ESTADO DE MINAS
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Tráfico comanda violência em BH
▲
Número de assassinatos é crescente na capital. Favela do Cafezal lidera ocorrências
ELLEN CRISTIE
em mesmo a che-
N gada do ano novo
foi motivo para di-
minuir a violência
registrada em Be-
lo Horizonte e o principal fator
que motiva os crimes de morte é
sempre o mesmo: o tráfico de
drogas. Apenas nos cinco pri-
meiros dias do ano foram regis-
trados cinco homicídios na Re-
gião Metropolitana de Belo Hori-
zonte, dos quais três acontece-
ram na Cabana do Pai Tomás,
região Oeste da capital.
Um dos assassinatos motiva-
dos por drogas foi registrado na
madrugada de ontem. Vanessa
Oliveira do Carmo, 25 anos, mo-
radora da Cabana do Pai Tomás,
foi morta com dois tiros, que
atingiram o rosto e o abdômen
da moça. O crime aconteceu por
volta da 0h30min na rua São
Mata desafeto do filho
Na noite de quarta-feira, por
volta das 23h30min, Vanderson
de Almeida, 21 anos, foi assassi-
nado com seis tiros disparados
por Arnaldo Soares Pereira, o
“Lalinho”, pai de Fernando Ro-
berto Pereira, 19 anos. O crime
aconteceu na rua dos Camargos,
95, no bairro Jardim Florença.
Vanderson foi atingido no
ombro direito, no abdômen e
JOSÉ EUGÊNIO da Silva está desaparecido
Família de caminhoneiro
acredita em seqüestro
NEWTON CUNHA
O caminhoneiro de Porto Ale-
gre, José Eugênio da Silva, 36
anos, está desaparecido desde o
dia 15 de dezembro, quando foi
visto pela última vez por paren-
tes no bairro Céu Azul, região da
Pampulha, dias antes de viajar
ao Sul de Minas com uma carga
de bebidas. O caso foi registrado
no Departamento Estadual de
Operações Especiais (Deoesp)
que a princípio descartou a hi-
pótese de seqüestro, uma vez
que até o momento não houve
pedido de resgate.
O mistério envolvendo José
Eugênio começou em dezembro
quando ele visitou a irmã Vera
Celestino, no bairro Céu Azul,
antes de seguir para Poços de
Caldas, seu destino final na via-
gem. “Ele mora com a mulher e
três filhas em Porto Alegre e
aproveitou sua passagem por
Belo Horizonte para nos visitar”,
contou Vera.
Após seguir viagem, o cami-
nhoneiro passou vários dias sem
dar notícias para a irmã em Be-
lo Horizonte e para a mulher em
Porto Alegre. Somente no do-
mingo à noite, por volta das 20h,
é que Vera recebeu um telefone-
ma a cobrar. Do outro lado da li-
nha estava José Eugênio em
prantos. “Você tem que me aju-
dar”, dizia o caminhoneiro, que
não disse onde nem com quem
estava.
Ainda no domingo, por volta
de 23h45, Vera recebeu outro
telefonema a cobrar. Desta vez
um homem misterioso apresen-
João Del Rey, 375, no beco São
Francisco, onde a vítima faleceu.
De acordo com o irmão de Va-
nessa, recentemente a jovem te-
ria golpeado um rapaz com uma
faca por desentendimentos en-
volvendo o tráfico de drogas. O
rapaz teria jurado a moça de
morte, prometendo que voltaria
para matá-la. De acordo com
moradores do bairro, Vanessa
era usuária de drogas e, talvez
por isso, discutiu com o rapaz.
Os policiais que investigam o
caso não conseguiram muitos
dados no local do crime, já que a
população está atemorizada pe-
la onda de violência registrada
no bairro, mas a polícia já traba-
lha com um suspeito. O irmão de
um rapaz chamado “Xandinho”
pode ser o autor do crime. Am-
bos não foram encontrados. Se-
gundo informações, “Xandinho”
tinha um relacionamento amo-
roso com Vanessa.
na região da face. Segundo
Fernando, Vanderson era visto
sempre em companhia de mar-
ginais e traficava drogas e fazia
assaltos. Em seu depoimento, o
rapaz alega que Vanderson te-
ria “mexido” com a namorada
dele, o que o levou a ir tirar
satisfações.
Fernando levou o pai Ar-
naldo, que estava armado.
ESTEVAM MUSSO/REPRODUÇÃO
tou-se como advogado de José
Eugênio. “Ele falou com ironia.
Dizia que meu irmão tinha mui-
to dinheiro e que havia se meti-
do em sérios problemas. Falou
ainda que eu não me atrevesse a
chamar a polícia”.
Na segunda-feira o caso foi
registrado no Deoesp, especiali-
zado em seqüestros. Os policiais
interrogaram Vera que deu de-
talhes do caso. Anteontem, José
Eugênio voltou a ligar para a ir-
mã, mulher e patrão, os dois úl-
timos em Porto Alegre. “Ele me
disse que estava na região de
Belém do Pará tentando conse-
guir carga para retornar”, ale-
gou o empresário Claudionor
Oliveira dos Santos, proprietário
do caminhão utilizado por José
Eugênio.
Vera também voltou a con-
versar com o irmão e disse que
ele não fala abertamente. “Tem
gente a seu lado que impede que
ele fale. Quando faço alguma
pergunta ele sempre responde
com um sim ou não”, salienta.
Os policiais do Deoesp se
afastaram das investigações,
uma vez que Claudionor tam-
bém já registrou queixa do de-
saparecimento junto à polícia
de Porto Alegre que também
trabalha no caso. Em princípio,
todas as hipóteses estão sendo
investigadas, desde o seqüestro
até a possibilidade de José Eu-
gênio estar agindo de má fé.
“Conheço bem meu irmão e te-
nho certeza que ele não faria
nada de errado. Com certeza
ele foi seqüestrado!”, acredita
Vera.
GERAIS/POLÍCIA
A ocorrência foi registrada
pela equipe de plantão da 3ªDe-
legacia de Homicídios e o corpo
foi encaminhado para o Instituto
Médico-Legal.
Pesquisa
Pesquisa divulgada ontem pe-
la Divisão de Crimes Contra a Vi-
da mostra o crescimento do nú-
mero de homicídios em Belo Ho-
rizonte. Em 1997, foram regis-
trados pela Delegacia de Homi-
cídios 326 asssassinatos, núme-
ro que subiu para 433 em 98 e
que atingiu 505 homicídios em
99 – um aumento de 16,68%
com relação ao ano anterior.
Fatos envolvendo drogas lide-
ram a motivação dos crimes
com 45% das ocorrências. A vin-
gança vem em segundo lugar
com 27%, seguido por motivos
passionais com 7% e álcool, com
5% dos homicídios.
Após uma discussão, o rapaz
conta que Vanderson dispa-
rou contra os dois, provocan-
do o revide de Arnaldo. Fer-
nando, que também foi atingi-
do na troca de tiros entre Ar-
naldo e Vanderson, foi levado
para o Hospital de Pronto So-
corro João XXIII. Arnaldo fu-
giu e a polícia ainda não tem
pistas dele. (EC)
Tragédia na contramão
Antônio Santos de Oliveira,
motorista da carreta Volvo, pla-
ca GOR-1667, de Teófilo Otoni,
provocou ontem, às 12h15min,
um trágico acidente na BR-381
(rodovia Fernão Dias) na altura
do km 443, na ponte do Rio das
Velhas, em Sabará, causando
uma morte e ferindo gravemen-
te outro rapaz. Antônio fugiu do
local do acidente e somente foi
apresentado à polícia no final
da tarde.
José Clementino Vieira, 42
anos, que trabalhava no local,
morreu na hora, vítima de
traumatismo craniano, ao ser
atingido pela carreta. Jorge
CARRETA FOI abandonada na pista, depois que seu motorista provocou o acidente
Incêndio destrói fábrica
IPATINGA
TIM FILHO
SUCURSAL LESTE
Um incêndio destruiu ontem
à tarde, em Ipatinga, grande
parte da fábrica de colchões Or-
thoflex, localizada no bairro Ca-
nãa. As labaredas e a fumaça
preta que saíam de dentro da
fábrica assutaram os morado-
res das imediações do quartei-
rão da rua Filipenses, onde se
localiza a fábrica. O fogo come-
çou por volta de 13h em uma
área próxima aos escritórios da
empresa. Em poucos minutos
as labaredas se alastraram pe-
los depósitos e consumiram ra-
pidamente colchões, estofados
Os homens são vítimas em pelo
menos 88% dos casos, o correspon-
dente a 485 das 505 mortes de 99,
e as armas de fogo estão presentes
em 73% dos assassinatos e objetos
como facas em 16% dos casos.
De acordo com Edson Morei-
ra, delegado chefe da Divisão de
Crimes Contra a Vida, o cresci-
mento do número de homicídios
está relacionado a fatores como
o desemprego, a crise econômi-
ca e a densidade populacional.
“Podemos dizer que Belo Hori-
zonte está mais violenta, mas a
maioria dos casos, cerca de 90%
foram solucionados”, comenta.
O delegado acredita que a Fave-
la do Cafezal seja a região mais vio-
lenta da capital. “Isso sempre acon-
tece. Quando atuamos mais energi-
camente no Cafezal, em 94, conse-
guimos diminuir o número de ho-
micídios na área. Provavelmente
teremos que fazer operações espe-
ciais na região”, anunciou.
EDSON MOREIRA revela
aumento dos homicídios
em BH
Paulino Gomes, 26, que tam-
bém trabalhava na obra, foi es-
premido de encontro a uma
mureta, sendo levado para o
Hospital de Pronto Socorro
João XXIII, com escoriações e
suspeita de fraturas na perna
direita e no braço esquerdo.
O caminhão, de proprieda-
de da empresa Rodoviário Ra-
mos, seguia no sentido Saba-
rá/Belo Horizonte, quando in-
vadiu a pista contrária, onde a
prefeitura realizava a “Opera-
ção Tapa-Buracos”.
No momento do acidente, o
policial rodoviário Alexandre
Pinheiro estava orientando a
e material inflamável. Todos os
funcionários saíram a tempo do
interior da fábrica.
O Tenente PM Silvane Givi-
siez, comandante do Corpo de
Bombeiros de Ipatinga, disse
que o incêndio foi controlado
em menos de 2 horas. Na ope-
ração de combate ao incêndio,
28 soldados da Corpo de Bom-
beiros, utilizaram 3 caminhões
dos bombeiros e mais 6 cami-
nhões pipas cedidos pela pre-
feitura de Ipatinga. Os bombei-
ros isolaram todas as casas
próximas a fábrica, evitando a
propagação do fogo e tiveram
muito trabalho para manter a
calma entre os moradores.
Nélio Dias da Silva, funcioná-
rio de uma loja de molduras que
fica próximo ao local do incên-
dio, disse que ficou muito assus-
6 de janeiro de 2000
Quinta-feira
Regiões mais violentas da capital
Homicídios registrados em 1999
Locais Ocorrências
Favela do Cafezal – . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .48
Favela do Papagaio/Barragem Santa Lúcia – . . . . . . .37
Favela da Ventosa/Morro das Pedras – . . . . . . . . . . .30
Cabana do Pai Tomás – . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27
Vila Cemig – . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .22
Pedreira Prado Lopes – . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .20
Vila Pinho – . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .18
Favela do Sumaré – . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .15
Taquaril – . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .14
Motivações
Drogas – . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .45%
Vingança – . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27%
Passional – . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .7%
Álcool – . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .5%
Outros – . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .16%
Novo atentado
aos Geo é
operação, quando viu o desas-
tre. “Sem mais nem menos, o investigado
caminhão entrou na pista con- JOSÉ CLEVES
trária, pegou o rapaz e saiu ba-
tendo numa Pampa. Quando A polícia está investigando
fui socorrer um dos rapazes, o os disparos efetuados contra
motorista aproveitou a confu- o apartamento 101 da rua
são, largou o caminhão e fu- Coletor Celso Werneck, 50,
giu”, explicou. Cidade Jardim, pertencente à
No final da tarde, o moto- família Geo, ex-proprietários
rista compareceu ao posto da da Máxima Veículos e do
Polícia Rodoviária Federal de Consórcio Gerais.
Sabará e foi conduzido ao Os tiros foram efetuados
plantão policial do Detran, durante a madrugada de on-
onde prestou depoimento. tem, de uma arma calibre
Até às 21h, o delegado ainda 380, conforme levantamen-
não havia terminado o tos preliminares, mas não
interrogatório. (EC) provocou vítimas. Não há in-
formações sobre o horário
dos disparos e a autoria.
Os projéteis danificaram a
vidraça da janela e foram re-
colhidos para exames peri-
ciais. O imóvel estava vazio e
não houve testemunha. A
ocorrência, registrada pela
Polícia Militar, ainda não ti-
nha sido protocolada no 1º
Distrito Policial, até ontem à
tarde, para as providências
de praxe.
O empresário João Geo
não foi localizado para falar
sobre o episódio. Ao todo, a
sua família já registrou mais
de 10 queixas de atentados a
tiros e a bomba praticados
possivelmente por clientes le-
sados pelas duas empresas
falidas.
A polícia não descarta ne-
nhuma hipótese para os dis-
paros, nem mesmo a possibi-
lidade de um atentando forja-
do. O Departamento Estadual
FOTOS CRISTINA HORTA de Operações Especiais
(Deoesp), que investiga um
dos atentados praticados
contra a residência dos Geo,
no Belvedere, ainda não en-
controu nenhuma pista capaz
de levar à elucidação do caso.
tado com as labaredas e fumaça Indignação
negra que saiam do teto da fá-
brica. Ele contou que alguns vi- O prejuízo dado pelo em-
zinhos que moram bem mais presário e seus filhos na pra-
próximos à fábrica entraram ça passa dos R$ 70 milhões,
em desespero ao ver o fogo con- sendo que só o Consórcio Ge-
sumindo todo o interior da Or- rais lesou mais de 400 pes-
thoflex e tiveram de tomar cal- soas que continuam sem
mantes. “Eu nunca tinha visto qualquer perspectiva de rece-
um incêndio com este”, disse. ber o dinheiro de volta.
O incêndio pode ter começa- O processo de liquidação
do com um curto circuito, pre- do consórcio já foi remetido à
sume Tenente Givisiez. Ele dis- Justiça pelo Banco Central,
se que a área queimada é supe- comprovando as irregulari-
rior a 2 mil metros quadrados. dades, mas o empresário
O proprietário da Orthoflex, afirma que não tem condi-
Flaviano Sena de Oliveira, ain- ções de ressarcir os seus
da não avaliou os prejuízos clientes do prejuízo. ’’A indig-
causados pelo fogo. A ação rá- nação é grande, porque o ca-
pida dos funcionários ajudou a no envolve pessoas que per-
evitar maiores prejuízos. Mui- deram todas as suas econo-
tos estofados foram retirados mias‘‘, advertiu ontem um
do galpão incendiado. dos policiais.