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Impressão R. Dr Rubens Meirelles, 71 - Barra Funda - S o Paulo - SP - Fone: 3871 7300 - www.voxeditora.com.br
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TERRA
92792_Japão_G402_Cleber
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100 ANOS DA IMIGRAÇÃO JAPONESA
VIDAS
16/5/08, 13:24
PASSAGEIRAS
O passado, o presente e o futuro da imigração japonesa
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92792_Japão_G402_Cleber
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100 ANOS DA IMIGRAÇÃO JAPONESA
VIDAS
16/5/08, 13:24
PASSAGEIRAS
O passado, o presente e o futuro da imigração japonesa
R. Dr Rubens Meirelles, 71 - Barra Funda - S o Paulo - SP - Fone: 3871 7300 - www.voxeditora.com.br
em Assaí, no Paraná, a cidade mais oriental do Brasil POR LEO NISHIHATA, de Assaí
FOTOS DE MAURICIO DE PAIVA
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marca a presença japonesa nas grandes cidades, Assaí res- presentante de “Peroba” perante a Laca (Liga das Asso-
gata uma época anterior, comum a todas as famílias de imi- ciações Culturais), o centro nervoso da comunidade. A pró-
pria Assaí só foi reconhecida como
município 11 anos depois da cria-
ção desse sistema, em 1943. Das
70 famílias japonesas que viviam
na seção restam nove, mas a orga-
nização continua a mesma: qual-
quer comunicado da Laca é trans-
mitido para os líderes locais, e
estes divulgam a informação para
o restante do pessoal.
Cairo Kogushi, de 64 anos, um
sorridente e comunicativo filho de
japoneses, é o atual presidente da
Laca. Cairo-san (todos em Assaí
adicionam o sufixo san ao nome
dos amigos) conversa com Shimi-
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radicionalmente, o filho caçula das famílias japonesas está destinado a estudar, enquanto o primogênito dá
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continuidade aos negócios do pai. Shimizu Yaoki, hoje com 78 anos, abriu mão do privilégio, pois o irmão mais
velho sofria com problemas de saúde. O jovem Shimizu preferiu ficar em Assaí, adquiriu o primeiro trator da
seção rural “Peroba”, em 1951, acompanhou as mudanças de culturas da região (café, algodão, soja, milho e
frutas) e somente cinco décadas mais tarde conseguiria um diploma de proficiência em japonês, que lhe daria
o direito de se tornar universitário no Japão. Shimizu, porém, já decidiu: vai viver em suas terras até o fim.
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parte da história prestes a ser esquecida pelos mais jovens. arquibancadas desabando, placar em ruínas e nenhuma
marcação, seu corpo paralisou. Há 17 anos ele não entra-
O silêncio do rebatedor va no local. Seus olhos fitaram todo o cenário demorada-
O senhor Shimizu possui o rosto vincado e escuro, típico mente, num silêncio profundo, só interrompido por Cló-
de quem passou a vida trabalhando na terra, debaixo do vis Yohara, seu antigo jogador. “Acabou Candinho, aca-
sol forte. Aparenta cada um dos seus 78 anos, mas seu vigor bou”, consolou Clóvis.
é invejável: no final de semana seguinte, estará participan- O beisebol em Assaí terminou por falta de praticantes
do da 69ª edição do Campeonato Assaiense de Atletismo. – algo inacreditável para as lembranças de Massakatu, mas
Especializado em arremesso de peso, ele é capaz de lançar compreensível dentro de um processo de esvaziamento do
um martelo de 5 quilos a 32 metros de distância. Seu con- qual ele mesmo participou. Logo surgem memórias do tí-
corrente na categoria de veteranos, porém, é o atleta mais tulo brasileiro de 1962, conquistado em São Paulo. “Na
vitorioso da cidade: Mário Hurakuri, 59 anos, invejável volta, desfilamos a pé pela avenida, com os uniformes ain-
físico de garoto e mais de 250 medalhas e troféus conquis- da sujos. O comércio fechou”, rememora Massakatu, que
tadas em 42 anos de competição.
Tudo em Assaí remete à longevidade – inclusive os re-
cordes. Mário, especialista no plantio de abacates, tem a Nos bons tempos havia até
melhor marca intercolonial dos 800 metros rasos desde
1971. No campeonato da cidade, o recorde dos 5 mil metros filmes dublados ao vivo em
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eitor voraz de livros sobre a política e os índices socioeconômicos do Japão, Teruhiko Kumata nasceu em
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L Hiroshima, em 1930, mas sua família veio para o Brasil bem antes que a bomba atômica mudasse para
sempre a história da cidade. Naturalizado brasileiro, o diretor de educação da Laca acaba de ler
a Bíblia e se converteu ao catolicismo. Razão: seus filhos e netos já foram batizados. “É mais fácil eu
e minha esposa mudarmos do que todos eles se tornarem budistas, não é?”
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Jogo de sinuca cantado em japonês com o sotaque rural do norte do Paraná: só mesmo em Assaí
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Ainda assim, bastam alguns minutos de caminhada para Papeando nesse bar, chama a atenção Carlos José da Sil-
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encontrar 21 estabelecimentos com nomes japoneses nos va, o alegre Carlão, um pernambucano com botas de cou-
300 metros da única avenida da cidade. O assaiense pode ro, chapéu de vaqueiro e vistosa camiseta azul da seleção
tranqüilamente passar a vida fazendo compras no Super- japonesa de futebol. “Fui o primeiro negro a casar com uma
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uas mãos calejadas são idênticas às de quem, assim como ele, passou a vida trabalhando no campo.
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O físico de Mário Hurakuri, 59 anos, porém, sempre foi um diferencial, e motivo de orgulho da colônia. Nas
décadas de 1960 e 1970, Mário tornou-se o fundista a ser batido no Paraná – somente nos campeonatos
intercoloniais brasileiros havia adversários à altura. Atleta mais conhecido da história de Assaí, o atual
diretor de atletismo da Laca tem como maior orgulho a pupila Maria Shigeoka Rostirolla, recordista sul-america-
na de salto triplo na categoria acima dos 45 anos.
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O velho kamikaze
A poucos quilômetros dali, na se-
ção rural “Palmital”, vive o exem-
plo mais radical da educação ja-
ponesa: o produtor de frutas
Kikuo Furuta. Nascido em 1930
em Wakaiama, no Japão, ele fez
parte da geração que, em plena
Segunda Guerra Mundial, foi
doutrinada nos moldes da
tokkotai – a juventude cujo lema
era dar a vida ao país e ao impe-
rador, e que forneceu o grosso dos
Ao ouvir Hiroíto negar seu caráter divino, Furuta vagou dez anos pelo mundo até chegar ao Brasil aspirantes a kamikazes. Furuta,
cujo sorriso fácil e rugas enormes
raramente o permitem ficar de
japonesa aqui na cidade, em 1975”, explica ele. Se na época olhos abertos, só consegue reavivar suas lembranças quando
a simples mistura com ocidentais ainda era polêmica, o re- fala em japonês. “Tudo na nossa sociedade nos levava a entrar
lacionamento de uma japonesa com um negro atiçou as para a tokkotai. Minha cidade foi atacada e quase toda destruída
más linguas de Assaí. “Diziam que com negro não podia. por bombardeiros. Via mortos empilhados no meio da roça.”
Pois fugi com ela para Londrina, casamos no cartório e No dia 15 de agosto de 1945, quando Hiroíto fez o primeiro
estamos juntos até hoje”, conta Carlão, corretor de imó- pronunciamento público de um imperador japonês na histó-
veis, pai de quatro filhos mestiços, três deles trabalhando ria, declarando a rendição do Japão e negando o seu caráter
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no Japão. “Meu sonho é ir pra lá também, viu?”, confessa. divino, o impacto no adolescente Furuta foi tão devastador que
Assim como Carlão e a maioria dos pais de Assaí, a dona ele passou os próximos dez anos vagando sem rumo, até que
do bar, Aparecida Tanagawa, tem sete filhos dekasseguis. um tio lhe sugerisse viajar para o Brasil. Hoje, ele enaltece a
A ausência de jovens é flagrante entre os voluntários liberdade do modo de vida brasileiro, e a oportunidade de
encarregados de montar o aparato para a festa do aniver- ter passado sua vida trabalhando no campo – algo quase
sário da cidade. Veteranos diretores da Laca assumem o impossível de se conseguir no minúsculo território japonês.
trabalho braçal e vão distribuíndo as faixas, barracas, pa- É no entorno de Assaí, nos caminhos para as seções ru-
lanques e luminárias. Nas escolas de língua japonesa rais, que se encontram as grandes belezas da região. Rara-
(nihongô), boa parte dos alunos é de adultos prestes a em- mente vemos pasto – em vez disso, plantações de trigo pa-
barcar para o trabalho no Japão. recidas com campos de futebol ondulados e cafezais
Por tudo isso, a atividade comunitária do agricultor milimetricamente organizados contrastam com o branco
Teruhiko Kumata, 78 anos, é talvez a mais desafiadora, hon- límpido dos campos de algodão e a estrutura suspensa dos
rada – e melancólica. Diretor de educação da Laca, sua mis- pés de uva sem sementes. “Depois de tanto tempo, conti-
são é preservar a língua japonesa e toda uma cultura edu-
cacional para os mais jovens. “Fomos ensinados a traba-
lhar não para nós mesmos, mas para os outros, para o Quase todas as famílias têm
mundo”, explica o japonês que veio ao Brasil com 6 anos de
idade. Na época, as professoras de Kumata tinham de bri- filhos no Japão. Não fossem
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om simpatia e conhecimento da região, o presidente da Laca é o guia perfeito para conhecer as sutilezas
de Assaí. Junto com a esposa, dona Yoko, Cairo Kogushi vive na seção “Palmital”, cultiva hábitos tipica-
mente japoneses (como o ofurô, a banheira de água quente em estilo japonês), mas é brasileiro de espíri-
to. Quando perguntamos se ele iria vestir uma roupa de samurai na festa de aniversário da cidade, onde
içou a bandeira japonesa, respondeu na lata: “Vou com um terno verde-amarelo”.
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COMO CHEGAR
É possível ir de avião até Londrina, para depois encarar um trecho
rápido da PR-090 (46 km). Quem for de carro segue no sentido oeste
(vindo de São Paulo) pela Rodovia Castelo Branco até a cidade de
Ourinhos, e de lá vira para o sul na direção de Londrina pela BR-269.
Antes de chegar a Londrina, deve-se pegar a rodovia PR-090. Todas elas
estão em perfeitas condições de tráfego.
QUANDO IR
Além do aniversário da cidade, em 1º de maio, o grande evento de
Assaí ocorre no mês de junho: é a Exposição Agrícola de Assaí,
a mais antiga do gênero no Brasil, ocasião perfeita para conhecer os
produtos, as frutas e a cultura da região (ambos intimamente ligados
à imigração japonesa).
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ONDE FICAR
A única opção de hospedagem da região é o Hotel Sol Nascente, na Rua
Manoel Ribas, 744, tel. (43) 3262-1562. Apesar do nome, o proprietário é
um descendente de italianos. Todos os quartos possuem ar-condicionado,
frigobar e internet wi-fi, mas não há restaurante no local.
DICA DO AUTOR
Distribuição
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a parte mais
Assaí fica no norte do Paraná, a 46 km cativante da
de Londrina. Calcula-se que pelo região: não deixe
menos um em cada sete habitantes de visitá-las
locais seja descendente de japoneses demoradamente.“
Leo Nishihata