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TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSO TC N° 02315/07

Administração Direta Municipal. Câmara


Municipal de São Sebastião de Lagoa de
Roça. Prestação de contas anuais, exercício
financeiro de 2006. Julgamento regular.
Atendimento integral aos preceitos da LRF.
Emissão de recomendações. Comunicação ao
INSS.

A CORDÃ O APL TC b li 12008


1. RELATÓRIO
Examina-se a prestação de contas da Mesa da Câmara Municipal de São Sebastião de Lagoa de
Roça, relativa ao exercício financeiro de 2006, tendo como Presidente o Vereador Airton Jorge do
Nascimento.
A manifestação inicial da unidade técnica de instrução desta Corte, fls. 148/156, evidenciou os
seguintes aspectos:
1. a prestação de contas foi encaminhada ao Tribunal no prazo determinado pela Resolução RN
TC nO99/97;
2. o orçamento, Lei nO296, de 25 de novembro de 2005, estimou as transferências e fixou a
despesa em R$ 351.947,00;
3. a receita extra-orçamentária somou R$ 46.592,94, relativa a "INSS (R$ 4.513,77);
Empréstimos em Consignação (R$ 25.913,07); IPSM (R$ 3.066,76); ISS (R$ 2.489,45); IRRF
(R$ 9.559,89) e Repasse do PASEP (R$ 1.050,00) e a despesa extra-orçamentária atingiu R$
46.593,05, apresentando a mesma composição da receita extra-orçamentária, exceto quanto a
parcela relativa ao IPSM que foi de R$ 3.066,87;
4. a despesa com a folha de pagamento do Poder Legislativo atingiu 69,82% das transferências
recebidas cumprindo, assim, com o que determina o artigo 29-A, parágrafo primeiro da
Constituição Federal':
5. os gastos com pessoal, no valor de R$ 300.635,46, corresponderam a 4,18% da receita
corrente líquida, atendendo o que dispõe o art. 20 da Lei de Responsabilidade Fiscal - LRF2;

1 Art. 29-A. o total da despesa do Poder Legislativo Municipal, incluídos os subsídios dos Vereadores e excluídos os gastos com inatívos, não poderá ultrapassar os seguintes
percentuais, relativos ao somatório da receita tributária e das transferências previstas no § 52 do art. 153 e nos arts. 158 e 159, efetivamente realízado no exercicio anterior:
I - oito por cento para Municipios com população de até cem mil habitantes;
11- sete por cento para Munícípíos com população entre cem mil e um e trezentos mil habitantes;
111- seis por cento para Municipios com população entre trezentos mil e um e quinhentos mil habitantes;
IV - cinco por cento para Municipíos com população acima de quinhentos mil habitantes
§ 1º A Câmara Municípal não gastará mais de setenta por cento de sua receita com folha de pagamento, incluído o gasto com o subsídio de seus Vereadores.

2 Art. 20. A reparüção dos limites globaís do art. 19 não poderá exceder os seguintes percentuaís:
111- na esfera municipal:
a) 6% (seis por cento) para o Legíslativo, incluído o Tribunal de Contas do Municipio, quando houver;
b) 54% (cínqüenta e quatro por cento) para o Executivo.

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6. regularidade no pagamento dos subsídios dos Vereadores, vez que cumpriu as determinações
constantes do art. 29, incisos VI e VII da Constituição Federal 3;
7. Os servidores efetivos da Câmara em análise estão vinculados ao Instituto de Previdência dos
Servidores Municipais de São Sebastião de Lagoa de Roça (IPSM), que procedeu
corretamente a retenção das contribuições previdenciárias dos empregados e as de
competência da Câmara (parte patronal), conforme informação constante da PCA do referido
Instituto, exercício 2006 (Processo TC nO02337/07);

8. o Balanço Financeiro não apresenta saldo para o exercício seguinte;


9. por fim, apontou as seguintes irregularidades:
9.1 Ausência de comprovação da publicação dos RGFs referentes aos dois
semestres;
9.2 incompatibilidade de informações entre o RGF e a PCA;
9.3 despesas não licitadas no valor de R$ 25.119,00;
9.4 falta de recolhimento de contribuições previdenciárias ao INSS, no valor de
R$ 70.468,41 (parte patronal - R$ 53.432,19 e parte empregado - R$
27.562,87);
9.5 Insuficiência financeira para saldar os compromissos de curto prazo no valor
de R$ 70.468,52, vez que a Câmara não dispunha de saldo no final do
exercício e devia ter recolhido ao INSS a importância de R$
70.468,41, decorrente das contribuições previdenciárias (parte patronal e
empregado);
9.6 as transferências somaram R$ 351.946,92, correspondentes a 100% do
valor estimado, e a despesa orçamentária realizada atingiu R$
348.049,05, equivalentes a 98,89% da fixação inicial, constatando-se a
ocorrência de superávit orçamentário de R$ 3.897,87. Com a inclusão na
despesa orçamentária das obrigações patronais não recolhidas ao INSS, no

Art. 29 omissis
3
VI - o subsídio dos Vereadores será fixado pelas respectivas Câmaras Munícipais em cada legislatura para a subseqüente, observado o que dispõe
esta Conslíluição. observados os critérios estabelecidos na respectiva Lei Orgânica e os seguintes limites máximos: (Redacão dada pela Emenda
Constitucional n° 25, de 2000)
a) em Municípios de até dez mil habítantes, o subsídío máximo dos Vereadores corresponderá a vinte por cento do subsidio dos Deputados
Estaduais; (lncluido pela Emenda Conslílucional n° 25, de 2000)
b) em Municipios de dez mil e um a cinqüenta mil habitantes, o subsidio máximo dos Vereadores corresponderá a trinta por cento do subsidio dos
Deputados Estaduais; (lncluido pela Emenda Constitucional nO25, de 2000)
c) em Municipios de cinqüenta mil e um a cem mil habítantes, o subsidio máximo dos Vereadores corresponderá a quarenta por cento do subsidio
dos Deputados Estaduais; (lncluido pela Emenda Constitucional n° 25, de 2000)
d) em Municípios de cem mil e um a trezentos mil habitantes, o subsídio máximo dos Vereadores corresponderá a cinqüenta por cento do subsidio
dos Deputados Estaduais; (lncluido pela Emenda Constitucional n° 25, de 2000)
e) em Municípios de trezentos mil e um a quinhentos mil habitantes, o subsidio máximo dos Vereadores corresponderá a sessenta por cento do
subsidio dos Deputados Estaduais; (Incluído pela Emenda Constitucional nO25, de 2000)
~ em Municipios de mais de quinhentos mil habitantes, o subsidio máximo dos Vereadores corresponderá a setenta e cinco por cento do subsídio
dos Deputados Estaduais; (Incluído pela Emenda Constitucional n° 25, de 2000)
VII - o total da despesa com a remuneração dos Vereadores não poderá ultrapassar o montante de cinco por cento da receita do Municipio; (Incluído
pela Emenda Constitucional n° 1, de 1992) •

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valor de R$ 53.432,19, a execução orçamentária passa a apresentar um


déficit de R$ 49.534,32;
9.7 a despesa total do Poder Legislativo Municipal foi de 7,80% do somatório
das receitas próprias mais transferências, cumprindo o comando do art. 29-
A da Constituição Federal. Com a inclusão das obrigações patronais não
recolhidas pela Câmara ao INSS, no valor de R$ 53.432,19, a despesa total
do legislativo passa a ser de R$ 401.481,24, correspondendo a 8,99%,
descumprindo, assim, o mandamento constitucional já mencionado.

Em decorrência das falhas indicadas, o interessado, regularmente notificado, apresentou defesa e


documentos de fls. 161/275, que segundo a Auditoria, não modificaram seu entendimento inicial, exceto
quanto aos itens 9.4 (falta de recolhimento das contribuições previdenciárias), 9.5 (insuficiência financeira),
9.6 (déficit orçamentário) e 9.7 (despesa total do Poder legislativo), que foram parcialmente sanadas em
decorrência dos documentos encartados comprovarem que o INSS pago (parte patronal e parte
empregado), no exercício em análise foi de R$ 13.917,91, sendo R$ 9.404,14 da parte patronal e R$
4.513,77 parte empregado. Assim, no entendimento da Auditoria, as irregularidades passam a se
apresentar da seguinte forma:

(1) falta de recolhimento das contribuições previdenciárias passa de R$ 70.468,52 para R$


67.077,15 (item 9.4);
(2) insuficiência financeira para saldar os compromissos de curto prazo passa de R$ 70.468,52
para R$ 67.077,15;
(3) déficit orçamentário passa de R$ 49.534,32 para R$ 40.130,18, vez que foi recolhido o valor de
R$ 9.404,14, referente às contribuições patronais;
(4) despesa total do Poder Legislativo passa de R$ 401.481,24 (8,99%) para R$ 392.077,10
(8,78%), porquanto já foram pagas contribuições patronais no valor de R$ 9.404,14.

Instado a se pronunciar o Ministério Público Especial emitiu parecer de n° 581/08, opinando,


resumidamente pela:

a) irregularidade das contas da Mesa da Câmara Municipal de São Sebastião de Lagoa de Roça;
b) pelo atendimento parcial às disposições da Lei de Responsabilidade Fiscal;
c) recomendação ao atual Presidente da Câmara Municipal de São Sebastião de Lagoa de Roça,
no sentido de efetuar o recolhimento das contribuições previdenciárias, em obediência ao
disposto na legislação vigente.

2. PROPOSTA DE DECISÃO DO RELATOR


Do relato feito, cumpre registrar que a irregularidade atinente ao não recolhimento das
contribuições previdenciárias ao órgão competente (INSS) provocou, em cadeia, as irregularidades relativas
ao déficit orçamentário, a insuficiência financeira e ao excesso na despesa total do Poder Legislativo, visto
que apesar de não paga no exercício em análise, a despesa foi apropriada pela Auditoria como pertencente
ao exercício. Assim, o Relator deixa de considerá-Ias por não refletirem, de fato, despesas do exercício em
comento.

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As irregularidades que permaneceram, após a análise da defesa, se referem a: (1) ausência de


comprovação da publicação dos RGF referentes aos dois semestres; (2) incompatibilidade de informações
entre o RGF e a PCA; (3) despesas não licitadas no valor de R$ 25.119,00; e (4) falta de recolhimento de
contribuições previdenciárias ao INSS, no valor de R$ 67.077,15.
Tocante a ausência de comprovação da publicação dos RGF, referentes aos dois semestres,
assegurou, a Auditoria, que as cópias apresentadas das publicações no Jornal "O Mensário Oficial" não
comprovam a publicação dos mesmos, pois, entre outras observações, verificou-se a falta de assinaturas
dos responsáveis e indícios de montagem dos documentos. Ocorre que a falha apontada pela Auditoria
ficou apenas em nível de indícios de irregularidades, não havendo a confirmação dos fatos pelo próprio
órgão auditor, o que leva o Relator a não vislumbrar a irregularidade apontada.
Quanto às despesas não licitadas, no total de R$ 25.119,00, equivalente a 7,21% da despesa
orçamentária, o defendente alegou que elas se referiam a aluguel de veículos para transporte de
vereadores, residentes na zona rural, para as sessões plenárias, inclusive o transporte do presidente, envio
de balancetes e outros documentos ao Tribunal, bem como outros serviços administrativos da Câmara.
Alegou também que a licitação não ocorreu porque o montante gasto não atingiu o limite para realização de
tal procedimento, uma vez que não houve monopólio, já que 10 pessoas distintas prestaram serviços ao
longo do exercício. De acordo com tabela elaborada pela Auditoria, em seu relatório de fls. 149, o Relator
verificou que os serviços foram realmente distribuídos entre 10 prestadores, onde nenhum deles recebeu,
durante o exercício, valor que exigisse procedimento licitatório. Portanto, o Relator não comunga com o
entendimento do órgão técnico.
Atinente à incompatibilidade de informações entre o RGF e a PCA, tocante às despesas com
pessoal, é conveniente recomendar que a Câmara Municipal envide esforços no sentido de prestar as
informações corretas a esta Corte, evitando-se, por conseguinte, a repetição da falha em apreço.
Relativamente à ausência de recolhimento das contribuições previdenciárias (parte patronal e
parte empregado) incidentes sobre o subsídio dos vereadores e as remunerações dos comissionados e dos
prestadores de serviço, no valor de R$ 67.077,15, os documentos juntados comprovam que o Prefeito do
Município providenciou a confissão de débito, emitida em 26/03/2008, pela Secretaria da Receita Federal do
Brasil, envolvendo o período de 12/2003 a 12/2007, fl. 167, antes, portanto, do julgamento da presente
prestação de contas. O Tribunal tem afastado falhas e/ou irregularidades, a exemplo de imputação de
débito, quando corrigidas antes do julgamento. É de se registrar que no tocante especificamente aos
prestadores de serviços, a irregularidade não se insere entre àquelas previstas no Parecer Normativo PN
TC 52/2004, que leva ao julgamento irregular das contas, cabendo apenas comunicação do fato ao INSS.
Feitas essas observações, e considerando o que do mais consta nos autos, o Relator propõe que
os Conselheiros do Tribunal de Contas do Estado da Paraíba:
1) julguem REGULAR a prestação de contas da Mesa da Câmara Municipal de
São Sebastião de Lagoa de Roça, exercício de 2006, sob a responsabilidade
do Vereador Airton Jorge do Nascimento;
2) declarem o ATENDIMENTO INTEGRAL aos preceitos da LRF;
3) comuniquem ao INSS acerca da irregularidade apontada pela Auditoria,
tocante ao não recolhimento das contribuições previdenciárias dos prestadores

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de serviços, relativas ao exercício de 2006, para as providências que julgar


cabíveis;
4) recomendem ao gestor no sentido de observar os comandos constitucionais
norteadores da administração pública e dos ditames da Constituição Federal,
Lei 4.320/64, Lei de Responsabilidade Fiscal e da Lei nO8666/93, bem como o
Parecer Normativo PN TC 52/04.

3. DECISÃO DO TRIBUNAL PLENO


Vistos, relatados e discutidos os autos do Processo TC nO02315/07, ACORDAM os Conselheiros
do Tribunal de Contas do Estado da Paraíba, à unanimidade de votos, na sessão plenária hoje realizada,
acatando a proposta de decisão do Relator, em:
I) julgar REGULAR a prestação de contas da Mesa da Câmara Municipal de São
Sebastião de Lagoa de Roça, exercício de 2006, sob a responsabilidade do Vereador
Airton Jorge do Nascimento;
li) declarar o ATENDIMENTO INTEGRAL aos preceitos da LRF;
111) comunicar ao INSS acerca da irregularidade apontada pela Auditoria, tocante
ao não recolhimento das contribuições previdenciárias dos prestadores de serviços,
relativas ao exercício de 2006, para as providências que julgar cabíveis.
IV) recomendar ao gestor no sentido de observar os comandos constitucionais
norteadores da administração pública e dos ditames da Constituição Federal, Lei 4.320/64,
Lei de Responsabilidade Fiscal e da Lei nO8666/93, bem como o Parecer Normativo PN
TC 52/04;

Publique-se, intime-se e cumpra-se.


Sala das Sessões do TCE-P PI nã~io Ministro João Agripino.
João Pessoa, 20 go*o de 2008.
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ConselheirJj ~ Alves Viana

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AUditor.Antônio Cláudio Silva
I Relator
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Ana Terêsa Nói;;;ga
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Procuradora Geral do Ministério Público junto ao
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