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I PROCESSO TC 02497/06 !Pág.

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Administração Direta Municipal - Prefeitura Municipal de
SOLÂNEA - Prestação de Contas do Prefeito, Senhor
SEBASTIÃO ALBERTO CÂNDIDO DA CRUZ, relativa ao
exercício financeiro de 2005 - Irregularidades não esclarecidas
após o contraditório - Verificação de prejuízos cuja restauração
se impõe - PARECER CONTRÁRIO, neste considerado o
A TENDIMENTO INTEGRAL das exigências da LRF -
Imputação de débito - Aplicação de multa, dentre outras
medidas.

PARECER PPL TC 91 12.008


Vistos, relatados e discutidos os autos do PROCESSOTC-02497/06;e
CONSIDERANDOos fatos narrados no Relatório;
CONSIDERANDOo mais que dos autos consta;
Os MEMBROS do TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DA PARAíBA (TCE-
Pb), à unanimidade dos votos, ausente, justificadamente, por motivo de férias, o
Conselheiro Arnóbio Alves Viana, de acordo com a Proposta de Decisão do
Relator, na Sessão realizada nesta data, decidiram:
1. EMITIR E REMETER à Câmara Municipal de SOLÂNEA, PARECER
CONTRÁRIO à aprovação da prestação de contas do Prefeito Municipal,
Senhor SEBASTIÃOALBERTO CÂNDIDODA CRUZ, referente ao exercício
de 2005, neste considerado que o gestor A TENDEUàs exigências da Lei
de Responsabilidade Fiscal (LC 101/2000);
2. DETERMINAR ao Prefeito Municipal de SOLÂNEA, Senhor SEBASTIÃO
ALBERTO CÂNDIDO DA CRUZ, a restituição aos cofres públicos
municipais, no prazo de 60 (sessenta) dias, sob pena de cobrança
executiva, da importância de R$129.002,53 (cento e vinte e nove mil e dois
reais e cinqüenta e três centavos), referente à falta de comprovação das
despesas com pagamento de professores;
3. CONHECER das denúncias referentes a: pagamento de show de dupla
sertaneja superior ao valor contratado; locação e pagamento de
aluguel da casa, onde reside o Prefeito e seus pais, falta de
merenda nas escolas municipais, julgando-as IMPROCEDENTES; da
denúncia referente a despesas não comprovadas com pagamento de
professores e não-retenção das contribuições previdenciárias ao INSS,
devidas por empregados,julgando-as PROCEDENTES;
4. APLICAR multa pessoal ao Senhor SEBASTIÃO ALBERTO CÂNDIDO DA
CRUZ, no valor de R$ 2.805,10 (dois mil e oitocentos e cinco reais e
dez centavos), em virtude de grave infração a preceitos e disposições
constitucionais e legais, especialmente quanto à realização de ~
pagamentos irregulares e indevidos, falta de proceíflim os licitatórios
que estaria obrigado a realizá-los, despesas comprovadas,
configurando a hipótese prevista no a . o 56, in ·so 1, da LOTCE (Lei
Complementar 18/9~<'.e Portaria 39/2006; / :t1
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TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

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5. ASSINAR-LHE o prazo de 60 (sessenta) dias para o recolhimento
voluntário do valor da multa antes referenciado, sob pena de cobrança
executiva, desde já recomendada, inclusive com a interveniência da
Procuradoria Geral do Estado, ou do Ministério Público comum, na inação
daquela, nos termos dos parágrafos 3° e 4°, do artigo 71 da Constituição
do Estado, devendo a cobrança executiva ser promovida nos 30 (trinta)
dias seguintes ao término do prazo para recolhimento voluntário, se este
não ocorrer;
6. ASSINAR o prazo de 90 (noventa) dias, ao atual Prefeito Municipal,
SEBASTIÃO ALBERTO CÂNDIDO DA CRUZ, para a apresentação de
providências no sentido de regularizar a documentação, junto ao
Departamento Estadual de Trânsito/PB, das três unidades móveis de
saúde adquiridas no exercício;
7. ORDENAR ao atual Mandatário Municipal, a reposição à conta específica
do FUNDEF,no Banco do Brasil, no prazo de 30 (trinta) dias, com recursos
do próprio município, do valor de R$ 136.914,27, franqueando-lhe, desde
já, a possibilidade de solicitar parcelamento, se atendidas as normas
regedoras da espécie;
8. DETERMINAR a remessa cópia de peças dos presentes autos à
Procuradoria Geral de Justiça para o exercício de suas competências, na
existência de cometimento de delitos;
9. RECOMENDARà atual Administração do Município, no sentido de que não
mais se repitam as falhas verificadas nos presentes autos, especialmente
no tocante aos elevados gastos com shows artísticos;
10.REPRESENTARà Delegacia local da Receita Federal do Brasil acerca da
possível falta de retenção e recolhimento das contribuições
previdenciárias.
Publique-se, intime- ~gistre-se.
Sala das Sessões do Te.E-Pb - enári Ministro João Agripino
João Pess,oa, d ~gost de 2008.
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Ana Terêsa Nóbrega


Procuradora Geral do Ministério Público Especial Junto

mgsr
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

I PROCESSO Te 02497/06 IPág. 1/101 I


Administração Direta Municipal - Prefeitura Municipal de
SOLÂNEA - Prestação de Contas do Prefeito, Senhor
SEBASTIÃO ALBERTO CÂNDIDO DA CRUZ, relativa ao
exercício financeiro de 2005 - Irregularidades não esclarecidas
após o contraditório - Verificação de prejuizos cuja restauração
se impõe - PARECER CONTRÁRIO, neste considerado o
ATENDIMENTO INTEGRAL das exigências da LRF -
Imputação de débito - Aplicação de multa, dentre outras
medidas.

RELATÓRIO E PROPOSTA DE DECISÃO

o Senhor SEBASTIÃO ALBERTO CÂNDIDO DA CRUZ, Prefeito do Município de


SOLÂNEA, no exercício de 2005, apresentou, no prazo legal, a PRESTAÇÃO DE
CONTAS ANUAL, sobre a qual a DIAFI/DEAGM I/DIAGM 111emitiu Relatório, com as
observações principais, a seguir, sumariadas:
1. A Lei Orçamentária nO16/2004, de 10 de dezembro de 2004, estimou a receita
e fixou a despesa em R$ 12.515.106,85.
2. Os Balanços Orçamentário, Financeiro e Patrimonial foram corretamente
elaborados, sendo que este último apresentou um superavit financeiro, no valor
de R$ 494.671,00.
1. Escrituração correta da dívida, que importou em R$ 8.559.456,53,
correspondendo a 66,02% da receita orçamentária total arrecadada, sendo
6,94% compreendendo a Dívida Flutuante e 93;06% representando a Dívida
Fundada.
2. Os gastos com obras e serviços de engenharia totalizaram R$ 512.687,57,
correspondendo a 3,95% da Despesa Orçamentária Total.
3. Os recursos oriundos de convênios, escriturados no exercício, totalizaram
R$ 1.458.595,72, sendo R$ 1.220.915,72 de recursos federais e R$ 237.680,00
de recursos estaduais.
4. A remuneração recebida pelo Prefeito foi de R$ 80.640,00, e pelo Vice-Prefeito,
foi de R$ 40.320,00, estando dentro dos parâmetros legalmente estabelecidos.
5. As despesas condicionadas comportaram-se da seguinte forma:
5.1. Com ações e serviços públicos de saúde importaram em 12,19% da
receita de impostos e transferências (mínimo: 15,00%).
5.2. Em MDE, representando 26,10% das receitas de impostos e transferências
(mínimo: 25%).
5.3. Com Pessoal do Poder Executivo, representando 49,47% da RCL (limite
máximo: 54%).
5.4. Com Pessoal do Município, representando 52,58% da RCL (limite máximo:
60%).
5.5. Aplicações de 43,34% dos recursos do
Valorização do Magistério (mínimo: 60%).
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

I PROCESSO TC 02497/06 Ipág.2/101 I


6. Há registro de denúncias sobre irregularidades ocorridas no exercício de 2005,
sendo 4 (quatro) delas, formuladas pelo Sr. Teodulfo Victor Soares da Silva e
referentes a: a) pagamentos por show artístico, que ultrapassaram o valor
previsto no contrato e realizados sem prévio procedimento licitatório (não
procedente); b) não envio à Câmara Municipal, desde o ano de 2001 até
março de 2006, dos comprovantes de despesas (procedente); c) omissão de
receita, não retendo as contribuições previdenciárias correspondentes a INSS,
devidas por empregados (procedente); d) locação e pagamento de um imóvel
para funcionar como extensão do Gabinete do Prefeito, mas que, na verdade, é
utilizada como residência dos pais do Prefeito (procedente). Quanto às duas
(2) restantes, foram formuladas pelo Sr. Geraldo Kilson F. dos Santos e dizem
respeito a: a) falta de merenda escolar e má qualidade desta, quando existe
(não procedência); e b) substituição de professores efetivos por contratados,
além de despesas não comprovadas com pagamento de professores
(procedente).
7. A propósito, as contas deste município, relativas aos exercícios de 2001
(Processo TC 03449/02) e 2002 (Processo TC 1899103) obtiveram parecer
contrário nas Sessões Plenárias de 10/12/03 e 27/10/2004, respectivamente,
ao passo em que as de 2003 (Doc. TC 06261/04 - PAG Te 05551/02) e 2004
(PAG TC 3548/03 - Documento TC 6299/05) foram apreciadas nas sessões
de 19/10/05 e 21/03/2007, respectivamente, decidindo a Corte pela emissão
de parecer favorável à aprovação.
8. No tocante à gestão fiscal, registrou-se que o gestor ATENDEU ÀS
EXIGÊNCIAS DA LRF QUANTO A:
8.1. arrecadação da receita tributária;
8.2. gastos com pessoal, correspondendo a 52,58% da RCl, em relação ao
limite (60%) estabelecido no art. 19 da lRF;
8.3. gastos com pessoal, correspondendo a 49,47% da RCl, em relação ao
limite (54%) estabelecido no art. 20 da lRF;
8.4. repasse para o Poder legislativo em relação ao que dispõe o inciso I, do §
2°, art. 29-A da Constituição Federal;
8.5. repasse para o Poder legislativo em relação ao que dispõe o inciso 111, do
§ 2°, art. 29-A da Constituição Federal;
8.6. correta elaboração dos REO encaminhados para este Tribunal;
8.7. envio dos REO para este Tribunal;
8.8. compatibilidade de informações entre o REO e a PCA;
8.9. correta elaboração de RGF encaminhados para este Tribunal;
8.10. envio dos RGF para este Tribunal;
8.11. compatibilidade de informações entre o RGF e a PCA.
9. E NÃO ATENDEU ÀS EXIGÊNCIAS DA lRF UANTO A
9.1. comprovação da publicação dos REO; ~N'
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I PROCESSO TC 02497/06 [Pág.3/101 ]

9.2. Comprovação da publicação dos RGF.


10. Quanto às demais disposições constitucionais e legais, inclusive os itens do
Parecer Normativo Te 52/04, constataram-se as seguintes irregularidades:
10.1. pagamento de juros e multas ao INSS, no valor de R$ 3.414,91;
10.2. despesa com refeições insuficientemente comprovadas, no valor de
R$ 35.010,00;
10.3. despesas com doações a pessoas físicas sem comprovação dos
beneficiários, no valor de R$ 97.193,00;
10.4. gastos excessivos com shows, representando 50,30% do montante
aplicado em ações e serviços públicos de saúde;
10.5. pagamento de despesas sem autorização legislativa, no valor de
R$ 250.520,80;
10.6. irregularidade na aquisição de veículos;
10.7. não retenção das contribuições previdenciárias de parte dos servidores;
10.8. pagamento indevido de aluguéis de imóvel, no valor total de
R$ 30.247,32;
10.9. despesas não licitadas, no valor de R$ 713.042,27, correspondentes a
5,49% da despesa orçamentária realizada no exercício;
10.10. aplicações em ações e serviços públicos de saúde, correspondendo a
12,19% da receita de impostos e transferências, quando deveria ter sido
aplicado o percentual constitucional de, no mínimo, 15,00%;
10.11. gastos irregulares custeados com recursos do FUNDEF, no valor de
R$ 553.811,84;
10.12. aplicação de apenas 43,34% dos recursos do FUNDEF na
Remuneração e Valorização do Magistério, quando deveria ter aplicado,
no mínimo, 60%.
Instaurado o contraditório, o interessado apresentou a defesa às fls. 2195/3351,
alegando, em suma:
1. quanto ao pagamento de juros e multas ao INSS, as retenções ocorreram
exclusivamente por ação da Secretaria do Tesouro Nacional, quando da
liberação das cotas do FPM. A cobrança de juros e multas, mediante retenções
no FPM, não é um fato isolado, tampouco aconteceu exclusivamente com o
Alcaide em tela;
2. o defendente anexa declarações dos restaurantes que forneceram as refeições,
onde restam especificados os valores e as quantidades de refeições e lanches
servidos;
3. junta documentos que identificam as pessoas físicas beneficiadas o
de natureza financeira, todas reconhecidamente carent ;
TRIBUNAL
"
DE CONTAS DO ESTADO

I PROCESSO TC 02497/06 IPág. 4/101 I

4. os contratos com as bandas musicais estão revestidos de todas as formalidades


legais necessárias, bem como a despesa percorreu todos os seus estágios.
Outrossim, o atual gestor não pode deixar de realizar essas festividades, pois
elas movem o turismo, gerando uma série de empregos diretos e indiretos;
5. no final de 2005, a Prefeitura iniciou a execução da obra de esgotamento
sanitário, mediante a celebração de convênio com a FUNASA. O projeto figura
no Plano Plurianual para o quadriênio 2006/2009. Em 2005, os registros
contábeis foram feitos no sistema extra-orçamentário;
6. os três veículos adquiridos junto à PLANAM encontram-se sub judice. As
ambulâncias encontram-se, efetivamente, prestando serviço ao município, fato
que se comprova através dos documentos de fls. 1438/1440;
7. não houve qualquer omissão quanto à retenção de contribuições previdenciárias.
Os valores porventura não retidos são relativos a pagamentos de agentes
políticos e prestadores de serviço que contribuem para a previdência, seja na
qualidade de autônomos, ou através de outras entidades. Além disso, foi firmado
acordo junto ao INSS, visando parcelar a dívida referente às administrações
passadas;
8. a despesa com o aluguel da residência do Prefeito está amparada na Lei
Municipal nO13/2005, de 09 de dezembro de 2005, que não apresenta nenhum
vício de natureza formal ou material;
9. apresentou o Convite nO10/2005 para a aquisição de cinco microcomputadores
(fls. 2874/2942), os contratos para transporte de estudantes (fls. 2840/2870),
professores (fls. 2829/2839), transporte de estudantes universitários (fls.
2822/2828), locação de veículos (fls. 2812/2818), aquisição de botijões de gás
(fls. 2871/2873). Os colchões foram doados a pessoas carentes, conforme lista
de beneficiários (fls. 2733/2754). A aquisição de pães se enquadrou como
dispensa Iicitatória. Diz ter realizado termo aditivo contratual para aquisição de
materiais de construção;
10. a Auditoria incluiu a mais no valor da receita resultante de impostos em 2005
(R$ 8.397.220,24) a importância de R$ 10.888,73, a qual se refere à receita
proveniente de auxílio financeiro para fomento às exportações, a qual não
integra a base de cálculo. Demonstra os gastos com saúde, incluindo algumas
contas não consideradas pela Auditoria, que perfazem o percentual de 14,02%.
Se somados os gastos com limpeza urbana (R$ 201.081,84), o percentual
aplicado passa para 16,41%;
11. os Diários de Classe não podem servir de parâmetro para o cálculo das
despesas não comprovadas, haja vista não possuírem o nome dos professores
substitutos, mas somente dos titulares. O defendente restituiu a importância de
R$10.619,95 à conta do FUNDEF; ~
12. demonstra, mês a mês, que as aplicações os recursos do FU em RVM
alcançaram a importância de R$ 1.769.970,76, c rresponden a ,50%;
~ ,

\'"-
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

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A Auditoria analisou a matéria, concluindo pela permanência das seguintes
irregularidades:
1. gastos excessivos com shows, representando 50,30% do montante aplicado em
ações e serviços públicos de saúde;
2. pagamento de despesas sem autorização legislativa, no valor de
R$ 250.520,80;
3. irregularidade na aquisição de veículos;
4. não-retenção das contribuições previdenciárias de parte dos servidores;
5. pagamento indevido referente a aluguéis de imóvel, no valor total de
R$ 30.247,32;
6. reduziu o valor das despesas não licitadas, de R$ 713.042,27 para
R$ 682.112,27;
7. aplicações em ações e serviços públicos de saúde, correspondendo a 12,19%
da receita de impostos e transferências;
8. gastos irregulares custeados com recursos do FUNDEF, no valor de
R$ 543.191,89, discriminados da seguinte forma:
8.1. gastos com professores do ensino infantil, no valor de R$ 136.914,27,
devendo tal quantia ser restituída ao FUNDEF, com recursos do município;
8.2. gastos não comprovados com a prestação de serviços de supostos
professores, no valor de R$ 406.277,62, devendo o gestor apresentar
comprovação de tais serviços sob pena de ressarcimento aos cofres
públicos;
9. aplicação de apenas 43,34% dos recursos do FUNDEF na Remuneração e
Valorização do Magistério, quando deveria ter aplicado, no mínimo, 60%.
O Ministério Público especial junto ao Tribunal de Contas, através do ilustre
Procurador, Dr. André Carlo Torres Pontes, sugeriu, após considerações, que fosse
determinada diligência no município para apurar a legalidade e a legitimidade no
pagamento de professores impugnado nos autos.
Atendendo à solicitação, o então Relator, Conselheiro Fábio Túlio Filgueiras
Nogueira, determinou a realização de inspeção, que a Unidade Técnica de Instrução
realizou, tendo concluído nos seguintes termos:
1. permanece a irregularidade quanto aos gastos não comprovados com a
prestação de serviços de supostos professores, no valor remanescente de
R$ 170.921,04;
2. percentual de aplicação dos recursos do FUNDEF emuneração e
Valorização do Magistério fica alterado par 51, 79%, pOJ'h"~ecendo abaixo do
percentual exigido legalmente (60%);
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

I PROCESSO TC 02497/06 Ipág.6/101 I

3. permanecem inalteradas as demais irregularidades apontadas no relatório


anterior.
O antes nominado Procurador, em nova manifestação nos autos e considerando a
redução substancial de cerca de 60% do valor originalmente indicado para os gastos com
os professores, sugeriu a notificação do Gestor para apresentar prova da prestação dos
serviços em 2005 pelos professores listados às fls. 4599, sob pena de glosa da despesa
não comprovada.
Notificado, o Senhor Sebastião Alberto Cândido da Cruz, através da sua
Procuradora, Senhora Lidyane Pereira Silva, apresentou a complementação de defesa
de fls. 4607/4872, que a Auditoria analisou e concluiu no seguinte sentido:
1. redução dos gastos não comprovados com prestação de serviços de supostos
professores, de R$ 170.921,04 para R$ 129.002,53 (fls. 4878);
2. aumento do percentual de aplicação na Remuneração e Valorização do
Magistério, de 51,79% para 53,27%.
3. manutenção das demais irregularidades (v. análise de defesa às fls. 3353/3357).
O Ministério Público especial junto ao Tribunal de Contas, através do
multireferenciado Procurador, Or. André Carlo Torres Pontes, pugnou, após
considerações, para que esta Egrégia Corte:
1. DECLARE o atendimento dos requisitos da gestão fiscal responsável.
2. EMITA PARECER, sugerindo à Câmara Municipal de SOLÂNEA a
REPROVAÇÃO das contas de gestão geral relativas ao exercício de 2005, em
razão dos itens 1,4,6,7, 8 e 10 (gastos excessivos com shows; não retenção
de contribuições previdenciárias de servidores e agentes políticos; despesas
não licitadas; aplicação insuficiente dos recursos do FUNDEF na RVM;
aplicações insuficientes em saúde e despesas não comprovadas com
pagamento de professores).
3. JULGUE REGULARES com RESSALVAS as despesas executadas à margem
da lei de licitações e com desvio de finalidade, sem imputação de débito, em
face da falta de indicação de danos materiais ao erário, conforme itens 6 e 9
(despesas não licitadas e utilização de recursos do FUNDEF com desvio de
finalidade).
4. JULGUE IRREGULAR a administração de recursos, no montante de
R$ 129.002,53, com imputação de débito contra o gestor com valor
atualizado, conforme item 10 (pagamento a professores sem comprovação dos
serviços).
5. JULGUE REGULARES as demais despesas orden
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

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6. APLIQUE MULTAS ao Prefeito por infrações a normas constitucionais e legais
e danos ao erário, com fulcro na CF/88, art. 71, VIII, e LCE n° 18/93, arts. 55 e
56.
7. ASSINE PRAZO para a recomposição, com recursos municipais, dos recursos
vinculados à manutenção e desenvolvimento do ensino fundamental e
valorização dos profissionais do magistério.
8. ASSINE PRAZO para a apresentação de providências no sentido de regularizar
a documentação dos veículos adquiridos.
9. COMUNIQUE à Receita Federal os fatos atrelados a cumprimento de
obrigações previdenciárias para as providências a seu cargo.
10. REPRESENTE à Procuradoria Geral de Justiça para as providências a seu
cargo.
11. RECOMENDE diligências no sentido de prevenir a repetição das falhas
acusadas no exercício de 2005.
Foram realizadas as comunicações de estilo.
É o Relatório.

PROPOSTA DE DECISÃO
Antes de proferir a sua proposta, o Relator tem a oferecer as seguintes
ponderações:
1. de fato, os gastos com shows artísticos realizados no exercício, no montante de
R$ 514.750,00, merecem ser considerados como exorbitantes, visto que
representaram 50,30% do montante aplicado em ações e serviços públicos de
saúde no exercício (R$ 1.023.830,96). Veja-se, a propósito, se dividido for o
valor do já informado gasto a este título pelos residentes no município, que é de
27.346, segundo o IBGE, cada um deles participaria em tais shows com o valor
de R$ 18,82. Com muita propriedade, o Procurador André Carlo dedica
observação sobre tal aspecto que merece transcrição (v. fls. 4893): ...
Outrossim, de acordo com o quadro de fls. 1172 investimentos sociais nas
áreas de cultura, saneamento, agricultura, energia, transporte, desporto e
lazer, considerados individualmente, situaram-se abaixo do gasto com
festividades.
2. procede a restrição da Unidade Técnica de Instrução, acerca do registro indevido
no sistema extra-orçamentário, de despesa com esgotamento sanitário, no valor
de R$ 250.520,80, configurando o fato de que esta se deu se utorização
legislativa, em que pese ter sido o eqUíV~CO corrigid s exercícios
subseqüentes;

\~'~
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

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3. quanto às irregularidades detectadas na aquisição de veículos, junto à PLANAM,


a matéria já foi debatida em outros autos tendo a egrégia Primeira Câmara, nos
autos do Processo TC 5292/06, através do Acórdão AC1 TC 1292/2007,
decidido pela irregularidade do procedimento Iicitatório, aplicação de multa
e representação junto TCU, mas que a matéria nas circunstâncias em que
ocorreu, fruto de demanda de uma CPI, inclusive, de repercussão nacional,
serviu, certamente, e de forma negativa como subsídio na formação de juízo de
valor acerca das contas ora examinadas;
4. verifica-se que o cálculo procedido pela Auditoria, no tocante a não retenção das
contribuições previdenciárias ao INSS de parte dos servidores, foi feito por
estimativa, embora desconsiderado para indicar do quanto a este título, a
situação ocorreu e serve para lastrear a emissão de parecer, nada impedindo, no
entanto que a Receita Federal do Brasil conheça da matéria para as
providências a seu cargo (fls. 2186);
5. com a anexação da Lei Municipal nO 13/2005 (fls. 756) fica sanada a
irregularidade apontada pela Auditoria, referente ao pagamento de despesas
com o aluguel do imóvel, que serve como residência do Prefeito e seus pais, no
valor total de R$ 30.247,321 (fls. 2186);
6. permaneceram desacobertadas dos devidos procedimentos licitatórios,
despesas referentes a transporte de estudantes e professores, locação de
veículos e aquisição de medicamentos, dentre outras, no valor de
R$ 682.112,27, representando 5,25% da Despesa Orçamentária realizada no
exercício;
7. quanto às aplicações em saúde, mesmo considerando-se as despesas pagas
com as contas bancárias argüidas pelo defendente (Recursos diversos - BNB e
PMS/Saúde) e outras mais (fls. 4900/4901), no total de R$ 2.077,00, as referidas
aplicações perfazem R$ 1.025.907,96, representando apenas 12,22% da receita
de impostos e transferências, portanto, em patamar inferior ao exigido
constitucionalmente. Vale ressaltar que no valor da receita de impostos mais
transferências, realmente deve ser considerado o valor da transferência a título
da Lei Kandir, no valor de R$ 17.462,29, conforme registro no SAGRES (fls.
980), visto que o gestor não comprovou documentalmente o contrário. Ademais,
quanto às despesas com limpeza urbana, mesmo que se admitisse tais gastos,
no valor de R$ 186.574,68, conforme dados da Auditoria (fls. 2184), as
aplicações em saúde ainda perfazeriam o montante de R$ 1.212.482,64,
correspondendo a tão somente 14,44% da receita de impostos e transferências
constitucionais;
8. referentemente aos gastos com professores do ensino infantil, no valor de
R$ 136.914,27, permanece a necessidade de restituição deste valor, com
recursos do próprio município, à conta corrente do FUNDEF, haja vista que os

1Valor total relativo a despesas com aluguel pagas nos exercícios de 2001 a 005, incluin
água e energia elétrica, conforme demonstrado às fls. 730.
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

I PROCESSO TC 02497/06 !Pág.9/101 I

professores elencados às fls. 2180 lecionam no Ensino Pré-escolar, logo,


deveriam ter sido pagos com recursos próprios do município, resultando em
aplicação na Manutenção e Desenvolvimento do Ensino;
9. realmente, não foi apresentada pelo gestor nenhuma prova de ter ocorrido
prestação de serviços por professores que por isto receberam, totalizando
R$ 129.002,53 (fls. 4878), representando prejuízo ao erário a ser reposto pelo
gestor;
10. tendo em vista que o percentual de aplicação na Remuneração e Valorização
do Magistério está intimamente relacionado às irregularidades constantes dos
itens "8" e "9" anteriores, quais sejam o pagamento a professores do ensino
infantil e as despesas não comprovadas com professores, e que estas
permaneceram na situação antes descrita, não há o que se modificar as
aplicações em RVM, permanecendo, portanto, o percentual de 53,27% dos
recursos do FUNDEF;
11. pertinente à denúncia relacionada ao pagamento de show da dupla sertaneja
Zezé de Camargo e Luciano, de acordo com o relato da Auditoria (fls. 2186),
não houve pagamentos acima do valor contratado, logo, não há procedência
da mesma (fls. 552/555);
12. referente à denúncia de que o prefeito não vem cumprindo o que determina o
art. 54, VII da Lei Orgânica do município, deixando de enviar à Câmara
Municipal, desde o ano de 2001 a março de 2006, os comprovantes de
despesas (recibos, notas fiscais, cópias de cheque etc.), a denúncia foi julgada
improcedente no Acórdão APL TC 839/2006 (fls. 4902/4904);
13. a Auditoria inspecionou nove escolas municipais, não confirmando a denúncia
de que houve falta de merenda escolar. Desta maneira, o Relator entende ser
improcedente o fato denunciado (fls. 601/604 e 2186).
Isto posto, propõe no sentido de que os integrantes deste egrégio Tribunal Pleno:
1. EMITAM E REMETAM à Câmara Municipal de SOLÂNEA, PARECER
CONTRÁRIO à aprovação da prestação de contas do Prefeito Municipal,
Senhor SEBASTIÃO ALBERTO CÂNDIDO DA CRUZ, referente ao exercício
de 2005, neste considerado que o gestor ATENDEU às exigências da Lei de
Responsabilidade Fiscal (LC 101/2000);
2. DETERMINEM ao Prefeito Municipal de SOLÂNEA, Senhor SEBASTIÃO
ALBERTO CÂNDIDO DA CRUZ, a restituição aos cofres públicos municipais,
no prazo de 60 (sessenta) dias, sob pena de cobrança executiva, da
importância de R$ 129.002,53 (cento e vinte e nove mil e dois reais e
cinqüenta e três centavos), referente à falta de comprovação das despesas
com pagamento de professores;
3. CONHEÇAM das denúncias referentes a: pagamento de sho de dupla
sertaneja superior ao valor contratado; locação e pagament aluguel da
casa, onde reside o Prefeito e seus pais, falta de mer d nas escolas
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

I PROCESSO TC 02497/06 IPág. 10/101 I


municipais, julgando-as IMPROCEDENTES; da denúncia referente a despesas
não comprovadas com pagamento de professores e não retenção das
contribuições previdenciárias ao INSS, devidas por empregados, julgando-as
PROCEDENTES;
4. APLIQUEM multa pessoal ao Senhor SEBASTIÃO ALBERTO CÂNDIDO DA
CRUZ, no valor de R$ 2.805,10 (dois mil e oitocentos e cinco reais e dez
centavos), em virtude de grave infração a preceitos e disposições
constitucionais e legais, especialmente quanto à realização de pagamentos
irregulares e indevidos, falta de procedimentos licitatórios que estaria obrigado a
realizá-los, despesas não comprovadas, configurando a hipótese prevista no
artigo 56, inciso 11,da LOrCE (Lei Complementar 18/93) e Portaria 39/2006;
5. ASSINEM-LHE o prazo de 60 (sessenta) dias para o recolhimento voluntário do
valor da multa antes referenciado, sob pena de cobrança executiva, desde já
recomendada, inclusive com a interveniência da Procuradoria Geral do Estado,
ou do Ministério Público comum, na inação daquela, nos termos dos parágrafos
3° e 4°, do artigo 71 da Constituição do Estado, devendo a cobrança executiva
ser promovida nos 30 (trinta) dias seguintes ao término do prazo para
recolhimento voluntário, se este não ocorrer;
6. ASSINEM o prazo de 90 (noventa) dias, ao atual Prefeito Municipal,
SEBASTIÃO ALBERTO CÂNDIDO DA CRUZ, para a apresentação de
providências no sentido de regularizar a documentação, junto ao Departamento
Estadual de Trânsito/PB, das três unidades móveis de saúde adquiridas no
exercício;
7. ORDENEM ao atual Mandatário Municipal, a reposição à conta específica do
FUNDEF, no Banco do Brasil, no prazo de 30 (trinta) dias, com recursos do
próprio município, do valor de R$ 136.914,27, franqueando-lhe, desde já, a
possibilidade de solicitar parcelamento, se atendidas as normas regedoras da
espécie;
8. DETERMINEM a remessa cópia de peças dos presentes autos à Procuradoria
Geral de Justiça para o exercício de suas competências, na existência de
cometimento de delitos;
9. RECOMENDEM à atual Administração do Município, no sentido de que não
mais se repitam as falhas verificadas nos presentes autos, especialmente no
tocante aos elevados gastos com shows artísticos;
10. REPRESENTEM à Delegacia local da Receita Federal do Brasil acerca da
possível falta de retenção e recolhimento das contribuições previdenciárias.
É a Proposta.
João Pessoa, 27 agosto de 200
.7'

mgsr

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