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1 - INTRODUÇÃO
Essa estratégia nasceu da percepção de que a maior parte dos projetos sociais desenvolvidos
atualmente contempla apenas algumas áreas temáticas: projetos na área de educação, saúde,
agricultura, energia, geração de renda. A estratégia de atuação por tema gera, obviamente, uma
série de lacunas – apenas alguns problemas sociais são resolvidos, enquanto outros continuam
como estavam. Ou, em outros casos, torna-se impossível solucionar a questão, reduzindo o
projeto a um mero paliativo.
Os riscos desse tipo de estratégia ficam evidentes quando consideramos a realidade social como
uma organização complexa, na qual todos os problemas estão intrinsecamente relacionados. As
relações de interdependência que existem entre os diversos elementos do organismo social, em
geral, não são consideradas no planejamento dos projetos – o que pode provocar impactos e
problemas não esperados. São inúmeros os casos em que esses impactos negativos superam os
impactos positivos dos projetos.
Foi dessas reflexões que nasceu o projeto Araçuaí Cidade Sustentável – Plataforma para
Convergências de Tecnologias Sociais.
Depois desse contato inicial, o CPCD passou a implementar algumas de suas tecnologias no
município, tanto na área rural quanto na zona urbana. As frentes de atuação do Centro
concentram-se nas áreas de educação popular e desenvolvimento comunitário, com estratégias
específicas para crianças, jovens e adultos. Assim, Araçuaí configura-se como um espaço
privilegiado para receber novos projetos e tecnologias sociais, dada a sólida base construída pelo
CPCD no campo da educação popular e da mobilização comunitária.
2- ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
Nossa primeira ação de trabalho de campo foi realizar um diagnóstico nas comunidades, a fim
de adquirir maiores informações sobre o Índice de Potencial de Desenvolvimento Humano (IPDH):
o que as pessoas fazem, o que produzem, suas crenças, enfim, seus pontos luminosos. Para isso,
fizemos algumas entrevistas, fotos, croquis, visitas e rodas de conversas com moradores e
associações comunitárias.
Os rios Setúbal e Gravatá são a única fonte de água para as pessoas dessas comunidades, sendo
também fonte de renda para algumas famílias, que realizam plantações em seu leito. Hoje,
entretanto, os rios estão com suas águas poluídas. Exames recentes não recomendam utilizá-las
para o consumo humano. A prática da pesca já não existe na região, por causa da extinção dos
peixes. É comum ver animais e muito lixo dentro dos rios, além de queimadas próximas às suas
margens.
Todas essas comunidades são de fácil acesso, algumas inclusive ficam próximas à cidade de
Araçuaí. A população local não tem opção de geração de renda e a cada ano as produções
agrícolas vão diminuindo. Algumas famílias estão deixando o campo e migrando para a cidade,
em busca de melhores oportunidades. No caso das famílias que permanecem, os homens são
obrigados a buscar sustento no corte de cana no interior de São Paulo e do Rio de Janeiro.
Apesar das dificuldades, algumas pessoas ainda lutam, produzindo localmente alguma coisa em
pequena escala para a sobrevivência. Nesse núcleo, existe produção de farinha, cachaça,
rapadura, plantações de milho, feijão, banana e hortaliças, que as mulheres levam para vender
na feira da cidade. Um grupo de mulheres formou “As Formiguinhas Doceiras”, onde fabricam
doces e levam para vender na cidade. Há também, em pequena escala, plantação de bambu nas
margens dos rios e uma grande variedade de frutas, como mamão, acerola, goiaba e, em maior
quantidade, laranja e manga.
Núcleo Cruzinhas
Essa situação gera muitas discussões e divide as opiniões das pessoas nas comunidades: algumas
querem a recuperação das minas para aumentar o fluxo de água e outras querem que se fure um
poço artesiano para facilitar, com mais rapidez, as suas vidas. Isso porque paira uma dúvida: até
quando haverá água na região?
As comunidades do núcleo ficam distantes da cidade e, como as pessoas não têm muita opção
para obter renda, quase não vão ao centro urbano. Por falta de água na maioria das
comunidades, não existe criação de animais nem plantações. Sem ter de onde tirar o sustento, os
homens dessas comunidades seguem o mesmo destino de milhares de outros do Vale do
Jequitinhonha: vão para o corte de cana.
A única comunidade desse núcleo com uma história diferenciada é a do Palmital. Lá existe um
poço artesiano que consegue abastecer todas as famílias, sendo ainda utilizado para molhar
pequenas plantações de abacaxi, milho, café, feijão e hortaliças. Há também produção de
farinha, cachaça e rapadura. Um grupo de mulheres está construindo uma padaria para fabricar
pães e roscas para vender na comunidade. Em pequena quantidade, algumas pessoas da
comunidade de Palmital e Gangorrinha fazem corante e óleo de pequi para vender. Como o
núcleo está localizado em uma chapada, fica fácil encontrar uma rica variedade de frutos nativos,
como pequi, rufão e jatobá.
O time aprende que estamos juntos por uma causa e que o potencial de cada um é primordial
para o alcance dos objetivos. Formar o time de mobilização para o trabalho continuado, técnica
e pedagogicamente, e iniciar o processo contínuo de educação comunitária foram as metas do
CPCD. Além do processo continuado de formação, o time de campo formado para o projeto
recebe também constante supervisão por parte das coordenadoras e da equipe técnica do CPCD.
A parceria com a Petrobras permitiu que, ao longo deste trimestre, fossem desenvolvidas mais
ações na área do Sítio, contribuindo objetivamente para a recuperação do ambiente local e,
posteriormente, para aumentar a
produção de alimentos e ampliar o
potencial educativo e tecnológico da
iniciativa. Às estruturas que já existiam
antes do início do projeto, como o
sistema de captação de água e o
sanitário compostável, foram anexadas inúmeras outras, como o açude, as hortas em forma de
mandalas e o viveiro de mudas. O
aumento do número de tecnologias
implantadas vem contribuindo para que
o Sítio Maravilha se fortaleça de forma
sistêmica, já que, na grande maioria dos
casos, o benefício gerado por uma
tecnologia serve à manutenção de outra.
“Com as práticas realizadas no sítio, estamos aprendendo que o homem não precisa ficar
simplesmente garimpando, tirando o que a terra tem de melhor, sem nada devolver a ela. É
preciso haver uma relação de troca, de cuidado e respeito.”
As atividades com o Bornal de Jogos e as folias, que anteriormente foram desenhadas para a
apreensão de conceitos básicos de língua portuguesa, matemática e ecologia, foram adaptadas
para estimular a reflexão sobre as quatro dimensões que norteiam este projeto junto aos
moradores das comunidades rurais de Araçuaí: compromisso ambiental, valores humanos e
culturais, satisfação econômica e empoderamento comunitário.
Empreendidas tanto pelos coordenadores comunitários, mães-cuidadoras e agentes comunitários
de educação quanto pelos parceiros do projeto, as práticas descritas no presente item procuram
promover a conscientização das comunidades em relação ao meio ambiente, a partir da
combinação de diversas estratégias, todas elas voltadas para a mobilização popular.
RODA DE VIOLA E TEATRO
A roda de viola é um forte instrumento de mobilização utilizado nas comunidades pelos projetos
do CPCD. Foi adaptada para que fossem levados à população conhecimentos e informação
sobre a água, assim como cuidados com o meio ambiente. Por meio do convencimento,
esperamos que seja possível a mudança de hábitos e atitudes das pessoas, de forma que
possamos fazer uma interferência positiva na qualidade de vida dos moradores das comunidades.
Em São João Setúbal, aconteceu a 1ª Roda de Viola da Água, na qual as pessoas tiveram a
oportunidade de saber mais sobre o projeto, seus objetivos e as ações que ele realizará nas
comunidades. Na oportunidade, as pessoas assistiram também às apresentações de dois teatros
sobre a água (um feito pelas crianças e o outro com pessoas da comunidade). Houve a
participação de nove tocadores (entre sanfona, violão, pandeiro e triângulo), muita música
relacionada ao tema, construção de duas paródias, cantigas de roda, versos e a presença de
aproximadamente 200 pessoas de várias comunidades vizinhas.
Para a realização desse evento, contamos com a parceria das pessoas voluntárias e de brincantes
da Associar.
Outra ação do projeto que mobilizou as comunidades São João Setúbal e Barra do Gravatá foi a
limpeza do Rio Gravatá. Tendo em vista a seca em nossa região, as pessoas ficaram muito
preocupadas com o estado crítico do rio, que quase secou no ano passado. Participaram desse
mutirão 52 pessoas, que percorreram as margens do rio retirando lixo, entulhos e animais
mortos.
Na oportunidade, a nossa equipe fez uma roda e discutiu junto com a comunidade as atitudes
que devemos ter para salvar o Rio Gravatá: importância de não queimar e não desmatar,
principalmente em seu leito, a importância de reutilizar os materiais e de fazer o buraco de lixo
em casa, evitando assim que caiam dentro do rio.
OFICINAS COMUNITÁRIAS
As oficinas comunitárias são pretextos para que possamos nos reunir com as mulheres das
comunidades e assim proporcionar conversas que resultem em troca de experiência e de saberes,
conhecimento e aprendizagem. É o exercício da pedagogia do sabão.
A nova forma que surgiu com o MDI (Maneiras Diferentes e Inovadoras) para convidar as
pessoas, entregando bilhetes coloridos e desenhados, chamando-as para participar do trabalho,
vem atingindo o seu objetivo, que é mobilizar um número maior de pessoas. A participação das
pessoas aumentou. Uma pessoa vai passando para a outra e a cada vez surgem mais pessoas
interessadas em ingressar no grupo.
3 - INDICADORES DE ÊXITO
- Consciência
4 - GERENCIAMENTO
5 - BREVE SÍNTESE
Percebemos que somente mudando o nosso modo de ver o mundo é que poderemos enfrentar e
solucionar problemas como poluição da água, do ar e dos solos, queimadas, desmatamentos e
outros. A partir de pequenas ações, chegaremos à transformação social e formaremos uma
comunidade sustentável, envolvendo todas as pessoas no processo de cuidar do lugar onde
vivem, revertendo impactos ambientais negativos e pensando nas gerações futuras.