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A DANÇA
F. SCOTT FITZGERALD
rapazes.
Eu adorava escutar as histórias locais, contadas com
graça e malícia. Uma das convidadas, só para dar um
exemplo, contou como havia passado a tarde com sua
família tentando evitar que fossem despejados da casa
por não pagarem aluguel. Ela contou a história sem
nenhum pudor, como se fosse uma situação incômoda
mas ao mesmo tempo engraçada. Eu adorava também
o comportamento implícito das pessoas, que presumia
que todas as mulheres fossem lindas e atraentes, e que
todos os homens, desde o dia em que as conhecessem,
estariam apaixonados por elas.
Era uma noite quente de maio, noite silenciosa, céu
recheado de estrelas. A densa fragrância noturna
penetrava pelo salão onde nos reuníamos, e os únicos
sons de fora eram os carros entrando no clube. Naquele
momento, detestei ter de ir embora de Davis, como
nunca antes sentira em relação a abandonar cidade
alguma; senti que desejaria passar o resto da minha
vida naquela cidadezinha, passeando e dançando,
eternamente envolta pelas noites quentes e românticas.
Mas ao mesmo tempo o horror já pairava sobre a
festa, aguardando o momento de se instalar para valer
como um convidado indesejável que preferiria aguardar
algumas horas para, finalmente, revelar seu rosto
horripilante. Algo acontecia por trás das conversas e
risadas, algo secreto e obscuro que eu não conseguia
ver nem entender.
A orquestra de negros chegou um pouco depois, e
os primeiros pares se formaram no salão. Um gigante
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