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TRiBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSO TC N° 02205/07

Administração Direta Municipal. Câmara


Municipal de Esperança. Prestação de
contas anuais, exercício financeiro de 2006.
Julga-se regular. Declaram-se parcialmente
atendidos os preceitos da LRF. Emitem-se
recomendações.

ACORDÃOAPL TC 14J:~/2=OO=8=========!

1. RELATÓRIO

Examina-se a prestação de contas da Mesa da Câmara Municipal de Esperança, relativa ao


exercício financeiro de 2006, tendo como ex-Presidente o Vereador Evandro Alves da Rocha.

A manifestação inicial da unidade técnica de instrução desta Corte, fls. 189/196, evidenciou os
seguintes aspectos:

1. a prestação de contas foi encaminhada ao Tribunal no prazo determinado pela Resolução


RN TC nO99197;
2. o orçamento, Lei nO1.179, de 05 de dezembro de 2005, estimou as transferências e fixou a
despesa em R$ 650.000,00;
3. as transferências recebidas somaram R$ 686.500,00, correspondentes a 105,62% do valor
estimado, e a despesa orçamentária realizada atingiu R$ 675.420,85, equivalentes a
103,91% da fixação inicial, constatando-se a ocorrência de superávit orçamentário de
R$ 11.079,15;
4. a receita extra-orçamentária somou R$ 138.370,74, relativa a Restos a Pagar (R$100,00);
Consignações diversas (R$ 64.585,99) e outras (R$ 73.684,75) e a despesa extra-
orçamentária atingiu R$ 137.572,42, referentes a Consignações diversas (R$ 64.585,99) e
Outras (R$ 72.986,43);
5. a despesa com a folha de pagamento do Poder Legislativo atingiu 66,60% das
transferências recebidas cumprindo, assim, com o que determina o artigo 29-A, parágrafo
primeiro da Constituição Federal1;
6. os gastos com pessoal, no valor de R$ 548.529,48, corresponderam a 2,98% da receita
corrente líquida, atendendo o que dispõe o art. 20 da Lei de Responsabilidade Fiscal -
LRF2;

1 Art. 29-A. o total da despesa do Poder Legislativo Municipal, incluidos os subsidios dos Vereadores e excluidos os gastos com inativos, não poderá ultrapassar os seguintes
percentuais, relativos ao somatório da receita tributária e das transferências previstas no § 5" do art. 153 e nos arts. 158 e 159, efetivamente realizado no exercicio anterior:
I - oito por cento para Municipios com população de até cem mil habitantes;
11- sete por cento para Municípios com população entre cem mil e um e trezentos mil habitantes;
111- seis por cento para Municlpios com população entre trezentos mil e um e quinhentos mil habitantes;
IV - cinco por cento para Municipios com população acima de quinhentos mil habitantes
§ 1ºA Câmara Municipal não gastará mais de setenta por cento de sua receita com folha de pagamento, incluldo o gasto com o subsidio de seus Vereadores.

2 Art. 20. A repartição dos limites globais do art. 19 não poderá exceder os seguintes percentuais:
111 - na esfera municipal:
a) 6% (seis por cento) para o Legislativo, incluido o Tribunal de Contas do Municipio, quando houver;

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7. a despesa total do Poder Legislativo Municipal foi da ordem de R$ 675.420,85, que


corresponde a R$ 7,87% do somatório das receitas próprias mais transferências previstas
no § 50 do art. 153 e nos arts. 158 e 159 da CF, cumprindo o mandamento constitucional
do art. 29-A;
8. regularidade no pagamento dos subsídios dos Vereadores, vez que cumpriu as
determinações constantes do art. 29, incisos VI e VII da Constituição Federal 3;
9. o Balanço Financeiro apresenta um saldo para o exercício seguinte, no montante de
R$ 806,95, depositado em caixa (0,37%) e bancos (99,63%).
10. Por fim, apontou as seguintes irregularidades:
1. insuficiência financeira para saldar os compromissos de curto prazo, no valor de
R$ 6.219,98;
2. excesso de consumo de combustível, no valor de R$ 5.160,26;
3. despesas excessivas com diárias, no valor de R$ 5.580,00.

Em decorrência das falhas indicadas, o interessado, regularmente notificado, apresentou defesa e


documentos de fls. 201/262, que segundo a Auditoria, não modificaram seu entendimento inicial.

INSUFICIÊNCIA FINANCEIRA PARA SALDAR OS COMPROMISSOS DE CURTO PRAZO, NO


VALOR DE R$ 6.219,98.
Defesa - O defendente não apresentou qualquer justificativa.
Auditoria - Mantém a irregularidade.
EXCESSO DE CONSUMO DE COMBUSTíVEL, NO VALOR DE R$ 5.160,26.
Defesa - Alega o defendente que a Câmara Municipal de Esperança só dispunha de um veículo, sendo
que o mesmo era usado apenas nas atividades relacionadas ao Poder Legislativo e era utilizado, não
apenas pela Presidência, mas, por todos os vereadores em suas atividades legislativas junto às
comunidades. Ressalta, também, que as atividades da Câmara são permanentes, não sofrendo
qualquer paralização, mesmo no período de recesso parlamentar, pois nesse período ficam suspensas
apenas as atividades relacionadas à realização de sessões ordinárias da Câmara. As demais
atividades administrativas, bem como atendimento às comunidades e demais encaminhamentos
legislativos efetivamente realizados por todos os Vereadores continuam a ser desenvolvidas, e, para
tanto, necessário se faz o uso diário do aludido veículo.

b) 54% (cinqüenta e quatro por cento) para o Executivo.

3 Art. 29 omissis
VI • o subsidio dos Vereadores será fixado pelas respectivas Câmaras Municipais em cada legislatura para a subseqüente, observado o que dispõe esta Constituição,
observados os critérios estabelecidos na respectiva Lei Orgânica e os seguintes limites máximos: (Redacão dada pela Emenda Constitucional n° 25, de 2000)
a) em Municipios de até dez mil habitantes, o subsidio máximo dos Vereadores corresponderá a vinte por cento do subsidio dos Deputados Estaduais; (Incluído peia
Emenda Constitucional nO25, de 2000)
b) em Municipios de dez mil e um a cinqüenta mil habitantes, o subsídio máximo dos Vereadores corresponderá a trínta por cento do subsídio dos Deputados Estaduais;
(lncluldo pela Emenda Constitucional n° 25, de 2000l
c) em Municipios de cinqüenta mil e um a cem mil habitantes, o subsidio máximo dos Vereadores corresponderá a quarenta por cento do subsidio dos Deputados
Estaduais; (Incluído pela Emenda Constitucional n° 25, de 2000l
d) em Municípios de cem mil e um a trezentos mil habitantes, o subsidío máximo dos
Vereadores corresponderá a cinqüenta por cento do subsidia dos Deputados Estaduais; (Incluido pela Emenda Constitucional nO25, de 2000l
e) em Municipios de trezentos mil e um a quinhentos mil habitantes, o subsidio máximo dos Vereadores corresponderá a sessenta por cento do subsidio dos Deputados
Estaduais; (lncluido pela Emenda Constitucional n° 25, de 2000)
n em Municípios de mais de quinhentos mil habitantes, o subsidio máximo dos Vereadores corresponderá a setenta e cinco por cento do subsídio dos Deputados
Estaduais; (Incluido pela Emenda Constitucional nO25, de 2000)
VII - o total da despesa com a remuneração dos Vereadores não poderá ultrapassar o montante de cinco por cento da receita do Município; (lncluldo pela Emenda
Constitucional n° 1, de 1992) ,

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Auditoria - Verificou-se uma série de descontroles quanto ao consumo de combustível, a exemplo dos
empenhos 219 e 449, onde se verifica o pagamento de combustível para o veículo do Presidente da
Câmara e do Advogado, incluídos na mesma nota de empenho onde se paga o combustível do veículo
oficial. A Auditoria não acata, também, a argumentação de que, durante o período de recesso -
correspondente a metade de todo ano (seis meses), não havia possibilidade de redução na quantidade
de combustível consumido. Assim, mantém a irregularidade.
DESPESAS EXCESSIVAS COM DIÁRIAS, NO VALOR DE R$ 5.580,00
Defesa - Alega o defendente acerca do motivo dessas diárias ser "para trato de assuntos junto ao
escritório de advocacia Pires e Bezerra", que tal informação consta no histórico dos empenhos, "vez
que por ocasião dos deslocamentos dos Vereadores até a Capital deste estado, mesmo que para trato
de outros interesses do município de Esperança e inerentes à atividade parlamentar, esses
aproveitavam a oportunidade para ir até aquele escritório para buscar a solução de outros problemas.
Por esse motivo os beneficiários dessas diárias solicitavam uma declaração de comparecimento
naquele escritório para acostá-Ias ao processo de empenho, sem, contudo, constar no histórico as
demais atividades relacionadas aquela viagem. Anexa as cópias das aludidas declarações do Escritório
de Advocacia Pires e Bezerra, junto com a cópia do cheque e o empenho.
Auditoria - Destaca que as despesas anuais com diárias da Câmara somaram R$ 10.260,00,
correspondendo a 72 diárias. Desse total de diárias concedidas no exercício, 36, equivalente a R$
5.580,00, tiveram como motivo o trato de assuntos junto ao Escritório de Advocacia Pires e Bezerra,
localizado em João Pessoa, vez que dito escritório presta serviço de consultoria advocatícia ao
legislativo Municipal. Sustentaram em seu favor que aproveitavam as viagens a esta Capital para tratar
de outros interesses do município de Esperança afetos à atividade parlamentar sem especificar o que
isso significa objetivamente, revelando, assim, a pouca atenção dada as informações constantes de
documentos oficiais, bem assim a própria Resolução Normativa RN TC 09/2001. Mantida, portanto, a
irregularidade.

Instado a se pronunciar o Ministério Público Especial emitiu parecer de nO622/08, entendendo


resumidamente que:

a) QUANTO A INSUFICIÊNCIA FINANCEIRA - Constitui ofensa à lRF, pois foi detectada no


último exercício do mandato, consoante redação do art. 42 da lC 101/00. Assim,
permanece a irregularidade;
b) TOCANTE AO EXCESSO NO CONSUMO DE COMBUSTíVEL - É de se recomendar ao
gestor o atendimento ao princípio da economicidade, não havendo, porém, parâmetro para
se imputar responsabilidade por excesso de gasto;
c) ATINENTE AS DESPESAS EXCESSIVAS COM DIÁRIAS - Vê-se que os gastos foram
efetuados em descompasso com a Resolução RN TC 09/01, havendo, por conseguinte,
ofensa às normas regulamentares editadas por esta Corte, sujeitando o gestor à aplicação
de multa, nos termos do art. 56, inciso 11, da lOTCE/PB.
d) POR FIM, PUGNOU PElO(A):
• Regularidade das contas da Mesa da Câmara Municipal de Esperança;
• Atendimento parcial dos requisitos de gestão fiscal responsável, previsto na lC
101/2000;
• Aplicação de multa gestor, com fulcro no art. 56, 11 da lOTCE/PB.
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2. PROPOSTA DE DECISÃO DO RELATOR

Tocante aos gastos com combustível, o Relator acolhe os argumentos da defesa de que o uso do
veículo não está vinculado apenas ao funcionamento das sessões plenárias da Câmara. Além do mais,
o consumo médio diário ficou em 13,6 litros por dia, dentro, portanto, de um consumo aceitável. O
percentual do gasto, em relação às transferências recebidas, ficou em 2%, bem inferior aos 5%
usualmente considerados por este Plenário como normal. Assim, o Relator entende como aceitáveis as
despesas realizadas com combustível, comungando com o entendimento do Ministério Público
Especial.

Quanto às diárias, a Auditoria, em seu relatório preliminar, considerou irregulares 36 (trinta e seis)
diárias ao ano, no montante de R$ 5.580,00, de um total de 72 (setenta e dois), que tiveram como
objeto tratar de assuntos junto ao escritório de advocacia Pires e Bezerra. Entendeu, a Unidade
Técnica, que o volume de prestação de serviço não justificaria a quantidade de diária despendida para
esse fim. Além do mais, tais despesas onerariam significativamente (em 31%) o valor do contrato de
consultoria. Entende, o Relator, que as dilações da auditoria são de ordem subjetiva, não se
demonstrando efetivamente que os deslocamentos não ocorreram. Por outro lado, a defesa
apresentou, para cada deslocamento feito pelo presidente e vereadores, declaração do Escritório, de
que houve comparecimento dos edis ao mesmo para tratar de assuntos de interesse do Poder
Legislativo. Assim, o Relator entende que não há como considerar as despesas irregulares e imputar
débito. A média mensal foi de 6 diárias. Deve-se, porém, recomendar ao gestor que os processos de
concessão de diárias sejam instruídos conforme dispõe a Resolução Normativa RN TC 09/2001.

Ante o exposto, o Relator, em concordância com a manifestação do Ministério Público Especial,


exceto no tocante à multa, propõe: (1) regularidade das contas da Mesa da Câmara Municipal de
Esperança, exercício de 2006, sob a responsabilidade do Vereador Evandro Alves da Rocha (2)
declaração de atendimento parcial aos preceitos da LRF, em razão da insuficiência financeira para
saldar os compromissos de curto prazo; (3) recomendações ao gestor no sentido de observar os
comandos constitucionais norteadores da administração pública e dos ditames da Constituição Federal,
Lei 4.320/64, Lei de Responsabilidade Fiscal e da Lei nO8666193, bem como o Parecer Normativo PN
TC 52/04.

3. DECISÃO DO TRIBUNAL PLENO

Vistos, relatados e discutidos os autos do Processo TC nO 02205/07, ACORDAM os


Conselheiros do Tribunal de Contas do Estado da Paraíba, à unanimidade de votos, na sessão
plenária hoje realizada, acatando a proposta de decisão do Relator, em:

I) Julgar REGULAR as contas da Mesa da Câmara Municipal de


Esperança, exercício de 2006, sob a responsabilidade do Vereador
Evandro Alves da Rocha;
11) Declarar o atendimento parcial aos preceitos da LRF, motivado pela

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111) Recomendar ao gestor no sentido de observar os comandos


constitucionais norteadores da administração pública e dos ditames
da Constituição Federal, Lei 4.320/64, Lei de Responsabilidade
Fiscal e da Lei nO8666/93, bem como o Parecer Normativo PN TC
52/04.

Publique-se e intime-se.
Sala das Sessões do TCE·PB enário Ministro João Agripino.
João Pessoa, 3 ago de 2008.

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{Ami1erêsa Nóbrega .
J_",V
Procuradora Geral do Ministério Público junto ao
rCE·PB

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