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UNIVERSO mangá O espírito dos

quadrinhos
japoneses
ganha vida
no ano do
centenário
da imigração
para o Brasil

Nos jardins do templo Kinkaku-Ji, em Itapecerica da Serra (SP), uma estátua, ao fundo,
espelha a roupa de Andressa Miyazaki, que encarna Hades, o deus do mundo dos mortos
do mangá Cavaleiros do Zodíaco. Seu objetivo é punir a humanidade por seus pecados.
76 national geo graphic • de ze mbro 2008
por mônica canejo
fotos de maurício de Paiva

T
rês grandes livros japoneses
em quadrinhos eram os favoritos em
casa durante a minha infância. Eu me
lembro bem das noites em que minha
irmã mais velha me contava histórias
protagonizadas por mocinhas de olhos
enormes e longos cabelos ondulados, como se
fossem contos dos irmãos Grimm. Ela gostava
de me apontar os desenhos em uma estranha se-
qüência invertida, interpretando gestos e olhares,
recriando a seu modo os acontecimentos. Nunca
me esqueci. Essa foi, para mim, uma maneira es-
pecial de descobrir o mundo.
Feito um exército de samurais, tais quadri-
nhos, os mangás, invadiram o mundo. Nos Esta-
dos Unidos, a versão da revista japonesa Shonen
Jump tem tiragem mensal de 250 mil exempla-
res, contra 100 mil da Spider Man, o america-
níssimo ser humano com trejeitos de aranha.
O Lobo Solitário, de Kazuo Koike e Goseki Ko-
jima, publicado em 1987, foi o primeiro mangá
a se popularizar. Conduzindo o filho pequeno
num carrinho de madeira, o Lobo é um guerrei-
ro sem senhor – ronim – que segue pelo Japão
levando consigo a ética dos samurais. No Brasil,
onde todos os meses cerca de 750 mil exempla-
res de mangás são publicados, essa saga começou
bem antes, com as colônias japonesas. Depois
de se estabilizarem no novo país, os imigrantes
sentiram necessidade de se manter ligados a sua
cultura original. Os mangás ajudavam na atuali-
zação da fala coloquial e a ensinar a língua escrita
a seus descendentes. “A principal característica
do mangá não é o traço, mas a narrativa”, diz Elza
Keiko, editora de quadrinhos em São Paulo. “As
histórias são contadas de modo cativante, com A estudante Paula Sayuri lê Naruto num salão de beleza de São Paulo. Exibida
uma dinâmica cinematográfica.” também na TV brasileira desde 2007, a série se passa em um mundo fictício,
O apartamento da professora Sônia Bibe um Japão feudal e high-tech em que os ninjas são místicos e sobrenaturais.
Luyten em Santos tem grandes janelas abertas
para o mesmo oceano no qual, há 100 anos,
os pioneiros imigrantes singraram rumo ao por-
to da cidade. Autora do livro Mangá, o Poder dos
Quadrinhos Japoneses, Sônia, principal autorida-
de acadêmica no assunto no Brasil, explica que
a palavra manga é uma união entre dois termos

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