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CLASSE 102: QUESTÕES FUNDAMENTAIS DA FÉ CRISTÃ

AULA 1 – A BÍBLIA
Qual é o posicionamento ou a definição popular da sociedade ou pelo menos de
algumas pessoas na grande mídia a respeito da Bíblia? Vamos pensar – nos últimos anos
– no Código Da Vinci, que levantou uma grande polêmica a respeito da validade do
conteúdo bíblico. A idéia deles era que a Bíblia é um texto selecionado por líderes
religiosos com intenções políticas – eles queria dominar o povo, por isso escolheram
alguns livros e esconderam os outros que poderiam contradizer o ensinamento deles.
Encontramos, assim, pelo menos duas visões sobre da Bíblia: para os que estão
submetidos a Ela, é um documento inspirado por Deus, que serve como direção e
orientação dEle para nós. Os que discordam da Escritura tentam tirar o Seu crédito
afirmando ser um documento escrito por homens, manipulado ao longo da história, para
dominar pessoas.
O que a Bíblia fala sobre si? Em qual dessas visões devemos acreditar? Qual deve
ser a nossa postura diante destes conceitos apresentados a nós? Destacamos alguns
itens que nos ajudarão na solução do problema:
1. A NATUREZA
O primeiro deles é a Natureza. Qual é a natureza da Escritura? Vincent Cheung1
nos ajuda neste ponto. Ele diz:
Em uma época em que muitos menosprezam o valor
das palavras em prol de imagens e sentimentos,
devemos notar que Deus escolheu se revelar
mediante palavras da linguagem humana.
Precisamos entender a natureza verbal ou proposicional da Escritura. A Bíblia é um
relato escrito. Ela trata com palavras, frases, sentenças. Assim, quando se trata da
Escritura, uma imagem não vale mas do que mil palavras. Deus escolheu se revelar a nós
através de palavras, e não de imagens (ou músicas, ou filmes). Basta prestar atenção,
para notar que a Bíblia não traz desenhos. O modelo deixado por Deus foi textual. Essa é
a natureza básica do Texto Bíblico. Êxodo 31.18; 32.16; Deuteronômio 31.9-13; 1
Coríntios 14.37 e 2 Timóteo 3.16 demonstram o ponto. Os dois primeiros demonstram que
Deus deu o texto escrito ao Seu povo, enquanto o terceiro indica a necessidade do povo
voltar regularmente a esta Escritura. Paulo indica a Bíblia como a base das práticas na
igreja no texto de 1 Coríntios – a fonte básica e primária do conhecimento de Deus é a
palavra escrita, a Bíblia.
Encontraremos pessoas alegando terem sonhos e visões. Algumas vezes essas
manifestações irão contradizer a Bíblia. Nesses casos, o que deve ser considerado: a
experiência ou a Escritura? Sem dúvida, a Escritura. Este é um ponto delicado. A
experiência nos envolve profundamente. As percepções intensas nem sempre são
manifestações Divinas. Por mais que as experiências nos envolvam, precisamos ter o
“sangue frio” para voltarmos à Bíblia e avaliarmos o que aconteceu à luz da Palavra
escrita de Deus. Portanto, tomemos cuidado com o que vemos e ouvimos na televisão e
em outros meios cristãos.
A implicação deste ponto é que precisamos nos adaptar à leitura do texto bíblico.
Não basta ouvirmos outra pessoa falar da Palavra de Deus – precisamos lê-la por nós
mesmos. O Espírito Santo que habita em nós torna o conteúdo da Escritura inteligível.
Nós podemos entender o que lemos. Se não gostamos de ler, precisamos vencer essa
dificuldade para que a leitura bíblica se torne um hábito. Precisamos amar as Escrituras,
pois essa foi a forma que Deus escolheu para falar a nós.

1 CHEUNG, Vincent. Introdução à Teologia Sistemática. São Paulo: Arte Editorial, 2008.
2. INSPIRAÇÃO
Podemos definir a inspiração como sendo a
influência sobrenatural do Espírito de Deus sobre os
homens separados por Ele mesmo, a fim de
registrarem de forma inerrante e suficiente toda a
vontade de Deus, constituindo esse registro na única
fonte e norma de todo o conhecimento cristão.
Hermisten Costa

Já lemos 2 Tm.3.16, que indica a revelação do Texto Sagrado. A palavra no original


dá a idéia de uma Escritura soprada por Deus. Temos, na Bíblia, o que Deus queria que
fosse escrito. Outro texto interessante é o de 2 Pedro 1.20,21. Esses versículos revelam
que a Bíblia não vem de pessoas que tiveram um sonho ou insight e decidiram escrever
isso. A iniciativa é de Deus.
Alguém poderia perguntar: Mas a Bíblia não foi escrita por homens? Como
responder a isso? Basta afirmarmos que, de fato, foram homens, e pessoas tão capazes
de errar quanto nós. Contudo, o Espírito Santo inspirou tal registro, e, como Deus é
perfeito, a Sua Palavra logicamente é perfeita. A inspiração do Espírito Santo preservou
os apóstolos e profetas de cometerem erros.
Há ainda a questão dos livros apócrifos – os que não constam na Bíblia que
usamos. Nossa Bíblia possui 66 livros, enquanto que a Bíblia utilizada pelos católicos, por
exemplo, possui 6 livros a mais. Por que não consideramos estes outros documentos
como inspirados? Alguns critérios nos ajudam a entender este ponto: A Bíblia confirma a
veracidade do Seu texto (Êx.31.18; Dt.31.24-26; 2Pe.3.2). O texto de Deuteronômio
demonstra os escritos de Moisés lado a lado com as tábuas dos mandamentos – sinal de
autoridade. Os outros autores bíblicos foram reconhecidos na Bíblia, como Josué
(Js.24.26), os profetas (1Sm.10.25; 1Cr.29.29; 2Cr.26.22; Jr.30.2) e os apóstolos (2Pe.3.2;
1Co.14.37).
Pedro ensina a Igreja a se lembrar do ensino dos profetas e apóstolos (2Pe.3.2). A
autoridade está no ensino dos autores do Antigo Testamento, e do Novo. A Bíblia
reconhece, portanto, a legitimidade dos autores de Seus livros. Ela é bastante coesa.
Quanto aos livros não incluídos no cânon, estes possuem erros que não
permitiriam a sua aceitação como Palavra de Deus. Dificuldades históricas, geográficas e
doutrinárias são percebidas – por isso não os reconhecemos como revelados, pois
contradizem o ensino geral das Escrituras.
Tais livros podem ser úteis em alguns aspectos. A revolta dos macabeus pode ser
melhor entendida no livro que traz o seu nome. Um cristão pode ser beneficiado em
termos culturais – aquisição de conhecimento histórico ou compreensão de diferentes
percepções dos eventos da época. Mas, considerando as contradições em relação ao
ensino bíblico, tais documentos não possuem a autoridade da Palavra de Deus.
Alguns argumentam que foram questões políticas a definirem os livros aceitos
como Revelação de Deus. Quando percebemos os erros nos apócrifos – como o
evangelho de Tomé – é possível compreendermos que não se trata de politicagem, mas
da coerência escriturística.
É importante compreendermos que, mesmo tendo existido lutas e conflitos de
ordem política na igreja e no clero ao longo dos tempos, o conteúdo bíblico permaneceu
intacto, pois foi preservado pelo próprio Deus. Ele é quem garante a veracidade de Sua
Palavra. Assim podemos confiar em Seu testemunho. “A Lei do Senhor é perfeita” - diz o
salmista no Sl.19.
3. UNIDADE
A inspiração da Escritura subentende Sua unidade.
O fato de Suas palavras procederem da mente
Divina, única, implica a exibição de uma coerência
absoluta.
Vincent Cheung
A Bíblia é fascinante. Temos livros escritos ao longo de 1600 anos, e a mensagem
do início – Gênesis – é exatamente a mesma do fim – Apocalipse: Deus como o Criador,
Soberano, Quem conserva, preserva e estabelece a ordem. Como entender que homens
como Pedro, um pescador sem cultura (no sentido de leituras e erudição), possa ter o
mesmo padrão de Isaías, nascido na corte e caracterizado como um homem culto?
Como explicar que médicos estejam ao lado de pescadores, e carpinteiros? Como
explicar a coerência da mensagem, a história que perpassa todos os livros, falando da
redenção em Jesus, e da obra de Deus? Como isto pode ser explicado? - Somente pela
ação do Senhor na Bíblia.
Livros escritos em diferentes contextos, em diferentes épocas, com diferentes
propósitos, para diferentes pessoas têm uma mensagem única e central que é a fonte e o
objetivo disto. Em Mt. 4 o diabo tenta Jesus citando a Bíblia (Sl.91.11,12). Jesus
compreendia a unidade das Escrituras, e responde com Dt.6.6.
O texto de 1Tm.5.17,18 demonstra a sua coerência com outros versículos do AT e
NT (Dt.25.4; Lc.10.7). A citação de Paulo revela que é “Escritura” - termo técnico para
indicar a Palavra de Deus – tanto o verso de Deuteronômio, quanto o de Lucas.
Desta maneira, sempre que encontrarmos algum tipo de contradição aparente
entre um texto e outro da Bíblia, o problema está conosco, e não com o Texto Sagrado.
Algumas técnicas de interpretação nos ajudam a sair de algumas dificuldades.
Chamamos esses princípios de hermenêutica.
4. INFALIBILIDADE
A infalibilidade da Bíblia acompanha
necessariamente Sua inspiração e unidade. A Bíblia
não contém erros, Ela está certa em todas as suas
afirmações. Visto que Deus não mente nem erra, e
a Bíblia é a Sua Palavra, segue-se que tudo o que
Ela afirma tem que ser verdade.
Vincent Cheung
A Bíblia não pode conter erros. 2Tm.3.16,17 diz que Ela é Inspirada por Deus e que
é suficiente para tornar o homem perfeito. Daí se percebe o Seu caráter perfeito e
infalível/inerrante. Isto também se percebe em Jo.10.35 e Lc.16.17.
5. AUTORIDADE
Pelo fato de a Bíblia ser a própria Palavra de Deus,
ou Deus falando, a conclusão necessária é que ela
porta a autoridade de Deus.
Vincent Cheung
Como a Bíblia é a Palavra de Deus, ela tem a autoridade do próprio Deus. Se Ela é
a voz do Senhor direcionada a nós, vem com a autoridade dEle. Isto é claro quando
estudamos versículos comparados, como Gn.12.1-3 e Gl.3.8, ou ainda Êx.9.13-16 e
Rm.9.17. Nesses trechos, o termo Escritura (NT) é substituto do termo Deus (AT). Quem
falou? Deus ou a Escritura? Deus e a Escritura, pois a Bíblia tem a autoridade de Deus.
6. NECESSIDADE
Dizer que as Escrituras são necessárias significa
dizer que a Bíblia é necessária para conhecer o
Evangelho, para conservar a vida espiritual e para
conhecer a vontade de Deus, mas não que seja
necessária para saber que Deus existe (…)
Wayne Grudem
A Bíblia é necessária para uma variedade de coisas. Rm.10.13-17 demonstra a
necessidade da Escritura para a salvação. A linha lógica traçada por Paulo indica que,
sem a pregação do Evangelho (contido na Bíblia), é impossível que alguém creia. Assim,
primeiramente a Escritura é fundamental para nossa salvação. Nós não seríamos
regenerados, e não teríamos vida com Jesus, se a Bíblia não fosse pregada. Se Ela não
existisse, seria impossível sermos salvos – como Paulo afirma em 2Tm.3.15, que a
Escritura nos torna sábios para a salvação.
Além disso, a vida cristã está baseada na Bíblia. Aquilo que precisamos saber em
relação a amizades, trabalho, família, sociedade, política, economia, para tudo isso a
Bíblia possui instruções e orientações que podem ser seguidas. Nenhum cristão pode
sobreviver sem a Escritura.
Isso significa dizer que se afirmamos ser cristãos mas não lemos a Bíblia, há algo
de errado. Ou não somos crentes (e essa possibilidade deve ser considerada, com base
em Lc.7) ou estamos em grave desobediência a Jesus.
7. CLAREZA
Dizer que as Escrituras são claras é dizer que a
Bíblia está escrita de modo tal que Seus
ensinamentos podem ser compreendidos por todos
os que A lerem buscando o auxílio de Deus e
dispondo-se a acatá-la.
Wayne Grudem
Existem textos mais complicados na Bíblia. Pedro fala sobre escritos de Paulo cuja
compreensão era difícil. Mas Deus levantou pessoas para nos ajudarem nessa tarefa.
Tg.3 fala de mestres, e 1Co.12.28 indica que tais professores foram chamados por Deus.
Ainda assim, devemos compreender que os ensinamentos básicos da Bíblia são de
fácil compreensão por todos os cristãos, devido à clareza das Escrituras. Nos Salmos
(19.7 e 119.130) está escrito que os “símplices” (os simples) recebem sabedoria da Bíblia.
Nesta perspectiva, mesmo quem não é erudito e não tem grandes leituras, recebe
sabedoria da Lei de Deus.
1Co.2.14 revela, ainda, um ponto importante. Só entende verdadeiramente a Bíblia
quem tem vida com Jesus. Mesmo o filósofo mais respeitado da face da Terra não poderá
compreender o ensinamento bíblico se não for habitado pelo Espírito Santo. A Bíblia trata
de questões espirituais, e só pode entender as coisas espirituais quem nasceu de novo.
Paulo ensina que nós temos a mente de Cristo, e assim, nossa compreensão da realidade
é mais profunda do que aqueles que consideramos mais inteligentes (sem Deus). Quem
nasceu de novo pode compreender a Bíblia da maneira que outros não podem.
Agradeçam a Deus por isso.

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