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10/06/2019 O PALMEIRAS NÃO FOI CRIADO PELO RACISMO!

– Ivan Rodrigues – Medium

O PALMEIRAS NÃO FOI CRIADO


PELO RACISMO!
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Jun 8 · 13 min read

Esse texto é uma resposta aos principais pontos do texto “O Palmeiras


foi criado pelo racismo” postado no portal de mídia independente
progressista “Portal Disparada”, assinado por Bonde do Che.
Aproveitarei para desmistificar algumas outras falas do coletivo que
assim como outras “torcidas antifascistas” moldam a história para
agradar seu público leitor, forjam um mundo que remonta qualquer
trama hollywoodiana onde o mocinho é exageradamente bom e o vilão
na mesma medida é mau .

Uma das fontes que o Bonde do Che usa, é a pesquisa “Cego é aquele
que só vê a bola: o futebol em São Paulo e a formação das principais
equipes paulistanas: S.C. Corinthians Paulista, S. E. Palmeiras e São
Paulo F.C. (1894–1942)” de João Paulo Streapco (documento que
também me valerei durante essa análise) e a outra um texto publicado
no blog corinthiano Brigada Miguel Bataglia que contém informações
conflituosas com a própria pesquisa de João Streapco, que eles dizem
ter lido e descrevem como: de alta credibilidade.

Contexto histórico

https://medium.com/@ivan_87729/o-palmeiras-não-foi-criado-pelo-racismo-c3ece203a1c5?fbclid=IwAR3PDwHFZ7JJsRfpTElL10yG7D-RWU58… 1/14
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O ano chave para se entender os porquês da fundação do Palmeiras, é


1914. O futebol é espelho da sociedade e o Palestra reflexo das
agitações da vida das comunidades imigrantes italianas estabelecidas
em São Paulo no início do século XX.

O motivo da migração dos italianos que fundam o Palestra Itália, não é


a fuga do fascismo — evento histórico posterior — neste ponto acertam
os críticos. É sim a miséria e a fome presente nas regiões que iniciaram
o grande fluxo migratório para o continente americano. Do Norte:
Veneto e Lombárdia, e do Sul: Calábria e Campania. Não existia algo
como identidade nacional italiana, cada um se identificava com sua
cidade e região, separados pela língua, fronteira e cultura, estes só se
descobriam italianos aqui no Brasil, onde são alocados como mão-de-
obra barata e reduzidos a uma mesma “raça” pelas elites possuintes dos
meios de produção.

Em 1914, a Itália adentra a I Guerra Mundial, as reações e impactos são


imediatos nas comunidades imigrantes, uma espécie de sentimento
patriótico infla dentre estes. Neste cenário ainda, alguns meses depois
ocorre a visita dos clubes italianos Torino e Pró-Vercelli F.C. ao Brasil,
para enfrentar equipes brasileiras. Com um futebol bem jogado,
encheram de orgulho e alegria os membros da colônia italiana e
rapidamente os conquistaram como heróis, daqueles que lavam a alma
de todas humilhações passadas: da obrigação de migrar ao preconceito
sofrido em terras novas. Apesar do texto da Brigada Miguel Bataglia
desacreditar a informação, essa é a principal inspiração para a
fundação do Palestra, ser um time para representar a colônia italiana e
seus descendentes, praticando esportes em alto nível. Ainda segundo
Streapco, o sintoma principal dessa excursão de Torino e Pró-Vercelli
em terras brasileiras, não foi apenas a criação do Palestra Itália, mas
sim de vários clubes com o mesmo intuito.

Então em 26 de Agosto, alguns jovens imigrantes italianos,


funcionários da Indústria Matarazzo em sua maioria, reúnem-se com o
intuito de fundar uma agremiação para prática esportiva e cultural que
representasse a colônia italiana e seus descendentes.

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Edifício onde foi fundado o Palestra Italia.

O quadro de fundadores do Palestra é basicamente composto por


operários e profissionais liberais, ou seja, setores baixos e médios da
classe trabalhadora e a (vulgarmente chamada) classe média. Então
será verdade o que diz Bonde do Che, quando afirma que:

[…] “ o Palestra Itália foi fundado por operários italianos racistas e


subservientes à burguesia italiana estabelecida em São Paulo, que não
queriam se misturar aos operários brasileiros, principalmente aos pretos,
que compunham o Corinthians — não só em campo, já que o Corinthians
só viria a ter um atleta negro nove anos após sua fundação, os palestrinos
também eram racistas contra a torcida”

É verdade que preconceitos étnicos foram trazidos, alguns criados e


alimentados no seio da colônia italiana, ainda que seja errado
generalizar a situação, este era um comportamento notado em italianos
de todas as classes sociais.

Logo, é verdade a afirmação? Calma lá, vejamos:

Ao ano de fundação do Palestra Italia, era o Corinthians também um


clube representante da colônia italiana (seguiu com esse estigma até
meados do ano de 1916) que não era composto por negros, nem em seu
quadro de associados tampouco entre seus jogadores, era um clube de
origem operária e imigrante: italiana, portuguesa e espanhola. Na
própria pesquisa de Streapco, há a menção de um relato do cronista e
técnico de futebol (duas vezes campeão do mundo com a seleção
italiana) Vittorio Pozzo, sobre a formação do time corintiano em 1914:

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“Una squadra formidabile in tutte lê linee é il Corinthians, il campione


Paulista, che giuoca com uma foga tremnda. Il Corinthians há nelle
proprie file italiani o figli di italiani e tutti sone individualmente di
classe superiore al media dei giucoatori”

*Um time formidável em todas as linhas é o Corinthians, o campeão


paulista, que joga com seu grande entusiasmo. O Corinthians têm em
suas próprias filas italianos ou filhos de italianos e todos são
individualmente de classe superior à maioria dos jogadores.

. . .

Ou seja a formação do Palestra e do Corinthians é um tanto quanto


parecida nesta altura, não há essa rivalidade ou esse contraste racial
que o texto dos são-paulinos tenta implicar. Vendo o primeiro elenco do
Palestra então, constatamos exatamente o contrário, não só não havia
rivalidade como havia certa passividade, jogadores atuavam por ambas
equipes com o aval da diretoria corintiana.

Uma das teclas que o Bonde do Che bate sempre que possível, é sobre o
uso da “Cruz de Savóia”, brasão da família real italiana, adotado como
símbolo nos primeiros anos de vida do Palestra, como prova irrefutável
da subserviência dos fundadores do Palestra à monarquia italiana. Mas
o uso da Cruz de Savoia, longe da cabeçada marketeira do Palmeiras
em 2009, não era representar a Família Real italiana, era na verdade
uma forma de se ligar com as origens italianas, junto a uma influência
do Pró Vercelli na fundação do Palestra.

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Escudo do Pró-Vercelli F.C.

Então o papo que o Palmeiras foi fundado por racistas que não queriam
se misturar aos operários brasileiros, principalmente aos pretos, que
compunham o Corinthians ” É UMA MENTIRA! Já que seus primeiros
anos de existência, o Palestra já contara com atletas negros em suas
modalidades esportivas.

Os negros e a S.E. Palmeiras


O Palestra Itália buscava ser uma potência não só no futebol, mas no
esporte como um todo. No basquete, segundo esporte coletivo inserido
no clube, o Palestra despontou como força sendo sete vezes campeão
paulista, e foi um dos maiores responsáveis pelo desenvolvimento do
esporte no Brasil, sendo um dos clubes fundadores da FPB (Federação
Paulista de Basquete).

No atletismo, a equipe do Palestra chegou a conquistar a São Silvestre


nove vezes.

O nome da Sociedade Esportiva Palmeiras foi construído muito além


das quatro linhas e a nossa formação como clube vitorioso que somos
hoje, foi necessariamente negra, ou não seria. A história fala por nós.

Futebol

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Segue o Bonde do Che em sua análise:

[…] o Palestra Itália passou por duas guerras mundiais, a ascensão e


queda do nazifascismo e o acolhimento de negros nos seus dois maiores
rivais locais antes de tomar vergonha na cara e contratar Og Moreira do
Fluminense, e não por ter-se tornado menos racista, mas porque estava
engajado na campanha de mostrar-se “brasileiro”, ainda receoso pelas
ameaças de perda de patrimônio sofridas nos anos anteriores

A melhor régua pra se medir a inclusão dos negros no “racista Palestra”,


é o “democrático Corinthians”, por surgirem num mesmo período
histórico. Fala-se em “acolhimento de negros nos rivais”, então
vejamos.

O primeiro negro a vestir a camisa do Corinthians foi Bingo,


rapidamente se destacou por sua versatilidade e talento, entretanto sua
passagem pelo clube foi muito precoce. Versões aceitas por corintianos,
é que o jogador causou “ciúme” no então ídolo do time Neco e por isso
foi demitido. O também corintiano João Paulo Streapco, sobre a
repentina saída de Bingo, indagou em sua pesquisa: “Além da Liga, será
que os próprios jogadores corintianos não restringiram o ingresso de
atletas negros?”

Considerando que outro jogador negro, só voltaria atuar pelo


Corinthians dois anos depois, é uma versão bem mais coerente. Este
outro jogador era Tatu um homem negro mas não retinto. Surge a
dúvida, como um clube majoritariamente composto por negros em sua
formação histórica como sugere Bonde do Che, em 11 anos teve apenas
DOIS negros: um saindo pela porta dos fundos mesmo jogando acima
da média e outro não retinto? Só a mérito de comparação, o Vasco da
Gama, este sim de formação histórica negra, no mesmo período
histórico já havia sido campeão com um elenco composto por quase
todos seus jogadores negros e já havia tido um presidente negro (este
último fato nunca ocorreu até a data presente em nenhum dos grandes
clubes paulistas).

O mesmo Tatu citado acima, vestiu a camisa do Palestra Itália durante


várias oportunidades no ano de 1925 junto de mais quatro jogadores
negros, num elenco formado para disputa de amistosos na Argentina e
Uruguai, esse é o primeiro registro jogadores negros no Palestra Itália,
mas ainda como atletas de outros clubes.

Mesmo para nós, que odiamos o Palmeiras, e apesar da alta credibilidade


da pesquisa, custamos a crer na informação. Como um clube fundado em

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1914, cuja parcela de esquerda da torcida exalta a participação na Greve


Geral de 1917, só foi aceitar seu primeiro negro na década de 1940?
Seriam quase TRINTA ANOS de racismo. Ficamos atônitos.

Ficaram atônitos?! Mas com o quê exatamente? Descobrir que existiu


racismo no Brasil? Que o país que só aboliu a escravidão em 1888, que
tem seus últimos registros de pretos escravizados datando 1912 e só
promulgou sua primeira lei antirracismo em 1951, mantinha em suas
relações sociais o racismo? Que o futebol trazido para o Brasil pelas
elites racistas que foram donos de escravos durante quase todo o século
XIX, foi um esporte segregador em seu princípio? Quando digo que um
mundo fictício é forjado para seus leitores, podemos ver que não é mera
força de expressão. Mas voltemos…

Segundo Fernando Galuppo, historiador da S.E. Palmeiras, o primeiro


atleta negro do Palestra Itália foi então, Moacyr Conrado Pessoa de
Mello, o Moacyr. Atacante do Palestra de 1936 à 1937.

Depois de sua saída, o clube ainda contou com Armando D’Angelino,


vulgo Macaco, contratado junto ao Comercial da Capital, extinto clube
da capital paulista. Fez sua estreia no time de futebol principal do
Palestra Itália em 6/5/1939. Ficou no clube até dezembro de 1942.

Em 1942 chega então OG Moreira, três vezes campeão paulista, este


sim então o primeiro negro da história do Palmeiras a se tornar ídolo.

O que podemos concluir é que apesar de OG Moreira não ser o primeiro


negro da história do Palestra, a inclusão de negros tanto no Palestra
quanto no Corinthians, como no futebol como um todo, foi lenta,
devendo muito essa a profissionalização do esporte e o aumento de sua
competitividade. Apenas a partir do êxodo de jogadores ítalo-
brasileiros para o futebol italiano, os clubes e principalmente a Liga, se
viram obrigados a assimilar os jogadores negros, informação
confirmada por João Paulo Streapco.

Naquela ocasião, o Corinthians possuía a melhor equipe de futebol da


cidade formada por descendentes de italianos, e quase a metade de seus
jogadores partiu para atuar pela equipe da Lazio de Roma.

O SPFC nascido durante esse processo de profissionalização, nunca


restringiu a presença de atletas negros mas isso quer dizer que o clube é
isento de práticas racistas? Óbvio que não. Aprofundando na pesquisa
de Streapco, percebemos que os clubes se abriram para negros, mas
nunca os abraçaram, como fizera: Vasco, Ponte Preta, Bangu, entre

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outros clubes. Essa é uma das particularidades do racismo a brasileira,


ele ser velado, quando abordamos a história de maneira fantasiosa
abraçamos e reforçamos o mito da democracia racial no paraíso Brasil.

Na história corintiana, nenhum negro assumiu a presidência do clube ou


postos diretivos de relevância, ou dirigiu a equipe como treinador. Na
prática, esses jogadores ingressavam no clube como funcionários do clube,
quase como operários da bola. E alguns deles ganharam notoriedade e
bons salários, mas não significava que tivessem qualquer possibilidade de
ascender às estruturas administrativas do clube ou ser admitidos como
sócios votantes.

Atletismo
Para acabar de vez com essa falácia de que o Palmeiras é
intrinsecamente racista e segregador, já em 1923 e 1924 o Palestra
Italia tinha na formação de seu quadro de atletismo, atletas negros,
como podemos ver abaixo:

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Em 1925 o Palestra, foi o primeiro dentre os grandes clubes da capital


na época, a contratar uma equipe apenas de atletas negros, vindos da
Associação Atlética São Geraldo (clube formado APENAS por negros).
O “Bloco Cyclone” era uma equipe de onze atletas liderados por
Antônio Coelho Filho, a partir daquele ano todos passaram a integrar a
equipe de atletismo do Palestra.

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Atletas do Palestra campeões da São Silvestre de 1929.

E esses fatos não são apresentados como uma tentativa de dizer:


“Vejam, aqui nunca houve racismo.” Não, quem o faz é tão canalha
quanto. Mas a ideia do Palestra como um clube que não tolerava a
presença de negros, é uma falsificação da história.

E a ala esquerda da torcida palestrina vem nos dizer que “o fato de Jair
Bolsonaro torcer para o Palmeiras desrespeita a história da entidade”?
Desrespeita porra nenhuma, totalmente condizente com um político que

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acha que gente preta deve ser “pesada em arrobas”. 


Aquela grotesca festa que vimos na entrega da taça do Brasileirão do ano
passado tem raízes históricas.

Trabalhar a história sob uma visão classista, é estar pronto para contra-
atacar. Assim é a sociedade, assim também são os clubes, vivendo
processos dialéticos de embates entre setores progressistas e
reacionários durante toda sua vida orgânica. Numa linha desonesta
poderíamos atacar o Bonde do Che, ora, como um clube de raízes
progressistas e populares teve em seu quadro de associados o fascista
Getúlio Vargas ou teve entre seus dirigentes fervorosos apoiadores da
Ditadura Militar? — É como respondem alguns palmeirenses: Se
tivemos um histórico racista e até mesmo fascista, como pudemos fazer
um jogo para arrecadar fundos pro PCB?

Mas não é assim que se trata a história. Entendido uma vez que o que
define as posições políticas de um clube são esses embates fruto de
contexto social e político, se faz necessário demarcar linha de classe
para definir uma atuação correta nos dias de hoje. Nós fomos um clube
fundado por operários que participaram sim da greve geral de 1917,
contra os mesmos empresários que alguns anos depois viriam a se
aproximar e se apossar do clube.

Quando dizemos que é um desrespeito com a nossa história a imagem


desse sujeito vinculada ao nosso time, trata-se de um acertado balanço
histórico por parte da Torcida que entende seu papel nessesembates,
que compreende nossas raízes são operárias e imigrantes, que por essas
origens em dado momento histórico, sofremos com a xenofobia
oriunda das ideias das elites de um Brasil semi-colonial, e que portanto
torna-se inadmissível hoje, o clube apoiar o pensamento que representa
Jair Bolsonaro, que se estrutura sobre a mesma base de ideias que
custaram ao Palestra ser aceito e aos que o fundaram, um tratamento
dignamente humano.

As raízes históricas do racismo no futebol são as mesmas que hoje


embranquecem as arquibancadas e higienizam os clubes e se havia
alguma dúvida sobre o caráter classista da presença do oportunista
Bolsonaro na festa do título do nosso decacampeonato brasileiro ano
passado, a presença de Major Olímpio na festa do título paulista do
nosso maior rival tratou de deixar isso bem claro.

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Charge: “Não somos a escória da humanidade” (Vini Oliveira)

Agora já podem nos acusar de “clubistas”, recurso único, já que não dá pra
brigar com os fatos (que nunca são mencionados ou esclarecidos, apenas
negados). E não venham com justificativa de “normal num clube de
colônia” porque Portuguesa, Juventus e Jabaquara (fundado Hespanha
Foot Ball Club, clube da colônia espanhola de Santos) aceitaram negros
bem antes e o Palestra aceitava atletas que não fossem italianos, desde que
fossem brancos.

Apesar de posicionamentos coerentes sobre a conjuntura política, o afã


em construir no Palmeiras um inimigo ideológico, torna a análise do
Bonde do Che sobre nossa história, mentirosa e desonesta.

Apesar de toda fraseologia e estética revolucionária, apesar de todas as


gírias e apelo excessivo em dizer que são da periferia, não conseguem
fazer mais do que qualquer playboy universitário identitarista de
“torcida antifa” de internet, que reduz a história a qualquer coisa, com
narrativa embasbacada de vilões e mocinhos para assim satisfazer egos
e aglutinar curtidas.

“Chamem-nos clubistas” — diz o Bonde do Che, ao contrário dos


“progressistas palmeirenses” que vivem se desculpando nas postagens
deles, clubista também sou, dispenso a babação de ovo dos nossos

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rivais, mas se clubistas fossem, ao menos exporiam o passado racista do


Corinthians — a quem só faltam chamar de digníssimos camaradas da
prática do desporto. Se quisessem construir qualquer processo
autocrítico, iniciariam-a no próprio quintal.

Como a maioria das pessoas do mundo fora da telinha, escolhi meu


time na infância e formei minha visão de mundo e posicionamentos
políticos bem depois disso.

Fora da telinha: O Palmeiras e o seus rivais continuam sendo escolhidos


como time de pobres, ricos, negros e brancos. Fora da telinha também,
o futebol está sendo mercantilizado para que cada vez mais os pobres e
pretos fiquem longe das arquibancadas. Enquanto na telinha vocês
inventam, que aqui existe contradição ideológica ou dicotomia entre o
clubes. Esses mesmos clubes através dos cartolas, junto a CBF se
aproximam do governo ultraliberal de Bolsonaro.

O Palmeiras não nasceu do racismo, pra tristeza de muitos, talvez nem


exista nenhum “embrião hitlerista” no futebol brasileiro pra assumir
esse papel. Mas existem racistas que não querem negros e nem querem
pobres no futebol e eles estão nesse momento, sentados numa mesa
tomando as decisões pelo seu clube.

Deixemos então o revisionismo histórico pros canalhas. Seguimos nas


ruas e nas arquibancadas que é onde o mundo acontece, atentos e
combatendo todo tipo de oportunismo.

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