Edição: Lívia Freitag Florianópolis, julho de 2009
Fim da exigência do diploma de Comissão estuda
novas diretrizes curriculares
jornalismo gera controvérsias Uma Comissão de Especialistas em
jornalismo foi criada em fevereiro desse ano pelo Ministério da Educação (MEC) para definir novas diretrizes curricula- Novas propostas de regulamentação tentam rebater argumentos do Supremo res – que orientam a criação dos proje- tos pedagógicos das graduações – para Tribunal Federal de que obrigatoriedade fere liberdade de expressão e informação os cursos de jornalismo. O grupo deve Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr propôr o aumento da carga horária da Após a decisão do Supremo Tribunal portantes e que continuará contratando graduação de 2.700 horas para 3.200 Federal (STF) que derrubou a obriga- seus profissionais em escolas de Comu- horas, das quais 200 devem contemplar toriedade do diploma para o exercício nicação. “O que não cabe mais é a reser- estágio e dedicação a outras atividades da profissão de jornalista, no dia 17 de va de mercado que fazia do diploma a complementares, como congressos. Ou- junho, quatro novas tentativas de regu- única alternativa de acesso à profissão”, tra das propostas é o retorno do estágio lamentação estão sendo elaboradas. Den- explicou o jornal. em redações de jornais, proibido desde a tre elas, três são Propostas de Emenda à O presidente nacional da OAB, Cezar década de 70. Constituição (PEC). A primeira delas foi Britto, opinou em entrevista à Agência O relatório, que está em fase final, deve protocolada no dia 1° de julho pelo sena- Brasil que “a decisão do STF não ob- ser apresentado até o dia 19 de agosto ao dor Antônio Carlos Valadares (PSB-SE) e servou corretamente qual é o papel do ministro da Educação, Fernando Haddad. a segunda, pelo deputado Paulo Pimenta jornalista e a sua função na defesa da A comissão acredita que entregará o do- (PT-RS), em 8 de julho. A terceira PEC, do liberdade de expressão”. Para Britto, a cumento antes da data prevista, segundo deputado José Airton Cirilo (PT-CE), ain- independência e a qualidade necessá- informações do portal Comunique-se. O da está em fase de coleta de assinaturas. rias ao correto trabalho jornalístico são relatório deve conter, ainda, recomenda- Todas essas propostas alteram o pa- “obtidas somente com diploma e com ções para que os cursos de jornalismo rágrafo 1° do artigo 220 da Constituição o registro no Ministério do Trabalho. O se tornem específicos e deixem de ser da Federal, que estabelece que “nenhuma lei primeiro garante a qualidade técnica e área de comunicação social. Estudantes fazem manifestação em favor da manutenção da obrigatoriedade do diploma conterá dispositivo que possa constituir o segundo a qualidade ética.” O presidente do Supremo Tribunal embaraço à plena liberdade de expres- Arte: Alexandre Lunelli Federal (STF), Gilmar Mendes, durante a são”, que inclui a exigência do diploma Outra proposta votação que derrubou a obrigatoriedade para o exercício da atividade jornalística. A Federação Nacional dos Jorna- do diploma, no dia 17 de junho, compa- O processo de aprovação de uma PEC é mais complexo do que o de um listas (FENAJ) propõe a criação de um Conselho Federal de Jornalismo, órgão Histórico da obrigatoriedade do diploma rou o curso de jornalismo ao de gastrono- mia, que é técnico e tem duração de dois Projeto de Lei. A proposta, depois de ser independente com a função de orientar anos. “Um excelente chefe de cozinha analisada por uma série de comissões, e fiscalizar o exercício da profissão nos poderá ser formado numa faculdade de deve ser aprovada pela Câmara dos De- mesmos moldes da Organização dos Ad- culinária, o que não legitima estarmos a putados e pelo Senado, com três quintos vogados Brasileiros (OAB). exigir que toda e qualquer refeição seja dos votos. Caso seja rejeitada, a proposta O projeto de lei 6.817, de 2002, que feita por profissional registrado mediante é arquivada e não pode mais ser apre- previa a criação deste conselho, foi re- diploma de curso superior nessa área”, sentada na mesma legislatura. provado na câmara dos deputados em observou Mendes A quarta tentativa de regulamenta- 2004, também sob argumento de que se- Em entrevista à Empresa Brasil de Co- ção da profissão de jornalista é o Projeto ria uma tentativa de controle da ativida- municação (EBC), em setembro do ano de Lei 5592/2009 do deputado Miro Tei- de jornalística e isso afetaria a liberdade passado, Haddad já indicava a intenção xeira (PDT-RJ). Caso aprovado, o proje- de expressão. O projeto previa punições de criar mestrados profissionalizantes em to prevê a obrigatoriedade do diploma para os profissionais que cometessem jornalismo. Com a decisão do STF, a ideia para o registro profissional, mas garante irregularidades, que poderiam ser ad- tomou força. “Nós sugerimos a criação exceção para colaboradores, desde que vertência, suspensão ou anulação do de dois tipos de mestrados profissionali- não possuam vínculo empregatício com registro profissional. zantes, um para pessoas graduadas em a empresa jornalística, e provisionados O ponto mais controverso da decisão jornalismo, que serviria como uma es- – pessoas que possuem conhecimento do STF foi o argumento utilizado pelo pecialização, e outro para profissionais prático reconhecido. ministro Gilmar Mendes, presidente do de outras áreas, que, com isso, poderiam Em entrevista ao Portal Imprensa, tribunal, de que a exigência do diploma atuar como colaboradores e agora, com a o jornalista Ricardo Kotscho afirma vai contra a Constituição Federal, pois se- decisão do STF, como jornalistas”, disse o achar “ótimo que, finalmente, a Justi- ria uma afronta ao direito de liberdade de professor Eduardo Meditsch, coordenador ça tenha tomado uma decisão, ao que expressão e informação. Mendes lembrou do mestrado em jornalismo da Universi- parece, definitiva”. Kotscho diz ainda que o Decreto-lei nº 972/69, que regula- dade Federal de Santa Catarina e um dos que “com o fim da Lei de Imprensa, que menta a profissão, foi instituído durante membros da comissão. Meditsch lembra todos queriam, e da desregulamentação o regime militar com o objetivo de afastar que esse tipo de mestrado funciona bem da profissão, sem colocar nada no lugar, das redações de jornais os políticos e inte- em outros países, como nos Estados Uni- o exercício do jornalismo agora virou lectuais contrários à ditadura. dos e em Portugal. “Se tiver um bom uma terra sem lei”. Na votação, no dia 17 de junho, por enfoque, é uma alternativa que pode dar Assim como Kotscho, jornalistas oito votos a um, os ministros do STF certo”, acredita. como Juca Kfouri, da ESPN, Eugênio consideraram procedente um recurso A Federação Nacional dos Jornalistas Bucci, professor da Escola de Comuni- protocolado pelo Sindicato das Empre- (FENAJ), no ano passado, se posicionou cação e Artes da Universidade de São sas de Rádio e Televisão de São Paulo contrária à possibilidade de que pessoas Paulo e empresas como as Organizações (Setesp) e pelo Ministério Público Fede- apenas com mestrado em jornalismo Globo, Grupo Folha e Grupo Estado ral (MPF) contra uma decisão do Tribu- exercessem a profissão. Em entrevista à manifestaram-se a favor da queda do nal Regional Federal da 3ª Região, que EBC, o presidente da federação afirmava diploma. Em editorial, o jornal Diário defendia a necessidade do diploma para que esta era “mais uma iniciativa que Catarinense, veículo de maior circu- o exercício da profissão. não contribui para o debate, mas ajuda a lação em Santa Catarina, afirmou que tumultuar. É o olhar de quem desconhece os curso de graduação continuam im- Alexandre Lunelli e Camila Augusto a realidade do mercado”. (A.L. e C.A.)