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Plinio Marcos Moreira da Rocha

pliniomarcosmr@gmail.com

artigo - salve-se quem puder


Adriano Benayon abenayon@brturbo.com.br 9
de agosto de 2009 15:02

Publicado em A Nova Democracia, nº 55, agosto de 2009

SALVE-SE QUEM PUDER

Adriano Benayon * – 09.07.2009

EUA e dólar

De há muito temos advertido: manter a quase totalidade das reservas


em títulos norte-americanos custará muito caro ao Brasil, sem falar na
China e na Rússia, que acumularam ainda maior quantidade desses
títulos.

Para o Brasil seria mais fácil liquidá-los enquanto não perdessem a


maior parte do valor nominal. De fato, sendo, no caso, menor o
volume que o daqueles países, as primeiras vendas não
desencadeariam desvalorização tão grande dos títulos.

Há dificuldade crescente de o Tesouro dos EUA conseguir compradores


para a maior parte dos títulos que precisa emitir a fim de: 1) cobrir o
crescente serviço da dívida federal: 2) continuar investindo no poderio
militar imperial; 3) adquirir trilhões de dólares de títulos podres, como
os derivativos, limpando os balanços de bancos que deveriam falir; 4)
comprar ações desses bancos e de empresas industriais, sem,
incrivelmente, assumir o controle.

A dívida federal chegou a US 11,5 trilhões em 30 de junho, tendo-se


elevado em US$ 2 trilhões nos últimos 12 meses. O déficit federal dos
EUA aproxima-se de US$ 2 trilhões, e diante das perspectivas de
insolvência e de inflação, tem subido a taxa de juros, especialmente
nos títulos de médio e longo prazo, o que, por sua vez, eleva o déficit.

Assim, parte crescente dos rombos tem sido “fechada” com emissões
de moeda pelo FED, o banco central dos EUA, de propriedade de
grandes bancos privados, os causadores do colapso financeiro, com
que, de resto, lucraram ao criar os títulos podres.

Forma-se a hiperinflação, que só não se manifestou ainda nos preços


de bens e serviços devido ao declínio da procura por causa da
depressão.

O déficit cresce também com a queda da arrecadação fiscal, devido ao


declínio da atividade econômica e do emprego. Com 467 mil demissões
em junho de 2009, acumulam-se quase 7 milhões de novos
desempregados desde dezembro de 2007, sem incluir o setor agrícola.
A taxa de desemprego chegou a 9,5%, tendo quase dobrado desde
junho de 2007.

Tal como numa República bananeira, ou pior, o Secretário do Tesouro,


Geithner, apela aos bancos socorridos com dinheiro público, para que
ajudem o governo a cobrir o déficit, adquirindo seus títulos. Espera que
o presidente faça alguns telefonemas neste sentido: “comprem nossos
títulos, ou a música vai parar”.

Ou seja: para dar dinheiro a bancos privados (cerca de U$ 12 trilhões


até o presente), o Tesouro dos EUA emite títulos públicos[1], pagando
juros, e pede aos bancos que, com o dinheiro, comprem esses títulos, sobre os
quais eles ganharão juros.

É algo semelhante ao que se faz, há muito tempo, no Brasil, sendo as


únicas diferenças: 1) o nível absurdamente alto das taxas de juros no
Brasil; 2) não ser aqui o Banco Central privado, embora esteja
igualmente a serviço dos bancos. Nos EUA o FED é privado, desde
dezembro de 1913.

Desenlace próximo
Ao contrário do que propalam os economistas “bem comportados” e a
grande mídia, os apuros dos bancos, principalmente nos EUA e na
Europa, tendem a ressurgir de modo ainda mais intenso do que nos
dois primeiros anos do colapso financeiro. Assim, o FED emitirá moeda
em quantidades ainda mais espantosas do que já tem feito, para cobrir
os novos rombos.

A propósito, os grandes bancos - que mandam no governo – têm


usado o dinheiro que escandalosamente receberam dele, para
fomentar novas bolhas, especulando em ações e na securitização, i.e.,
na criação de títulos, em que são empacotadas dívidas de
empréstimos, inclusive referentes a novas hipotecas, e de cartões de
crédito.

Tudo isso leva à mesma conclusão: não haverá, dentro de pouco


tempo, mais como conter o afundamento do dólar, que vinha sendo
evitado com a ajuda de grandes detentores estrangeiros de títulos
estadunidenses.

Golpe mundial

Esse é o pano de fundo, oculto nos grandes meios de comunicação,


das manobras da oligarquia anglo-americana para estabelecer a moeda
internacional única. Isso significa consolidar e tornar mais absoluto o
governo mundial, que já vem sendo exercido de fato por aquela
oligarquia em grande número de países de todos os continentes.

Por incrível que pareça, a oligarquia aumenta sua concentração de


poder não só nas conjunturas de produção em alta, mas também – e
mais ainda – nas crises. As dinastias do poder real têm historicamente
suscitado os colapsos financeiros e as depressões, para intensificar a
concentração e para fortalecer-se institucionalmente.

Com crise aguda em 1907, os senadores e representantes ligados à


oligarquia obtiveram no Congresso dos EUA a criação de Comissão
Monetária Nacional supostamente para disciplinar o sistema financeiro.

A partir daí o grupo de grandes banqueiros norte-americanos e


britânicos fez aprovar, de modo turvo, pelo Congresso, na calada das
vésperas do Natal, a criação do Federal Reserve Bureau (o FED),
imediatamente sancionada em lei, de 23 de dezembro de 1913, pelo
presidente Woodrow Wilson, entrosado com a conspiração.

Esse foi o golpe inconstitucional que fez usurpar do governo dos EUA o
poder de controlar a moeda e o crédito, em favor de um cartel de
banqueiros privados. Foi precedido de intensa campanha, com a
“justificativa” de que era necessário controlar o sistema financeiro em
face dos abusos ocorridos em várias depressões desde 1873.

E o que está acontecendo agora nos EUA? O presidente Obama propõe


plano para conceder ao FED, que é privado e não presta contas a
ninguém, poderes totais de fiscalização e controle sobre os bancos e
sobre toda a economia norte-americana.

As regras propostas garantem ao FED autoridade para regulamentar


qualquer companhia cuja atividade lhe pareça ameaçar a economia e
os mercados. O analista Harry Schultz traduz: “qualquer empresa que
‘ameace’ os interesses monopolistas dos banqueiros.”

Assinalam P. Joseph e S. Watson: “A reforma de regulamentação de


Obama não passa de luz verde para que o cartel de bancos privados
assuma por completo o controle dos EUA, usurpando os poderes das
instituições de regulamentação existentes, as quais estão sendo
recriminadas em face da crise financeira, a fim transferir esses
poderes para o todo poderoso FED.”

“O governo deseja entregar tudo a uma corporação privada monolítica, a um


bando de banqueiros que engoliram dinheiro dos contribuintes em quantia quase
igual ao PIB e que estão dando uma banana à pergunta de para onde foi esse
dinheiro.”

* Adriano Benayon é Doutor em Economia. Autor de “Globalização versus


Desenvolvimento”, editora Escrituras. abenayon@brturbo.com.br

[1]
Claro que a maior parte daquele dinheiro foi arranjado com a emissão de moeda,
privilégio pertencente ao FED, junto com os ganhos dele decorrentes.

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