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Laboratório Aberto de Interatividade para Disseminação do Conhecimento

Científico e Tecnológico – LabI, Universidade Federal de São Carlos

Em agosto de 2009, o Brasil será a sede das celebrações do Ano Internacional da 1


Astronomia. Na mesma data, cientistas do mundo inteiro virão participar da reunião anual da
União Internacional de Astronomia. Numa perspectiva educacional, é importante que, neste
momento, os avanços no conhecimento científico e tecnológico apresentados no evento sejam
compartilhados com a sociedade, inclusive em projetos voltados para crianças que cursam o
Ensino Fundamental.
Se a Astronomia vai à escola, é importante que as atividades estejam adaptadas ao
repertório e à realidade das instituições. Neste momento, inevitavelmente, os físicos e
astrônomos irão se deparar com questões tipicamente pedagógicas: qual é a relevância desse
conhecimento para o público? Que tipo de conteúdo selecionar? Como organizar essa
informação? Que recursos de aprendizagem usar? Como avaliar o resultado da ação
educativa?
Se a meta for aproveitar os recursos tecnológicos digitais e adequar o ensino da
Astronomia aos paradigmas educativos contemporâneos, outras questões podem ser
adicionadas. Uma delas se refere aos modos como os professores ensinam e como os alunos
aprendem, que nem sempre estão em sintonia. Essa é uma discussão de longa data, que
começa em Dewey (1959), ganha uma versão brasileira mais amadurecida em Paulo Freire e
continua sendo debatida no contexto do uso de tecnologias digitais no campo da educação
(MARTIN-BARBERO, 2004, BUCKINGHAM, 2003, COPE E KALANTZIS, 2000).
Os chamados escolanovistas (que têm no educador estadunidense John Dewey uma
referência importante), no final dos anos 50, já alertavam para a “intimidade” existente entre
a educação e as práticas comunicativas. Toda educação é uma ação comunicacional, defendia
Dewey, enfatizando o sentido de “tornar comum, partilhar” que cabe à palavra comunicação.
Trabalhando com comunidades rurais e ensinando adultos a ler e escrever, Paulo Freire
vivenciou e depois registrou a importância a ação dialógica – a comunicação de duas vias –
para que a educação se torne um processo autêntico, isto é, seja uma experiência relevante e
que, de fato, modifique a mente do aprendiz. Caso não haja o diálogo entre professor e
estudante, ambos mediados pelos objetos da realidade a serem conhecidos, o que se têm é
uma transmissão, muitas vezes opressiva e artificial, que pode trazer muito pouco para o
aprendiz.
A educação para a ciência não é alheia a este contexto e, na medida em que professores
de matemática, português, física, química, história, geografia e artes souberem articular seus
conteúdos próprios de ensino com o contexto maior das habilidades múltiplas para ler e
manipular elementos da realidade, numa abordagem multidisciplinar, tanto mais autêntica
será a experiência da educação, porque mais próxima vai estar da experiência concreta da vida
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material e simbólica.
O quadro acima descrito é o pano de fundo para a elaboração da experiência educativa
que vem sendo realizada pelo Laboratório Aberto de Interatividade para Disseminação do
Conhecimento Científico e Tecnológico da UFSCar (LAbI). Unindo conhecimentos das áreas de
Astronomia, mídia-educação e ferramentas web 2.0, foi elaborado um conjunto de oficinas
baseadas em cinco atividades: um RPG sobre astronomia, técnicas de produção de webvídeo,
produção de blogs, social bookmarking e webquest.
Entre os objetivos do projeto estão o de preparar professores de Ciências da segunda
fase do Ensino Fundamental para ensinar conceitos de Astronomia, criar e testar atividades
que coloquem em prática a comunicação dialógica entre o professor e os estudantes e entre
os próprios estudantes, construindo experiências de aprendizagem interativa.
A multidisciplinariedade é condição intrínseca para a concretização das ações aqui propostas.
Já nas primeiras aulas, conceitos fundamentais da Astronomia deverão ser registrados em
posts para um blog de divulgação científica. Neste momento, equipes formadas por
educadores que têm familiaridade com o conteúdo e educadores que têm familiaridade com a
linguagem verbal irão colaborar entre si. A escolha de imagens e as formas adequadas de
apresentar as informações verbais e visuais poderão ser decididas por educadores da área de
artes que venham a integrar a equipe, e assim por diante.
Na sequência, serão experimentadas atividades educativas usando a produção de
webvídeo como recurso. Neste momento, conteúdos de Astronomia deverão ser selecionados
e organizados em estruturas narrativas, com script e design apropriado. Novamente, áreas
distintas como a Geografia, a Física, a Literatura e a educação para as Artes serão convocadas a
dar suas contribuições.
A expressão individual e a busca de uma solução comum serão experimentadas no RPG
“Caos no Universo”, em que “deuses-planetas” e cientistas de diversas épocas se reúnem num
local imaginário para entrar num acordo: afinal, que provocou a explosão? E por que isso
aconteceu?
A esta altura, qualquer educador mais experiente logo estará reivindicando uma
discussão mais consistente: isso tudo é interessante, divertido mas, como saber o que é que os
alunos realmente estão aprendendo sobre Astronomia? Embora as oficinas priorizem a
interatividade, a discussão e a construção coletiva de idéias, é claro que não há como deixar de
lado o momento da instrução explícita. Caso contrário, não seria educação escolar. Esse
momento virá com a produção das atividades do webquest “Vida de estrela”, que reúne
critérios de pesquisa na internet, produção textual, aprendizado através de vídeo e uso da
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criatividade. Tudo baseado em fundamentos da Astronomia.
Ao concluir as atividades, esperamos que os participantes tenham ampliado o repertório
sobre essa que é uma das mais antigas áreas da ciência, tenham desenvolvido a criatividade, o
espírito lúdico, a capacidade de comunicação e a familiaridade com o uso de ferramentas
digitais.
A equipe do LAbI dá as boas-vindas a todos e agradece sua participação!

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REFERÊNCIAS
MARTIN-BARBERO, J. Dos meios às mediações. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2002.
BUCKINGHAM, D. Media Education. Cambridge: Polity Press, 2003.
COPE, B. e KALANTZIS, M. Multiliteracies. Nova Yorque: Routledge, 2000.

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