Você está na página 1de 2

Ele era um grande sonhador. Mas daqueles que imaginam coisas mesmo.

No daqueles que sonham enquanto dormem no banco reservado para idosos. Tinha um esprito jovem e cheio de disposio, mesmo que o corpo e o salrio no acompanhassem o esprito. Costumava pensar maravilhas que infelizmente no poderia realizar. Ento sonhava em realizar seus sonhos. Cada dia me contava um sonho novo. Era imensa a sua imaginao e aos poucos percebi que aquela imaginao era fruto de uma mente brilhante. Seus sonhos no eram apenas devaneios inconcebveis, mas verdadeiras ideias que poderiam ser teis se o capitalismo realmente cedesse as oportunidades que andam contando por a. Outro sonho o desses capitalistas. Um dia resolvi registrar seus sonhos e percebi que ele no era um nefelibata como eu pensava. Passei a ter uma admirao pelos seus sonhos materialistas, verdadeiras obras cientficas que poderiam sair do papel se o governo investisse em educao e cincia e no em armas. Abro agora o caderno onde fiz as anotaes de suas ideias e seus sonhos. Me veem as lembranas de quando ele me contava todos os detalhes e as possibilidades reais em que ele se sustentava. Algumas me chamam ainda mais a ateno. Vejo agora, principalmente, dois tipos de sonhos: os que o poderiam t-lo deixado rico que eu chamo de ideias; E os que poderiam t-lo dado um lugar na histria da humanidade que eu chamo de sonhos. Os primeiros eram sbrios e diurnos e me fazem acreditar ainda mais. Os segundos eram bbados e noturnos, mas eram apaixonantes. No primeiro grupo esto os projetos cientficos, de engenharia, de pesquisa e tantos outras que voc pode rir ou no compreender dependendo do seu conhecimento de fsica, qumica e engenharia mas que poderiam ter revolucionado nossas vidas mais do que um carro voador que existe h dcadas s nos filmes. Para esse primeiro grupo ele tinha uma frase: o homem no inventa nada, tudo j existe, ns apenas ainda no descobrimos como fazer. Para o segundo grupo encontrei outra frase: A utopia s existe para quem no acredita que possvel. E justifico com suas ideias o por que de mesmo ele estando embriagado eu anotar o que dizia no faltava coerncia na sua descrio cambaleante, embora pudesse faltar coeso entre os goles de whisky. Os exemplos no me deixam mentir: reforma agrria de verdade no Brasil que maluquice! (grifo meu), Prmio Nobel para quem faz coisas teis e no coisas que s eles entendem, investir em curas para diarreia, j que ela mata mais que a Aids e uma sociedade justa e igualitria. Foi aqui que ele parou de sonhar. E eu, de anotar suas histrias.

Continuo acreditando que tudo que ele disse possvel, inclusive uma sociedade igualitria. S falta ao homem que j descobriu como fazer. Seguindo com a histria deste homem incrvel, acabou partindo para o mundo dos comuns. Guardo este livro com todas suas ideias. Pretendo revel-lo depois que ele morrer e, assim, dar ao mundo novas esperanas de alcanar o mundo melhor. Acredito que ele sonha com isso todas as noites.

Você também pode gostar