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Conceitos Práticos e
Aplicação à Campo
Brasília-DF.
Elaboração
Produção
Apresentação.................................................................................................................................. 5
Introdução.................................................................................................................................... 8
Unidade I
PRINCIPAIS RAÇAS E CRUZAMENTOS EM BOVINOCULTURA DE CORTE.................................................... 11
Capítulo 1
Raças e suas características adaptativas........................................................................ 11
Capítulo 2
Raças sintéticas e cruzamentos....................................................................................... 22
Unidade iI
EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS EM BOVINOS DE CORTE............................................................................. 27
Capítulo 1
Energia................................................................................................................................. 28
Capítulo 2
Proteína................................................................................................................................ 32
Capítulo 3
Minerais................................................................................................................................ 36
Unidade iII
MANEJO E SUPLEMENTAÇÃO ESTRATÉGICA DE MATRIZES E BEZERROS NA FASE DE CRIA........................ 44
Capítulo 1
Caracterização da fase de cria...................................................................................... 45
Capítulo 2
Estratégias para a seca...................................................................................................... 62
Capítulo 3
Estratégias para as águas.................................................................................................. 66
Unidade iV
SUPLEMENTAÇÃO DE BOVINOS DE CORTE EM PASTAGEM..................................................................... 70
Capítulo 1
Suplementação em pastejo................................................................................................ 72
Capítulo 2
Recria de machos e fêmeas para reposição................................................................... 83
Unidade V
CONFINAMENTO DE BOVINOS DE CORTE............................................................................................. 91
Capítulo 1
Concentrado na dieta...................................................................................................... 92
Capítulo 2
Forragens......................................................................................................................... 101
Capítulo 3
Aditivos............................................................................................................................... 114
Unidade Vi
NUTRIÇÃO APLICADA À REPRODUÇÃO DE BOVINOS DE CORTE.......................................................... 124
Capítulo 1
Nutrição da vaca de cria e do touro........................................................................... 126
Capítulo 2
Redução da idade ao primeiro parto............................................................................. 138
Referências................................................................................................................................. 142
Apresentação
Caro aluno
Conselho Editorial
5
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Atenção
6
Saiba mais
Sintetizando
7
Introdução
Com base neste cenário e sabendo que a pecuária de corte apresenta potencial técnico
para produtividade próxima a 1.000 kg de carne por ha/ano, o objetivo deste material é
8
discutir pontos importantes para produção intensiva e econômica de gado de corte, para
que possa competir em termos de rentabilidade com outras atividades agropecuárias.
Objetivos
»» Apresentar uma visão geral sobre as raças de bovinos de corte mais
utilizadas e suas principais características.
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PRINCIPAIS RAÇAS E
CRUZAMENTOS EM Unidade I
BOVINOCULTURA DE
CORTE
O Brasil está entre os países que mais introduziu e testou raças bovinas. Porém, como era
de se esperar, muitas raças não chegaram a prosperar comercialmente e desapareceram
rapidamente do mercado. Com relação ao aproveitamento das raças de corte, pode-se
afirmar que tanto na região central como sudeste do Brasil predominaram as raças
zebuínas e no sul, dominaram as taurinas. De modo geral, o grosso da exploração
ocorre por meio do emprego de mestiços que se originam de cruzamentos quase sempre
desordenados ou mal planejados e orientados.
Capítulo 1
Raças e suas características
adaptativas
Hereford
Origem
Características
Sua aptidão para produção de carne e sua rápida adaptação a pastos mais grosseiros
são as principais características que fazem a raça Hereford umas das mais utilizadas
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UNIDADE I │ PRINCIPAIS RAÇAS E CRUZAMENTOS EM BOVINOCULTURA DE CORTE
Aberdeen Angus
Origem
Características
A raça Aberdeen Angus é de porte grande, com contornos arredondados, sem excesso
de peito e pele, e com boa cobertura muscular. As fêmeas apresentam cabeça alongada
com orelhas grandes e pescoço fino, com peso adulto variando entre 600 a 700 kg, e os
touros, possuem cabeça e pescoço medianos e musculosos, podendo atingir um peso
vivo de 800 a 900 kg.
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PRINCIPAIS RAÇAS E CRUZAMENTOS EM BOVINOCULTURA DE CORTE │ UNIDADE I
industrial com o Nelore tem sido largamente utilizado e incentivado pela indústria da
carne, devido aos bons resultados obtidos na qualidade do produto final.
Charolês
Origem
Gado originado na França, seu nome foi uma homenagem a antiga província francesa
de Charolles e é encontrado espalhado por todo o país. Sua extraordinária produção de
carne fez com que esse gado se espalhasse por todo o mundo apesar de ter sido, em sua
origem, um gado de tripla aptidão (carne, trabalho e leite). No Brasil, o Charolês tem
sido fortemente utilizado, principalmente para a formação da raça Canchim, por meio
de cruzamento industrial com gado zebu.
Características
Possui pelagem branca ou creme com mucosa rósea, cabeça e pescoço curtos e musculosos.
O Charolês é recomendado para a produção de mestiços destinados ao corte, oferecendo
alta capacidade produtiva e bom temperamento comportamental. O produto final é de
alta qualidade, com pouca gordura subcutânea e elevado marmoreio. O rendimento de
carcaça varia de 58 a 62%, em regime extensivo ou semiextensivo, mas podendo chegar
a 70% quando confinado. É excelente ganhador de peso em confinamento. Seu peso na
idade adulta pode chegar a 900 kg nas vacas e 1.100 kg nos machos.
Devon
Origem
Características
Possui pelagem vermelho escuro com pele amarelada. Apresenta porte médio e com
chifres grossos e retos. A conformação é a de um animal aperfeiçoado para produção
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UNIDADE I │ PRINCIPAIS RAÇAS E CRUZAMENTOS EM BOVINOCULTURA DE CORTE
de carne, muito apto à engorda, com um rendimento de carcaça bastante elevado, que
pode chegar a 70%. Sua carne é de primeira qualidade, com alto marmoreio e fibra fina.
O peso vivo adulto é de 500kg nas fêmeas e pode chegar a 800 kg nos machos.
Shorthorn
Origem
Características
Sua pelagem é vermelha e branca, mas pode variar para rosilho e malhado com manchas
extensas ou ainda amarelo tostado escuro e pele clara sem pigmentação. O Shorthorn é
um excelente produtor de carne, devido a sua precocidade e engorda rápida, porém, a
qualidade da carne é pouco apreciada, pois a deposição de gordura corporal não é bem
distribuída. É pouco rústico, não se adapta ao clima quente e pastos de baixa qualidade,
contudo, é inigualável em pastagens de leguminosas de alta qualidade. Quando bem
terminados, o rendimento é elevado, podendo atingir 70%. Seu peso adulto varia entre
500 kg a 600 Kg nas vacas e pode chegar a 900 kg nos touros.
Marchigiana
Origem
Raça criada na Itália e trazida para o Brasil na década de 1980. Na região centro-oeste
do Brasil, produtores estão utilizando a raça Marchigiana em cruzamentos industriais
com raças zebuínas.
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PRINCIPAIS RAÇAS E CRUZAMENTOS EM BOVINOCULTURA DE CORTE │ UNIDADE I
Características
Piemontês
Origem
Características
Pelagem cinza, variando de claro a escuro e a pele é preta, como no zebu. O gado
Piemontês atual é o melhor exemplo da característica de dupla musculatura, com
ossos e pele fina. Como resultado, o Piemontês tem o melhor rendimento de carcaça
e melhor porcentagem de cortes de todas as raças. O Piemontês é uma raça moderna.
Sua produção de carne é diferenciada porque agrada os consumidores e atende as
exigências dos produtores. A habilidade materna e uma boa produção de leite são
também características dominantes nas fêmeas mestiças. O peso adulto dos machos
pode chegar aos 900 kg e nas fêmeas até 600 kg. O rendimento de carcaça é alto,
podendo chegar a 72%.
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UNIDADE I │ PRINCIPAIS RAÇAS E CRUZAMENTOS EM BOVINOCULTURA DE CORTE
Limousin
Origem
Características
A raça apresenta pelagem amarelo-claro, com áreas mais claras em torno dos olhos,
focinho e extremidades dos membros. Possui porte grande e forte, pois foi selecionado
para dupla aptidão (carne e trabalho). São eficientes quanto a conversão alimentar,
ganho de peso, rendimento de carcaça e fertilidade. O peso adulto dos machos pode
chegar a 1.200 kg e o das fêmeas variam entre 550 e 750 kg. O peso médio de nascimento
dos bezerros Limousin é de 36 kg. O rendimento de carcaça dos animais de raça pura
pode atingir facilmente 65%.
Chianina
Origem
Tem sua origem na Itália, numa região de grande variedade de solos de planície,
colinas e áreas montanhosas. Era inicialmente utilizado como animal de tração e foi
intensamente utilizada em cruzamentos para o melhoramento genético de outras raças
italianas. É pouco conhecida fora da Itália e sua introdução no Brasil ocorreu devido ao
interesse de criadores em cruzá-la com o Zebu.
Características
É caracterizada pela pelagem branca porcelana, contorno dos olhos e a vassoura da cauda
com pelos negros. O focinho, os chifres e as unhas são pretos. É uma das maiores raças
bovinas do mundo, podendo os machos alcançar até 1,80 m de altura. O peso adulto pode
chegar a 1.300 kg nos machos e 900 kg para as fêmeas. Tourinhos de 12 meses de idade
chegam a pesar entre 400 e 550 kg. Se destaca pelo rápido ganho de peso e crescimento
após a desmama. Sua precocidade possibilita o abate do animal muito jovem, dependendo
da dieta fornecida. Apresenta musculatura robusta com rendimento de carcaça de 60%. A
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PRINCIPAIS RAÇAS E CRUZAMENTOS EM BOVINOCULTURA DE CORTE │ UNIDADE I
carne é magra, com pouca gordura intramuscular e leve proporção de gordura subcutânea.
No Brasil, o gado Chianino é apreciado para cruzamentos, especialmente com o Nelore,
para a produção de novilhos precoces e pesados.
Belgian Blue
Origem
Características
Blonde D’aquitaine
Origem
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UNIDADE I │ PRINCIPAIS RAÇAS E CRUZAMENTOS EM BOVINOCULTURA DE CORTE
Características
Possui pelagem de cor parda, variando entre vermelho claro e amarelo e pele de
coloração rosada. Animal de porte grande e com excelente taxa de crescimento, é ideal
para produção de carne. O peso adulto das fêmeas pode atingir 800 kg e o dos machos
entre 1.000 e 1.200 kg. O rendimento de carcaça supera os 60%, com carne de alta
qualidade. Bastante utilizado no cruzamento com as raças Caracu e Nelore, resultando
em filhos precoces e com excelente ganho de peso.
Brahman
Origem
Criada nos Estados Unidos, a partir do cruzamento das raças Nelore, Guzerá, Gir,
Valley, Sindi dentre outras. Criadores da região sul do país viu nessa raça a solução do
impasse para a difícil criação de raças especializadas europeias, que não se adaptavam
bem ao clima local. Atualmente, o Brahman é encontrado nas extensas áreas do sul dos
EUA, onde predominam o calor e terras úmidas.
Características
Caracu
Origem
O gado Caracu tem sua origem muito discutida, mas é sabido que sua origem é
europeia. No Brasil desde o período colonial e com mais de quatro séculos de seleção, o
Caracu reúne qualidades importantes e é utilizado, principalmente, para o cruzamento
industrial.
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PRINCIPAIS RAÇAS E CRUZAMENTOS EM BOVINOCULTURA DE CORTE │ UNIDADE I
Características
Guzerá
Origem
Raça indiana, já esteve a ponto de desaparecer no Brasil, mas graças a alguns criadores
que acreditaram em seu potencial, tomou forças sendo hoje a terceira raça zebuína com
maior número de animais no Brasil.
Características
Tem a pelagem cinzenta prateada, quase preta com várias tonalidades e peso adulto
em torno de 600kg nas fêmeas e 900kg nos machos. Caracteriza-se por ser uma raça
produtora de carne, mas também se mostra bem adaptado como gado de trabalho e
de leite. Apresenta boa rusticidade, resistência a parasitas e podem ser criados em
pastagens de baixo valor nutricional.
Nelore
Origem
Raça criada na Índia, é fruto dos cruzamentos de um grupo de raças, sendo as mais
marcantes a Hariana e a Ongole. Chegou ao Brasil no fim do século XIX e foi então se
expandindo aos poucos, primeiro no Rio de Janeiro e, em seguida, São Paulo e Minas
Gerais. Em 1938, com a criação do Registro Genealógico, começou a serem definidas as
características raciais do Nelore. Estima-se que 80% do rebanho brasileiro de gado de
corte é Nelore ou anelorado.
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UNIDADE I │ PRINCIPAIS RAÇAS E CRUZAMENTOS EM BOVINOCULTURA DE CORTE
Características
Possuem pele preta ou escura com pelagem branca ou cinza-clara, sendo que os
machos apresentam o pescoço e o cupim normalmente mais escuros. Tem a seu favor
uma boa conformação, cabeça pequena, orelhas curtas, ossatura fina e alcança bom
desenvolvimento muscular. A raça Nelore é essencialmente produtora de carne.
Dentre as variedades trazidas da Índia, é a que vem sofrendo mais seleção. Apresenta
resistência natural à parasitas e ao clima quente. Excelente habilidade materna e a perda
de bezerro é mínima. Os bezerros Nelore são sadios, fortes, espertos. Experimentos
demonstraram que o Nelore pode oferecer carcaças com 16,5 arrobas, aos 26 meses de
idade e rendimento de 50 a 55%, quando alimentado em pastagem.
Simental
Origem
Características
Embora seja considerada uma raça mista para leite, carne e trabalho, sua seleção
genética evoluiu para a criação de animais mais precoces, com menor altura e maior
produção de leite e carne. O peso adulto das fêmeas é de 750 kg e dos machos de 1.000
kg. Apresenta crescimento rápido, com boa distribuição muscular, sem tendência a
acumular excesso de gordura subcutânea, ao passo que a gordura intramuscular é bem
desenvolvida, dando boa consistência e coloração às fibras musculares. O rendimento
de carcaça pode chegar a 65%.
Tabapuã
Origem
Raça brasileira fruto de cruzamentos entre o gado mocho nacional e animais de origem
indiana. Na década de 1940, no município de Tabapuã, em São Paulo, que a raça
assumiu as características que perduram até hoje. É predominantemente Nelore, com
algumas características do Guzerá.
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PRINCIPAIS RAÇAS E CRUZAMENTOS EM BOVINOCULTURA DE CORTE │ UNIDADE I
Características
Esse gado se assemelha bastante ao Brahman quanto à sua composição racial. Raça
mansa e sem chifres, traz facilidade para o manejo. O melhoramento genético é
estritamente econômico, ou seja, preocupa-se apenas em desenvolver um animal com
maior precocidade, ganho de peso e rendimento de carcaça. Alguns criadores procuram
orientar a seleção visando uma raça de dupla aptidão. Como produtor de carne, o mocho
já tem demonstrado seu potencial nas provas de ganho de peso. Como produtor de
leite, vem respondendo de maneira surpreendente aos estímulos da seleção zootécnica.
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Capítulo 2
Raças sintéticas e cruzamentos
Raças sintéticas
Em pecuária de corte, a definição raça sintética ou composta representam uma raça
formada por meio de cruzamentos entre raças diferentes.
Braford
Origem
Raça criada nos Estados Unidos, na década de 1960, fruto do cruzamento de vacas
Brahman e touros Hereford – Bradford. O animal Braford é aproximadamente 3/8
Brahman e 5/8 Hereford. Na década de 1980, a Associação de Criadores de Hereford
e a EMBRAPA-Bagé/RS introduziram a raça Braford no Brasil, tornando-se raça
registrada em 1993.
Características
Brangus
Origem
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PRINCIPAIS RAÇAS E CRUZAMENTOS EM BOVINOCULTURA DE CORTE │ UNIDADE I
Características
Bravon
Origem
Características
Canchim
Origem
Raça sintética brasileira, Canchim, foi desenvolvida na Embrapa e é composta por 5/8
Charolês e 3/8 Zebu. O objetivo com a criação dessa raça era desenvolver um bovino
de corte para os trópicos, tendo a rusticidade e a precocidade como características
combinadas.
Características
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UNIDADE I │ PRINCIPAIS RAÇAS E CRUZAMENTOS EM BOVINOCULTURA DE CORTE
Santa Gertrudis
Origem
Foi desenvolvida nos Estados Unidos, mais precisamente no Texas. Região de clima
quente e seco, o Santa Gertrudis possui 5/8 de sangue Shorthorn e 3/8 de sangue
Brahman, resultando assim em um animal com alta adaptação ao calor, mas que exige
boas pastagens para o seu crescimento rápido.
Características
Simbrasil
Origem
Raça brasileira, teve origem em 1945, a partir do cruzamento entre as reças Simental
e Guzerá. No entanto, outras raça zebuínas foram também testadas, como Indubrasil,
Gir, Tabapuã e Nelore, sendo esta ultima a mais utilizada nos últimos anos.
Características
Apresenta dupla aptidão para a produção de carne e leite. Devido à elevada produção
leiteira, para uma raça de corte, as matrizes desmamam bezerros com 250 kg, em regime
de pastejo. As principais características dessa raça são a rusticidade e precocidade, ideal
para criações em sistema extensivo.
Cruzamentos
O cruzamento racial na pecuária consiste no acasalamento, natural ou artificial,
entre indivíduos de raças diferentes, em que o macho é, geralmente, de raça pura,
buscando aumentar a eficiência produtiva final da progênie. O cruzamento entre raças
(heterozigose) busca gerar heterose (ou vigor híbrido), que permite que a produtividade
dos cruzados exceda a produtividade de ambas as raças-base.
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PRINCIPAIS RAÇAS E CRUZAMENTOS EM BOVINOCULTURA DE CORTE │ UNIDADE I
Grupamentos raciais
Zebuínos
Taurinos
Criados nos países europeus, a principal finalidade do melhoramento genético das raças
taurinas têm sido produzir carne para o consumo humano. Elas foram selecionadas
para velocidade de crescimento, precocidade sexual, fertilidade e qualidade de carne,
resultando em raças de tamanho intermediário. As raças mais usadas no Brasil são
Aberdeen Angus, Red Angus, Hereford e Charolês.
Raça sintética, é formada por duas raças com grau de sangue fixado, visando manter
bons níveis de heterose e adaptabilidade. Já as Compostas são formadas por 3 ou mais
raças. As raças Sintéticas mais usadas no Brasil são Canchim e Simbrasil. As raças
Compostas mais comuns no país são a Beefmaster e Montana.
Tipos de cruzamento
Terminal
Cruzamento entre duas raças em que todos os produtos serão destinados ao abate.
Exemplo:
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UNIDADE I │ PRINCIPAIS RAÇAS E CRUZAMENTOS EM BOVINOCULTURA DE CORTE
Rotacional
Nesse modelo, as fêmeas F1 serão sempre mantidas no rebanho e então acasaladas com
uma das raças parentais. Em regiões de clima tropical, com o Brasil, é aconselhado que
se use a raça mais adaptada as condições climática, sobre as matrizes F1. As grandes
vantagens desse tipo de cruzamento são que a reposição do plantel já está dentro do
sistema e ainda possibilita o melhoramento genético do rebanho em cada geração.
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EXIGÊNCIAS
NUTRICIONAIS Unidade iI
EM BOVINOS DE
CORTE
27
UNIDADE II │ EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS EM BOVINOS DE CORTE
Capítulo 1
Energia
28
EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS EM BOVINOS DE CORTE │ UNIDADE II
Figura 1. Fluxo de energia no corpo animal. A energia líquida de produção (ELp) envolve tecidos corporais, leite e
Onde: PCVZ = peso de corpo vazio e PVJ = peso vivo em jejum, ambos em kg.
Como pode ser observado, as equações de predição do PCVZ são diferentes para animais
confinados e em pastejo, pois o enchimento gastrointestinal de animais a pasto é maior,
visto que o tempo de digestão de alimentos fibrosos (pasto) é maior do que dietas com
alto teor de concentrado (grãos), como é visto em dietas de confinamento.
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UNIDADE II │ EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS EM BOVINOS DE CORTE
Já o ganho de peso vazio (GPCVZ) pode ser estimado a partir do ganho médio diário
(GMD), de acordo com as equações abaixo:
Confinamento
Nelore GPCVZ = 0,936 × GMD
Cruzados GPCVZ = 0,966 × GMD
Pasto GPCVZ = 0,955 × GMD
Onde: GPCVZ = ganho de peso de corpo vazio e GMD = ganho médio diário, ambos em
kg/dia.
Percebe-se que animais Nelore tem um menor GPCVZ em relação a animais cruzados,
devido à maior eficiência de conversão alimentar de animais cruzados com raças
taurinas.
Desta forma, o NRC (2016) estabeleceu que a exigência de ELm diária para novilhas e
machos castrados seriam de 77 kcal por unidade de peso vivo metabólico (PCVZ0,75) e
para machos inteiros da mesma raça seria 15% maior, ou seja, 89 kcal/kg de PCVZ0,75
por dia. Para animais zebuínos, o NRC (2000) concluiu que um desconto de 10%
sobre a exigência de ELm para novilhas e machos castrados deveria ser aplicado, o
que resultaria em uma exigência de 69 kcal por kg de peso metabólico por dia. O peso
30
EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS EM BOVINOS DE CORTE │ UNIDADE II
vivo metabólico (PCVZ0,75) nada mais é que o peso dos tecidos corporais ativos, em
que a energia é retida, como proteína e gordura, sendo estimada pela função do PCVZ
elevado a potência igual a 0,75.
Onde, PCVZeq = peso de corpo vazio equivalente e GPCVZ = ganho de peso de corpo
vazio desejado.
Essa equação foi construída, considerando-se como base um novilho castrado, com peso
de 478 kg de PV e com teor de gordura corporal de 28%. O NRC (2000) recomenda,
ainda, aplicar o fator de 18% a mais ou menos, para obter as exigências de energia
líquida para ganho de peso de fêmeas e machos inteiros, respectivamente.
31
Capítulo 2
Proteína
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EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS EM BOVINOS DE CORTE │ UNIDADE II
Já nas versões mais atuais do NRC (1996, 2000, 2016), o requerimento de proteína é
baseado no crescimento animal, no qual doses crescentes de proteína foram fornecidas a
grupos de animais e aquele em que não houve ganho ou perda de peso, foi determinado o
requerimento de PM de mantença (PMm), podendo ser alcançado pela equação abaixo:
33
UNIDADE II │ EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS EM BOVINOS DE CORTE
Desta forma, o NRC (2016) sugere a equação abaixo para estimar a exigência de PLg:
Onde, PLg = exigência de proteína líquida de ganho (g/d); ER = energia retida (Mcal/d);
PCVZ = peso de corpo vazio (kg).
O Br Corte (VALADARES FILHO et al., 2010) apresentou uma proposta para estimar
a exigência de PLg para animais criados no Brasil, os modelos obtidos para animais
Nelore e Cruzados foram:
Nelore
Machos inteiros PLg = 238,79 x GPCVZ – 15,68 x ER
Machos castrados e fêmeas PLg = 163,73 x GPCVZ – 4,65 x ER
Cruzados
Onde, PLg = exigência de proteína líquida de ganho (g/d); ER = energia retida (Mcal/d);
GPCVZ = ganho de peso de corpo vazio (kg).
34
EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS EM BOVINOS DE CORTE │ UNIDADE II
Com o objetivo de estimar a k, o NRC (2000) adotou a equação desenvolvida por Ainslie
et al. (1993) para animais de 150 a 300 kg:
35
Capítulo 3
Minerais
Pelo menos 16 minerais são requeridos por bovinos de corte, podendo ser divididos
em duas categorias gerais: macro e microminerais. Os macrominerais são minerais
dietéticos exigidos em gramas pelos animais e incluem: cálcio (Ca), fósforo (P), magnésio
(Mg), sódio (Na), potássio (K), enxofre (S) e cloro (Cl). Esses minerais são componentes
estruturais de ossos e outros tecidos e atuam como importantes constituintes dos
fluidos corporais. São responsáveis pela manutenção do balanço ácido-base, pressão
osmótica, potencial elétrico de membranas e transmissões nervosas. Microminerais
são requeridos em quantidades menores, em miligrama ou micrograma, e fazem parte
deste grupo: ferro (Fe), zinco (Zn), cobre (Cu), cromo (Cr), molibdênio (Mo), selênio
(S), iodo (I), manganês (Mn) e cobalto (Co). Os microminerais estão presentes nos
tecidos corporais em concentrações muito baixas e atuam como cofatores enzimáticos
ou como componentes hormonais do sistema endócrino.
Tabela 1. Requerimentos e tolerância máxima de minerais (com base no teor de matéria seca da dieta).
Requerimentoa
Mineral Unidade Crescimento e Terminação Gestação Lactação Tolerância máxima
Cálcio % - - - 0,02 x CMSb
Cloro % - - - -
Cromo mg/kg - - - 1000,00
Cobalto mg/kg 0,15 0,15 0,15 25,00
Cobre mg/kg 10,00 10,00 10,00 40,00
Iodo mg/kg 0,50 0,50 0,50 50,00
Ferro mg/kg 50,00 50,00 50,00 500,00
Magnésio % 0,10 0,12 0,20 0,40
Manganês mg/kg 20,00 40,00 40,00 1000,00
Molibdênio mg/kg - - - 5,00
Fósforo % - - - 0,007 x CMS
Potássio % 0,60 0,60 0,70 2,00
Selênio mg/kg 0,10 0,10 0,10 5,00
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EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS EM BOVINOS DE CORTE │ UNIDADE II
a
Valores não expressos na tabela podem ser encontrados no texto.
b
Consumo de matéria seca.
Macrominerais
Cálcio (Ca)
O esqueleto estoca uma grande reserva de Ca que pode ser utilizada para manter níveis
sanguíneos normais em momentos críticos. A deficiência de Ca em animais jovens e
em crescimento previne a formação óssea normal, causando raquitismo e retardo do
crescimento e desenvolvimento. Já o excesso de Ca é bem tolerado pelos ruminantes,
mas pode limitar o consumo, prejudicando o desempenho de animais em produção.
Fósforo (P)
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UNIDADE II │ EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS EM BOVINOS DE CORTE
Magnésio (Mg)
Mais de 300 enzimas são ativadas pelo Mg. O Mg está presente em processos complexos
como glicólise, transporte entre membranas, formação do AMP cíclico e transmissão
do código genético. Do total de Mg no corpo animal 69% estão nos ossos, 15% nos
músculos, 15% em outros tecidos moles e 1% em fluido extracelulares. O requerimento
de Mg para mantença é de 3 mg de Mg/kg de PV, para o ganho de peso é de 0,45 g de
Mg/kg de peso ganho e para vacas em lactação a exigência de Mg foi estimada em 0,12
g de Mg/kg de leite produzido e quando prenhes a exigência é de 0,12, 0,21 e 0,33 g de
Mg/dia para o início, meio e fim da lactação.
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EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS EM BOVINOS DE CORTE │ UNIDADE II
Potássio (K)
A deficiência desse mineral é rara, mas os sinais clínicos envolvem redução do consumo,
do ganho de peso e da produção de leite. O excesso de NaCl não apresenta efeitos tóxicos
em bovinos de corte, mesmo quando ingerido grandes quantidades, no entanto, se o
sal estiver presente na água de beber, poderá causar efeitos deletérios como anorexia,
perda de peso e de consumo e colapso muscular (NRC, 2016).
39
UNIDADE II │ EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS EM BOVINOS DE CORTE
Enxofre (S)
A carência de S pode causa anorexia, perda de peso, salivação e até morte. A perda
de peso ocorre devido à redução da digestibilidade ruminal, visto que a deficiência
de S prejudica o crescimento dos microrganismos ruminais, que os responsáveis pela
degradação de alimento no rúmen. Para animais que recebem nitrogênio não proteico
(ureia) como fonte de proteína, a suplementação com S é recomendada, visto que
a proteína verdadeira é fonte de S para as bactérias ruminais e na ausência delas a
suplementação deve ser feita. Ruminantes são mais susceptíveis que monogástricos
para intoxicação por S. Os sinais clínicos apresentados pelos animais incluem diarreia,
contração muscular, dispneia, podendo até levar a morte.
Microminerais
Cromo (Cr)
Cobalto (Co)
40
EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS EM BOVINOS DE CORTE │ UNIDADE II
Falta de apetite, limitação de crescimento e perda de peso são sinais de deficiência leve
de Co. Em casos mais severos, a perda de peso é acentuada e anemia. A falta de Co
no rúmen impede os microrganismos ruminais de converter succinato em propionato,
comprometendo o suprimento energético do ruminante.
Cobre (Cu)
Iodo (I)
Ferro (Fe)
41
UNIDADE II │ EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS EM BOVINOS DE CORTE
Manganês (Mn)
Molibdênio (Mo)
Selênio (Se)
Está presente na enzima glutationa peroxidase como componente, que por sua vez tem
a importante função de prevenir a oxidação degenerativa de tecidos corporais. Baseado
em estudos de pesquisa, o NRC (2016) estima que o requerimento de Se para bovinos
de corte é de 0,1 mg de Se/kg de MS da dieta. Vitamina E e Se atuam em conjunto e em
dietas com baixo teor de vitamina E, o requerimento de Se será maior para prevenir
certas anormalidades como distrofia muscular. A deficiência de Se em ruminantes
jovens resulta em degeneração e necrose da musculatura esquelética e cardíaca. Outros
sinais da carência de Se incluem rigidez muscular, laminite e falência cardíaca. O excesso
de Se em pastagens e outros alimentos destinados à alimentação de ruminantes pode
provocar intoxicação, por isso, a prevenção deve ser realizada. Corrigir os minerais do
solo, misturar alimentos ricos em Se com alimentos pobres para reduzir a concentração
desse mineral são medidas recomendadas.
42
EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS EM BOVINOS DE CORTE │ UNIDADE II
Zinco
43
MANEJO E
SUPLEMENTAÇÃO
ESTRATÉGICA Unidade iII
DE MATRIZES E
BEZERROS NA FASE
DE CRIA
A bovinocultura de corte brasileira tem passado por extensas transformações nas
últimas décadas devido à competição com outras fontes de proteína animal, tais como
as aves e os suínos (tabela 2), bem como à adequação da cadeia produtiva às exigências
do mercado interno e externo e também em função de problemas de ordem sanitária que
envolve nosso rebanho. Com a mudança do cenário extrativista e altamente lucrativo,
característico do setor pecuário, até meados dos anos 1980, para um cenário competitivo
e de rentabilidade baixa, emq ue as leis ambientais têm aumentado a pressão pelo
aumento da produtividade sem aumentar a área de pastagens, tem forçado ao produtor
rural a buscar por tecnologias que trazem intensificação para dentro da fazenda. Com
o aumento do preço da carne e antecipação da idade de abate, a busca pela reposição
(bezerro ou boi magro) cresceu e com isso a fase de cria passou a ser mais valorizada.
Tabela 2. Produção de carne bovina, suína e de frango (milhões de t) produzidas no Brasil em 2000 e 2010 e
44
Capítulo 1
Caracterização da fase de cria
45
UNIDADE III │ MANEJO E SUPLEMENTAÇÃO ESTRATÉGICA DE MATRIZES E BEZERROS NA FASE DE CRIA
46
MANEJO E SUPLEMENTAÇÃO ESTRATÉGICA DE MATRIZES E BEZERROS NA FASE DE CRIA │ UNIDADE III
O índice zootécnico que interfere no sistema de forma geral e o primeiro que deve ser
avaliado na fase de cria é o intervalo de partos (IP). Para matrizes de corte, o ideal
é que o intervalo médio de partos tivesse a duração de doze meses, com a produção
de um bezerro por vaca/ano. Nas condições normais da bovinocultura de corte no
Brasil, esse intervalo é sempre mais longo do que o desejável, comprometendo, assim,
o desempenho geral do rebanho.
Estação de monta
A estação de monta é uma ferramenta zootécnica que tem o objetivo de fornecer
condições especiais de alimentação, manejo e organização de mão de obra qualificada,
para que as matrizes e suas futuras crias tenham o máximo desempenho. O recomendado
é sincronizar o período de maior requerimento nutricional das vacas, que é o período
de lactação, com a época do ano de maior disponibilidade de forragens, ou seja, a
época das chuvas. Com isto pode-se conseguir melhores índices reprodutivos, pois é,
principalmente, na fase de lactação que deve haver fornecimento de nutrientes de forma
suficiente para não comprometer a nutrição da cria e nem os resultados reprodutivos
da próxima estação de monta da matriz. O objetivo a ser alcançado é ter pelo menos
80% de cios ocorrendo nos primeiros 50 dias da estação. Quanto mais rápido ocorrer
o cio e a fertilização, mais rapidamente será a estação de nascimento, o que melhora
os índices reprodutivos da matriz, e ainda, animais nascidos no início se desenvolvem
melhor que os nascidos mais tarde, como pode ser observado na tabela 3.
Época de parto
Características
Mai - Jul Jul - Set Set - Nov
Peso ao parto (kg) 374 375 396
Peso na monta (kg) 327 354 397
Taxa de concepção (%) 61,5 83,9 87
Peso do bezerro ao nascer (kg) 28,8 30,3 32,9
Peso do bezerro aos 5 meses (kg) 135 168 180
Fonte: Beefpoint (adaptado).
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UNIDADE III │ MANEJO E SUPLEMENTAÇÃO ESTRATÉGICA DE MATRIZES E BEZERROS NA FASE DE CRIA
Gestação
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Monta Desmama Parição
Fonte: Próprio autor (2017).
Na figura, a fase da lactação está demarcada pela sombra cinza (Out – Abr).
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MANEJO E SUPLEMENTAÇÃO ESTRATÉGICA DE MATRIZES E BEZERROS NA FASE DE CRIA │ UNIDADE III
De acordo com a figura 3, na estação de monta as matrizes estarão com uma boa condição
corporal, devido ao período de chuvas e boas pastagens, permitindo a manifestação do
cio e maior chance de concepção. Da mesma forma, o parto irá acontecer no início do
período chuvoso, coincidindo com a maior disponibilidade de forragem, dando uma
boa condição nutricional para a matriz parir e iniciar a lactação. As crias também serão
favorecidas, pelo maior aporte de leite e pela disponibilidade de pasto, auxiliando sua
transição para o estado de ruminante funcional. Com a desmama ocorrendo no início da
seca, é ideal para a matriz reduzir seu requerimento energético parando o aleitamento,
para manter sua condição corporal nesse período de restrição alimentar.
Escore de
condição Características
corporal (ECC)
Debilitada: a vaca está extremamente magra, sem nenhuma gordura detectável sobre os processos vertebrais espinhosos e
1
transversos, sobre os ossos da bacia e costelas. A inserção da cauda e as costelas estão bastante proeminentes.
49
UNIDADE III │ MANEJO E SUPLEMENTAÇÃO ESTRATÉGICA DE MATRIZES E BEZERROS NA FASE DE CRIA
Pobre: muito magra, mas a inserção da cauda e as costelas estão menos projetadas. Os processos espinhosos continuam, mas já
2
se nota alguma cobertura de tecido sobre a coluna vertebral.
Magra: as costelas ainda estão individualmente perceptíveis, mas não tão agudas ao toque. Existe gordura palpável sobre a espinha
3
e sobre a inserção da cauda e alguma cobertura sobre os ossos da bacia.
Limite: as costelas não são mais tão óbvias. Os processos espinhosos podem ser identificados com um toque. Existe um pouco de
4
gordura sobre as costelas, processos transversos e ossos da bacia.
Moderada: possui boa aparência geral. À palpação a gordura sobre as costelas parece esponjosa e as áreas nos dois lados da
5
inserção da cauda apresentam gordura palpável.
Moderada boa: é preciso aplicar pressão firme sobre a espinha para sentir os processos espinhosos. Há bastante gordura palpável
6
sobre as costelas e ao redor da inserção da cauda.
Boa: aparência gorda e claramente carrega uma grande quantidade de gordura. Sobre as costelas sente-se uma cobertura
7
esponjosa evidente e também ao redor da inserção da cauda. Já se nota gordura ao redor da vulva e na virilha.
Gorda: é quase impossível palpar os processos espinhosos. A vaca possui grandes depósitos de gordura sobre as costelas na
8
inserção de cauda e abaixo da vulva.
Extremamente gorda: a vaca está evidentemente obesa com a aparência de um bloco. A estrutura óssea não está muito aparente
9
e é difícil de senti-la. A mobilidade do animal está comprometida pelo excesso de gordura.
Fonte: adapstado de Dias (1991).
O mais comum em fazendas brasileiras são vacas e novilhas com escore corporal abaixo
do ideal, principalmente as que se enquadram no escore 3 (magra), no pré-parto. Esses
animais necessitam ganhar peso para apresentar boa condição corporal ao parto. Parte
do aumento de peso, que normalmente se observa no terço final da gestação e que pode
atingir de até 50 kg, é resultado do crescimento do feto, das membranas e do acúmulo
de líquidos fetais, bem como do aumento do próprio útero. Portanto, o animal pode ter
apresentado aumento de peso sem ter melhorado a sua condição corporal ou mesmo
pode ter tido perda de ECC, o que não é interessante, considerando que o desejado é
que as vacas, principalmente as de primeira cria, voltem a ciclar o mais rápido possível
após o parto e para isso a nutrição de qualidade é de extrema importância para ajudar
este animal a aumentar seu ECC mesmo durante a gestação.
O tempo para a matriz apresentar um novo cio fértil após o parto é fundamental
para obter um intervalo entre partos dentro da faixa esperada de um ano. A condição
corporal ao parto exerce grande influência sobre este parâmetro. O pesquisador norte-
americano Wiltbank (1994) demonstrou que 91% das vacas que pariram em condição
corporal boa (5-7) apresentaram o primeiro cio em até dois meses após o parto (tabela
4). Contudo, nem sempre, em condições brasileiras a campo, este primeiro cio pode ser
aproveitado e deve-se salientar que nesta situação dificilmente obtêm-se frequências
tão altas de animais ciclando em tão curto intervalo de tempo. Contudo, mesmo em
condições tropicais e animais zebuínos o produtor ou técnico que se basear neste estudo
tem ainda mais 30 dias para que sua matriz, que pariu em condição boa, venha a ciclar
e ser fertilizada, o que o fará atingir o objetivo desejado de um parto por ano.
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MANEJO E SUPLEMENTAÇÃO ESTRATÉGICA DE MATRIZES E BEZERROS NA FASE DE CRIA │ UNIDADE III
Tabela 5. Manifestação de cio aos 40, 50 e 60 dias após o parto, em relação à condição corporal ao parto.
Sistemas de acasalamento
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UNIDADE III │ MANEJO E SUPLEMENTAÇÃO ESTRATÉGICA DE MATRIZES E BEZERROS NA FASE DE CRIA
A monta controlada é aquele sistema em que o touro é mantido separado das fêmeas
durante a estação de monta. Quando se detecta o cio em alguma fêmea, esta é conduzida
junto ao touro onde permanece até a cobertura. Neste sistema de acasalamento, é possível
a identificação da paternidade, o desgaste dos touros é menor e em consequência disso
a relação touro por vaca pode ser maior. Entretanto, aumenta-se o trabalho em separar
e conduzir os animais para a monta.
A inseminação artificial é aquela em que as vacas são fecundadas via sêmen conservado.
Em propriedades de pecuária extensiva este sistema tem sido pouco aceito, por ser
mais tecnificado, mais trabalhoso e exigir maior infraestrutura na propriedade. A
utilização de rufiões auxilia na identificação do cio, mas não se deve deixar de levar em
conta a identificação visual dos animais em cio. A principal vantagem deste método
é a possibilidade de utilização do sêmen de reprodutores de alto potencial genético.
Com a expansão dos programas de cruzamento industrial, para a produção do novilho
precoce e a busca por melhoria no padrão genético do gado zebuíno, a procura pela
inseminação artificial aumentou consideravelmente. No entanto, os índices de prenhes,
por dose de sêmen ainda são baixos. Esse manejo implica na existência de instalações
apropriadas para apartação e contenção. E ainda existem dificuldades adicionais de
apartar a vaca e bezerro ao pé do restante do lote. A mão de obra deve ser treinada e
reciclada periodicamente. Existe ainda a opção de realizar a inseminação artificial e
fazer o repasse com o touro, aumentando a chance de concepção. Em quaisquer destes
sistemas discutidos, a sanidade e o manejo nutricional do rebanho são primícias básicas
para o seu sucesso.
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MANEJO E SUPLEMENTAÇÃO ESTRATÉGICA DE MATRIZES E BEZERROS NA FASE DE CRIA │ UNIDADE III
As fêmeas mais próximas do parto devem ser conduzidas aos chamados pastos de
maternidade, os quais devem ser constituídos, preferencialmente, por áreas de pastagem
mais baixa e densa, bem drenada, com água limpa e se possível com sombra. As vacas
devem entrar na maternidade cerca de 30 a 15 dias antes do parto e sair 15 dias após o
nascimento da cria. Dois pontos importantes devem ser observados neste momento: o
primeiro diz respeito ao cuidado que se deve ter com as matrizes com objetivo de evitar
abortos. Neste sentido, a mão-de-obra deve ser treinada e conscientizada a trabalhar
com os animais com o mínimo de estresse possível. O manejo no qual se agridem os
animais para que os mesmos obedeçam aos comandos dos vaqueiros deve ficar no
passado, o bem estar animal além de correto, melhora o desempenho produtivo. O
segundo ponto a ser observado é a importância da escrituração zootécnica, de modo
que se tenha em mãos a tabela de datas prováveis de partos da vacada, para então,
fazer a condução dos animais para o piquete de maternidade na data correta. Desta
forma, consegue-se organizar os lotes de vacas em função da data provável de parto e
também da ordem de parto. Outra recomendação importante com relação aos pastos
maternidade é a localização, eles devem ser de fácil acesso, preferencialmente, devem
estar localizados próximo do centro de manejo (curral). A vaca no momento do parto
tende a se afastar do rebanho para uma parição tranquila. Em um rebanho de gado de
corte comercial, raramente ocorre intervenção humana no parto e, por isso, é importante
a escolha correta da raça e características do touro a ser utilizado, para evitar raças que
produzem bezerros muito grandes em matrizes pequenas.
As maiores perdas ocorrem após o parto, por isso o manejo correto da matriz e do
bezerro irá garantir a sobrevivência e o desenvolvimento da cria e a reconcepção da
matriz. Quando o bezerro cai no chão, a vaca deve lamber vigorosamente a cria, para
retirar restos placentários do focinho e narinas e ativar a circulação do recém-nascido.
Logo após o parto, é importante garantir que a mãe e a cria passem um tempo sem
interferência externa, para ocorrer o contato visual, olfativo e auditivo. Algum momento
depois, o bezerro procura o úbere da mãe para realizar a primeira mamada, que é o
colostro, dando início ao processo de transmissão de imunidade.
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UNIDADE III │ MANEJO E SUPLEMENTAÇÃO ESTRATÉGICA DE MATRIZES E BEZERROS NA FASE DE CRIA
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MANEJO E SUPLEMENTAÇÃO ESTRATÉGICA DE MATRIZES E BEZERROS NA FASE DE CRIA │ UNIDADE III
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UNIDADE III │ MANEJO E SUPLEMENTAÇÃO ESTRATÉGICA DE MATRIZES E BEZERROS NA FASE DE CRIA
Para auxiliar no processo de decisão, Oliveira (2006) listou uma série de pontos para
indicar quando utilizar e quando não utilizar o creep feeding e ainda as vantagens e
desvantagens dessa tecnologia.
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MANEJO E SUPLEMENTAÇÃO ESTRATÉGICA DE MATRIZES E BEZERROS NA FASE DE CRIA │ UNIDADE III
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UNIDADE III │ MANEJO E SUPLEMENTAÇÃO ESTRATÉGICA DE MATRIZES E BEZERROS NA FASE DE CRIA
Desmama
Caracterizada pela separação definitiva da cria de sua mãe, tem como objetivo principal
a interrupção da amamentação, de modo a estimular o desenvolvimento ruminal dos
bezerros e eliminar o estresse da lactação das fêmeas (VALLE et al., 1998). Com isso,
após a interrupção da lactação as exigências nutricionais das fêmeas são bastante
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MANEJO E SUPLEMENTAÇÃO ESTRATÉGICA DE MATRIZES E BEZERROS NA FASE DE CRIA │ UNIDADE III
Desmama tradicional
Após a separação, os bezerros ficarão presos no curral por dois a três dias, com acesso
à água, ração e capim fresco. Nesta ocasião, serão pesados e marcados com o carimbo
do ano no lado direito da cara e a marca da fazenda na perna esquerda. As fêmeas serão
vacinadas contra a brucelose e marcadas com um “V” mais o último dígito do ano da
vacinação, no lado esquerdo da cara. Juntamente, deverá ser realizado o controle de
ecto e de endoparasitos, seguindo um rígido manejo sanitário, que deve ser definido
pelo calendário sanitário da região. Deve-se evitar ao máximo, nos primeiros dias após
a separação, distúrbios, transporte e comercialização dos animais recém-desmamados,
tomando assim, precauções para manter o estresse a um nível mínimo durante o
processo de desmama, permitindo que os bezerros se recuperem com mais rapidez.
Após a separação, os bezerros serão levados para um pasto de boa qualidade forrageira,
afastados das mães. Para amenizar o estresse da separação, pode-se colocar animais
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UNIDADE III │ MANEJO E SUPLEMENTAÇÃO ESTRATÉGICA DE MATRIZES E BEZERROS NA FASE DE CRIA
Desmama precoce
Para realizar a desmama precoce, os bezerros devem estar pesando mais de 90 kg, o
que normalmente ocorre entre 90 e 120 dias de vida. É necessário que os animais já
estejam adaptados ao creep feeding, pois juntamente com o pasto serão seus únicos
alimentos. O consumo de ração, bem como de suplemento mineral, nesta fase, será
muito baixo, mas terá por finalidade preparar o bezerro para o desmame. Deve-se
considerar que este tipo de desmama é utilizado visando uma recuperação corporal
mais rápida das mães, fazendo com que manifestem cio. A desmama precoce é uma
boa opção quando se trata de novilhas de primeira cria, cujo desenvolvimento ainda
é incompleto na ocasião de sua primeira parição, e com as exigências de crescimento,
gestação e posteriormente com a manutenção de sua cria, encontram-se em estado
corporal inadequado para manifestarem cio normalmente durante a estação. Caso as
vacas primíparas não receberem os cuidados necessários, poderão entrar na estação de
reprodução sem condições de manifestarem cio naturalmente.
Com a redução da idade, a desmama de seis para três meses, Gonçalves et al. (1981)
observaram que tanto as percentagens de manifestação do cio como a de prenhes
aumentaram. Contudo, deve-se salientar que a condição corporal das vacas ao parto
é uma fonte de variação que influencia estes resultados. Certamente, matrizes que
pariram com péssimo escore corporal demandam mais tempo para restabelecer a
atividade reprodutiva. Deste modo, a desmama dos bezerros aos três meses de idade
deixa de ser vantajosa.
Barcellos e Lobato (1997) estudaram os efeitos da idade de desmame (100 ou 180 dias
de vida) no desempenho reprodutivo das matrizes. As vacas que tiverem suas crias
desmamadas aos 100 dias de idade tiveram maiores ganhos de peso quando comparadas
com as vacas que desmamaram mais tarde (0,105 vs. 0,042 kg/dia, respectivamente)
durante o acasalamento e maiores taxas de prenhes (81,3 vs. 40,3%, respectivamente)
do que as vacas do tratamento de desmame aos 180 dias. As vacas que desmamaram
60
MANEJO E SUPLEMENTAÇÃO ESTRATÉGICA DE MATRIZES E BEZERROS NA FASE DE CRIA │ UNIDADE III
suas crias com 100 dias apresentaram menor intervalo entre partos, devido a maior
taxa de prenhes do que os animais do desmamados com 180 dias de idade. Ainda,
argumentaram que o desmame aos 100 dias de idade apresenta maiores efeitos quando
realizado às vacas com condição nutricional abalada no pós-parto.
61
Capítulo 2
Estratégias para a seca
Existem algumas estratégias adotadas por pecuaristas para manter a alimentação dos
animais a baixo custo no período de escassez, podendo ser por meio de diferimento de
parte do pasto de verão, cultivo de outras opções forrageiras como a cana-de-açúcar,
que fica madura e pronta para o uso justamente no inverno, confecção de silagem e/ou
feno, dentre outras medidas possíveis. Por outro lado, existem propriedades onde não
se faz planejamento e que acabam sendo forçados a se desfazer do excesso de animais,
ficando somente com a quantidade que a fazenda suporta nesse período, podendo até,
em casos extremos, ocorrer a morte de animais por desnutrição.
Diferimento de pastagem
O diferimento consiste em suspender a utilização de alguns pastos durante parte do
período de maior crescimento das plantas, para que a forragem acumulada (diferida)
possa ser utilizada no momento de escassez. O planejamento para diferir um pasto
inicia-se com o dimensionamento da área necessária, definir a época de vedação e
62
MANEJO E SUPLEMENTAÇÃO ESTRATÉGICA DE MATRIZES E BEZERROS NA FASE DE CRIA │ UNIDADE III
Devido à baixa qualidade do material diferido, vamos considerar que uma vaca consuma
cerca de 1,5% do seu peso vivo por dia e somente consiga colher cerca de 50% da massa
disponível, pois parte do material sofre pisoteio ou está coberto de fezes e urina. Então,
para um rebanho com vacas pesando 400 kg, para um período de 150 dias de seca,
a lotação seria de aproximadamente 1,36 vacas/ha. Resumidamente, foi estimado a
massa de pasto em uma área conhecida e extrapolada para 1 ha. Como o consumo de
ruminantes é calculado em MS, transforma-se a massa orgânica total em MS e faz as
deduções de acordo com as perdas por matéria morta, pisoteio e fezes e urina. Desta
forma, com a massa consumível do pasto estimada, basta dividir pelo numero de dias
de permanência no pasto diferido para se chegar a massa disponível por dia e então
com base no consumo dos animais da fazenda, estima-se a taxa de lotação por ha, como
pode ser visto, detalhadamente no quadro 2.
Quadro 2. Orçamentação forrageira para cálculo de taxa de lotação em pasto diferido (simulação hipotética).
63
UNIDADE III │ MANEJO E SUPLEMENTAÇÃO ESTRATÉGICA DE MATRIZES E BEZERROS NA FASE DE CRIA
Matéria seca verde disponível (2.450 x 50% de perda por pisoteio e fezes e urina) 1225 kg de MS verde disponível
Matéria seca verde disponível por dia (1.225/150 dias de pastejo) 8,7 kg de MS/dia/ha
Taxa de lotação baseado no consumo de uma vaca de 400 kg de PV (~6 kg de MS/dia) 1,36 vacas/ha
Fonte: Próprio autor.
64
MANEJO E SUPLEMENTAÇÃO ESTRATÉGICA DE MATRIZES E BEZERROS NA FASE DE CRIA │ UNIDADE III
Tabela 5. Efeito do tipo de suplementação proteica sobre o ganho de peso diário (GMD) de novilhas Nelore
Suplementação Valor-P
Item EPM1
Ureia F. Soja F. Soja+Ureia Trt2
Tipo3 Trt*Tipo
GMD, kg/d 0,20b 0,63ab 0,91a 0,18 0,05 0,002 0,63
Fonte: Rodriguez (2012). Erro padrão da média. Efeito de fontes de suplementação proteica. Novilhas prenhes e não
1 2 3
prenhes; novilhas prenhes tiveram maior GMD do que não prenhes (0,68 vs. 0,48 kg/d).
65
Capítulo 3
Estratégias para as águas
O período das águas é favorável a alta produção de pasto, pois além de temperatura e
luminosidade ideais, tem-se água em abundância. No entanto, existem duas formas
distintas de explorar a produção animal a pasto:, por meio do aumento do desempenho
animal ou pelo aumento da produtividade por área. No primeiro, o foco é o animal,
que terá uma grande disponibilidade de forragem, podendo escolher o que colher e
consumir, sem competição. Já no aumento da produtividade por área, o objetivo é
aumentar a produção forrageira do pasto no sentido de proporcionar maior taxa de
lotação por hectare, onde existe um controle rigoroso de manejo das pastagens e dos
animais que irão colher esse material.
66
MANEJO E SUPLEMENTAÇÃO ESTRATÉGICA DE MATRIZES E BEZERROS NA FASE DE CRIA │ UNIDADE III
Figura 4. Comparação entre o total de área plantada e a porcentagem de venda de fertilizantes nas principais
culturas agropecuárias.
A intensificação do uso das pastagens, com maior lotação animal no verão, certamente
é uma opção eficiente para aumento da produtividade. A produtividade animal em
pasto é função da disponibilidade e da qualidade de forragem em oferta, bem como das
características do animal. A adubação nitrogenada e potássica vêm sendo estudada a
fim de aumentar a produção e qualidade do dossel forrageiro e, consequentemente,
a lotação animal/ha e a produção total de carne do sistema. No entanto, poucos
estudos visam estabelecer níveis de adubação para máxima resposta biológica dentro
do sistema de pastejo e, igualmente importante, para a máxima resposta econômica
do sistema de produção.
67
UNIDADE III │ MANEJO E SUPLEMENTAÇÃO ESTRATÉGICA DE MATRIZES E BEZERROS NA FASE DE CRIA
Figura 5. Efeito da adubação com doses crescentes de nitrogênio sobre a capacidade de suporte (UA/ha) de
68
MANEJO E SUPLEMENTAÇÃO ESTRATÉGICA DE MATRIZES E BEZERROS NA FASE DE CRIA │ UNIDADE III
Tabela 8. Recomendação de altura do pasto para a entrada e saída dos animais em diferentes espécies
forrageiras.
69
SUPLEMENTAÇÃO
DE BOVINOS Unidade iV
DE CORTE EM
PASTAGEM
70
SUPLEMENTAÇÃO DE BOVINOS DE CORTE EM PASTAGEM │ UNIDADE IV
71
Capítulo 1
Suplementação em pastejo
De acordo com Poppi e McLennan (2007), existem duas formas principais de utilizar
suplementos: a primeira forma é de baixo custo, em que nutrientes limitantes,
normalmente o nitrogênio não proteico (NNP), são usados para atender os
requerimentos de N no rúmen, com objetivo principal de suprir as necessidades de
manutenção dos animais. Essa forma caracteriza-se por possibilitar ganho de peso
adicional de 200 a 300 g/animal/dia, e que resulta em custo-benefício alto, já que esses
72
SUPLEMENTAÇÃO DE BOVINOS DE CORTE EM PASTAGEM │ UNIDADE IV
Porém, para atender os pecuaristas que almejam antecipar a idade de abate faz-se
necessário uma segunda forma de suplementação, que possibilite maior ganho de peso
e, para tanto, podem ser utilizados suplementos proteicos e/ou energéticos. Deve ser
considerado o maior risco nesse tipo de técnica, devendo ser observado com cautela
o custo-benefício, uma vez que os animais receberão quantidades significativas de
alimento suplementar, de alto custo, para garantir aumento no consumo de energia
metabolizável que promoverá maiores ganhos por animal/dia.
Quando essas pastagens são bem manejadas e adubadas com nitrogênio para permitir
altas taxas de lotação, o teor de proteína bruta da forragem colhida é elevado,
normalmente entre 12 a 22% (Santos et al., 2014), além de ser proteína de alta
73
UNIDADE IV │ SUPLEMENTAÇÃO DE BOVINOS DE CORTE EM PASTAGEM
O consumo de suplementos por bovinos pode causar efeito negativo sobre o consumo
de forragem, conhecido como efeito subistitutivo. Silva et al. (2010) observaram
redução no consumo de FDN da forragem, quando foi fornecido 0,6% do peso corporal
(PC) de concentrado proteico/energético aos animais. Silva et al. (2009) ressaltam
haver uma tendência de redução maior do consumo de forragem, quando a ingestão de
suplemento supera os níveis de 0,2-0,3% do PV e acrescentam que esse decréscimo pode
ser ainda maior, quando a oferta de suplemento é de 0,8% do PV, pois, nesse contexto,
o limite biológico de ganho de peso dos animais a pasto está próximo de ser alcançado.
O decréscimo no consumo de pasto ocorre devido ao efeito substitutivo da forragem
pelo concentrado fornecido no cocho e pelo efeito do suplemento no ambiente ruminal,
74
SUPLEMENTAÇÃO DE BOVINOS DE CORTE EM PASTAGEM │ UNIDADE IV
Uma vez que a suplementação energética não causou prejuízos (redução) no CMS total,
o efeito de substituição deve ser analisado positivamente, pois o excedente de forragem
gerado pela substituição deverá ser aproveitado por meio do aumento de animais na
75
UNIDADE IV │ SUPLEMENTAÇÃO DE BOVINOS DE CORTE EM PASTAGEM
área, resultando no aumento da taxa de lotação das pastagens (PERRY et al.; 1971;
SANTOS et al.; 2009). O aumento do desempenho pela maior ingestão de nutrientes
e da taxa de lotação em função do efeito de substituição é benefício da suplementação
concentrada que deve ser aproveitado pelo produtor para aumento da produtividade
(kg de carne por hectare).
76
SUPLEMENTAÇÃO DE BOVINOS DE CORTE EM PASTAGEM │ UNIDADE IV
Hodgson (1985) propôs que a massa do bocado seria o produto entre a densidade da
forragem e o volume do bocado no estrado pastejado, sendo este último o produto entre
a sua área e sua profundidade. Entende – se por profundidade do bocado a diferença
entre a altura inicial da planta e a altura residual após o pastejo; e por área do bocado
o quociente entre a área total pastejada e o número de bocados realizados (UNGAR,
1996). Avaliando o comportamento alimentar de bovinos de corte em crescimento
em pastejo de capim Marandu, Sarmento (2003) observou uma redução quadrática
no tempo de pastejo, uma redução linear na taxa de bocados e um aumento linear no
tamanho do bocado com o aumento da altura do dossel forrageiro, indicando como as
características do pasto influênciam o comportamento alimentar de bovinos em pastejo.
77
UNIDADE IV │ SUPLEMENTAÇÃO DE BOVINOS DE CORTE EM PASTAGEM
78
SUPLEMENTAÇÃO DE BOVINOS DE CORTE EM PASTAGEM │ UNIDADE IV
Nos trabalhos revisados por Krysl e Hess (1993) sobre a suplementação alimentar de
bovinos no período das águas, observou-se que a suplementação proteica diminuiu o
tempo de pastejo e aumentou a eficiência de pastejo; da mesma forma a suplementação
energética também diminuiu o tempo de pastejo. Entretanto, o aumento na concentração
energética do suplemento não alterou ou diminuiu a eficiência de pastejo.
79
UNIDADE IV │ SUPLEMENTAÇÃO DE BOVINOS DE CORTE EM PASTAGEM
Além disso, alguns fatores podem reduzir a aderência dos microrganismos fibrolíticos ao
substrato, como a presença de inibidores de fixação, como o amido solúvel, resultando
na inibição da digestão da celulose (OWENS; GOETSCH, 1993). Mertens e Loften
(1980) concluíram que a redução na degradação da FDN do feno de Cynodondactylon
foi diretamente proporcional à adição de amido, a qual implicou em maior tempo para
a colonização das partículas do alimento pelos microrganismos ruminais. Costa et al.
(2009), em experimento in vitro, concluíram que a inclusão de amido ou pectina em
forragem de alta qualidade afetaram negativamente a digestibilidade da FDN.
80
SUPLEMENTAÇÃO DE BOVINOS DE CORTE EM PASTAGEM │ UNIDADE IV
81
UNIDADE IV │ SUPLEMENTAÇÃO DE BOVINOS DE CORTE EM PASTAGEM
solúvel, contendo mais de 210 g de PB por kg de MOD, nessas condições, ocorre aumento
considerável na degradabilidade ruminal da proteína da forragem (SANTOS et al., 2005).
Por exemplo, no trabalho de Ramalho (2006), teores médios de PB de 17,4% na MS e
digestibilidade da MO de 59,4% resultam em 325 g de PB por kg de MOD, valor que,
segundo Poppi e McLennan (1995) acarreta em baixo aproveitamento da PB da forragem
no processo de degradação ruminal e síntese de PB microbiana.
Várias questões ainda não foram totalmente compreendidas devido ao fato de não
possuírem entendimento completo dos fatores que interagem, tais como, teor de
proteína no suplemento, exigências de N pelos micro-organismos ruminais, forma física
do suplemento e características de nutrientes a ser utilizado, amido ou fibra altamente
digestível e os efeitos sobre a utilização dos componentes fibrosos da forragem.
82
Capítulo 2
Recria de machos e fêmeas para
reposição
Portanto, a nutrição das futuras matrizes deve-se basear nas taxas de ganho de
peso necessário para que as novilhas alcancem o peso adequado antes do início do
acasalamento. Evidente que o peso a desmama é muito importante nesse processo, bem
como a velocidade ótima de desenvolvimento, a qual deve ser encontrada tendo em vista
os preços dos alimentos e do próprio produto, nesse caso, o bezerro. Uma estratégia
interessante é separar os animais mais leves para fornecer alguma suplementação
diferenciada, com mais energia, visando aumentar o ganho de peso diário para alcançar
o restante do lote.
A fazenda de cria, normalmente, segura as novilhas para fazer a reposição das fêmeas
do rebanho e, por isso, é de extrema importância planejar e executar programas de
manejo alimentar e seleção genética que aumentem a eficiência do rebanho ao longo das
gerações, e a redução da idade de entrada na puberdade se apresenta com uma forma
eficiente de aumentar a produtividade. A redução da idade ao primeiro acasalamento
83
UNIDADE IV │ SUPLEMENTAÇÃO DE BOVINOS DE CORTE EM PASTAGEM
para menos de dois anos resulta em impactos econômicos mais significativos que a
redução da idade de abate de novilhos dos quatro para os dois anos de idade (PEREIRA
NETO et al., 1999). No entanto, é importante fazer o planejamento nutricional
corretamente, para permitir um crescimento ósseo e muscular antes da deposição
excessiva de gordura no corpo desse animal, para não comprometer o crescimento e
desenvolvimento fisiológico dessa futura matriz.
Desta forma, para que esses objetivos sejam alcançados é necessário que o produtor
observe os seguintes pontos abaixo, recomendados por Valle (1998).
84
SUPLEMENTAÇÃO DE BOVINOS DE CORTE EM PASTAGEM │ UNIDADE IV
Vários fatores podem afetar a composição corporal, como peso do animal, taxa de
ganho, tipo racial, sexo, características da dieta, dentre outros (FOX; BLACK, 1984).
Por meio da suplementação, se torna possível obter melhor acabamento de carcaças
com animais mais jovens, pelo fato de propiciar uma complementação energética e
proteica das pastagens, explorando o potencial de ganho de peso dos animais.
85
UNIDADE IV │ SUPLEMENTAÇÃO DE BOVINOS DE CORTE EM PASTAGEM
O ganho de massa corporal é uma das variáveis mais utilizadas para se avaliar o
crescimento e, consequentemente, o desempenho animal. Neste contexto, o aumento
no ganho de peso (GP) consiste em reflexo do desenvolvimento muscular e pode ser
estimado por meio da observação da área da seção transversal do músculo Longissimus
dorsi, entre as 12ª e 13ª costelas, denominado de área de olho de lombo (AOL). A
espessura de gordura subcutânea (EGS), também avaliada na secção transversal do
músculo Longissimus dorsi, indica o grau de acabamento da carcaça e proporciona
indícios de carne de qualidade. A área de olho-de-lombo é altamente correlacionada ao
total de músculos na carcaça e, quando utilizada em conjunto com outros parâmetros,
auxilia na avaliação do rendimento em cortes desossados da carcaça (Costa et al., 2002).
Vaz et al. (2013), em estudo com novilhos da raça Bradford mantidos à pasto, no
período das águas, recebendo ou não suplementação energética-proteica (casca de
soja, 7g/kg), observaram aumento do ECC dos animais quando suplementados, em
que o desenvolvimento muscular e deposição de gordura foram influenciadas pela
suplementação (P<0,05), resultando em aumento da AOL (cm²) e EGC (mm) do
músculo Longissimus dorsi em 12,07 e 42,79%, respectivamente, em relação aos animais
que não receberam suplementação. Simultaneamente, o desenvolvimento muscular
foi consistente com o aumento do GP, em que os animais suplementados no verão
ganharam 60,5% a mais de GP, resultando em maior peso corporal em comparação aos
animais que não receberam suplementação durante o período experimental (352,5 vs.
322,5 kg, P<0,05).
86
SUPLEMENTAÇÃO DE BOVINOS DE CORTE EM PASTAGEM │ UNIDADE IV
Correia (2006) observou ganhos de peso linear crescente de 595, 673, 810 e 968 g/
dia em animais cruzados recriados em pastagens de capim-marandu com 12,5% PB
suplementados com concentrado energético em 0, 3, 6 e 9 g/kg do peso vivo por dia,
respectivamente. Constatou-se ainda o aumento da taxa de lotação e da produção de
arrobas por hectare.
Nos resultados de uma revisão descritos por Dórea (2011), a taxa de lotação média nas
águas foi de 3,84 UA/ha e o GMD nas águas dos animais suplementados foi de 840
g por dia contra 801 g por dia no tratamento não suplementado. O ganho elevado foi
explicado pelo bom valor nutricional e oferta de forragem adequada.
De acordo com Poppi e McLennan (2007), pode ser verificada variação da composição
dos pastos, influenciando o desempenho de animais nas diferentes épocas do ano, cujo
mesmo tipo de suplemento, farelo proteico, fornecido na mesma quantidade, ou seja,
em igual porcentagem de peso corporal, por exemplo, 5 g/kg PC, proporcionou taxas de
ganho de peso variando de 500 g na seca, 1.200 g nas águas e 800 g na transição águas/
seca, enfatizando a necessidade de estudar estratégias diferentes de suplementação
com base em época do ano e taxa de ganho desejado.
87
UNIDADE IV │ SUPLEMENTAÇÃO DE BOVINOS DE CORTE EM PASTAGEM
Em revisão feita por Santos et al. (2007) três estudos com suplementação, na época das
águas, com diferentes doses e fontes suplementares, apontaram que suplementação na
dose de 6 g/kg do PC tanto proteica, como energética, como proteico/energética (com
forragem disponível apresentando mais de 11% de PB) melhora o ganho de peso, taxa
de lotação e produção de carne por área.
88
SUPLEMENTAÇÃO DE BOVINOS DE CORTE EM PASTAGEM │ UNIDADE IV
Figura 6. Ganho médio diário de garrotes Nelore e Angus (F1 – Angus x Nelore) com suplementação energética
89
UNIDADE IV │ SUPLEMENTAÇÃO DE BOVINOS DE CORTE EM PASTAGEM
o GMD foi maior para SE na maior lotação e independente do grupo genético (Figura
1), o que acarretou também em maiores ganhos por área. Quando comparamos SE com
grupo controle, isto representa um aumento médio de quase 34% na capacidade de
suporte dos pastos.
Tabela 9. Taxa de lotação de garrotes em pastejo rotativo no verão com suplementação energética ou
suplementação mineral.
Tratamentos1
Variável EPM Valor-P
SM SE
Lotação UA/ha 7,25 9,70 0,23 < 0,01
1
SM = suplementação mineral; SE = suplementação energética.
Fonte: Santos et al. (2016).
Essas informações são muito importantes para a produção em gado de corte, pois todo
o planejamento forrageiro e estratégias de compra ou venda de animais das fazendas
dependem da adequação da capacidade de suporte dos pastos e da disponibilidade de
forragem no período do verão. Dessa forma, pela intensificação dos sistemas a pasto,
o melhor aproveitamento da abundante e mais barata oferta de alimento de maior
qualidade nesse período, torna-se fundamental para aumentarmos a produtividade da
pecuária de corte no país visto que precisamos aumentar a produção de carne bovina
para atender as demandas internas e externas.
A suplementação nas águas pode ser altamente viável em sistemas intensivos que
trabalham com altas taxas de lotação, com alta produção por área, mas com menor
ganho por animal. Nesses casos, a suplementação em níveis moderados pode dobrar a
produção de carne por área, em virtude do aumento significativo do GPD dos animais
e da taxa de lotação dos pastos (DÓREA, 2011). Além disso, a suplementação com
concentrado é uma ferramenta para aumentar a ingestão de nutrientes e reduzir gasto
com atividade de pastejo (SANTOS et al., 2014).
Essa prática pode favorecer a preparação dos animais para serem abatidos no final das
águas, assim como encurtar o período de confinamento dos animais na entressafra.
Portanto, a suplementação com concentrado durante o período de pastejo nas águas,
pode levar a redução no tempo de abate, reduzindo os gastos durante o confinamento e
aumentando a produtividade geral do sistema.
90
CONFINAMENTO
DE BOVINOS DE Unidade V
CORTE
Apesar da grande maioria dos animais abatidos no Brasil serem criados, recriados
e terminados a pasto, o processo de profissionalização da pecuária nacional tem
estimulado o interesse pela terminação de animais em confinamento. O número de
animais terminados em confinamento no país vem crescendo a cada ano. O aumento
do interesse de pecuaristas e indústrias da carne pela terminação de animais em
confinamento decorre, principalmente, da necessidade em melhorar a eficiência
produtiva e a qualidade da carne produzida. Esse processo é fundamental para garantir
a competitividade do setor tanto no mercado nacional como no internacional.
91
Capítulo 1
Concentrado na dieta
Tabela 10. Análise descritiva dos resultados de 15 estudos avaliando a resposta do ganho de peso de bovinos de
92
CONFINAMENTO DE BOVINOS DE CORTE │ UNIDADE V
relativos de venda da carne. Uma vez que o aumento da proporção de grãos na dieta
normalmente se traduz em aumento do consumo de energia, espera-se um maior ganho
de peso e redução no tempo total do confinamento.
Figura 7. Relação entre nível de concentrado na dieta e ganho médio diário, ajustado para efeito de estudos (33
tratamentos em 13 estudos).
93
UNIDADE V │ CONFINAMENTO DE BOVINOS DE CORTE
energético utilizado (79% dos nutricionistas). O custo atual do grão de milho é R$520/t,
ou R$577/t MS.
Figura 8. Relação entre custo do volumoso e preço máximo do concentrado para que seja vantajoso utilizar mais
*Preço de venda da @ em R$98, CMS=9,2 kg/d, custo fixo de R$1,2/d, preço do boi magro de 12,5@ de R$1.100,00.
Fonte: Silva et al. (2011).
Suplementação energética
Os grãos de cereais são os principais alimentos energéticos utilizados em rações de
bovinos em confinamento, e o amido representa de 60 a 70% da maioria dos grãos,
portanto, maximizar o uso deste nutriente é fundamental para se obter alta eficiência
alimentar dos animais confinados (OWENS et al., 1997; HUNTINGTON, 1997).
94
CONFINAMENTO DE BOVINOS DE CORTE │ UNIDADE V
O milho é o grão mais utilizado como fonte de amido, geralmente o principal componente
energético dos concentrados. Possui aproximadamente 85% de carboidratos totais, que
são representados principalmente por amido (70% da MS) (ROONEY; PFLUGFELDER,
1986). Podendo ser usado como grão inteiro ou processado de inúmeras formas na
alimentação animal. As várias formas de processamento podem alterar-lhe o valor
nutritivo, mudando o local e a intensidade de digestão. Na maioria das vezes, os
confinamentos utilizam o grão de milho na forma de fubá ou quirera (milho moído em
peneira grossa), sendo de modo geral a base energética das dietas.
95
UNIDADE V │ CONFINAMENTO DE BOVINOS DE CORTE
Dessa forma, a inclusão de polpa cítrica, em combinação com fontes de amido, poderia
evitar o aparecimento de problemas ruminais. No entanto, alguns trabalhos mostram
que o milho pode ser substituído em 100% pela polpa cítrica sem queda no consumo,
desempenho e atributos de carcaça, desde que os animais sejam alimentados com baixo
teor de concentrado na dieta (PRADO et al., 2000; HENRIQUE et al.,1998). Já quando
a inclusão do concentrado é maior, aumentando, portanto, a inclusão de polpa em
substituição ao milho, há uma queda no consumo e consequentemente desempenho
dos animais (HENRIQUE et al.,1998).
Henrique et al. (1998) avaliaram a substituição de amido por pectina em dietas com
diferentes níveis de concentrado sobre o desempenho animal e as características da
carcaça de tourinhos Santa Gertrudis. Os animais alimentados com dieta de 80% de
concentrado contendo polpa cítrica tiveram menor CMS, GMD e eficiência alimentar
em relação aos alimentados com milho na mesma proporção de concentrado. Já quando
a proporção de concentrado foi menor, 20% na MS da dieta, essas características não
apresentaram efeito com a substituição de milho fubá para polpa cítrica.
96
CONFINAMENTO DE BOVINOS DE CORTE │ UNIDADE V
Para consumo de matéria seca (CMS), foi observado efeito para a dieta com 60% de
concentrado (P=0,005), sendo que o maior consumo foi o tratamento com milho
fubá, diferindo das demais (tabela 2). No entanto, para a dieta 80%, o consumo não
diferiu entre a fonte de carboidrato. Já para a interação Dieta*CHO observou-se efeito
de dieta apenas quando se utilizou milho como fonte de carboidratos, sendo que os
animais consumindo 60% de concentrado na dieta tiveram maior consumo que
os animais alimentados com 80% de concentrado na dieta. Talvez esse fato se deva
a menor possibilidade de distúrbio metabólico dos animais consumindo milho em
dietas com 60% de concentrado. Uma vez que o milho fubá é altamente digestível no
rúmen, dietas com altas quantidades desse ingrediente, como é o caso da dieta com
80% de concentrado, podem culminar em redução acentuada do pH ruminal, fazendo
com que o baixo pH permaneça por algumas horas, caracterizando quadros de acidose
subclínica. Nesses casos o CMS dos animais é diminuído. Além disso, a maior quantia
de concentrado na dieta pode levar a um excesso de produção de propionato no rúmen,
levando a excesso de oxidação deste substrato no fígado, o que possui efeito hipofágico.
Para conversão alimentar (CA), houve tendência de efeito para a fonte de carboidrato
utilizada, sendo que o milho floculado apresentou melhores valores (Tabela 11). Isso
pode ser explicado, uma vez que o processo de floculação do grão pode aumentar a
digestibilidade ruminal e consequentemente total do amido, em relação a outras
formas de processamento do grão (HUNTINGTON, 1997; THEURER et al., 1999),
proporcionando melhor CA para os animais alimentados com milho floculado em
substituição ao fubá.
Para GMD, houve efeito da interação Dieta CHO sendo que houve efeito de dieta
somente para a fonte milho, indicando que o uso de 80% de concentrado a base de milho
moído teve menor GMD do que com 60% de concentrado, o que provavelmente reflete
o menor consumo para os animais desse grupo. De acordo com Mertens et al. (1994),
o consumo de matéria seca é responsável por 60 a 90% das variações de desempenho
animal e, consequentemente, o peso dentre outras características de carcaça.
97
UNIDADE V │ CONFINAMENTO DE BOVINOS DE CORTE
milho moído, sendo que o milho floculado teve valor intermediário (tabela 11). Não
houve diferença entre as fontes de CHO para dietas com 80% de concentrado na MS
(P=0,46).
Tabela 11. Médias e erros padrões das medias consumo de matéria seca (CMS), conversão alimentar (CA) e
CMS 12,2a 10,6b 10,4b 9,7a 10a 10,3a 0,4 0,203 0,0056 0,027
CA 8,48 7,98 8,82 8,42 7,58 8,27 0,17 0,093 0,269 0,779
GMD 1,47Aa 1,31ab 1,18b 1,19B 1,25 1,32 0,04 0,622 0,272 0,033
1
Dietas com 60 ou 80% de concentrado na MS. 2M=milho moído; F=milho floculado; P=polpa cítrica. 3Erro padrão da média. a,bMédias seguidas de
letras minúsculas diferem quanto ao efeito de fonte de CHO dentro de dieta (60 ou 80% de concentrado). A,BMédias seguidas de letras maiúsculas
diferem quanto ao efeito de dieta dentro da mesma fonte de CHO (milho moído, floculado ou polpa cítrica).
Fonte: Consolo (2012, dados não publicados).
Suplementação proteica
Nutricionalmente, quando pensamos em suplementação proteica para os ruminantes,
o enfoque deve estar dirigido a aumentar a eficiência na produção de proteína
microbiana (Pmic). A Pmic pode responder ao redor de 45 a 55% dos requerimentos
de PM no intestino delgado de vacas leiteiras de alta produção, 55 a 65% em bovinos
de corte confinados com rações ricas em energia e mais de 65% em bovinos mantidos
exclusivamente em pastagens. Portanto, todo e qualquer programa nutricional só terá
sucesso se a produção de Pmic for otimizada. Trabalhos conduzidos in situ tem sugerido
requerimentos de N-amoniacal de 220 mg/L de fluído ruminal para maximizar a
fermentação de fontes de carboidratos de alta degradabilidade (LENG, 1990).
98
CONFINAMENTO DE BOVINOS DE CORTE │ UNIDADE V
Cardoso et al. (2004) forneceram a novilhos simental com um peso médio de 400
kg uma dieta de cana-de-açúcar + 100 g de ureia, adicionado de 4kg de concentrado
(16% PB) por dia, obtendo consumo total de 1,6% do PV, ganhos de peso diários de 1,11
Kg e conversão alimentar de 6,42 Kg de MS/Kg de ganho. Os autores esclarecem que
este elevado ganho de peso pode ser atribuído à elevada quantidade de concentrado
oferecido (4 kg) e também ao alto potêncial genético da raça simental.
99
UNIDADE V │ CONFINAMENTO DE BOVINOS DE CORTE
de 103 novilhas Nelore (52 vazias e 51 prenhes – tabela 12). Os suplementos foram
balanceados segundo os requerimentos descrito no NRC (2000) de gado de corte,
visando GMD de 0,25 kg/d para suplementação somente com ureia (11% PB na dieta);
GMD de 0,45 kg/d para suplementação somente com farelo de soja (dieta deficiente
em PDR, 9,6%PB), e GMD de 0,45 kg/d para suplementação com farelo de soja+ureia
(11,3% PB na dieta).
Tabela 12. Efeito do tipo de suplementação proteica sobre o ganho de peso de novilhas Nelore prenhes ou não
prenhes.
Suplementação Valor-P
Item
Ureia F. Soja F. Soja+Ureia EPM 1 Trt2 Tipo3 Trt*Tipo
GMD, kg/d 0,20b 0,63ab 0,91a 0,18 0,05 0,002 0,63
1
Erro padrão da média. 2Efeito de fontes de suplementação proteica. 3Novilhas prenhes e não prenhes; novilhas prenhes tiveram maior GMD do que não
prenhes (0,68 vs. 0,48 kg/d).
Fonte: Rodriguez (2012).
100
Capítulo 2
Forragens
Qualidade de forragem
Qualidade de forragem pode ser definida por três componentes: digestibilidade, potencial
de consumo e eficiência energética (RAYMOND, 1969). Estes três componentes não
podem ser definidos na ausência do animal e, portanto, não podem ser estritamente
definidos como parâmetros da planta (CASLER, 1997).
101
UNIDADE V │ CONFINAMENTO DE BOVINOS DE CORTE
Tabela 13. Amplitude da digestibilidade in vitro (30h) do colmo de 11 genótipos de P. maximum colhidos em três
estágios de maturidade.
Dias de crescimento1
Itens 30d 60d 90d
DIVFDN, %FDN
Média 45,0 44,9 31,9
Mínimo 38,1 34,9 25,8
Máximo 50,0 51,3 39,6
EPM 3
2,6 2,7 3,2
Efeito genótipo4 * * *
1
Dias de crescimento após corte de nivelamento. 2Digestibilidade in vitro (30h) da FDN. 3EPM: Erro padrão da média. 4Probabilidade de efeito significativo
de genótipo. * P < 0,05.
Fonte: adaptado de Stabile et al. (2010).
Esta grande variação genética é esperada, uma vez que programas de melhoramento
não focam a digestibilidade da FDN, mantendo grande variabilidade genética dentro
102
CONFINAMENTO DE BOVINOS DE CORTE │ UNIDADE V
da população. isso atmbém foi reportando em híbridos de milho (tabela 14) e cana-de-
açúcar (tabela 15).
Tabela 14. Amplitude da digestibilidade in vitro (30h) do 4º internódio do colmo de 15 híbridos top crosses de
Dias de crescimento
Itens 90d 120d 150d
DIVFDN, %FDN
Média 30,5 27,7 23,7
Mínimo 20,1 21,8 16,4
Máximo 39,3 32,3 29,3
EPM 1
6,9 2,6 3,3
Efeito genótipo 2
ns * *
1
Digestibilidade in vitro (30h) da FDN. EPM: Erro padrão da média. Probabilidade de efeito significativo de genótipo. Estes são classificados como: ns:
2 2
Tabela 15. Amplitude da digestibilidade in vitro (30h) da planta inteira de nove genótipos de cana-de-açúcar
não significativo.
Fonte: adaptado de Carvalho et al. (2010).
Tabela 16. Amplitude da digestibilidade in vitro, proteína bruta e FDN de silagens de milho analisadas no ano de
103
UNIDADE V │ CONFINAMENTO DE BOVINOS DE CORTE
A maioria dos estudos avaliando diferenças na DIVFDN comparou silagem de milho feita
com milho de nervura marrom (brown-midrib) contra silagem de milho convencional.
Alguns estudos adotaram estratégias diferentes. Ivan et al. (2005) comparou silagens
de milho com alto ou baixo teor de parede celular, e relatou que o híbrido com maior
teor de FDN também tinha maior DIVFDN, o que resultou em maior consumo e maior
produção de leite.
De acordo com a literatura consultada até o memomento, ainda não foi realizado no
Brasil nenhum estudo avaliando o desempenho de animais recebendo silagens de milho
com diferentes teores de DIVFDN. Os estudos brasileiros focam mais na substituição
de um tipo de volumoso por outro, como por exemplo, comparando o desempenho de
animais recebendo ou silagem de milho ou cana-de-açúcar.
104
CONFINAMENTO DE BOVINOS DE CORTE │ UNIDADE V
Tabela 17. Consumo de alimento e Produção de leite de vacas Holandesas alimentadas com silagem de milho
Contraste
*P < 0.05; **P < 0.01; ***P < 0.001; NS: P > 0.10.
Fonte: adaptado de Jung et al. (2011).
Qualidade em cana-de-açúcar
A cana-de-açúcar se destaca como volumoso de baixo custo, elevada produção de
energia por unidade de área cultivada, fácil cultivo e pela manutenção do valor nutritivo
por longo tempo após a maturação. Além disso, apresenta grande quantidade de
carboidratos solúveis que são rapidamente fermentados no rúmen. Apesar destes pontos
105
UNIDADE V │ CONFINAMENTO DE BOVINOS DE CORTE
106
CONFINAMENTO DE BOVINOS DE CORTE │ UNIDADE V
Tabela 18. Ganho de peso diário, eficiência alimentar, taxa de eficiência proteica, ganho de área de olho-de-
lombo e ganho de gordura de cobertura de tourinhos Nelore e Canchim alimentados com cana-de-açúcar e
Nível de concentrado
Itens Valor de P CV1
60 40
Ganho de peso diário, kg/d 1,44 0,98 0,001 15,4
Eficiência alimentar, kg GMD/kg MS 0,18 0,13 0,001 10,3
Taxa de eficiência proteica, kg GMD/kgPB 1,43 0,99 0,001 10,7
Ganho de área de olho-de-lombo, cm2 19,72 13,24 0,007 36,5
Ganho de gordura de cobertura, mm 2,5 1,7 0,031 43,6
1
Coeficiente de variação, %
Fonte: adaptado de Oliveira et al. (2009).
107
UNIDADE V │ CONFINAMENTO DE BOVINOS DE CORTE
Queiroz et al. (2008) não observaram diferença na produção de leite de vacas tratadas
com dietas a base de diferentes volumosos, sendo eles: silagem de milho, silagem de cana
de açúcar, cana de açúcar in natura e silagem de milho associada a cana fresca, onde a
produção media do rebanho era de 25 kg de leite/dia. No entanto, as dietas do trabalho
de Queiroz et al. (2008) foram formuladas para conterem 60% de concentrado nas dietas
a base de cana fresca ou cana ensilada, e 50% de concentrado nas dietas a base de silagem
de milho, o que pode explicar a ausência de diferença na produção de leite.
108
CONFINAMENTO DE BOVINOS DE CORTE │ UNIDADE V
de corte confinados. É importante ressaltar que a cana de açúcar é uma ótima opção
forrageira, capaz de competir com os alimentos volumosos nobres.
Mesquita et al. (2012) demonstraram que a alimentação dos animais com cana de
maior digestibilidade proporcionou maior ingestão de MS como porcentagem do peso
vivo (2,24 vs. 2,12 ± 0,09%, P = 0,04), maior peso vivo final (462 vs. 447 ± 20kg, P =
0,04), maior espessura de gordura subcutânea do músculo Longissimus dorsi (4,6 vs.
3,1 ± 0,4 mm, P<0,01) e do músculo Bíceps femorais (6,9 vs. 4,9 ± 0,6 mm, P<0,01).
A interação entre a qualidade da cana utilizada e o nível de concentrado somente foi
significativa em relação ao ganho médio diário de peso, com efeito de Cana apenas ao
nível de 80% de concentrado na dieta (1,80 vs. 1,52 ± 0,09 kg/d, P<0,01).
109
UNIDADE V │ CONFINAMENTO DE BOVINOS DE CORTE
Tabela 19. Consumo de matéria seca em porcentagem de peso vivo (CMS), ganho médio diário de peso vivo
(GMD), peso vivo final (PVf), espessura de gordura subcutânea do músculo Longissimus dorsi (EGS), espessura de
gordura subcutânea do músculo Biceps femoris (EGP), área de olho de lombo do músculo Longissimus dorsi (AOL)
e profundidade do músculo Gluteus medius(ProfGlu) de tourinhos Nelore terminados em confinamento.
CMS (%PV) 2,17 2,13 2,3 2,12 0,09 0,20 0,04 0,16
GMD (kg) 1,57 1,59 1,80 1,52 0,09 0,24 0,06 0,03
EGS (mm) 4,9 3,2 4,2 3,0 0,4 0,22 <0,01 0,38
EGP (mm) 7,8 5,0 5,9 4,9 0,6 0,05 <0,01 0,07
AOL (cm2) 70,3 67,7 67,3 66,1 1,9 0,24 0,32 0,71
ProfGlu (mm) 93,9 93,6 92,1 91,3 2,8 0,45 0,83 0,92
Ensilagem da cana-de-açúcar
O uso da cana-de-açúcar na alimentação de bovinos é uma das opções mais
interessantes para minimizar os custos de rações e do produto animal, maximizando
a receita líquida da atividade (NUSSIO et al., 2002), sendo uma prática tradicional,
por parte dos pecuaristas, o fornecimento da cana fresca, diretamente ao gado. No
entanto, a ensilagem da cana traz algumas vantagens operacionais, principalmente em
propriedades com grandes rebanhos, como a concentração de todas as operações (corte,
picagem, transporte) em poucos dias, com melhor eficiência de colheita e manejo dos
canaviais.
110
CONFINAMENTO DE BOVINOS DE CORTE │ UNIDADE V
111
UNIDADE V │ CONFINAMENTO DE BOVINOS DE CORTE
Figura 9. Estabilidade aeróbica de silagens de cana-de-açúcar tratadas com ureia, benzoato de sódio e
Com bases nos estudos apresentados, temos dois fatores importantes que regulam o
consumo e o desempenho de animais consumindo dietas à base de silagem de cana-de-
açúcar: o acúmulo de ácidos da fermentação, etanol, e a digestibilidade da fibra.
112
CONFINAMENTO DE BOVINOS DE CORTE │ UNIDADE V
com animais recebendo cana fresca picada. As silagens foram aditivadas com L.
buchneri, com o intuito de evitar a fermentação alcoólica (SOUSA et al., 2012).
Tabela 20. Consumo de matéria seca (kg/d) de duas variedades de cana (alta e baixa DFDN) com diferentes
113
Capítulo 3
Aditivos
Ionóforos
Os antibióticos ionóforos são os aditivos mais pesquisados em dietas de ruminantes,
mas somente a monensina, lasalocida, salinomicina e laidlomicina propionato são
aprovados para uso em dietas de ruminantes no Brasil. A ação dos ionóforos no rúmen
ocorre pelas mudanças na população microbiana, selecionando as bactérias gram-
negativas produtoras de ácido succínico ou que fermentam ácido láctico e inibindo
as gram-positivas produtoras de ácidos acético, butírico, láctico e H2. Em função da
característica de ação dos ionóforos sobre a população microbiana, os benefícios de sua
ação biológica podem ser classificados em 3 áreas:
As bactérias ruminais gram-negativas são mais resistentes aos ionóforos que as gram-
positivas, uma vez que a maioria dos ionóforos não passam através da membrana celular,
tornando as células da bactérias gram-negativas impermeáveis a esses compostos. Por
outro lado, as bactérias gram-positivas possuem apenas uma membrana porosa que não
impede a ação da monensina. O mecanismo de ação dos ionóforos sobre as bactérias
está relacionado com um processo chamado bomba iônica, que regula o balanço químico
entre o meio interno e externo da célula. Os ionóforos ao se ligarem à membrana
celular das bactérias e protozoários e, provavelmente a dos fungos ruminais, facilitam
o movimento dos cátions através da membrana celular. Essas reações culminam em
uma reduzida concentração intracelular de K+ e maior concentração intracelular de
Na+. Como consequência, a bomba iônica não opera eficientemente, provocando um
desequilíbrio e devido a uma maior concentração de cátions dentro da célula, ocorre
114
CONFINAMENTO DE BOVINOS DE CORTE │ UNIDADE V
aumento da pressão osmótica, a água penetra em excesso e com isso a célula “incha”
tendendo a romper-se.
115
UNIDADE V │ CONFINAMENTO DE BOVINOS DE CORTE
Probióticos
Devido a natural ineficiência energética do processo de fermentação ruminal, com
perdas significativas na forma de calor e gases da fermentação, a manipulação do
ecossistema ruminal é uma ferramenta atraente para os nutricionistas. Levando-se
ainda em consideração as questões atuais relacionadas com a emissão de gás metano
pelos animais ruminantes, e a crescente preocupação com o uso de antibióticos na
alimentação animal, entende-se o grande interesse, tanto dos acadêmicos, quanto
das indústrias de nutrição, para o uso de probióticos como moduladores do ambiente
ruminal. Atualmente, a grande maioria das empresas de nutrição animal oferecem
suplementos minerais ou proteicos contendo probióticos em sua formulação.
1. Microrganismos ruminais.
4. Culturas de leveduras.
A elucidação do modo de ação dos probióticos não é tarefa facial para os pesquisadores,
devido à complexidade inerente do sistema. Alguns possíveis mecanismos de modulação
da fermentação ruminal incluem a produção de bacteriocinas, a redução da tensão
de oxigênio residual, fornecimento de fatores de crescimento limitantes ao rúmen,
consumo de ácido lático e produção de enzimas exógenas, entre outros.
116
CONFINAMENTO DE BOVINOS DE CORTE │ UNIDADE V
Os efeitos das leveduras sobre o crescimento e a atividade de bactérias fibrolíticas têm sido
estudados e os resultados das pesquisas têm comprovado a hipótese de que o ambiente
ruminal é modulado, favorecendo o desenvolvimento de microrganismos degradadores
117
UNIDADE V │ CONFINAMENTO DE BOVINOS DE CORTE
Tabela 21. Efeito da suplementação com levedura viva sobre a digestibilidade da FDN de diferentes volumosos
Valor de P
Itens Controle Levedura EPM
Levedura Estação Lev*Est
Média dos volumosos 38,1 40,7 0,4 <0,01 <0,01 0,45
Feno de tifton 85 30,2 32,1 0,7 0,07 <0,01 0,30
Capim marandu 60,9 63,4 0,8 0,04 <0,01 0,95
Capim mombaça 47,7 49,2 0,8 0,04 <0,01 0,95
Silagem de cana-de-açúcar 13,1 14,9 0,5 0,03 <0,01 0,18
Silagem de milho 37,4 40,1 1,0 0,07 <0,01 0,32
Fonte: Sousa et al. (2015).
118
CONFINAMENTO DE BOVINOS DE CORTE │ UNIDADE V
no rúmen, com uma população 15,2 vezes maior do que B. fibrisolvens (Figura 10),
demonstrando assim a importância dessa espécie para a degradação de fibra no rúmen
desses animais.
Figura 10. População relativa no rúmen das quatro bactérias degradadoras de fibras avaliadas. Os valores são
Tabela 22. População relativa de bactérias ruminais de novilhos em pastejo durante as quatro estações do ano,
Valor de P
Espécie Controle Levedura1 EPM
Levedura Estação Lev*Est
R. flavefaciens 1,00 1,78 0,04 <0,01 0,52 0,10
F. succinogenes 1,00 0,65 0,01 0,02 <0,01 0,08
R. albus 1,00 0,86 0,01 0,47 0,26 0,57
B. fibrisolvens 1,00 0,89 0,01 0,12 0,97 0,18
119
UNIDADE V │ CONFINAMENTO DE BOVINOS DE CORTE
Neste contexto, vários fatores afetam a digestibilidade do amido, como por exemplo o
processamento dos grãos, além das diferentes fontes de amido (milho, sorgo, cevada,
dentre outros), teor de amilose e amilopectina, tipo de endosperma (farináceo ou
vítreo), utilização de aditivos e o próprio teor de amido da dieta podem influenciar na
digestibilidade do mesmo. Levando em consideração a diversidade de grãos disponíveis
para alimentação de ruminantes, apresentando variação em tamanho, textura, formato,
maturidade, umidade e digestibilidade, justifica-se o processamento desses ingredientes
pelo fato de proporcionar melhoras significativas na forma e, consequentemente, no
valor nutritivo destes grãos para bovinos de corte (ANTUNES; RODRIGUES, 2006).
Dessa forma, a formulação de dietas deve levar em conta não somente a quantidade
de grãos, mas também todos os fatores que podem influênciar a digestibilidade e,
consequentemente, o desempenho animal. Nesse sentido, uma alternativa interessante
para aumentar a digestibilidade do amido seria o fornecimento de probióticos, com o
intuito de manipular a fermentação ruminal, promovendo assim maior disponibilidade
de energia no rúmen, favorecendo a maior produção de proteína microbiana.
120
CONFINAMENTO DE BOVINOS DE CORTE │ UNIDADE V
dieta com 70% de concentrado, Fereli et al. (2010) observaram aumento no valor
médio da digestibilidade total dos carboidratos não fibrosos a medida que o probiótico
foi adicionado à dieta, em função da maior quantidade de carboidratos prontamente
disponível no rúmen e a melhor digestão dos mesmos com dietas contendo probiótico.
Vale ressaltar que as digestões intestinal e total foram maiores para as dietas que
continham o probiótico em relação à que continha apenas o ionóforo não associado,
porém, a digestibilidade ruminal apresentou melhor resultado numérico para a dieta
composta de 100% da dose de probiótico associada com ionóforo.
121
UNIDADE V │ CONFINAMENTO DE BOVINOS DE CORTE
clínica ou subclínica são reportados quando os animais são alimentados com altas
quantidades de carboidratos não fibrosos na dieta, principalmente durante a transição
entre baixo para alto teor de carboidratos (LETTAT et al., 2012).
Fato comum nos confinamentos brasileiros é a não adaptação dos animais à nova
dieta, rica em carboidratos fermentáveis no rúmen. Os animais, em regime de pastejo,
cuja dieta se baseia em forragens, quando iniciam a dieta de confinamento, sofrem
diversas alterações ruminais, principalmente em função do tipo de microrganismos e
produtos da fermentação. Com o aumento na quantidade de carboidratos rapidamente
fermentáveis na dieta, ocorre uma grande produção de ácidos graxos de cadeia curta
(AGCC) e acúmulo de lactato, ocasionando a queda do pH ruminal (OWENS et al.,
1998). As bactérias responsáveis pela degradação da fibra, tais como Fibrobacter
succinogenes e Ruminococcus albus, têm sua atividade diminuída em pH ruminal
abaixo de 6,0 e completa cessação de digestão de fibra com pH entre 4,5 e 5,0 (VAN
SOEST, 1994; PINLOCHE et al., 2013). Por outro lado, as bactérias amilolíticas, em
especial Streptococcus bovis, Ruminobacter amylophilus e Lactobacillus spp. atuam
em uma faixa de pH mais baixo, ao redor de 5,8 (KOTARSKI et al., 1992; FURLAN
et al., 2006). O rápido desenvolvimento das bactérias amilolíticas acarreta o acúmulo
de lactato, pela maior produção e menor utilização desse ácido (LETTAT et al.; 2012),
diminuição do pH ruminal, acompanhado da menor degradação da fibra e sintomas de
acidose ruminal (KHAFIPOUR et al., 2009).
122
CONFINAMENTO DE BOVINOS DE CORTE │ UNIDADE V
Nocek et al. (2003) e Meissner et al. (2010) reportam que a suplementação com
probióticos a base de microrganismos que produzem e que consomem lactato é uma
estratégia eficiente para evitar o aparecimento da acidose ruminal. Em um estudo com
sinergismo entre probióticos, Lellat et al. (2012) reportam que de Lactobacillus spp.
e Propionibacteria são efetivos na estabilização do pH ruminal, prevenindo sintomas
de acidose em ruminantes, pelo aumento na atividade das bactérias celulolíticas e
limitação do desenvolvimento das bactérias produtoras de lactato. Além disso, os
autores reportam que o uso desses microrganismos combinados parece ser mais efetivo
no controle da acidose ruminal devido ao possível sinergismo entre essas cepas. Outros
ainda enfatizam que o efeito desses microrganismos, aliado as leveduras, promove
maior estabilidade do pH ruminal e, consequentemente, maior degradação da fibra e
melhor desempenho animal (NOCEK et al., 2003; CHIQUETTE et al., 2009).
Da mesma forma que para os produtos bacterianos, os efeitos positivos das leveduras
se tornam mais pronunciados em animais submetidos a dietas com alto teor de
carboidratos solúveis. Pinloche et al. (2013) reportam que é possível a modulação
da fermentação ruminal, pela mudança da microbiota utilizando leveduras como
probióticos para bovinos. Outros autores recomendam o uso de leveduras juntamente
com cepas bacterianas para promover os melhores benefícios no controle do pH
ruminal de bovinos alimentados com dieta de alto teor de carboidratos fermentáveis
(BROSSARD et al., 2006; THRUNE et al., 2009).
123
NUTRIÇÃO
APLICADA À
REPRODUÇÃO Unidade Vi
DE BOVINOS DE
CORTE
Mesmo com índices produtivos abaixo da média, o Brasil vem melhorando sua taxa
de desfrute, por meio da aplicação de novas tecnologias em todas as fases da produção
animal e principalmente na nutrição direcionada para cada classe animal e reprodução
em larga escala. A taxa de desfrute mede o aumento da produção (em peso ou em
número de cabeças) de um rebanho em um determinado espaço tempo em relação ao
rebanho inicial. A tabela 23 mostra a evolução da taxa de desfrute do Brasil, comparada
com outros países e a média mundial.
Taxa de desfrute, %
2000 2002 2004 2006 2008 Variação no período
Brasil 18,3 17,6 17,6 20 22,7 23,7
Argentina 25,5 22,6 28,5 26,4 26,7 4,4
Estados Unidos 38,3 38,5 35,4 35 35,7 -6,72
União Européia 33,5 34,3 33,2 32,4 31,9 -4,71
China 34,6 39,5 44,4 47,5 52,7 52,6
Média Mundial 22,1 21,9 22,2 22,5 22,9 3,9
Fonte: FAO (2010).
O tempo que os animais levam até atingir a puberdade também influência no custo do
sistema de criação, pois a fêmea tem um custo de manutenção na fazenda e o retorno
econômico virá somente após o parto. Animais mal nutridos têm sua puberdade
retardada, pois a prioridade por nutrientes e energia é dos tecidos indispensáveis para
124
NUTRIÇÃO APLICADA À REPRODUÇÃO DE BOVINOS DE CORTE │ UNIDADE VI
a vida do animal, como exemplo o sistema nervoso central. Desta forma, uma dieta
deficiente irá prejudicar os órgão e tecidos de menor prioridade.
125
Capítulo 1
Nutrição da vaca de cria e do touro
O escore de condição corporal (ECC) do animal no pré e no pós-parto pode ser uma
ferramenta para monitorar o balanço de nutrientes e como esse balanço afeta a
reprodução. Vacas mal alimentadas e que apresentam ECC menor que 4 (escala de 1
a 9) antes do parto têm uma maior probabilidade de terem problemas reprodutivos, a
não ser que haja uma boa alimentação nesse período para atender suas exigências de
mantença e de ganho. A duração do período de anestro pós-parto em vacas de corte
126
NUTRIÇÃO APLICADA À REPRODUÇÃO DE BOVINOS DE CORTE │ UNIDADE VI
Energia
Segundo Ponsart et al. (2000), o tipo de alimento utilizado para fazer a suplementação
das fêmeas não apresenta diferença quanto ao crescimento do folículo, ovulação ou
taxa de prenhes, em que os autores compararam milho moído com silagem de milho.
Já Cunha et al. (2003) utilizando vacas nelore a pasto submetidas aos seguintes
tratamentos:
127
UNIDADE VI │ NUTRIÇÃO APLICADA À REPRODUÇÃO DE BOVINOS DE CORTE
A restrição alimentar prolongada deprime a liberação do GnRH, que por sua vez reduz a
secreção do LH pela hipófise (DENNISTON et al., 2003), comprometendo a ovulação e
manutenção da gestação. A supressão deste hormônio é maior em bovinos submetidos
à longa restrição alimentar e, em vacas acíclicas, devido à maior sensibilidade do
eixo hipotalâmico à retroalimentação negativa do estradiol. Imakawa et al. (1987)
trabalhando com novilhas ovariectomizadas submetidas a consumo restrito de alimento
observaram redução na concentração plasmática e na frequência de pulso do LH. Em
animais de boa condição corporal, as concentrações séricas de LH são mais elevadas
que naqueles que apresentam perda de escore corporal (GIL, 2003).
Embora os casos de subnutrição são mais comuns, os casos de supernutrição são mais
prejudiciais à reprodução. Pois o consumo excessivo de energia altera a duração da
vida reprodutiva, tanto de machos como de fêmeas. O excesso de energia acumula no
fígado e nos órgãos reprodutivos na forma de gordura. E, ainda, o tecido adiposo em
alta quantidade nos ovários pode levar a esterilidade por uma ação mecânica, causando
atrofia e dificultando ou impedindo a captação do óvulo pelas fímbrilas do oviduto.
Nas fêmeas, essas alterações resultam em baixa taxa de concepção e distocia, além do
aumento nos casos de retenção de placenta. Já nos machos, o consumo de energia e o
peso em excesso trazem problemas de cascos e pernas, além de diminuir a libido. No
entando, o que se busca no pós-parto é um BE levemente positivo, sem excesso ou falta
de energia.
Vacas com BE positivo apresentam maior número de folículos grandes nos ovários,
portanto, maior potencial para produzir estradiol, hormônio que estimula o centro
pré ovulatório de LH e que está associado com ovulação e luteinização. Enquanto isso,
vacas com BE negativo têm maior quantidade de folículos pequenos que acabam por
sofrerem regressão (PIRES et al., 2010).
128
NUTRIÇÃO APLICADA À REPRODUÇÃO DE BOVINOS DE CORTE │ UNIDADE VI
Lipídeos
Em virtude da alta exigência nutricional das novilhas e vacas durante o terço final da
gestação e o início da lactação, a suplementação com gordura pode ser um método
bastante eficaz para ajudar a suprir a demanda energética nessa fase da cria, pois o
valor energético dos lipídeos é superior ao dos carboidratos, mas o nível de inclusão na
dieta deve ser controlado para não comprometer o consumo.
129
UNIDADE VI │ NUTRIÇÃO APLICADA À REPRODUÇÃO DE BOVINOS DE CORTE
Tabela 24. Efeito da suplementação com gordura na concentração de progesterona no plasma (ng/mL).
Dieta
Controle Gordura
Dias de ciclo estral
1 a 12 4,2b 5,2a
9 a 15 6,6b 7,7a
Semanas de lactação
5 a 12 4,5b 6,0a
2 a 12 4,2b 4,8a
Fonte: adaptado Staples et al. (1998).
Os ácidos graxos, linoléico 18:2 (ω-6) e linolênico 18:3 (ω-3) têm grande importância
na reprodução como precursores de eicosanóides como as prostaglandinas (PG).
Outros ácidos graxos de importância na reprodução são o ácido araquidônico (20:4,
ω-6), o ácido eicosapentaenoíco (20:5, ω-3) e o ácido docosahexaenóico (22:6, ω-3).
O ácido linolênico pode servir como precursor de ácido eicosapentaenoíco e ácido
docosahexaenóico dentro do organismo, assim como o ácido linoléico é precursor do
ácido araquidônico (PIRES; RIBEIRO, 2006). Existem duas vias principais pelas quais
ocorre a síntese de PG: a via iniciada a partir do ácido linoléico, produzindo PG das
séries 1 e 2, e a via iniciada pelo ácido linolênico produzindo PG da série 3. A PG da
130
NUTRIÇÃO APLICADA À REPRODUÇÃO DE BOVINOS DE CORTE │ UNIDADE VI
série 2 (PGF2α) é a que mais tem influência sobre a reprodução. Dependendo do perfil
de ácidos graxos da dieta, a produção dessa PG pode ser modificada provocando efeitos
sobre a eficiência reprodutiva (Pires e Ribeiro, 2006).
Lucy et al. (1991) argumentaram que os efeitos da gordura sobre a dinâmica folicular de
vacas no pós-parto são devido à maior síntese de PGF2α quando maiores quantidades
de ácido linoléico atingiam o intestino delgado. Lammoglia et al. (1997), suplementando
vacas de corte no início do pós-parto, observaram um aumento na secreção de PGF2α,
medida pela concentração de seu metabólito 13,14-dihidro-15-ceto-PGF2α (PGFM)
no plasma. Grant et al. (2003) e Hess et al. (2005) observaram um aumento nas
concentrações plasmáticas ou séricas de PGFM em vacas com suplementação lipídica
no pós-parto.
131
UNIDADE VI │ NUTRIÇÃO APLICADA À REPRODUÇÃO DE BOVINOS DE CORTE
Robinson et al. (2002) observaram uma melhora nos parâmetros reprodutivos com a
suplementação tanto de 18:2 quanto de 18:3. Contudo Petit et al. (2001) mostraram que
vacas suplementadas com fontes de 18:3 obtiveram melhores respostas nos parâmetros
reprodutivos quando comparadas com vacas suplementadas com fontes de 18:2.
Coelho et al. (1997) alimentaram 15 vacas de leite primíparas, com média de 83 dias
em lactação, com farinha de peixe (fonte de 20:5, ω-3 e 22:6, ω-3). A concentração de
PGFM no plasma foi significativamente reduzida (P<0,01) pelo fornecimento de farinha
de peixe. Nesse sentido, o autor sugere que o uso de fontes de gordura que suprem
maiores quantidades de ácidos graxos ω-3 ao intestino delgado diminui a secreção de
PGF2α e aumenta vida do CL.
132
NUTRIÇÃO APLICADA À REPRODUÇÃO DE BOVINOS DE CORTE │ UNIDADE VI
síntese, mas sim devido a uma menor taxa de sua metabolização. Esta explicação poderia
ser aplicada aos resultados encontrados por Lammoglia et al. (1997), que, trabalhando
com vacas Brahman, encontraram maiores níveis de progesterona no plasma, sem
efeitos sobre o número ou o tamanho dos corpos lúteos. A concentração de progesterona
antes e depois da inseminação tem sido associada com o aumento da fertilidade em
vacas de leite e de corte. Segundo O’Callanghan e Bolanda (1999), alterações existentes
na concentração de progesterona no período inicial do desenvolvimento embrionário
podem resultar na morte e/ou degeneração do embrião. Portanto, a adição de gordura
às dietas de vacas, levando a um aumento plasmático de progesterona, pode ser benéfica
para a fertilização e para a sobrevivência do embrião (SANTOS, 1998).
Proteína
133
UNIDADE VI │ NUTRIÇÃO APLICADA À REPRODUÇÃO DE BOVINOS DE CORTE
tropicais e suplementados com ureia ou com proteína verdadeira devem observar uma
melhora no desempenho reprodutivo. McCormick et al. (1999) estudaram o efeito da
proteína não degradável no rúmen sobre o desempenho reprodutivo de vacas a pasto e
observaram que os animais que tiveram uma alta ingestão proteica, apresentaram, em
média, período de infertilidade em torno de 15 dias a mais quando comparados com o
grupo controle.
Vitaminas e minerais
134
NUTRIÇÃO APLICADA À REPRODUÇÃO DE BOVINOS DE CORTE │ UNIDADE VI
Hignett (1959) mostrou que vacas alimentadas com dietas contendo níveis adequados
de Ca e P requerem por volta de 30 ppm de manganês para atingir um desempenho
reprodutivo ótimo. Quando os animais foram alimentados com Ca em excesso, foram
necessários 65 ppm de Mn para assegurar a fertilidade adequada. Wilson (1966)
observou um aumento na fertilidade quando as vacas foram suplementadas com
70ppm de Mn na dieta. Este autor afirmou que dietas com menos de 50 ppm de Mn não
otimizam a fertilidade. Entretanto, vacas de corte alimentadas com dietas controladas
contendo 25 ppm de manganês apresentaram desempenho reprodutivo adequado
(ROJAS et al., 1965). Animais deficientes em manganês têm desempenho reprodutivo
inferior. Os problemas reprodutivos associados com deficiência de manganês incluem
anormalidades no ciclo estral, cio silencioso, baixas taxas de concepção, aumento no
número de abortos e maturidade sexual retardada (NRC, 1996; HURLEY; DOANE,
1989).
135
UNIDADE VI │ NUTRIÇÃO APLICADA À REPRODUÇÃO DE BOVINOS DE CORTE
Fêmeas bovinas alimentadas com dietas pobres em iodo apresentam sinais menos
expressivos de cio, infertilidade, aumento na taxa de mortalidade embrionária precoce,
abortos, nascimento de bezerros fracos ou até mesmo natimortos, aumento na incidência
de retenção de placentas, redução na taxa de concepção, inércia uterina e atraso no
desenvolvimento fetal (MILLER et al., 1993). Como a maioria dos minerais atuam como
co-fator em processos mais complexos do metabolismo corporal, a carência de qualquer
um deles pode comprometer o funcionamento normal do organismo, reduzindo assim
os indicies reprodutivo de fêmeas e machos.
Nutrição do touro
Como já foi visto anteriormente, efeitos da relação entre nutrição e reprodução é mais
comumente estudado em fêmeas que em machos, porém nestes últimos a nutrição
também desempenha papel decisivo na eficiência reprodutiva. O manejo do touro é
de extrema importância para a bovinocultura de corte brasileira, pois somente 6% do
rebanho nacional faz uso da inseminação artificial e o restante utiliza a monta natural
como forma de acasalamento. Desta forma, conhecer todos os parâmetros que possam
ser avaliados na classificação e na predição do potencial reprodutivo é fundamental
para que se possa potencializar o uso de um reprodutor. As principais características
priorizadas são a libido, a capacidade de serviço, o perímetro escrotal.
Durante o período de serviço do touro, o desgaste físico é muito intenso, pois além
do elevado número de vacas/touro, normalmente praticado em fazendas brasileiras, o
animal anda bastante devido as extensas áreas de pastagens, e para evitar a perda de
peso durante a estação de monta, é recomendado que este animal seja suplementado
antes de entrar em serviço e durante o período de cobertura. Durante o período de
acasalamento e após o término dos trabalhos, esses animais devem ser examinados,
para certificação de eventuais problemas físicos.
A energia é tida como a principal variável da dieta que afeta a fertilidade dos touros. O baixo
consumo de energia, principalmente por longos períodos, durante a fase de crescimento
136
NUTRIÇÃO APLICADA À REPRODUÇÃO DE BOVINOS DE CORTE │ UNIDADE VI
A proteína da dieta também pode influenciar o perfil espermático dos touros. Dietas
muito pobres em proteína podem afetar o desenvolvimento dos animais ainda em
crescimento e prejudicar futuramente a produção espermática, principalmente se
os níveis de restrição proteica forem muito intensos. Em animais adultos a restrição
de proteína poderá também ocasionar problemas de fertilidade, principalmente se
chegar ao limite de afetar a multiplicação das bactérias ruminais e o papel destas na
digestão de forragens. Já o excesso de proteína também é danoso à reprodução, pois
pode comprometer o equilíbrio ácido básico do organismo. E ainda, dietas com altas
concentração de proteína pode causar alteração na viabilidade dos espermatozoides e
outros problemas que podem afetar a fertilidade.
Os touros possuem grande importância na pecuária de corte nacional, pois são responsáveis
por 80% do melhoramento e direcionamento genético dos rebanhos. Os animais de raças
taurinas realizam um importante papel na pecuária nacional, por meio do cruzamento
industrial, pois ajudam na evolução produtiva dos rebanhos. O Brasil ainda é carente em
touros melhoradores, pois é pela utilização sistemática destes animais que será possível
melhorar de forma mais rápida a genética do plantel nacional de bovinos de corte. Desta
forma, além da aquisição de touros de elevada qualidade genética é preciso manter esse
animal saudável e em condições de cumprir seu papel de reprodutor, por isso uma dieta
com nutrientes adequados, sem carência e sem excessos, é de extrema importância para
o desenvolvimento e sucesso da produção de gado de corte.
137
Capítulo 2
Redução da idade ao primeiro parto
Em metanálise desenvolvida por Silva et al. (2009), observou que os dados indicaram
que houve tendência de aumento no PV à puberdade das novilhas, Nelore ou cruzadas
com Nelore, com maior ganho de peso na fase pré-puberdade (P = 0,07). Novilhas
com baixo ganho de peso (média de 481 g/d) atingiram a puberdade com 296 Kg de
138
NUTRIÇÃO APLICADA À REPRODUÇÃO DE BOVINOS DE CORTE │ UNIDADE VI
PV, enquanto as novilhas com maior ganho de peso (média de 688 g/d) atingiram a
puberdade com 311 Kg de PV. Mostrando que Funston e Deutscher (2004) estavam
certos ao afirmar que a redução do PV de novilhas pré-puberes poderiam trazer
oportunidades para redução de custos sem comprometer a reprodução.
O balanço energético foi considerado como importante para a reprodução, mas gordura
não tem um papel direto sobre a ovulação. Desta forma, é improvável que a gordura,
por si só, seja o elo entre status nutricional e secreção de LH. O mais provável é que
numerosos mecanismos estejam envolvidos e que alterações metabólicas decorrentes
de alterações nutricionais, com consequente alteração na gordura corporal, regulem a
liberação pulsátil de LH. A relação entre nutrição e secreção de LH pode ocorrer por
meio de sinais sanguíneos específicos, como metabólitos e hormônios metabólicos
(STEINER et al., 1983), dos quais a insulina, o hormônio de crescimento (GH), o fator
de crescimento semelhante à insulina (IGF-I) e a leptina são exemplos.
139
UNIDADE VI │ NUTRIÇÃO APLICADA À REPRODUÇÃO DE BOVINOS DE CORTE
Uma hipótese para explicar a variação na precocidade sexual de novilhas de idade e peso
semelhante seria a expressão diferencial de leptina pelo tecido adiposo. Vaiciunas et al.
(2008) demonstraram que em novilhas criadas a pasto, com idade média de 26 meses
e peso vivo de 315 kg, as novilhas que entraram em puberdade mais cedo (ciclando)
tinham maior expressão da leptina pelos tecidos adiposos subcutâneo e omental do que
novilhas que não entraram em puberdade (não ciclando).
Estes resultados levaram Carvalho et al. (2013) a testarem o efeito da aplicação exógena
da leptina sobre a obtenção da puberdade em novilhas Nelore. Apesar de a leptina
exógena ter acelerado o crescimento folicular das novilhas, não houve o efeito esperado
de redução da idade à puberdade. Com a aplicação da leptina exógena houve redução
na produção de leptina endógena pelo tecido adiposo, o que poderia explicar a redução
observada na concentração sérica de leptina após 30 dias de tratamento e a falha da
leptina exógena em acelerar a puberdade (CARVALHO et al., 2013).
Além da maior expressão da leptina, Vaicunas et al. (2008) reportaram menor expressão
de genes hipotalâmicos que codificam receptores ao neuropeptídeo-Y (NPY). O NPY,
um dos neuropeptídeos mais abundantes no hipotálamo, é um dos mais potentes
fatores estimulantes de apetite, além de atuar no controle da secreção de GnRH e na
termogênese (WILLIAMS et al., 2000). A sinalização do NPY no hipotálamo regula os
efeitos da leptina na atividade reprodutiva em roedores e primatas (AUBERT et al.,
1998; SAINSBURY et al., 2002).
140
NUTRIÇÃO APLICADA À REPRODUÇÃO DE BOVINOS DE CORTE │ UNIDADE VI
Assim, detectam-se três fatores principais que são capazes de induzir a puberdade em
novilhas pré-púberes:
1. o fator genético;
A elucidação dos mecanismos moleculares pelos quais estes diferentes fatores alteram o
início da puberdade é de fundamental importância para o entendimento da puberdade
e para desenvolvimento de estratégias de nutrição, de seleção genética ou de novos
fármacos que auxiliarão na redução da idade ao primeiro parto de novilhas zebuínas.
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