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O Jornal das Boas Notícias

n.º3
20010126
No princípio desta semana, quando enviava o 2.º Jornal das Boas Notícias, escrevia que não é fácil escrever um.
A dificuldade começa por decidir o que é uma boa notícia e, também, o que não pode ser incluído na categoria
das boas notícias.
Nem tudo é notícia, pelo menos no deturpado sentido que a palavra tem hoje em dia. Todos já ouvimos a humo-
rada, mas ao mesmo tempo triste - porque retrata uma deformação de interesse - definição de notícia que usa um
homem e um cão; há notícia quando o homem morde o cão, apenas porque é fora do comum, anormal, portan-
to. O Jornal das Boas Notícias não limita as notícias à anormalidade ou àquilo que faz virar a cabeça quando pas-
samos. Notícia não é só novidade. É também conhecimento, memória e anúncio.
Por outro lado, o que é uma boa notícia e uma má notícia?
O mal não existe! É apenas ausência. Ausência de bem.
O Jornal das Boas Notícias pretende preencher esta ausência. No mundo acontecem todos os dias muitas coisas
boas em que não reparamos, ou que não sabemos terem acontecido porque não são “notícia”.
Por isso, durante esta semana procurei com mais atenção lugares onde o bem não estivesse ausente.
Não é tão difícil como parecia. Salpicados no meio de “notícias” que se justificam a si mesmo, apenas porque
qualquer coisa vai mal ou corre mal, encontramos o desejo de que “o Sol não se ponha sobre a nossa ira” (p.2) e
o reconhecimento de que há pessoas que espalham a paz à sua volta (p.12). O prémio jornalismo 2000 não foi
atribuído às televisões ou aos gigantes da imprensa escrita, mas a duas revistas de missionários combonianos –
Audácia e Além-Mar – pelo seu papel na defesa da dignidade do homem. Evidência de que o bem não está só
ausente é o presente que a família de Rosita – a bebé moçambicana que nasceu numa árvore no meio das cheias
de ano passado – recebeu e cuja história é contada pela Audácia.
Mesmo nas revistas técnicas encontramos a presença do bem. A história de Bill Hewlett, fundador da Hewlett-
Packard é um exemplo da presença do bem num ambiente tão ferozmente competitivo como é a indústria in-
formática de Sillicon Valley.
Ao mesmo tempo, para estarmos atentos à presença do bem é preciso, muitas vezes, denunciar o mal. Mas de-
nunciar o mal, não apenas porque é mal, mas porque o bem não está lá presente.
É o que fazem os Juntos Pela Vida, cuja luta pela defesa e promoção da vida humana exige a denúncia de uma
cultura desumana. (p.2).
Nesta semana também foram notícia dois acontecimentos contraditórios: no mesmo dia em que a Universidade
Católica assina com o Estado um protocolo de cooperação na linha de acções já realizadas em Angola e Timor,
é-lhe retirado um apoio financeiro importante e acentuam-se a pressões de controlo estadual do ensino universi-
tário não estatal. A defesa do direito fundamental de liberdade de ensino exige que nos mantenhamos informa-
dos não só sobre a existência de um problema para a qual nem todos estamos despertos, como também sobre o
desempenho dos vários estabelecimentos de ensino para percebermos a razão do sucesso de alguns e para po-
dermos livremente exercer o direito de livre escolha.
A mensagem do Papa João Paulo II para a Celebração do 34.º dia das Comunicações Sociais “Anunciai-o do ci-
ma dos telhados” vem, nesta semana, apontar o caminho de um Jornal de Boas Notícias, salientando em particu-
lar o dever que é também o privilégio de declarar a verdade.
O cardeal Ratzinger, numa conferência proferida em Berlim sobre o futuro da Europa, também denuncia este
esconder do bem. A Carta de Direitos Fundamentais recentemente assinada revela uma Europa que parece en-
vergonhada daquilo que é grande e puro no seu passado histórico.
Só o bem existe. O mal é ausência.
Pedro Aguiar Pinto

As coisas acabam por correr melhor àqueles que tiram o melhor partido de como as coisas correm
Art Linkletter
Governo ameaça Universidade Católica__________3
Na Defesa e promoção da vida humana __________ 2
Pela Avaliação das Escolas ____________________3
Que o Sol não se ponha... _____________________ 3
O que são e o que fazem os Cardeais? ____________5
Católica e Estado assinam protocolo de cooperação _ 3

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George W. Bush Corta Financiamentos a Grupos Que R – Na minha opinião devia haver, como disse, uma
Apoiam Aborto _____________________________ 7 equipa nacional dedicada a tempo inteiro a estas ques-
tões. Mas julgo também que cada diocese devia ter um
Bill Hewlett, 1913-2001 O Mais Bondoso Pioneiro do
padre, um diácono e um secretariado com alguns leigos
Silicon Valley ______________________________ 7
– como existe nos EUA – que se pudesse dedicar a tem-
O Fisco e a Família _________________________ 9 po inteiro à defesa e à promoção da vida humana.
Sentinela da manhã _________________________ 9 P – Pensa que a Igreja deveria apoiar mais os movimen-
tos Pró-Vida?
Uma prenda para Rosita_____________________ 10 R – É sempre bom mais ter mais apoio, mas julgo que
Reter os melhores __________________________ 10 devemos uma palavra de gratidão aos nossos bispos,
que têm visto sempre com muito carinho e com grande
Reticências _______________________________ 10 alegria, todos os esforços que vamos fazendo. Têm-nos
O futuro da missão está na Ásia _______________ 11 entusiasmado e dado o seu apoio com a sua oração, a
sua palavra e o seu exemplo. Portanto estamos gratos
Grito de alarme ecológico____________________ 11 aos nossos bispos por tudo o que têm feito por nós.
Paz interior_______________________________ 12 P – Os cristãos em geral e enquanto membros de asso-
ciações e movimentos, poderiam ter uma intervenção
Anunciai-o do cimo dos telhados ______________ 13 mais efectiva nesta matéria?
Ratzinger. A Europa difícil___________________ 14 R – Há muita intervenção escondida que não chega ao
grande público e que não é publicitada. No entanto julgo
que teríamos muito a ganhar dando a conhecer essas
iniciativas e organizando-as entre si, de modo a não
Na Defesa e promoção da haver dispersão de esforços mas convergência.
vida humana P – Existem em Portugal organizações pró-aborto de
forma tão organizada como nos EUA?
In: Agência Ecclesia, 2001.01.18 R – Para lhe responder a isso teríamos uma conserva
Voz de Domingo. Algarve
Entrevista ao Padre Nuno Serras Pereira longa. Julgo que em Portugal talvez o caso mais preo-
cupante seja a APF (Associação para o Planeamento da
O padre Nuno A. Serras Pereira é uma das principais
Família) que é uma filial da IPPF, uma Organização
vozes em Portugal na defesa e promoção da vida huma- Internacional Não-Governamental, – a segunda maior
na, denunciando e combatendo a cultura da morte e de-
do mundo, a seguir à Cruz Vermelha – que é a maior
gradação da vida humana. Tem trabalhado juntamente
promotora da esterilização, da contracepção e do aborto
com vários movimentos pró-vida, nomeadamente o em todo o mu ndo. Estranhamente, esta associação tem
"Juntos Pela Vida".
tido o apoio de governos sucessivos, o que não se con-
O padre Nuno A. Serras Pereira é uma das principais segue explicar. De facto, o governo existe para defender
vozes em Portugal na defesa e promoção da vida huma- o bem comum, isto é o bem de todos e de cada um, des-
na, denunciando e combatendo a cultura da morte e de- de o momento da concepção até à morte natural. Não se
gradação da vida humana. Tem trabalhado juntamente entende como é que os governos patrocinam esta orga-
com vários movimentos pró-vida, nomeadamente o nização que tem uma filosofia hedonista, individualista
"Juntos Pela Vida". e utilitarista, que degrada o ser humano, a sua dignidade
No passado dia 3 esteve no Seminário, em Faro, junta- e atenta contra a vida dos mais fracos e vulneráveis
mente com um casal do daquele movimento, para parti- P – Como tem conhecimento a Diocese do Algarve, vai
cipar numa conferência sobre a experiência americana levar a cabo a construção de uma Obra para acolher
de 25 anos de liberalização do aborto, proferida pelo Pe mães em risco, cuja primeira pedra será benzida na ce-
Peter West. lebração de Encerramento do Ano Jubilar no próximo
Folha do Domingo – A Igreja em Portugal está, de al- Domingo em Faro. Que comentários lhe merece esta
guns anos a esta parte, nomeadamente desde o referendo iniciativa?
de 98, mais sensibilizada para este problema? R – Bem, é uma notícia que me dá uma alegria imensa.
Padre Nuno Serras Pereira – Julgo que a Igreja sempre Acho que é um exemplo formidável a seguir por todo o
esteve, e está cada vez mais sensibilizada. O que talvez país e espero que estas iniciativas se multipliquem de
nós possamos fazer, é organizarmo -nos melhor de modo modo a acolher toda a gente que necessite.
a sermos mais efectivos no nosso trabalho. P – Tendo em conta a sua experiência, qual pensa ser o
Talvez fosse interessante a Igreja pensar na possibilida- contributo que a imprensa de inspiração cristã pode
de de criar uma equipa a nível nacional - um padre com prestar nesta matéria?
alguns leigos – que, a tempo inteiro, possa organizar um R – Julgo que seria importante, nos vossos jornais, ha-
trabalho a nível das dioceses e dos movimentos religio- ver sempre contactos para alguém que tivesse necessi-
sos. dade, poder telefonar, dirigir-se ao sítio certo, saber a
P – Acha necessário que também as dioceses se organi- quem recorrer. Mas julgo também que seria importante
zassem no sentido de haver em cada uma delas uma que em cada número do jornal houvesse sempre algum
equipa directamente responsável por estas questões? artigo, mesmo que pequeno, ou notícia denunciando a

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cultura da morte e favorecendo e promovendo a cultura
da vida. Católica e Estado assinam
[18-01-2001 18:10:52] [Entrevistas] [4403 caracteres] protocolo de cooperação
[Grátis] [ Voz do Domingo ]
Dia 24 de Janeiro, na Reitoria da UCP.
Luís Pedro de Sousa
Que o Sol não se ponha... O Instituto de Cooperação Portuguesa (ICP) e o Centro
...sobre a nossa ira! Que não passe um dia sequer de Estudos dos Povos e Culturas de Expressão Portu-
sobre a nossa zanga. Que ninguém se deite sem ter guesa (CEPCEP), organismo da Universidade Católica
reparado o mal que fez. E que o sol não se levante Portuguesa, assinam dia 24 de Janeiro, na Reitoria da
de novo sem que tudo esteja em paz. UCP, um protocolo que prevê a realização conjunta de
conferências, acções de formação, programação de ac-
In: Xis, 20010120 ções de investigação e desenvolvimento e programação
Laurinda Alves de iniciativas de índole pedagógica, cientifica e cultural.
Que o sol não se ponha sobre a nossa ira é uma frase Um curso de Formação de cooperantes para Timor Les-
bíblica e, porventura, uma das frases de que mais gosto. te ou apoio ao planeamento e arranque da Universidade
Sábia e eloquente, poderia ser uma espécie de manda- Católica de Angola, são exemplos de algumas acções
mento dos tempos modernos. Bastava sermos capazes que têm sido levadas a cabo pelo CEPCEP em colabo-
de o cumprir para tudo ser infinitamente mais fácil. E ração com o ICEP.
pacífico. [22-01-2001 13:40:36] [Nacional] [704 caracteres] [Grátis] [ Luís
Pedro de Sousa ]
Não deixar que o sol se ponha sobre a nossa ira é uma
imagem bonita e poderosa. Urgente também, pois obri-
ga a lutar contra as nossas próprias resistências interio- Governo ameaça
res, impõe um limite de tempo ao nosso rancor, estabe-
lece um deadline imperioso para baixar as armas e con- Universidade Católica
ceder tréguas. Nuno Tavares
Que bom seria se fosse possível aplicar este "manda- In: Agência Ecclesia, 2001-01-24
mento" à escala mundial. É uma utopia, bem sei, mas "Inesperadamente e quase pela calada, multiplicaram-se
apetece sonhar com um tempo em que bastava a noite nos últimos tempos os ataques do Governo à Universi-
cair para desfazer todas as guerras e estabelecer a paz. dade Católica". A denúncia foi feita pela Rádio Renas-
Enquanto esse tempo não chega podemos abreviar o cença (RR) na Nota de Abertura dos dias 24 e 25 de
processo de paz, partindo de uma escala individual (que, Janeiro.
na verdade, é de onde partem as grandes mudanças: de Neste âmbito, salienta que estes 'ataques' são feitos atra-
dentro de cada um de nós) tratando de pôr um fim às vés de subsídios que são retirados a esta instituição e
nossas guerras pessoais, aos nossos ódios d e estimação através da "ameaça de fragmentar a Universidade Cató-
e aos rancores que acumulamos de dia para dia. lica em universidades locais, sem ligação entre si". Des-
Esta ideia de não adormecer sem ter pedido desculpa a te modo, a RR denúncia que o governo pretende "enca-
quem ofendemos ou magoámos era um princípio muito rar a Universidade Católica como uma qualquer outra
em uso no tempo dos meus avós. universidade privada, regida pelo lucro, quando se trata
Lá em casa existia como regra primordial, como lei fun- de uma universidade sem fim lucrativo".
damental que ninguém se atrevia a transgredir. Todos (e Salientando o reconhecimento que esta instituição tem
eram muitos) tinham tudo em dia: as contas, os deveres, merecido de personalidades insuspeitas, como é o Dr.
os direitos e, até, as zangas. Ninguém se deitava zanga- Mário Soares, a RR alerta para o perigo deste patrimó-
do com um irmão, com o pai, a mãe ou um amigo. O nio ser destruído uma vez que vivemos um tempo em
tempo do arrependimento e do pedido de desculpas que "o conhecimento e o ensino são o grande factor de
eram momentos solenes e observados por todos, sem desenvolvimento dos povos. E recorda que se tais
excepção. Quando o sol se punha estava tudo em ordem ameaças se concretizarem, o principal prejudicado nem
e era nessa ordem que todos acordavam no dia seguinte. sequer é a Universidade Católica, mas "a grande vítima
E que bom que era este ritual, que aconchego havia na- será o povo português, que ficará mais pobre".
quela realidade real de haver um tempo para tudo mas, [24-01-2001 18:37:27] [Nacional] [1157 caracteres] [Grátis] [ Nuno
especialmente para desfazer o que ficara mal feito, de Tavares]
"dar o braço a torcer", de emendar e fazer de novo.
Guardo esta sabedoria dos meus avós (que, aliás, davam Pela Avaliação das Escolas
o exemplo começando por aplicar o princípio a eles
próprios, pais de treze filhos) como um tesouro precio- Por JOAQUIM AZEVEDO
In: PÚBLICO, Sábado, 20 de Janeiro de 2001
so. Como parte de uma herança que recebi e tem um
valor incalculável. Mais do que quaisquer bens mate- O debate que surgiu nestas páginas a propósito da di-
riais valorizo os bons princípios herdados. Este de não vulgação dos resultados das provas de aferição deve ser
adormecer zangado parece-me um dos melhores conse- prosseguido. Concordo com a publicação da "lista das
lhos que já alguma vez recebi. Nem sempre é fácil pô-lo cem ou das quinhentas escolas que apresentam os me-
em prática mas nunca é tarde para começar a tentar. lhores resultados" nas provas de aferição, como propôs
Marçal Grilo, e que se "procure perceber quais são as

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causas do bom desempenho dessas escolas". Mas, já "ranking" das escolas. Este episódio obrigou o Ministro
agora, que se publique também anualmente a lista das F. Bayrou a acelerar um processo "irrecusável" de ela-
escolas secundárias e C+S cujos alunos obtêm os me- boração de indicadores, que conduziria à difusão anual e
lhores resultados nos exames nacionais do 12º ano. E, oficial dos resultados, o que ainda hoje se faz, havendo
aproveitando a maré, não se fique por aqui. Que se ava- vários jornais e revistas que editam suplementos espe-
liem as escolas que melhor funcionam, que se estudem ciais sobre esta matéria.
os factores que induzem a qualidade nas escolas públi- Estes resultados são muito diferenciados, o que provoca
cas e que se divulguem amplamente os resultados obti- uma imensidade de interpretações e de leituras. Tudo
dos. Mas que não se fique por aqui. Podemos e devemos isto mobiliza as pessoas e enriquece a vida escolar.
ir um pouco mais longe, no sentido de semear e fazer Umas vezes aprofunda-se a análise dos porquês, outras
frutificar uma cultura de avaliação no sistema educativo. alarga-se a análise a outras variáveis, como a taxa de
A instituição social que mais avalia, todos os dias e a sucesso e de acesso por curso, o tipo de gestão pedagó-
todas as horas é uma das que mais recusa ser avaliada. gica e administrativa praticado na escola ou o nível pro-
Não será por acaso. De facto, avaliar instituições educa- fissional dos docentes. Os usos destes indicadores po-
tivas tão diversas como as que conhecemos não é tarefa dem ser imensos e, como diz Claude Thélot, director do
fácil, sobretudo se não queremos ficar boquiabertos a DEP durante vários anos, as escolas compreendem me-
olhar para listas ordenadas e "ilegíveis" de escolas, emi- lhor o que nelas se passa e, como são organizações bas-
tindo os mais variados palpites, sem as referências mí- tante flexíveis, procuram melhorar o seu desempenho.
nimas sobre o objecto que se pretende avaliar, nem so- Divulgar dados de avaliação das escolas pode ser muito
bre o como e o para quê da avaliação. importante. Porquê? Por muitas razões. Sublinho qua-
Proponho uma visita muito breve ao que se passou em tro: (i) para informar os cidadãos, nomeadamente os
França, entre 1981 e a actualidade, para melhor apresen- pais e encarregados de educação, acerca do desempenho
tar o meu ponto de vista. O jornal "Le Monde de l'édu- social das instituições escolares, que constituem um
cation", no início da década de oitenta, tomou a iniciati- serviço público que a todos diz respeito; (ii) para dar
va de exigir a publicação de um palmarés das escolas mais meios às escolas para se auto-avaliarem, induzindo
secundárias, com base na taxa bruta de sucesso dos alu- novas práticas de transparência e de exigência; (iii) para
nos nos exames finais do secundário e de acesso ao en- ajudar cada escola a melhor estabelecer os seus contra-
sino superior (o Bac) e iniciou a divulgação de alguns tos de autonomia com a administração educacional; (iv)
dados que eram recolhidos pelo próprio jornal, de escola para envolver muito mais activamente toda a comunida-
em escola. Diante da pressão social, a DEP-Direcção da de educativa - pais, professores, alunos, pessoal auxiliar,
Avaliação e da Prospectiva do ME, criada em 1987, autarcas e representantes dos sectores culturais e eco-
iniciou um processo de fundamentação da "avaliação" nómicos - na melhoria do desempenho de cada escola.
das escolas. Para fugir às fragilidades de uma mera É verdade que de nada adianta divulgar dados isolados
enumeração de taxas brutas de aproveitamento, este que apenas conduzem a visões simplistas de problemas
departamento construiu um conjunto de indicadores complexos. Também é certo que a mera divulgação de
para facilitar a avaliação e, sobretudo, para permitir à resultados de desempenho de instituições educativas
escola a sua auto-avaliação. públicas não as melhora, por magia. Mas também é ver-
O dispositivo base compreende três tipos de indicado- dade que o ME, ao fechar-se sobre si próprio, escon-
res: (i) a taxa de sucesso no Bac; (i) a taxa de acesso ao dendo os "rankings" e os dados mais ou menos elabora-
exame final dos alunos que entraram no 10º ano, o que dos que possui, não cumpre a sua função social de in-
mede, por escola, a probabilidade de se obter um curso e formar os cidadãos, que não só querem uma boa educa-
aceder ao Bac, ao fim dos três anos previstos para o ção para os seus filhos, como pagam integralmente o
curso, ou em mais anos (se uma escola tudo faz para funcionamento do sistema. Neste caso, mais vale publi-
eliminar os alunos mais fracos, terá uma fraca taxa de car alguma informação do que adiar anos e anos a sua
acesso e a taxa de sucesso será elevada); (iii) a propor- difusão, apenas porque os elementos são sempre incom-
ção de alunos que abandonam a escola no 12º ano, sinal pletos e induzem sempre leituras erradas das situações.
de fuga ao Bac. Além disso, o ME calcula, com base no O erro maior já está a ser cometido, ano após ano.
nível sócio-profissional dos pais, o tipo de alunos de Registem-se ainda alguns esforços recentes que já apon-
cada escola (criando quatro categorias), o que permite tam para a (muito lenta) instalação de uma cultura de
estabelecer comparações entre escolas e criar médias avaliação e de rigor no sistema escolar (no ensino não-
nacionais para cada um dos tipos de escola (em função superior) e que não são habitualmente referidas. A Ins-
da sua população), determinando-se ao mesmo tempo as pecção Geral de Educação iniciou um processo de ava-
chamadas "taxas esperadas" de desempenho para cada liação das escolas, que ainda vai no segundo ano (só no
escola. O diferencial obtido entre as taxas esperadas e as terceiro chegará a todas as escolas), bastante completo,
taxas observadas conduz ao "valor acrescentado" de e que se mantém como uma dinâmica interna ao siste-
cada escola (positivo ou "negativo"). ma. O resultado é devolvido apenas à direcção da esco-
Os resultados desta avaliação de cada escola são envia- la. A Associação dos Estabelecimentos do Ensino Parti-
dos anualmente ao seu director. O ME difundiu publi- cular está a dar início a um processo complexo de ava-
camente, em 1994, os "indicadores de desempenho das liação das escolas suas associadas. A Fundação M anuel
escolas secundárias", em termos genéricos, mas o Leão (V. N. de Gaia), com o apoio da Fundação Gu l-
"L'Express", em Dezembro de 1993, editou uma "classi- benkian, está a promover uma nova modalidade de ava-
ficação secreta do ministério" em que se estabelecia um liação externa das escolas, públicas e privadas, também

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bastante completa, sendo os resultados devolvidos ape- que a partir do ano de 1150 é constituído como tal tendo
nas à direcção de cada escola. No deserto da avaliação, a presidi-lo um Decano e um Vice-Decano. Este Colé-
há que assinalar e acompanhar a evolução destas impor- gio é visto como o Senado do Papa que além de o eleger
tantes iniciativas. Mas tudo isto é ainda muito pouco e, e aconselhar para a Igreja de Roma o aconselha para
em nenhum caso, se divulgam publicamente os resulta- toda a Igreja.
dos de todas as escolas. OS CONSISTÓRIOS COM JOÃO PAULO II
Por onde prosseguir? O ME deve proceder à divulgação Existindo praticamente desde a constituição do Colégio
de um conjunto de indicadores por escola? Deve fazê-lo Cardinalício, os Consistórios como método papal de
o Conselho Nacional de Educação, lugar por excelência consulta aos Cardeais, tiveram mais ou menos vitalida-
do diálogo social sobre esta área de serviço público? de conforme os diversos Pontífices. Assim até João Pau-
Deve fazê-lo o PÚBLICO, fruto de alguma listagem lo II.
oficial esquecida num taxi? Valia a pena que alguém o Foi uma surpresa a ressurreição dos consistórios em
começasse a fazer, em nome do rigor e da transparência, 1979 como um método papal de consulta ao Colégio
por uma cultura de exigência na gestão da 'res publica'. dos Cardeais. Pensava-se que o Sínodo dos Bispos as-
*ex-Secretário de Estado da Educação e membro do Conselho Nacio-
nal de Educação sumira este papel consultivo, e alguns propuseram que o
Sínodo assumisse o papel eleitoral dos Cardeais. Após a
sua eleição em 1978, João Paulo II disse aos Cardeais
O que são e o que fazem os no Conclave que gostaria de se reunir com eles e
consultá-los periodicamente.
Cardeais? Em 1979, João Paulo II explica a diferença entre as
Origem, etapas mais significativas, aparecimento do questões consideradas pelo Sínodo dos Bispos e as atri-
Colégio Cardinalício, os Cardeais portugueses na buídas ao Colégio dos Cardeais. As questões a serem
História consideradas pelos Cardeais são importantes, disse ele:
A origem do Colégio dos Cardeais perde-se nos tempos "Elas parecem estar mais estreitamente ligadas ao
recuados da história da Igreja Católica. Originalmente o ministério do Bispo de Roma do que as questões a
termo "Cardeal" referia-se em qualquer diocese a um serem submetidas ao Sínodo dos Bispos." O Papa
clérigo (diácono, padre ou bispo) que fosse elevado a acrescenta: "É óbvio que aqui não se pode falar de
uma posição diferente daquela para que fora ordenado. qualquer demarcação absoluta."
Em Roma, os Cardeais -Diáconos eram diáconos que Três anos mais tarde, descrevia as reuniões dos Cardeais
tinham sido deslocados e encarregados de serviços so- como "o instrumento através do qual - embora num bre-
ciais para as dezoito regiões de Roma; os Cardeais - ve espaço de tempo - são discutidos importantes assun-
Presbíteros eram padres temporariamente incumbidos tos que exigem prudência e que têm a ver com a acção
de certos Santuários ou Basílicas para serviços litúrgi- apostólica actual para o povo universal de Deus".
cos especiais. O mesmo era verdadeiro para os Bispos O Código de Direito Canónico de 1983 (cânone 353)
das sete Dioceses em redor de Roma quando vinham a
faz uma distinção entre Consistórios ordinários e ex-
Roma por causa de serviços litúrgicos especiais em S. traordinários. Para um consis tório extraordinário, o Pa-
João de Latrão, a Catedral de Roma. Eram os Cardeais - pa convoca todos os Cardeais. Para um consistório ordi-
Bispos.
nário pode convocar todos os Cardeais ou só os presen-
Dado que normalmente era aos mais talentosos ou de tes em Roma.
mais confiança que se atribuiam estes deveres, são estes O Código distingue também dois tipos de consistórios
os clérigos que se tornam os principais conselheiros do ordinários. O mais comum é para "certos actos muito
Papa.
solenes", tais como canonizações, a concessão do pálio
Enquanto o trabalho social dos Cardeais -Diáconos foi para Arcebispos ou a criação de novos Cardeais. Cerca
entretanto atribuído a outros, os Cardeais -Presbíteros dos finais de 1994, João Paulo II convocara seis consis-
tornaram-se permanentemente responsáveis pelas suas tórios ordinários. Parte destas cerimónias é celebrada
Igrejas em Roma e os Cardeais -Bispos passaram a normalmente em público. De acordo com o cânone 353,
trabalhar para o Papa em Roma, mas continuaram a ser os consistórios ordinários também são convocados para
pastoralmente responsáveis pelas suas Dioceses até que os Cardeais possam "ser consultados sobre certos
1962, altura em que João XXIII os libertou de qualquer assuntos graves. O Consistório extraordinário é descrito
jurisdição sobre as suas dioceses. no Código como o que é convocado "quando as neces-
Já no século XI, Leão IX (1049-1054) começou a no- sidades especiais da Igreja ou a conduta de assuntos
mear Cardeais os Prelados de terras distantes. A tais mais graves sugere que deve ter lugar".
Cardeais pedia-se-lhes habitualmente que resignassem João Paulo convocou o seu primeiro consistório ex-
às suas Sés e tomassem assento junto do Papa. traordinário um ano após a sua eleição. A cronologia e
Dada a sua posição como principal clerezia de Roma os temas dos consistórios extraordinários foram os se-
com certas responsabilidades litúrgicas, foi um desen- guintes:
volvimento lógico os Cardeais tornarem-se os principais 5 a 9 de Novembro de 1979: A reforma da Cúria Roma-
conselheiros do Papa. Parece ter sido este o caso a partir na; a Igreja e a cultura; as finanças da Santa Sé"'.
do Pontificado de Leão IX. O seu papel como conselhei- 23 de Novembro de 1982: A organização da Cúria Ro-
ros foi fortalecido quando se tornaram nos únicos eleito-
mana; as finanças do Vaticano, com especial atenção
res do Papa, em 1059. Vão decrescendo os concílios
provinciais e crescendo o lugar do Colégio Cardinalício

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para o Banco do Vaticano; a revisão do Código de Di- foram Cardeais -Bispos e Cardeais -Diáconos. Homens
reito Canónico. que não eram nem diáconos, nem padres, nem bispos,
21 a 23 de Novembro de 1985: Reforma da Cúria Ro- que foram feitos Cardeais (não eram porém, leigos,
mana. eram clérigos pois a passagem ao estado clérical dava-se
4 a 7 de Abril de 1991: Ameaças à vida humana, espe- com a primeira tonsura, hoje já não existente). Embora
cialmente o aborto; o problema das novas seitas religio- o nome destas "ordens" ainda seja utilizado, o Papa João
sas". XXIII fez de todos os Cardeais Bispos para que tives-
sem precedência relativamente aos Patriarcas no Concí-
13 a 14 de Junho de 1994: Preparação para a celebração
lio Vaticano II. Hoje, os actuais Cardeais devem ser
do ano 2000; um relatório sobre as relações ecuménicas;
ordenados Bispos.
o Ano Internacional da Família; a melhor utilização dos
bispos aposentados. Actualmente, os Cardeais Diáconos são funcionários da
Cúria; os Cardeais Bispos são funcionários superiores
Todos os Cardeais são convidados para um consistório
da Cúria; e os Cardeais -Presbíteros são os Bispos Dio-
extraordinário, mesmo os que tenham mais de 80 anos
cesanos, e consequentemente vivem nas suas dioceses
de idade. O número que efectivamente comparece tem-
por todo o mundo.
se situado entre os noventa e sete e os cento e vinte e
dois. As reuniões são mais curtas que as do Sínodo. A Os Cardeais Bispos e Diáconos são os Prefeitos das
primeira reunião em 1979 durou cinco dias; as restantes Congregações Romanas e Presidentes dos Conselhos
foram ainda mais breves. O formato das reuniões varia. Pontíficios.
Começam normalmente com uma intervenção do Papa, Funções segundo o Direito Canónico
seguida de uma apresentação dos vários cardeais sobre 1- Desde 1059 são os eleitores exclusivos do Papa. Esta
os temas específicos das reuniões. função eleitoral está determinada na Constituição Apos-
CARDEAIS E COLÉGIO CARDINALÍCIO tólica Romano Pontifici Eligendo, de 1.10.1975. Na
Número actual de Cardeais referida Constituição é definido que o número de eleito-
O número de Cardeais flutuou ao longo dos tempos. No res não deve ultrapassar os 120.
século XII em Roma havia três posições para 28 Car- 2- Os Cardeais são conselheiros privilegiados do Papa,
deais -Presbíteros, 18 Cardeais -Diáconos e 7 Cardeais - quer em forma de Colégio, de modo particular no Con-
Bispos para um total de 53. O número efectivo situava- sistório, ou ainda em outros conselhos, e de forma indi-
se entre os 20 e 30, embora durante algum tempo tenha vidual na presidência dos principais Dicastérios e Con-
descido abaixo dos dez. selhos da Cúria, e ainda da forma em que o Santo Padre
os deseje consultar.
Em 1586, Sisto V estabeleceu o número máximo de
Cardeais em setenta, evocando os setenta anciãos esco- 3- São membros do Consistório, no qual o limite de
lhidos por Moisés (Êxodo 24,1). De 1586 a 1958, o nú- idade de 80 anos não é tido em conta.
mero efectivo de Cardeais situou-se geralmente entre 4- Como já se disse anteriormente é aos Cardeais que o
sessenta e setenta, embora à morte de Pio XII houvesse Papa confia a presidência dos Dicastérios, Conselhos e
apenas cinquenta e cinco. Comissões. Se não são Cardeais, normalmente são-no
João XXIII ignorou este limite, e o Colégio cresceu para no Consistório seguinte à sua nomeação.
mais de oitenta Cardeais. Em 1970, Paulo VI reformou Até à nomeação de D. José Saraiva Martins (português),
o Colégio dos Cardeais aumentando-lhes o número de como Prefeito da Congregação da Causa dos Santos, se
eleitores para 120, sem contar os com mais de 80 anos era nomeado, como ele, um Prefeito não Cardeal, tinha
de idade que já não podem ser eleitores. No Consistório a categoria de Pró-Prefeito até ser feito Cardeal. Com
de 1998 João Paulo II derrogou o limite, nomeando este Arcebispo português foi alterada a prática, tendo
mais 2 ou 3 Cardeais para além dos 120 eleitores. sido ele e todos os Prefeitos posteriores não Cardeais,
Neste momento existem 143 Cardeais, dos quais 45 designados Prefeitos.
deixam de ser eleitores até ao dia 22 de Fevereiro de Cardeais Portugueses não Patriarcas:
2001, cerca de cinco deixarão de ser eleitores entre 22 1- Mestre Gil, princípios do Séc.º XIII
2- D. Paio Galvão, 1206
de Fevereiro e Dezemb ro de 2001. Há 22 vagas no Co-
3- D. Pedro Julião (Pedro Hispano), 1273
légio Cardinalício para eleitores. Não podemos esquecer 4- D. Ordonho Álvares , 1278
que em 1998 foram nomeados dois Cardeais "in pecto- 5- D. Pedro da Fonseca, 1409
re". Como não sabemos a idade, não sabemos se são 6- D. João Afonso de Azambuja, 1411
eleitores. O Papa pode ainda derrogar o limite dos 120 7- D. Antão Martins de Chaves, 1439
nomeando alguns outros como fez em 1998. 8- D. Jaime de Portugal, 1456
Divisão geográfica 9- D. Jorge da Costa, 1476
10- Infante D. Afonso, 1517
Os Cardeais estão geograficamente assim distribuídos:
11- D. Miguel da Silva, 1541
Europa – 69 América - 42 12- Infante D. Henrique, 1545
África – 15 Ásia - 14 13- D. Veríssimo de Lencastre, 1680
14- D. Luís de So usa, 1697
Oceânia - 3
15- D. Nuno da Cunha e Ataíde, 1712
Categorias 16- D. José Pereira de Lacerda, 1719
A distinção entre os três níveis de Cardeais tornou-se 17- D. João da Mota e Silva. 1727
mais honorífica do que real. Bispos houve que foram 18- D. Paulo de Carvalho e Mendonça, 1770
Cardeais -Presbíteros e Cardeais -Diáconos, e padres que 19- D. João Cosme da Cunha, 1770

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20- D. Miguel José de Noronha e Abra nches, 1803 num assunto extremamente delicado, que divide os ame-
21- D. Pedro Paulo de F. da Cunha e Melo, 1850 ricanos, e que poderá dificultar as suas relações com os
22- D. Américo Ferreira dos Santos Silva, 1879 democratas.
23- D. Teodósio Clemente de Gouveia, 1946
24- D. José da Costa Nunes, 1962 Entretanto, foi também anunciado ontem que a primeira
Cardeais Portugueses Patriarcas (1) viagem ao estrangeiro do novo Presidente será ao Méxi-
1- D. Tomás de Almeida, 1737 co, já no dia 16 de Fevereiro. Bush vai encontrar-se com
2- D. José I Manuel da Câmara, 1747 o seu homólogo mexicano, Vicente Fox, mostrando
3- D. Francisco I de Saldanha, 1756 assim a atenção que a sua Administração quer dar à
4- D. Fernando de Sousa e Silva, 1779 América Latina.
5- D. José II Francisco Miguel António de Mendonça,
1788
6- D. Carlos da Cunha Meneses, 1819 Bill Hewlett, 1913-2001
7- D. Fr. Patrício da Silva, 1824
8- D. Fr. Francisco II de S. Luís, 1843 O Mais Bondoso Pioneiro
9- D. Gulherme Henriques de Carvalho, 1846
10- D. Manuel I Bento Rodrigues, 1858 do Silicon Valley
11- D. Inácio do Nascimento Morais Cardoso, 1873 Por RUI JORGE CRUZ E PAUL SWART (SVNS)
12- D. José III Sebastião Neto, 1884 IN: Público, egunda-feira, 22 de Janeiro de 2001

13- D. António I Mendes Belo, 1919


14- D. Manuel II Gonçalves Cerejeira, 1929 William Hewlett, um dos primeiros pioneiros do Silicon
15- D. António II Ribeiro, 1973 Valley e da sua in-
(1)- Pela Bula áurea "In Supremo Apostolatus Solio", expedida a 7 de dústria de tecnolo-
Novembro de 1716, Clemente XI elevou à dign idade de Igreja e Basí- gias de informação,
lica Patriarcal a Real Capela com o título de S. Tomé na Cidade de faleceu pacificamen-
Lisboa.
O mesmo Papa, pela Bula "Inter Praecipuas" de 17 de Dezembro de te durante o sono no
1737 concedeu de moto próprio e em nome de seus sucessores ao passado dia 12 de
Patriarca de Lisboa, que de futuro, uma vez eleito, seja criado Cardeal Janeiro. David Pac-
no Consistório seguinte. kard, o seu com-
(Informações do Gabinete do Patriarca de Lisboa) panheiro de sempre
[21-01-2001 14:08:55] [Nacional] [11857 caracteres] [Grátis] [ ] nas lides tecnológicas e empresariais mo rrera já em
1996. Ambos fundaram a empresa Hewlett-Packard
George W. Bush Corta (HP) numa pequena garagem das traseiras da casa onde
moravam, em Palo Alto, na Califórnia (EUA), em 1938,
Financiamentos a Grupos com um in vestimento de 538 dólares. Assim começa-
ram um empreendimento que viria a transformar-se num
Que Apoiam Aborto empório da informática e da electrónica de precisão com
In; Público, 20010123 um valor em bolsa na ordem dos 50 mil milhões de dó-
lares.
O novo Presidente norte-americano, George W. Bush,
anunciou ontem que vai cortar em breve toda a assistên- Mas mais importante para ambos do que o notável êxito
cia financeira americana a grupos internacionais de pla- empresarial e a decorrente riqueza pessoal que ele lhes
neamento familiar que encorajem o aborto. "Tenciono proporcionou foi o facto de a HP se ter tornado numa
fazê-lo", respondeu Bush aos jornalistas que lhe pergun- das empresas mais respeitadas do mu ndo. A cultura de
tavam se iria anular um decreto assinado pelo seu ante- empresa que eles definiram e construíram com as pes-
cessor, Bill Clinton, que autorizava a atribuição de fun- soas que com eles trabalharam perdurou para além de si
dos federais a organismos que apoiam o aborto como próprios, tendo constituído um modelo para muitas das
meio de planeamento familiar nos países do terceiro empresas do Valley (e não só) que surg iram depois.
mundo. David Packard expôs pormenorizadamente essa cultura
d e empresa no livro "The HP Way" (HarperBusiness,
Com esta decisão, Bush segue as pisadas de Ronald
1995), onde descreveu as diversas etapas e peripécias da
Reagan, que em 1984 pela primeira vez suspendeu este
sua amizade e dos projectos com Bill Hewlett, desde a
tipo de assistência, e do seu pai George Bush. A assis-
Universidade de Stanford, na Calfórnia - onde ambos
tência foi retomada quando Clinton chegou ao poder,
estudaram engenharia nos anos 30 - à garagem, e desta
mas o dinheiro deixou de ser distribuído devido à oposi-
ao gigante que hoje conhecemos.
ção da maioria republicana no Congresso. Segundo o
diário espanhol "El Mundo", Bush vai também assinar O HP Way tornou-se assim numa coroa de glória para
uma ordem para retirar os apoios estatais a clínicas que Hewlett e Packard, e, naqueles tempos áureos do taylo-
realizem abortos. rismo na América, numa confirmação das suas ideias
O Presidente enviou uma mensagem de apoio aos mili- fundamentais acerca da gestão de uma empresa: despre-
zo pela hierarquia formal e estrita, consideração pela
tantes anti-aborto que ontem se manifestavam em Wa-
inciativa e a critividade individuais, e confiança nos
shington e noutras cidades americanas no 28º aniversá-
seus empregados. Tudo isto imbuído de conceitos como
rio da decisão do Supremo Tribunal conhecida como
o grande respeito pelo indivíduo, a inovação, o trabalho
"Roe contra Wade", que legalizou o aborto nos EUA.
em equipa, a integridade e a consideração pelo cliente.
Os analistas sublinham que ao tomar esta posição três
dias depois de chegar à Presidência, Bush está a entrar "Creio que aquilo de que mais me orgulho é que nós,
realmente, criámos uma forma de trabalhar com os em-

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pregados, deixámo -los partilhar os lucros e não deixá- binação de curiosidade, criatividade, pensamento claro e
mos de controlar a empresa. Quando eu nasci, não havia bondade que raramente se encontra numa única pessoa.
dinheiro; por isso, dissemos que não queríamos dinheiro Sentiremos decerto a sua falta mas ele deixa -nos um
emprestado - quem pedia dinheiro emprestado só arran- legado que não será esquecido tão cedo."
java problemas. E também dissemos que não queríamos Desde o início que Hewlett deu mostras de uma grande
um empreendimento de contrata-e-despede, mas uma capacidade para compreender como é que as novas tec-
empresa assente numa força de trabalho leal e dedica- nologias poderiam transformar-se num produto de su-
da", afirmara Bill Hewlett, numa entrevista publicada no cesso no mercado. Em 1968, por exemplo, após a HP ter
"site" na Web do San Jose Tech Museum, o museu de lançado no mercado uma calculadora científica de
tecnologia que ele e David Packard ajudaram a fundar secretária, Bill Hewlett pediu aos engenheiros da HP
no coração do Silicon Valley. que projectassem uma outra calculadora que fosse
"A Apple Computer inspirou-se no HP Way", disse Ste- suficientemente pequena para que ele pudesse tra-
ve Jobs, um dos fundadores da empresa e que, antes zê-la no bolso da camisa. O resultado foi a HP-35, a
disso, num Verão, trabalhou na HP após ter telefonado primeira calculadora científica de bolso, que seria lan-
para casa de Bill Hewlett. "O que eu aprendi nesse Ve- çada em 1972 e desde logo tornou obsoleta a conhecida
rão na empresa de Bill e de Dave acabou por ser a ma- régua de cálculo.
triz que usámos para a Apple. O dia de hoje marca o fim
William Redington Hewlett nasceu em 20 de Maio de
de uma era mas o seu espírito está vivo em cada uma
das empresas deste vale." 1913, em Ann Arbor, no estado norte-americano do
Michigan. Com três anos, no entanto, a família mudou-
É interminável o número de histórias em torno de Hew- se para a Califórnia, onde o pai era professor de Medi-
lett e da sua permanente disponibilidade para ajudar os cina na Universidade de Stanford. E seria nesta univer-
seus engenheiros a resolver os problemas com que se sidade - que muitos consideram o cadinho onde foram
deparavam. "Bill tinha a fama de entrar no gabinete de moldados os espíritos e as mentalidades dos pioneiros
um qualquer jovem engenheiro, sentar-se, apoiar os pés do Silicon Valley - que ele viria a conhecer e a tornar-se
em cima da secretária e perguntar: 'Diga-me lá o que é amigo de David Packard, seu colega nos estudos de
que está a fazer e também o que nós devíamos fazer engenharia, que ambos concluíram em 1934. Foram
para o ajudar'", disse Jerry Porras, professor na Stanford então ambos para a Costa Leste: Packard foi trabalhar
Graduate School of Business. para a General Electric, em Nova Iorque, e Hewlett foi
E o HP Way foi mantido, embora, nos anos 90 - período fazer um mestrado no conceituado Massachusetts Insti-
em que a competitividade conheceu níveis inéditos no tute of Technology (MIT).
sector das tecnologias de informação - tenha registado Alguns anos depois, ambos estavam de volta a Palo
uma considerável erosão. Como Packard diria, "o pro- Alto, onde o seu antigo professor Frederick Terman os
blema do HP Way é que ele pode significar tudo aquilo encorajou a constituírem a sua própria empresa. Hewlett
que as pessoas quiserem". e Packard formalizaram o seu projecto no dia de Ano
E, em Dezembro de 1999, Carly Fiorina, a recém- Novo de 1939, tendo lançado uma moeda ao ar para
nomeada "chief executive officer" (CEO) e presidente saber qual o nome que viria primeiro - e se Packard ti-
da HP, reescreveu o HP Way, tornando-o numa doutrina vesse ganho, PH seria hoje o nome da empresa que bem
intitulada "As Regras da Garagem". Fiorina queria que conhecemos na indústria e no consumo de tecnologias
os empregados da HP efectuassem um retorno ao espíri- de informação.
to com que Hewlett e Packard haviam fundado a empre- Tudo começou numa modesta garagem, por detrás da
sa: "O HP Way transformou-se num conjunto de maus casa onde ambos viviam - David e Lucile Packard no
hábitos - no hábito de ser lento, por exemplo. E, nos rés-do-chão, Bill Hewlett e a mulher em cima. "Éramos
anos 90, ele passou a significar: 'Não podemos fazer um par de jovens, acabados de sair de Stanford. Achá-
nada enquanto não estivermos todos de acordo." vamos que éramos bastante espertos e que podíamos dar
Dos dois, Hewlett era mais o engenheiro bondoso e de um contributo."
palavras cordatas, que raramente vestia outra coisa que E o seu primeiro produto foi um oscilador electrónico
não fossem as suas camisas de manga curta. Despreten- concebido para testar equipamentos de som, e que se
sioso, aquilo de que mais gostava era de trabalhar nos baseou na tese de licenciatura de Hewlett - um trabalho
novos produtos lado a lado com os seus empregados ou sobre as aplicações práticas das novas tecnologias elec-
de com eles jogar póquer ao tostão nos intervalos. trónicas do "feedback negativo". O primeiro cliente foi
"Bill Hewlett era um homem grande e gentil. Nós, de- a empresa de Walt Disney, que viria a usar oito destes
positários da sua herança, nutrimos o maior carinho e osciladores electrónicos na produção de "Fantasia", um
apreço pelo brilhante espírito de invenção de Bill, re- filme de animação.
lembrando e celebrando o rico legado que ele e Dave Outros se lhe seguiram, como um sensor electrónico
nos deixaram" - afirmou Fiorina após saber da morte do para pistas de "bowling", um picador automático para
fundador da HP. Hoje, a CEO da empresa, à imagem legumes e uma máquina para emagrecimento através de
dos próprios fundadores, continua a sentar-se todos os choques eléctricos. "Nessa altura, fazíamos qualquer
dias no seu cubículo em espaço aberto, e não num am- coisa que nos pudesse render algum dinheiro. Tínhamos
plo gabinete, como é uso nas outras empresas. um sensor para as linhas do 'bowling' e outro para fazer
Por seu lado, Lewis Platt, o anterior CEO e presidente correr a água automaticamente num urinol quando se
da HP, declarou: "Bill era um dos verdadeiros pioneiros
e gigantes da indústria electrónica. Ele tinha uma com-

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aproximasse uma pessoa", lembraria Hewlett mais tar- o dobro da dos casados. A dedução por casados já é
de. bastante inferior à de solteiros e a dedução por cada
No seu primeiro ano, contudo, os dois empreendedores filho é perfeitamente ridícula, bem inferior à que se ob-
conseguiram fazer um lucro modesto - e a empresa não tém se se comprar um computador...
deixaria de apresentar lucro em cada um dos 61 anos Como é evidente, a forte penalização a que os casados
que se seguiram. Com o tempo, a HP viria a produzir de são sujeitos não tem nada a ver com a Concordata, e só
quase tudo, das calculadoras a instrumentos para diag- por mera distracção se pode atribuir à existência da
nóstico médico, dos simples díodos a impressoras para Concordata o facto de jovens se irem casar a Espanha.
computadores pessoais. Mas, quando as pessoas lhes Outros, simplesmente não se casam... O que há que mu-
faziam perguntas sobre o seu humilde começo, Packard dar é a totalmente disparatada política familiar (?) do
e Hewlett referiam-se muitas vezes à velha garagem Estado português, que parece ver no casamento uma
como "aquele barracão imprestável". E Hewlett, depois ameaça à segurança nacional, tratando como idiotas os
de ela ter sido declarada monumento estadual, queixava- 75% de casais que teimam em não alinhar nas "moder-
se, alto e bom som, de que, a partir desse momento, já nas" e fiscalmente incentivadas tendências para a disso-
não seria possível deitá-la abaixo. lução de famílias.
A Segunda Grande Guerra veio interromper o trabalho Num país que vê aumentar o consumo de droga, a inci-
de Hewlett na HP, pois ele foi mobilizado como oficial dência de doenças sexualmente transmissíveis, da delin-
de comunicações pelas forças armadas norte- quência juvenil e de tantos outros fenómenos que todos
americanas. Voltou à empresa em 1947, onde passou a reconhecem publicamente como resultado directo do
ser seu vice-presidente; em 1957, passou a vice- enfraquecimento das famílias, é no mínimo criminoso
presidente executivo, a presidente em 1964 e a CEO em ver o Estado, através dos seus representantes políticos, a
1969. Em 1977, obedecendo à estrita regra do HP Way alinhar em políticas contra a família, que levam os jo-
da reforma aos 65 anos, deixou a presidência e, no ano vens a terem medo de se casar e os menos jovens a não
seguinte, abandonou a responsabilidade executiva. honrarem o compromisso que livremente assumiram.
Entretanto, ao longo da sua vida, Hewlett detivera car- É, no mínimo, chocante ver o ar angélico com que res-
gos importantes de gestão nas mais variadas empresas e ponsáveis políticos emitem declarações de preocupação
instituições: foi membro dos conselhos de direccção da sobre estes fenómenos quando são eles os principais, se
Chrysler, do Chase Manhattan Bank, da FMC e do não os únicos, responsáveis pela degradação das famí-
Overseas Development Council. Nos anos 60, na Admi- lias (...).
nistração do Presidente Lyndon Johnson, foi membro do
comité de conselheiros para os programas de ajuda in-
ternacional e da comissão de conselheiros para a ciên- Sentinela da manhã
cia. E foi ainda um dos fundadores da American Elec- In: Audácia, 2001-01-23
tronics Association. A Audácia está de parabéns. Juntamente com a sua irmã
mais velha, Além-M a r , foi galardoada com o Prémio de
Hewlett era um ávido amante da vida ao ar livre, tendo Jornalismo/2000 pelos seus trabalhos na área dos Direitos
mesmo comprado um rancho a meias com Packard na Humanos.
Califórnia e, mais tarde, no Idaho - onde ambos traba- JOSÉ REBELO
lhavam nas suas horas livres e nas mais variadas tarefas, A distinção assume maior relevo pelo facto de o júri ter
desde a simples "bricolage" à remoção de terras com um optado por não atribuir qualquer prémio aos meios de
"caterpillar". Adorava esquiar, o montanhismo, a caça e comunicação de maior impacte, a rádio e a televisão.
a pesca. Nos últimos anos da sua vida, dedicou-se ainda
As revistas combonianas bateram-se sempre pela defesa
à botânica, à fotografia e à História. Em 1985, o Presi-
dos direitos das pessoas e dos povos, sobretudo dos
dente Ronald Reagan concedeu-lhe a Medalha Nacional
mais pobres, entre os quais os missionários trabalham.
de Ciência, o mais alto galardão científico dos EUA.
É, desde o início, um dos seus princípios inspiradores.
O prémio distingue, contudo, os textos publicados ao
O Fisco e a Família longo do ano passado, em que os direitos humanos me-
Por FERNANDO CASTRO (PRESIDENTE DA APFN), receram um particular destaque.
S. Domingos de Rana - Cascais O galardão significa antes de mais o reconhecimento
Terça-feira, 23 de Janeiro de 2001 pela dedicação, criatividade e trabalho desenvolvido
In: Público de 20010123 pela equipa da Redacção e pelos seus dedicados colabo-
Publicou o PÚBLICO [edição de 7/1] um excelente radores, com uma mente aberta ao mundo e um coração
artigo em que alerta para que muitos jovens se têm ca- missionário, que pulsa com os anseios de paz, justiça e
sado em Espanha para "fugirem ao fisco" e responsabi- fraternidade para todos. Mas estende-se também aos
liza a Concordata por tal facto. mais de 90 mil participativos assinantes das revistas, de
A responsabilidade da situação é apenas do Estado, que quem recebemos excepcional apoio e coragem.
penaliza fortemente quem se casa, e muito mais quem A Audácia não vai dormir sobre os louros. Sente um
tem filhos, tanto mais quanto maior o seu número. A novo dinamismo e quer ser cada vez mais estimulante e
APFN [Associação Portuguesa de Famílias Numerosas] criativa, para ajudar os leitores a serem, nas palavras do
tem vindo a alertar para esta situação totalmente injusta Papa João Paulo II, «sentinelas da manhã»: jovens vigi-
e disparatada (...), agravada na actual revisão fiscal, ao lantes, que desejam a luz, para reconhecerem em cada
criar-se uma dedução para "monoparentais" que é quase

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ser humano uma pessoa digna de ser amada e em cada barata, numa exploração que já ninguém consegue
irmão o rosto de Deus. quantificar...
[23-01-2001 10:47:41] [A Abrir] [1297 caracteres] [Grátis] [ JO- De um total de 625 milhões de crianças do mundo em
SÉ REBELO ]
idade escolar, 110 milhões nunca foram à escola e, des-
tas, dois terços são raparigas. A pobreza, as tradições e
Uma prenda para Rosita práticas religiosas, os preconceitos e os custos da edu-
In: Audácia, 2001-01-23 cação fazem com que os pais mandem os filhos à esco-
Quem não se lembra das imagens da criança que la, pressupondo que é a estes que compete sustentar os
nasceu em cima de uma árvore, Rosita de seu nome, lares. As filhas, destinadas a casar, não recebem qual-
durante as cheias de Moçambique de Fevereiro de quer instrução. E isto quando não são assassinadas à
2000 e que correram mundo? nascença por representarem mais «bocas a sustentar»...
Em muitos países, as jovens que engravidam ou têm
Agora, com um ano, recebeu uma prenda para si e para filhos são banidas do sistema de ensino...
a sua família: uma casa. Depois de viver vários meses No Médio Oriente, em dois meses foram mortas cerca
no quarto de uma pensão em Maputo, e de ter viajado de 90 crianças. Muitas perderam a vida no regresso das
para os Estados Unidos a fim de sensibilizar a comuni- escolas, quando fugiam com os pais ou se encontravam
dade internacional para a catástrofe que se abateu sobre refugiadas nos telhados de suas casas, fugindo da vio-
Moçambique, Rosita e seus pais receberam agora uma lência...
habitação condigna para recomeçarem a vida e a sua No último ano, a guerra entre israelitas e palestinianos
actividade. A árvore em que Rosita nasceu foi preserva-
feriu oito mil crianças, ficando 300 com incapacidade
da e ainda conserva o estrado de madeira que serviu de permanente. A guerra já atingiu 1,3 milhões de rapazes
leito para a mãe ter a criança. e raparigas que apresentam graves problemas psicológi-
[23-01-2001 10:52:27] [Satélite] [511 caracteres] [Grátis] [ Re-
dacção ] cos decorrentes da violência...
Na América Latina, há milhões de crianças assassina-
das, na prostituição, seviciadas e torturadas. Muitos
Reter os melhores milhões de outras morrem de fome...
In: Audácia, 2001-01-23 Na Europa e nos Estados Unidos da América, onde o
O primeiro-ministro australiano, John Howard, quer panorama parece ser menos dramático e as tragédias
que os seus cidadãos e os emigrantes sejam os me- mais encapotadas, existem milhões de crianças que sus-
lhores e os mais brilhantes do mundo:
tentam as famílias com o trabalho infantil e a prostitui-
«Temos de travar a partida de homens e mulheres deste ção. A violência doméstica atinge números verdadeira-
país e convencer os que partiram a voltar. Queremos mente assustadores e as violações sucedem-se, tantas
não só que os melhores e os mais brilhantes continuem vezes cometidas por quem tinha obrigação de proteger.
aqui como que os melhores e mais brilhantes no mundo A droga, de uma forma ou outra, está presente em todos
venham instalar-se no nosso país.» Com essa finalidade, os tipos de degradação...
vão ser implementadas medidas que favoreçam a vinda As máfias, em todo o mundo, utilizam o rapto, a tortura
das pessoas mais capacitadas para as necessidades da
e a morte de crianças como formas de retaliação e até
Austrália e refreiem a saída dos melhores elementos
mesmo os regimes ditatoriais as atingem...
locais.
[23-01-2001 10:56:35] [Satélite] [433 caracteres] [Grátis] [ Re- Mais de 80 por cento das mulheres grávidas e seroposi-
dacção ] tivas têm filhos já condenados à morte...
Os governos de todo o mundo continuam a gastar mi-
Reticências lhões de contos em armamento. Na maioria dos casos,
os Orçamentos de Estado continuam a destinar mais
In: Audácia, 2001-01-23 dinheiro à defesa (ou ao ataque, como se preferir) do
A droga, de uma forma ou outra, está presente em que à saúde e à educação. Países há que gastam em ar-
todos os tipos de degradação...
mas o equivalente ao orçamento de Estado de outras
A situação das crianças em África, sobretudo na África nações...
ocidental e na central, é a mais difícil em todo o mundo. Fomentam-se guerras para dar saídas às armas fabrica-
Só nestas duas zonas, 22 milhões de menores nunca das, muitas vezes, com o trabalho escravo de crianças...
frequentaram uma escola e 50 milhões vivem sem qual-
Estes são dados oficiais. São alguns números conheci-
quer espécie de apoio...
dos, das muitas situações identificadas um pouco por
Ainda nas mesmas regiões, a falta de água potável, de
todo o mundo. Mas todos os organismos reconhecem
nutrição, saúde e educação, a sida, a cólera e outras epi- que ficam muito aquém da realidade. Os compromissos
demias já originaram mais de 12 milhões de órfãos...
no sentido de alterar todas estas situações t êm-se suce-
O tráfico de crianças e o seu recrutamento para a guerra dido. Tal como os discursos e as manifestações de boas
moveu campanhas internacionais que levaram à desmo- intenções.
bilização de seis mil menores. Mais de 14 mil estão mo- Mas não restam dúvidas sobre a ineficácia do combate
bilizadas em guerras, lutam e transportam armas...
que tem sido desenvolvido e o aumento do número de
Na Ásia, milhões de meninas são vendidas para a prosti- vítimas...
tuição, utilizadas em turismo sexual, muito dele com
origem no Ocidente, e outras representam mão-de-obra

Jornal das Boas Notícias Sexta-feira, 26 de Janeiro de 2001 pág. 10


Existem frases feitas que dizem que «as crianças são o sos fiscais, onde os impostos, as regalias dos trabalha-
futuro da humanidade», ou «o melhor que há no mu n- dores e as contrapartidas dadas ao Estado são muito
do»... reduzidos. Os investidores “exploram” a massa operária
Século XXI. Ano 2001. Janeiro, mês mundialmente como muito bem entendem: conheci raparigas chinesas
dedicado à paz... que trabalhavam em fábricas de brinquedos de Macau
[04-01-2001 16:04:22] [Direitos Humanos] [3795 caracteres] umas dez a 15 horas por dia sem receberem mais por
[Grátis] [ Redacção ] isso, e que, se se atreviam a reclamar, eram recambiadas
para a China com as mãos a abanar. Quando há muita
O futuro da missão está na gente à procura de trabalho é difícil haver justiça e é
fácil cair na tentação de explorar os outros.
Ásia Há razões mais que suficientes para que a Igreja se en-
In: Audácia, 2001-01-23 volva e aposte mais neste continente. Chegou o momen-
No passado mês de Novembro, ao visitar pela pri- to de pensarmos que o futuro da missão está na Ásia, tal
meira vez alguns países da Ásia, fiquei com a im- como o Papa João Paulo II disse na encíclica Redempto-
pressão de que este continente irá ter uma palavra a ris Missio.
dizer no futuro da missão e do cristianismo. A Ásia será o campo de missão privilegiado para o ter-
ABEL DIAS ceiro milénio, mas irá desafiar-nos também a encontra-
A primeira recordação que guardo são as pessoas: sem- rum novo modelo de missão. Primeiramente, uma mis-
pre mu itas, sempre das mais diversas fisionomias. Aon- são que será protagonizada, não por vocações vindas da
de quer que fosse, tinha sempre a sensação de estar ro- Europa, onde aliás estas geralmente escasseiam, mas
deado por multidões. Realmente, na Ásia vive a maior pelos missionários asiáticos que estão a nascer nas co-
parte da população mundial: só a imensa China ultra- munidades eclesiais existentes nas Filipinas, na Índia,
passa os mil milhões de habitantes. No pequeno mas na Coreia do Sul.
frenético Japão, até parece que as pessoas vivem em Por outro lado, a missão na Ásia irá levar os missioná-
cima umas das outras, e quase somos tentados a pensar rios, desprovidos de complexos de superioridade ou de
que os japoneses são pequeninos para caberem lá todos. pretensões de prestígio, aos caminhos do diálogo, à co-
Há ainda a Índia das castas, onde os pobres são uma munhão de vida e fé. Teremos todos que percorrer o
multidão e muitos vivem e também morrem nas ruas, caminho da oração, da contemplação, da mística e da
sem os passantes sequer se d arem conta, onde os hindus gratuitidade. A Ásia será um grande desafio. Não só por
se purificam no sagrado rio Ganges e onde, ao morre- nos fazer mudar de estratégia, de prioridades e de meto-
rem, ricos e pobres são cremados em grandes fogueiras. dologia, mas sobretudo por nos obrigar a mudar o olhar,
Nas Filipinas, país muito católico e de muitas ilhas, a a mente e o coração para sermos testemunhas do Invis í-
população também é numerosa e os contrastes são vel, do Eterno, anunciadores de um Evangelho que é
igualmente grandes: uma minoria bastante rica e com mais que palavras, construtores de um Reino que é mais
muitos recursos coabita com uma maioria de escassos que o fruto das nossas mãos. A Ásia será a missão do
recursos que faz um pouco de tudo para tentar sobrevi- futuro.
ver.
Já te deste conta deste grande desafio missionário? Já
A segunda recordação que guardo é o encontro com um pensaste que é no continente onde vive a maior parte da
continente de ricas tradições religiosas. A Ásia é o berço população mundial que o Evangelho é mais desconheci-
do Islamismo, Budismo, Xintoís-mo, Hinduísmo, Con- do? Não sentes que também tu poderias dar uma ajuda?
fucianismo e outras religiões muito antigas que privile-
Olha que ainda há muita gente à espera do anúncio li-
giam a interiorização e o consequente contacto com
bertador de Jesus Cristo. Ignorar isto é fechar os nossos
Deus através da oração e outras técnicas de ascética. Em
corações à voz do Espírito que nos desinstala e nos de-
Macau visitei um templo budista. Vi pessoas a fazerem
safia a percorrermos os novos caminhos da evangeliza-
as suas orações e a queimarem incenso. Também elas
ção.
preocupadas em viverem e cultivarem a sua relação com
o sagrado. Mas, apesar da riqueza religiosa deste conti-
nente, o cristianismo permanece uma religião estrangei- Grito de alarme ecológico
ra e minoritária: é seguido apenas por uns dois por cento Na audiência geral, o Papa denunciou que “o homem, sem
dos 3,5 mil milhões de asiáticos. É caso para nos per- hesitações, devastou planícies, vales e bosques, poluiu
guntarmos: porquê? O que é que correu mal? O que águas, deformou o habitat terrestre, tornou o ar irrespirá-
pode ainda ser feito e como é que deve ser feito? vel, afectou os sistemas hidrológicos e atmosféricos, de-
sertificou espaços verdes, desenvolveu uma industrializa-
Da minha passagem por aquelas terras ficou-me a im- ção selvagem, hum ilhando a terra, nossa morada”.
pressão de uma rápida transformação que está a provo-
car graves desequilíbrios sociais. Parece-me que a Ásia In: ecclesiaInt, 2001-01-23
está a tomar a dianteira em termos de desenvolvimento Encontrou grande eco na opinião pública, o “grito de
económico, mas está também a pagar um preço muito alarme ecológico” lançado por João Paulo II na audiên-
elevado: um número crescente de marginalizados e ex- cia geral da passada quarta-feira, dia 18, depois de os
plorados. São numerosos os investimentos, mas as em- recentes discursos ao Corpo Diplomático creditado jun-
presas que apostam neste continente são sobretudo a- to da Santa Sé, da Carta Apostólica conclusiva do Ano
traídas pela abundância de mão-de-obra mal paga e pe- Santo e do Jubileu dos Agricultores terem causado o
los baixos custos de produção. Mas também pelos paraí- mesmo efeito.

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Na audiência geral, o Papa denunciou que “o homem, um desprendimento material, provavelmente baseado
sem hesitações, devastou planícies, vales e bosques, em profunda convicção espiritual. São seres sem medo,
poluiu águas, deformou o habitat terrestre, tornou o ar que não precisam de nada e que parece viverem em
irrespirável, afectou os sistemas hidrológicos e atmosfé- harmonia com as leis universais.
ricos, desertificou espaços verdes, desenvolveu uma A sua perspectiva de vida leva-os a não temer perder
industrialização selvagem, humilhando a terra, nossa seja o que for, a não se sentir infelizes por não possuí-
morada”. rem, a não ter medo de serem incapazes de conseguir ter
Daqui, o Papa lançou um apelo a uma “conversão eco- isto ou aquilo, a não invejar quem ostenta o que entende
lógica”, única solução - disse - para sustar a devastação possuir.
dos homens e encontrar a harmonia com a natureza e Em verdade são seres que não possuem; apenas se sen-
consigo próprios. Um caminho que deve respeitar uma tem administradores temporários, assumindo o despren-
divisão igualitária dos recursos e ter uma especial aten- dimento de quem não possui, a responsabilidade de
ção à qualidade de vida no quadro de uma ecologia não quem administra, a autenticidade de quem é.
apenas física mas também humana. Uma ecologia - Não se perturbam quando vêem os outros fazer o que
prosseguiu - que torne dignos os seres humanos prote- entendem ser inconveniente, porque sabem permitir-lhes
gendo os bens essenciais da vida em todas as suas mani- o usufruto da sua liberdade e sentem a responsabilidade
festações, preparando para as gerações futuras um am- de os ajudar construtivamente, dentro dos limites das
biente que se aproxime dos projectos do Criador”. suas possibilidades. Não se revoltam quando alguém é
Refira-se que não é novidade nos ensinamentos de João indelicado, porque não precisam que os outros lhes se-
Paulo II, mas note-se a sua insistência sobre a questão jam amáveis.
ecológica: a recente intervenção junto do corpo diplo- Desviam-se de quem os procura agredir. Por um lado,
mático, no passado dia 13 advertindo que “se o homem sabem desculpar-lhes as fragilidades. Por outro, não
atinge os equilíbrios da Criação esquecendo a sua res- querem prejudicá-los, consentindo-lhes práticas incor-
ponsabilidade perante os irmãos e não cuida do amb ien- rectas. Comportam-se com a serenidade de quem está
te que o Criador lhe confiou, este mundo, assim pro- seguro de que, na realidade, não pode ser prejudicado, a
gramado estritamente segundo os nossos interesses, não ser por si próprio (sempre que tome atitudes de que
poderá tornar-se irrespirável”. Na Carta Apostólica já venha a arrepender-se).
mencionada considera ser este um dos maiores desafios
São seres que não temem a presença ou a ausência de
modernos a par dos problemas da paz e da questão dos
qualquer pessoa, lugar ou coisa, condição, circunstância
direitos humanos, classificando estas problemáticas
ou situação. São homens e mulheres que nada temem
como urgências às quais a alma humana não pode ficar
nem a própria morte física.
insensível.
Sabem que são responsáveis pelos seus pensamentos,
E, olhando as tomadas de posição do Pontífice, não po-
pelas suas palavras e pelas suas atitudes. Evitam deixar-
demos esquecer a sua intervenção aquando do Jubileu
se envolver pelo revolutear de situações-ambiente.
dos Agricultores: “a terra foi confiada ao homem para
que este a cultivasse e a tratasse. Esquecendo este prin- Assumem a responsabilidade do seu estado de espírito e
cípio, tornamo -nos tiranos e indiferentes, e esta, cedo ou da sua experiência de ser.
tarde, se rebelará”. Isto não quer dizer que um indivíduo que viva em paz
[23-01-2001 13:17:30] [Internacional] [2274 caracteres] [Grátis] consigo próprio rejeite forçosamente as coisas físicas,
[ ecclesiaInt ] menospreze o seu corpo ou procure viver numa redoma.
Pelo contrário, experimenta com natural simplicidade as
Paz interior sensações do mundo físico, com satisfação e não para
satisfazer frustrações ou situações viciosas. E comparti-
In: JN, 20010124 lha saudavelmente as suas experiências, por opção e não
Luís Portela (*) por obrigação.
Alguns conflitos mais ou menos armados têm perdurado Estes seres iluminados são capazes de se manter serenos
nos últimos anos entre países vizinhos ou entre grupos e construtivamente actuantes, mesmo nos momentos das
opositores em diversas regiões do globo. A concertação maiores tragédias. O seu pensamento mantém a perspec-
entre as partes tem-se revelado muitas vezes difícil, ape- tiva do todo. Os seus raciocínios continuam a seguir
sar dos esforços que nesse sentido têm sido feitos. uma lógica global. As suas palavras e as suas atitudes
Os conflitos emergem de desejos mal aplicados, no- servem os mais elevados interesses; do todo portanto,
meadamente quando duas entidades pretendem a mesma também seus.
coisa. E isto acontece entre duas pessoas, entre dois A paz interior parece ser a única alavanca capaz de
grupos ou entre dois países. Enquanto os homens não soerguer a paz mundial. Esta começa em cada um de
souberem, a título individual, dirigir melhor os seus nós. A paz mundial é, afinal, uma questão individual.
desejos, não estarão em condições apropriadas de o fa-
Atentando nos bonitos exemplos que de facto nos ro-
zer colectivamente.
deiam, poderemos concluir que não é necessária uma
Haverá, então, que atentar na paz que irradia do olhar mudança de circunstâncias, mas uma mudança de cons-
sereno de alguns seres humanos das mais diversas clas- ciência.
ses sociais, raças, idades ou culturas, transparecendo (*) Médico e Administrador de empresas, escreve no JN, quinzenal-
uma iniludível paz interior. Esses homens ou mulheres mente, às quartas-feiras
parece usufruírem de uma autêntica liberdade, fruto de

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3. Às vezes o mundo dos mass media pode parecer indi-
Anunciai-o do cimo dos ferente e até mesmo hostil à fé e à moral cristãs. É assim
telhados em parte porque a cultura dos meios de comunicação
está imbuída de maneira tão profunda de um sentido
In: Agência Ecclesia, 2001-01-24 tipicamente pós-moderno, que a única verdade absoluta
Mensagem do Santo Padre para a celebração do é a aquela segundo a qual não existem verdades absolu-
34° dia Mundial das Comunicações Sociais tas ou que, se elas existissem, seriam inacessíveis à ra-
Tema:“ Anunciai-o do cimo dos telhados”: o zão humana e portanto se tornariam irrelevantes. Desta
Evangelho na era da comunicação global. forma, o que importa não é a verdade, mas a «história»;
27 Maio 2001 se algo é digno de notícia ou divertido, a tentação de
Tema:“Anunciai-o do cimo dos telhados”: o Evangelho deixar de parte as considerações da verdade torna-se
na era da comunicação global quase irresistível. Por conseguinte, às vezes o mundo
1. O tema que escolhi para o Dia Mundial das Comuni- dos mass media pode parecer um ambiente não mais
cações de 2001 reflecte as palavras do próprio Jesus. amistoso para a evangelização do que o mundo pagão
Não podia ser de outra forma, dado que é Jesus mesmo do tempo dos Apóstolos. Mas do mesmo modo que as
que anunciamos. Recordamos as suas palavras aos seus primeiras testemunhas da Boa Nova não se retiraram
primeiros discípulos: «O que vos digo na escuridão, quando se encontraram diante de oposições, assim tam-
repito-o à luz do dia, e o que escutais em segredo, pro- bém os seguidores de Cristo não o deviam fazer hoje. O
clamai-o sobre os telhados» (Mt 10, 27). No segredo do brado de São Paulo ainda ecoa entre nós: «Ai de mim se
nosso coração, escutamos a verdade de Jesus; agora, eu não evangelizar!» (1 Cor 9, 16).
devemos proclamar esta verdade sobre os telhados. Contudo, por mais que o mu ndo dos mass media possa
No mundo hodierno, os telhados são quase sempre ca- às vezes parecer separado da mensagem cristã, ele tam-
racterizados por uma floresta de transmissores e de an- bém oferece oportunidades singulares para a proclama-
tenas que enviam e recebem mensagens de todos os ção da verdade salvífica de Cristo à inteira família hu-
tipos, para e dos quatro recantos da terra. É vitalmente mana. Considerem-se, por exemplo, as transmissões
importante assegurar que entre estas inúmeras mensa- satelitares das cerimónias religiosas que com frequência
gens a palavra de Deus seja escutada. Proclamar hoje a atingem um auditório global, ou as capacidades positi-
fé sobre os telhados significa anunciar a palavra de Je- vas da Internet de transmitir informações religiosas e
sus no e através do mundo dinâmico das comunicações. ensinamentos para além de todas as barreiras e frontei-
ras. Um auditório tão vasto estaria além das imagina-
2. Em todas as culturas e em todos os tempos – certa-
ções mais ousadas daqueles que anunciaram o Evange-
mente no meio das transformações globais de hoje – as
lho antes de nós. Portanto, no nosso tempo é necessário
pessoas apresentam os mesmos interrogativos acerca do
que a Igreja se empenhe de maneira activa e criativa nos
significado da vida: Quem sou eu? De onde venho e
mass media. Os católicos não deveriam ter medo de
aonde vou? Onde está o mal? O que é que existe depois
abrir as portas da comunicação social a Cristo, de tal
desta vida? (cf. Fides et ratio, 1). E em cada época a
forma que a sua Boa Nova possa ser ouvida sobre os
Igreja oferece a única resposta que, em última análise,
telhados do mundo!
satisfaz as profundas interrogações do coração humano
– o próprio Jesus Cristo, que «manifesta perfeitamente o 4. No início deste novo milénio é também vital conside-
homem ao próprio homem e lhe descobre a sublimidade rarmos a missão ad gentes, que Cristo confiou à Igreja.
da sua vocação» (Gaudium et spes, 22). Por conseguin- Julga-se que dois terços dos seis biliões de habitantes do
te, a voz dos cristãos nunca pode silenciar, uma vez que mundo não conhecem Jesus Cristo em qualquer sentido
o Senhor nos confiou a palavra da salvação, à qual cada real; e muitas deles vivem em países de antigas raízes
coração aspira. O Evangelho oferece a pérola inestimá- cristãs, em que inteiros grupos de baptizados perderam
vel que todos nós estamos a procurar (cf. Mt 13, 45-46). o sentido vivo da fé, ou já não se consideram membros
da Igreja e vivem a própria vida distante do Senhor e do
Portanto, a Igreja não pode deixar de estar cada vez
seu Evangelho (cf. Redemptoris missio, 33). Sem dúvi-
mais profundamente comprometida no nascente mundo
da, uma resposta efectiva a esta situação compromete
das comunicações. A rede global das comunicações está
não só os meios de comunicação; contudo, ao lutarem
a crescer e a tornar-se cada vez mais complexa, e os
para enfrentar este desafio, os cristãos não podem abso-
mass media têm um efeito sempre mais visível sobre a
lutamente ignorar o mundo das comunicações sociais.
cultura e a sua transmissão. Enquanto outrora eram os
Com efeito, os mass media de todos os tipos podem
mass media que apresentavam os eventos, agora os
desempenhar um papel essencial na evangelização di-
acontecimentos são com frequência modelados a fim de
recta e na transmissão aos povos das verdades e dos
corresponder aos requisitos dos meios de comunicação.
valores que salvaguardam e enobrecem a dignidade hu-
Assim, a relação entre a realidade e os mass media tor-
mana. A presença da Igreja nos mass media é efectiva-
nou-se mais complicada, e este é um fenómeno profun-
mente um importante aspecto da inculturação do Evan-
damente ambivalente. Por um lado, ele pode matizar a
gelho, exigida pela nova evangelização, para a qual o
distinção entre verdade e ilusão; mas, por outro, pode
Espírito Santo está a exortar a Igreja no mundo inteiro.
criar oportunidades sem precedentes para tornar a ver-
Enquanto toda a Igreja procura prestar atenção ao cha-
dade mais vastamente acessível a um maior número de
pessoas. A tarefa da Igreja consiste em assegurar que é a mamento do Espírito, os comunicadores cristãos têm
segunda eventualidade que realmente se verifica. «uma tarefa profética, uma vocação: falar contra os fal-
sos deuses e ídolos do nosso tempo – materialismo, he-

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donismo, nacionalismo exasperado, etc...» (Ética nas humana, de liberdade, de igualdade e de solidariedade".
Comunicações, n. 31). Sobretudo, eles têm o dever e o O Cardeal prosseguiu deplorando que, todavia, na Carta
privilégio de declarar a verdade – a verdade gloriosa não se nomeie expressamente Deus. É importante toda-
acerca da vida humana e do destino do homem, revelado via a necessidade de salvaguardar a dignidade e os direi-
no Verbo que se fez homem. Oxalá os católicos com- tos do homem como valores que estão acima de qual-
prometidos no mundo das comunicações sociais anun- quer ordenamento jurídico. Este valor da dignidade
ciem a verdade de Jesus cada vez mais corajosa e imp a- humana que precede qualquer acção política remete
vidamente sobre os telhados, de tal maneira que todos ultimamente ao Criador: "Só ele pode estabelecer leis
os homens e mulheres possam ouvir falar do amor que radicadas na própria essência do homem e não instru-
está na autocomunicação de Deus em Jesus Cristo, o mentalizadas por ninguém". Para Ratzinger, portanto, na
mesmo ontem, hoje e para toda a eternidade (cf. Hb 13, Carta dos direitos fundamentais mantém-se um traço
8). característico da identidade cristã: " Que existam valo-
Vaticano, 24 de Janeiro de 2001, solenidade de São res não manipuláveis por ninguém, este é o verdadeiro
Franscisco de Sales segredo do Criador e do homem construído à Sua ima-
JOANNES PAULUS II gem e semelhança. Assim esta frase da Carta dos direi-
[24-01-2001 16:07:49] [Documentos] [6751 caracteres] [Gr átis] [ ] tos fundamentais protege um elemento essencial da
identidade cristã europeia numa formulação compreen-
sível mesmo para os não crentes".
Ratzinger. A Europa difícil Depois desta apreciação positiva, todavia o Cardeal não
O Prefeito da Congregação para a doutrina da evitou algumas criticas, relevando que em alguns
fé interveio em Berlim sobre a situação do con- Depois desta apreciação positiva, todavia, o Cardeal não
tinente europeu. Depois de Nice e da assinatu- evitou lançar algumas críticas, relevando que em alguns
ra da Carta dos direitos fundamentais pontos a Carta é demasiado vaga, falta-lhe um claro
De GUIDO HORST reconhecimento dos valores concretos da Europa. Rat-
Qual será o futuro da Europa? "Não o sabemos", afir- zinger citou dois exe mplos: antes de tudo "o matrimónio
mou sinteticamente o cardeal Ratzinger no fim da sua monogâmico como modelo ordenador fundamental da
intervenção sobre os fundamentos espirituais da Euro- relação entre homem e mulher e ao mesmo tempo como
pa . célula do tecido social do Estado". Tal valor é plasmado
In: http://www.comunioneliberazione.org/ARTICOLO/1/ rat z-
ingerit.htm evidentemente da fé da Bíblia. Mas sobre este mesmo
tema falta uma palavra clara da Carta com respeito às
A representação da Baviera junto do governo federal
ameaças contra a instituição do matrimónio: de um lado,
alemão em Berlim convidou no fim de Novembro o
a crescente erosão do valor da indissolubilidade, de ou-
Perfeito da Congregação para a Doutrina da Fé a expor
tro, a pretensão dos casais homossexuais de reivindicar
o seu diagnostico sobre a situação do continente euro-
uma forma jurídica análoga ao matrimónio para a sua
peu e a conferencia foi participada por centenas de per-
convivência. "Com esta tendência o homem põe-se de
sonalidades do mundo económico e politico, reunidos
fora de toda a história moral da humanidade", disse o
para escutar, mais uma vez, um alto representante da
Cardeal. Se as uniões homossexuais são consideradas
Igreja Romana numa Berlim já amplamente seculariza-
cada vez mais equivalentes ao matrimónio, "encontra-
da. Ratzinger citou o historiador britânico Arnold Toyn-
mo-nos na soleira da porta da dissolução da figura hu-
bee e a sua tese sobre a crise do secularismo no
mana" que a Carta defende expressamente no segundo
Ocidente. O Perfeito exprimiu a sua perplexidade sobre
parágrafo do preâmbulo.
a hipótese que, como terapia, seja suficiente reintroduzir
simplesmente "O momento religioso" na cultura euro- Abertura e identidade
peia - como proposto por Toynbee - sobretudo quando o Como segundo exemplo do carácter muito genérico da
momento religioso consiste numa síntese de resíduos do Carta dos direitos fundamentais Ratzinger citou a garan-
cristianismo e do património religioso da humanidade tia da liberdade de consciência e religião. Os Estados da
em geral. Toynbee foi todavia justo - prosseguiu Rat- União europeia declaram-se neutrais nos confrontos das
zinger - afirmando que o destino de uma sociedade de- religiões, sem todavia considerar que existem "traços
pende sempre da "minoria criativa". Para o Cardeal isto característicos da identidade da nossa cultura" que ne-
significa que os fieis cristãos são considerados como cessitam de uma salvaguarda particular, por exemplo as
uma minoria criativa e deverão contribuir para fazer grandes festividades como o Natal, a Páscoa, o Pente-
com que a Europa recupere o melhor do seu património costes ou o domingo. A tolerância, continuou Ratzinger,
hereditário. tem um limite: não será o caso das comunidades religio-
O nome ausente sas que descuidam os valores garantidos na Carta dos
Na sua intervenção o Cardeal analisou a situação con- direitos fundamentais, como a própria liberdade religio-
creta da Europa a respeito da sua hereditariedade espiri- sa ou a renúncia substancial ao uso da violência? Uma
tual e religiosa, com base na Carta dos direitos funda- coisa, segundo o Cardeal, não devia faltar na Carta dos
mentais proclamada solenemente pelos representantes direitos: "O respeito pelo que para outro é sagrado e a
dos governos da União Europeia por ocasião da cimeira reverência perante o sagrado em geral, diante de Deus, é
de Nice. Particularmente importante - sublinhou Ratzin- uma coisa razoável para todos, mesmo para aqueles que
ger - é o segundo paragrafo do preambulo: "Consciente pessoalmente não crêem em Deus". Aqui o Cardeal
do seu património espiritual e moral, a União funda-se constata como "o Ocidente mo stra uma auto-mutilação
sobre os valores indivisíveis e universais da dignidade do todo singular que só se pode definir como patológi-

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ca; de facto, esforça-se louvavelmente por abrir-se a
valores que lhe são estranhos, mas não tem estima por si
mesmo e na sua própria história vê só os aspectos mais
atrozes e destrutivos, enquanto não é capaz de aprovei-
tar aquilo que é grande e puro". Graças a Deus, prosse-
guiu Ratzinger, na nossa sociedade é punido aquele que
escarnece a fé de Israel, e é também punido o que lança
descrédito sobre o Corão e sobre o Islão, "mas quando
se trata da vez de Cristo e dos valores sagrados dos cris-
tãos, a liberdade de opinião parece ser o valor supremo".
A Europa, conclui Ratzinger, "deve aprender novamente
a aceitar-se", em vez de renunciar ao que é seu e evitá-
lo. "Certamente que nós podemos e devemos aprender
os valores sagrados dos outros, mas precis amente diante
dos outros e pelos outros temos a obrigação de alimen-
tar em nós mesmos a reverência diante do sagrado e de
mostrar o rosto de Deus que se nos mo strou, o Deus que
cuida dos pobres e dos indefesos, das viúvas e dos ó r-
fãos, dos estrangeiros, um Deus que é tão humano a
ponto de Ele próprio ter querido tornar-se homem, que
sofrendo connosco, até à dor confere dignidade e espe-
rança".

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