria ser citado, caso fósse conhecido. E por que motivo,
em que circunstancias, teria éste caído em máos de Ciaccon'o, seu
comentador, após 450 anos de ocultamento? E como de Ciacconio terá
sido transmitido a Wyon, que o editou pela primeira vez?
2) Ao argumento do silencio associa-se a verificacáo de íaltas
históricas e teológicas na Profecía de Malaquias. De fato, na lista dos
Papas liguram antipapas (como Vítor IV, 1159-64; Nicolau V, 1328-30;
Clemente Vil, 1378-94). eíeito éste que difícilmente se poderia atribuir
á inspiracao divina. A finalidade mesma da Profecía (insinuar a época
do fim do mundo) parece contrariar á intencáo de Cristo, que em
mais de urna ocasiio se negou a revelar aos homens a data do juizo
final (cf. Me 13,32; At 1,7). Além disto, a aplicagáo dos dísticos aos
respectivos Papas baseia-se em notas por vézes acidentais na figura
dos respectivos Pontífices, o que lhe dá um cunho de arbitrario; assim
Nicolau V (legítimo Papa de 1447 a 1455) traz a divisa «De modicitate
Lunae» (Da pequenez da Lúa) por ter nascido de familia modesta no
lugar chamado Lunegiana; Pió II (1458-1464) é assinalado «De capra
et albergo» (Da cabra e do albergue) por haver sido secretario dos
Cardeais Capranica e Albergati!
— 83 —
Urbano VII. Essa lista, com a qual os mistificadores quiseram
associar até mesmo o nome autorizado de S. Malaquias, nao
logrou o desejado efeito, pois na verdade quem saiu eleito do
conclave foi o Cardeal Sfondrate, arcebispo de Miláo, que to-
mou o nome de Gregorio XIV... É esta urna das explicagóes
mais correntes dos motivos que teráo inspirado a pseudo-pro-
fecia de S. Malaquias !
J. L. Z. (Itirapina) :
— 84 —
rando um reino de 1000 anos de bonanca (cí. Apc 20). Também esta
data se passou, sem que algo se mudasse na historia...
Nao obstante, o desejo de predizer com exatidáo «os tempos e
momentos» continuou a seduzir certas comunidades protestantes, das
quais procedeu o cheíe de novo movimento religioso; Charles Taze
Russel (1852-1916).
Nascido em Pittsburg (Pensilvánia) de familia presbiteriana,
Russel concebía diíiculdades na fé, quando se encontrou com os
Adventistas; resolveu entáo abracar as doutrinas déstes, juntamente
com a expectativa de urna próxima volta de Cristo para instaurar
sobre a térra o seu reino milenario.
Aos poucos, porém, foi-se convencendo de que todas as deno-
minagóes cristas estavam equivocadas no tocante á doutrina dos
últimos tempos... Em 1873 julgou poder afirmar que Cristo voltaria
em 1874, data que ele mesmo corrigiu sucessivamente para 1914 e
1918 (infelizmente Russel morreu em 1916). Em 1878 separou-se da
seita dos Adventistas, passando a constituir com seus discípulos um
grupo religioso independente; pós-se entáo a viajar anunciando a
sua mensagem ao mundo inteiro; atribuia-se a missáode denunciar
a todos «as fraudes e blasfemias» contidas nos ensinamentos de
qualquer entidade crista, fósse católica, fósse protestante, e de apregoar
«a maravilhosa noticia da instauracáo iminente, sobre a térra, da
cidade ideal paradisiaca, na qual já nao se cometerá mal algum».
Para remover as objecóes que se faziam contra o náo-cumpri-
mento das profecías adventistas. Russel concebeu* a idéia de urna
vinda meramente espiritual e invisível de Cristo. Assim podia susten
tar mesmo no fim de sua vida que em 1874 de fato se dera, o
grande acontecimento da deseida de Jesús á térra; afirmava, porém,
que até 1914 a presenca do Mestre seria invisível. Em 1914 nao
aparecendo manifestamente o Cristo. Russel adiou a data para 1918...
Tendo morrido em viagem aos 31 de outubro de 1916, a Russel
foi dado como sucessor o advogado Rutherford, que se proclamou
juiz e com veeméncia ainda mais acentuada se pos a condenar as
instituigoes religiosas e dvis da sua época.
Após 1918 Rutherford tinha que refazer os cálculos... Transferiu
entáo a data da manifestagáo de Cristo para 1925, anunciando:
«Podemos, esperar, em 1925, ser testemunhas da volta de Abraáo,
Isaque, Jaco e de outros crentes do Antigo Testamento, despertados
e restaurados em urna natureza humana perfeita para serem os
representantes da nova ordem de coisas sobre a térra».
Mandou conseqüentemente construir por 75.000 dólares em San
Diego (California) a suntuosa «Casa dos Principes», futura mansáo
dos Patriarcas redivivos que, na ausencia déstes, ele ocupava como
residencia de invernó com sua esposa e seu filho. Passou-se, porém,
o ano fatídico de 1925 sem que se presenciasse a volta de Abraáo
ou de Cristo. Sem se desconcertar, Rutherford apoiou-se na seguinte
advertencia, que ainda hoje é o esteio da poslcáo dos Testemunhas:
«Tudo se cumpre e atesta que o Senhor Jesús está presente e
seu reino vem chegando. A ressurreigao dos mortos comecará em
hreve. Dizendo em breve, nao queremos dizer no ano próximo, mas
eremos coníiantemente que terá lugar antes que decorra outro século».
Com estas palavras, Rutherford se premunía contra qualquer
desmentido ou decepeáo, pois já desistia de fixar a data.
Quanto ao titulo da nova entidade religiosa, variou assaz: «Russe-
litas, Auroristas, Estudiosos Internacionais da Biblia»... Final
mente em 1931 o Conselho da sociedade estipulou que seus membros
— 85 —
se apresentariam ao mundo como «Testemunhas de Jeová> (cf. Is
43,10; 44,8).
Após intensos trabalhos de propaganda pelo mundo, Rutherford
se retirou para a «Casa dos Príncipes», onde veio a falecer em 1924.
Teve por sucessor Nathan Knorr, que até hoje governa a seita,
procurando guardar as normas de seus dois antecessores.
— 86 —
nismo em tudo que éste tem de característico. — Deseamos, porém,
aos principáis pontos de doutrina:
— 87 —
suscetivel de premio ou de castigo. Testemunhos desta progressáo
sao os textos seguintes: SI 10,7; 15,11; 16,15; 139,14; Dan 12,1-3.
— 88 —
em si ou que no seu remate chega ao termo intencionado por
Deus (mil é símbolo de totalidade e plenitude). A ressurreigáo
primeira, que inaugura o reino dos justos com Cristo, é a
vivificagáo das almas pelo Batismo, ao passo que a ressurrei
gáo segunda, que rematará os mil anos, significa a vivificagáo
dos corpos no dia do juízo final, quando toda carne res-
suscitar.
Em conclusáo: muitas concepgoes fantásticas dissemi
nadas com muito entusiasmo, eis a que se resume a posigáo
dos Testemunhas de Jeová. Se os erros sao condenáveis, ao
menos o entusiasmo da seita merece aprego, e é portador de
mensagem para o mundo contemporáneo : lembra a todos,
principalmente aos católicos (luz do mundo e sal da térra),
que abominável é, aos olhos do Senhor, toda modalidade de
tibieza e aburguesamento espiritual (cf. Apc 3,15s; Mt 5,13-16)!
CORRESPONDENCIA MIÚDA
— 89 —
e) É permitido, sim, atrair o adversario para urna "ratoeira",
como fez Aníbal em Cannes, pois em guerra se podem aplicar estrata
gemas requintados. As partes beligerantes devem estar acauteladas a
propósito de tais recursos e tém obrigacáo de usar da máxima prudencia
para nao ser colhidas em "ratoeira" ; o beligerante tem que pensar duas
vézes sobre as palavras e as atitudes do adversario antes de tomar suas
decisóes. A "batalha de exterminio" que resulte do recurso á ratoeira,
se se trava entre os beligerantes nresmos, nao poderá ser reprovada.
f) A respeito das Ordens militares, daremos resposta mais longa,
se Deus quiser, em um dos próximos fascículos de "P. R.".
— 90 —
cuja carga era constituida por reliquias, rosárioñ, etc. Foi acusado de
nesta ocasiáo ter praticado bárbaras crueldades contra 40 Religiosos,
que langou ao mar depois de os ter mutilado" (Grande Enciclopedia Por
tuguesa e Brasileira, vol. 29, pág. 686).
Os 40 Religiosos mencionados sao o Bem-aventurado Inácio de Aze-
vedo S. J. e seus companheiros.
— 91 —
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS»
BEDACAO ADMINISTRACAO
Caixa Postal 2666 B. K«»l Grandeza, 108 — Botafogo
Rio de Janeiro Tcl. 26-1822-Rio de Janeiro