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Partido Comunista Brasileiro


N° 121 – 02.09.2009

Rumo ao 14º Congresso


Organizar, estudar, lutar:
Teses para estudo
O Capitalismo, Hoje - parte 4
As crises econômicas capitalistas
Como os comunistas veem a Cascavel de
hoje?
Qual é a verdadeira situação dos
cascavelenses, além da propaganda
oficial e do tradicional jogo de interesses
entre os partidos burgueses?
**
No final deste Boletim, apresentamos um documento-
base para motivar o debate em torno de uma avaliação
dos comunistas sobre a situação de Cascavel no
contexto da crise capitalista mundial, da submissão
final de Lula aos interesses neoliberais, da
transformação do governo do Estado em palanque
para a candidatura do governador Requião ao Senado
ou à Presidência e os equívocos das lideranças locais
no enfrentamento desses problemas.

31. O processo de aprofundamento e alargamento das relações capitalistas no mundo


veio acompanhado de outro, igualmente drástico, para as populações: o das sucessivas
crises de superprodução, que passavam, a contar da década de 1870, a fazer parte da
realidade econômica dos países capitalistas desenvolvidos, cujas consequências
atuariam no sentido de contribuir, sensivelmente, para a promoção de alterações
profundas na estrutura das sociedades burguesas.

A partir da consolidação do capitalismo na sua fase imperialista, percebem-se as


crises econômicas como muito mais prolongadas, ao contrário do que se podia sentir nas
crises anteriores à transição para o capitalismo monopolista, as quais teriam se
caracterizado por serem explosivas e menos duradouras, causadas, principalmente, por
más colheitas e ausência de produtos no mercado, provocando fome, miséria e revoltas
sociais de vulto, a canalizar o descontentamento imediato das massas.

32. De fato, somente com a passagem para o capitalismo monopolista, a Europa


continental passaria a sentir a plena expansão das relações capitalistas no campo,
transformando a antiga estrutura baseada no atendimento às necessidades de consumo
dos produtores em uma economia voltada, essencialmente, à produção de mercadorias.
Neste momento, o caráter das crises também se transforma. Hilferding, cujos estudos
ajudaram Lênin a desenvolver suas análises sobre o imperialismo, dizia que, na produção
mercantil pré-capitalista, as perturbações na economia eram decorrentes de catástrofes
naturais ou históricas, como queda da colheita, secas, epidemias, guerras.

Isto porque tal produção era dirigida a atender às necessidades próprias dos
produtores, ligando produção e consumo como meio e fim, ao passo que somente o
capitalismo plenamente consolidado passa a generalizar a produção de mercadorias,
fazendo com que todos os produtos tomem a forma de mercadorias e tornando o produtor
dependente do mercado, ao fazer da venda da mercadoria condição prévia para a
retomada da produção.

33. A dependência do produtor em relação ao mercado, a anarquia na produção


e a separação do produtor do consumo (o produto deixa de ser propriedade do produtor e,
consequentemente, sua produção não tem mais como objetivo central o seu consumo)
são características da produção capitalista, ou seja, da produção cujo objetivo é a
realização e multiplicação do lucro. A possibilidade de crise no capitalismo nasce da
produção desordenada e do fato pelo qual a extensão do consumo, pressuposição
necessária da acumulação capitalista, entra em contradição com outra condição, a da
realização do lucro, já que a ampliação do consumo de massas exigiria aumento de
salários, o que provocaria redução da taxa de mais valia. Tal contradição insanável faz
com que o capital busque compensá-la através da expansão do campo externo da
produção, isto é, da ampliação constante do mercado. Quanto mais a força produtiva se
desenvolve, tanto mais entra em antagonismo com a estreita base da qual dependem as
relações de consumo. Portanto, a crise periódica é inerente ao capitalismo, pois somente
pode ser resultante das condições específicas criadas pelo próprio sistema.

34. Segundo a teoria exposta originalmente por Marx no Livro III de O Capital,
quanto mais se desenvolve o capitalismo, mais decresce a taxa média de lucro do capital.
Esta ideia fundamenta-se no fato de que o processo de acumulação capitalista leva,
necessariamente, ao aumento da composição orgânica do capital, a qual é apontada
como sendo a relação existente entre o capital constante (o valor da quantidade de
trabalho social utilizado na produção dos meios de produção, matérias-primas e
ferramentas de trabalho, ou seja, o “trabalho morto” representado, basicamente, pelas
máquinas e pelos insumos necessários à produção) e o capital variável (valor invertido na
reprodução da força de trabalho, o “trabalho vivo” dos operários).

O processo de acumulação resulta na tendência à substituição do “trabalho


vivo”, a única fonte de valor, por “trabalho morto”, que não incorpora às mercadorias nova
quantidade de valor, mas apenas transmite às mesmas a quantidade de valor já
incorporada nos meios de produção. Como a taxa de lucro depende da taxa de mais valia,
cujo valor se reduz com a redução do “trabalho vivo”, as taxas de lucro, a longo prazo,
tendem a decrescer.

35. Tal situação é decorrente da própria concorrência inerente ao sistema


capitalista, a qual obriga os capitalistas a buscar superar seus rivais através do
investimento em meios de produção tecnologicamente mais avançados, para reduzir os
custos da produção, além de tentar economizar ao máximo na parcela relativa ao capital
variável, em função do acirramento dos conflitos provocados pela luta de classes e pelo
fortalecimento do movimento operário. A queda da taxa de lucro, portanto, é resultado, em
última instância, da tendência à substituição do “trabalho vivo” por “trabalho morto”,
fazendo reduzir a fonte de mais valia, o que acaba por originar uma superacumulação de
capital e de mercadorias, ao mesmo tempo em que promove uma restrição na capacidade
de consumo da sociedade, por causa do desemprego que desencadeia.

36. Com o desenvolvimento pleno do capitalismo, cresce a interdependência


internacional dos processos econômicos nacionais, situação que se reflete no caráter das
crises, fazendo da crise capitalista um fenômeno mundial. Ao mesmo tempo, porém,
enquanto as firmas menores sofrem a falência e a bancarrota em massa, o processo de
concentração do capital faz aumentar a capacidade de resistência da grande empresa.
Enquanto a produção artesanal e voltada para consumo próprio é praticamente aniquilada
com o progresso do capitalismo, a grande empresa, cuja produção passa a atingir amplos
mercados e se diversifica, pode prosseguir durante a crise, mesmo tendo sido forçada a
reduzir parte da produção. A resistência às crises é também aumentada pela forma de
organização da sociedade anônima, que, decorrente da crescente influência dos bancos
junto às indústrias, é responsável pela maior facilidade na captação de capitais e no
acúmulo de reservas na época de “prosperidade”, além de proporcionar um controle maior
na gerência do capital.

37. Do quadro exposto não convém inferir que as empresas resultantes de


processos de concentração, fusão ou cartelização sejam capazes de debelar os efeitos da
crise, mas, sim, que possam encará-los de maneira menos traumática, pois o peso maior
da crise será sentido pelas indústrias não cartelizadas. No que tange à luta de classes, a
concentração de capital faz crescer o poder do empresariado no enfrentamento à
organização crescente dos trabalhadores. A grande indústria também é capaz de oferecer
maior resistência às greves operárias do que, antes, permitia a estrutura das pequenas e
médias empresas, isoladas entre si e competindo umas com as outras.

38. Na fase imperialista, o poder industrial separa-se da fábrica e centraliza-se


num truste, num monopólio, num banco, ou na burocracia de Estado, sendo ultrapassada
a fase liberal na qual o proprietário era, ao mesmo tempo, empreendedor, gerenciando
uma propriedade individual ou familiar. A concorrência clássica da época da “mão invisível
do mercado” foi substituída pela concorrência entre oligopólios, empresas múltiplas
comandadas por gerências que trocaram a gestão empirista e intuitiva do capitalismo
liberal pelo planejamento estratégico.

Ao contrário do que parte da esquerda imaginou, a planificação gerencial das


empresas não significou um passo na direção do socialismo, pois a competição não
deixou de existir, apenas tendo se transferido para novos patamares, assim como o
planejamento oligopolista não alterou a estrutura da sociedade, mas contribuiu para o
processo de renovação e ampliação da hegemonia burguesa.

Prefeito e vereador,
não tirem o couro
do trabalhador

Abaixo o tarifaço!
Passe Livre e tarifa mais baixa:
Lotação é direito
Lotação é serviço público

Independência incompleta:
bases dos EUA na Colômbia
ofendem dignidade e inteligência

Eduardo Galeano*

Em entrevista concedida no Equador, Eduardo Galeano fala sobre o


significado do projeto de instalação de bases militares norte-americanas
na Colômbia e sobre o atual momento da América Latina. Ao mesmo
tempo em que região vive um tempo aberto de esperança, diz o escritor
uruguaio, a independência ainda é um projeto inacabado. "Há uma
espécie de renascimento que é digno de celebração em países que não
chegaram ainda a ser independentes, apenas começaram um pouquinho
a sê-lo. A independência é uma tarefa pendente para quase toda a
América Latina", afirma.
Depois de 200 anos da emancipação da América Latina,
pode-se falar de uma reconfiguração do sujeito político nesta região,
levando em conta os avanços políticos que se traduzem em governos
progressistas e de esquerda em vários países latino-americanos?
Galeano: Sim, há um tempo aberto de esperança, uma espécie de
renascimento que é digno de celebração em países que não chegaram ainda
a ser independentes, apenas começaram um pouquinho a sê-lo. A
independência é uma tarefa pendente para quase toda a América Latina

Com toda a irrupção social que se vem dando ao longo do


hemisfério, se pode dizer que há uma acentuação da identidade cultural
da América Latina?
Galeano: Sim, eu acho que sim e isto passa certamente pelas reformas
constitucionais. Ofendeu a minha inteligência, além de outras coisas que
senti, o horror deste golpe de Estado em Honduras que invocou como
causa o pecado cometido por um Presidente que quis consultar o povo
sobre a possibilidade de reformar a Constituição, porque o que queria
Zelaya era consultar sobre a consulta, nem sequer era uma reforma direta.
Supondo que fosse uma reforma da Constituição, que seja bem vinda,
porque as constituições não são eternas e para que os países possam
realizar-se plenamente têm que reformá-las.
Eu me pergunto: o que seria dos EUA se seus habitantes continuassem
obedecendo à sua primeira Constituição? A primeira Constituição dos
EUA estabelecia que um negro equivalia às três quintas parte de uma
pessoa. Obama não poderia ser Presidente porque nenhum país pode
ter como mandatário as três quintas partes de uma pessoa.

Você reivindica a figura do presidente Barack Obama por


sua condição racial, mas o fato de manter ou ampliar a presença norte-
americana mediante bases militares na América Latina, como está
acontecendo agora na Colômbia com a instalação de sete plataformas de
controle e espionagem, não desdiz das verdadeiras intenções desse
mandatário do Partido Democrata, e simplesmente segue ao pé da letra
os planos expansionistas e de ameaça de uma potência hegemônica
como os EUA?
Galeano: O que acontece é que Obama não definiu muito bem o que quer
fazer nem em relação à America Latina, as relações nossas,
tradicionalmente duvidosas, nem tampouco em outros temas. Em alguns
espaços há uma vontade de mudança expressa, por exemplo, no que tem a
ver com o sistema de saúde que é escandaloso nos EUA. Se você quebra a
perna, tem que pagar até o fim dos teus dias a dívida com esse acidente.
Mas em outros espaços não, ele continua falando de “nossa liderança”,
“nosso estilo de vida” em uma linguagem excessivamente parecida com as
dos anteriores. Me parece muito positivo que um país tão racista como
esse e com episódios de um racismo colossal, descomunal, escandaloso,
ocorridos há quinze minutos em termos históricos tenha um presidente
seminegro.

Em 1942, na metade do século XX, o Pentágono proibiu as


transfusões de sangue negro e aí o diretor da Cruz Vermelha renunciou ou
foi renunciado porque se negou a aceitar a ordem dizendo que todo sangue
é vermelho e que era um disparate falar de “sangue negro”, e ele, Charles
Drew, era negro e um grande cientista, o que fez possível a aplicação do
plasma em escala universal. Então um país que fizesse um disparate como
proibir o sangue negro ter agora Obama como presidente é um grande
avanço. Mas por outro lado, até agora eu não vejo uma mudança
substancial.

Aí está, por exemplo, o modo como seu governo enfrentou a


crise financeira. Pobrezinho, eu não gostaria de estar na sua pele, mas a
verdade é que acabaram recompensando os especuladores, os piratas
de Wall Street que são muitíssimo mais perigosos que os da Somália
porque estes assaltam apenas aos naviozinhos na costa, mas os da
Bolsa de Nova York assaltam todo o mundo. Eles foram finalmente
recompensados; eu gostaria de começar uma campanha em princípio
comovido pela crise dos banqueiros com o lema: “adote um banqueiro”,
mas desisti porque vi que o Estado assumiu essa responsabilidade. E da
mesma forma com a América Latina, que parece não ter muito claro o que
fazer.
Os EUA estiveram mais de um século dedicados à fabricação
de ditaduras militares na America Latina. Então, na hora de defender uma
democracia como no caso de Honduras, diante de um claríssimo golpe de
Estado, vacilam, tem respostas ambíguas, não sabem o que fazer, porque
não tem prática, lhes falta experiência. Há mais de um século trabalham no
sentido oposto, Então, compreendo que a tarefa não é fácil. No caso das
bases militares na Colômbia, não só ofende a dignidade coletiva da
América Latina, mas também a inteligência de cada um de nós, porque se
diz que sua função vai ser combater as drogas. Por favor, até quando?!

Quase toda a heroína que se consome no mundo provém do


Afeganistão. Quase toda, dados oficiais das Nações Unidas que todo
mundo pode ver na internet. E o Afeganistão é um país ocupado pelos
EUA e como se sabe os países ocupantes tem a responsabilidade do que
acontece nos países ocupados, portanto tem algo que ver com este
narcotráfico em escala universal e são dignos herdeiros da rainha Vitória,
que era narcotraficante.

A rainha britânica que introduziu por todos os meios no


século XIX o ópio na China através de comerciantes da Inglaterra e dos
EUA...
Galeano: Sim, a celebérrima rainha Vitória da Inglaterra impôs na China
ao longo de duas guerras de trinta anos, matando uma quantidade imensa
de chineses, porque o império chinês se negava a aceitar essa substância
dentro de suas fronteiras que estava proibida. E o ópio é o pai da heroína e
da morfina, justamente. Então aos chineses lhes custou muito, porque a
China era uma grande potência que podia ter competido com a
Inglaterra no começo da revolução industrial, era a oficina do mundo,
e a guerra do ópio os arrasou, os converteu em um trapo. Aí entraram os
japoneses como anel ao dedo, em quinze minutos.

Vitória era uma rainha traficante e os EUA, que tanto usam a


droga como pretexto para justificar suas invasões militares, porque disso
se trata, são dignos herdeiros desta feia tradição. Me parece que já é hora
que acordemos um pouquinho, porque não se pode ser tão hipócrita. Se
vão ser hipócritas que o sejam com mais cautela. Na América Latina temos
bons professores de hipocrisia. Se quiserem, podemos em um convênio de
ajuda tecnológica mútua emprestar-lhes alguns hipócritas nossos...

Há exatamente nove anos, você disse em uma entrevista


concedida em Bogotá a mim a seguinte frase: “Deus livre a Colômbia do
Plano Colômbia”. Qual é agora sua reflexão em relação a esse país
andino que enfrenta um governo autoritário entregue aos interesses dos
EUA, com uma alarmante situação de violação de direitos humanos e
com um conflito interno que segue sangrando-o?
Galeano: Além disso, com problemas gravíssimos que se foram
agudizando com a passagem do tempo. Eu não sei, te digo, quem sou eu
para dar conselhos à Colômbia nem aos colombianos? Além disso, sempre
estive contra esse costume ruim de algumas pessoas que se sentem em
condições de dizer o que cada país tem que fazer. Eu nunca cometi esse
pecado imperdoável e não vou cometê-lo agora com a Colômbia, só posso
dizer que tomara que os colombianos encontrem seu caminho, tomara que
o encontrem. Ninguém pode impor-lhes de fora, nem pela esquerda, nem
pela direita, nem pelo centro, nem por nada. Serão os colombianos que
devem encontrá-lo. O que eu posso dizer é que eu testemunho as coisas.

Se há um tribunal mundial que alguma vez chegue a julgar a


Colômbia pelo que se diz da Colômbia: país violento, narcotraficante,
condenado à violência perpétua, eu vou dar testemunho de que não, de que
esse é um país carinhoso, alegre e que merece um destino melhor.

Há muitos anos, talvez umas quatro décadas, havia um


personagem em Montevidéu que se reunia com um jovem desenhista
chamado Eduardo Hughes Galeano com o propósito de lhe dar idéias
para a elaboração de suas caricaturas, chamado Raúl Sendic, o
inspirador da Frente Ampla do Uruguai.
Galeano: E o dirigente guerrilheiro dos Tupamaros, mesmo se naquele
momento ainda não o era. É verdade, quando eu era criança, quase catorze
anos, e comecei a desenhar caricaturas, ele se sentava a olhar e me dava
idéias, era um homem bastante mais velho que eu, com certa experiência, e
ainda não era o que foi depois: o fundador, organizador e dirigente dos
Tupamaros. Me lembro o que disse a Emilio Frugoni, que naquela época
era dirigente do Partido Socialista e diretor do semanário em que eu
publicava umas caricaturas precoces, apontando para mim: “Este vai ser
ou presidente ou grande delinquente”. Foi uma boa profecia e terminei
sendo grande delinquente!

O fato de que hoje a Frente Ampla está governando o


Uruguai e que um ex-guerrilheiro como Pepe Mujica tenha
possibilidade de ganhar as eleições constitui uma reivindicação à
memória de Sendic?
Galeano: Sim e de todos os que participaram em uma luta longa para
romper o monopólio de dois, exercido pelo Partido Colorado e pelo
Partido Nacional durante quase toda a vida independente do país. A Frente
Ampla surge há pouco tempo no cenário político nacional e me parece
muito positivo que esteja governando agora, aparte de que eu não coincida
com tudo o que se faz e além disso creio que não se faz tudo o que se
deveria fazer. Mas isso não tem nada que ver, porque finalmente a vitória
da Frente Ampla foi também uma vitória da diversidade política que eu
creio que é a base da democracia. Na Frente coexistem muitos partidos e
movimentos diferentes, unidos claro em uma causa comum, mas com suas
diversidades e diferenças, e eu as defendo. Para mim isso é fundamental.

O que representa para você como uruguaio o fato de que


um dirigente emblemático da esquerda como Pepe Mujica, ex-
guerrilheiro tupamaro, tenha amplas possibilidades de chegar à
Presidência da República?
Galeano: Com alguma sorte, não vai ser fácil, vamos ver o que acontece.
Mas eu acho que é um processo de recuperação. As pessoas se reconhecem
justamente no Pepe Mujica porque ele é radicalmente diferente dos nossos
políticos tradicionais, na sua linguagem, até no seu aspecto e tudo o mais,
por mais que ele tratou de se vestir como cavalheiro fino, não cai bem
nele, e expressa muito bem uma necessidade e uma vontade popular de
mudança.

Acho que seria bom que ele chegasse à Presidência. Vamos


ver se isso acontece ou não. De qualquer maneira, o drama do Uruguai
como o do Equador, certamente, país em que estamos conversando neste
momento, é a hemorragia de sua população jovem. Ou seja, a nossa é uma
pátria peregrina; no seu discurso de posse o presidente Rafael Correa falou
dos exilados da pobreza e a verdade é que há uma enorme quantidade de
uruguaios muito mais do que se diz, porque não são oficiais as cifras, mas
não menos de 700 ou 800 mil uruguaios em uma população pequeníssima,
porque nós no Uruguai somos 3 milhões e meio. Essa é uma quantidade
imensa de gente fora, todos ou quase todos jovens, então ficaram os velhos
ou as pessoas que já cumpriram essa etapa da vida em que a gente quer
que tudo mude para se resignar a que não mude nada ou que mude muito
pouco.

Depois de seus reputados livros As veias abertas da América


Latina, publicado em 1970, e Espelhos, editado em 2008, que relatam
histórias da infâmia, o primeiro sobre nosso continente e o outro de boa
parte do mundo, há espaço para continuar acreditando na utopia?
Galeano: O que faz Espelhos é recuperar a história universal em todas suas
dimensões, em seus horrores, mas também em suas festas, é muito
diferente de As veias abertas da América Latina, que foi o começo de um
caminho. As veias abertas é quase um ensaio de economia política, escrito
em uma linguagem não muito tradicional no gênero, por isso perdeu o
concurso da Casa das Américas, porque o jurado não o considerou um
livro sério. Era uma época em que a esquerda só acreditava que o sério era
o chato, e como o livro não era chato, não era sério, mas é um livro muito
concentrado na história política econômica e nas barbaridades que essa
história implicou para nós, como nos deformou e nos estrangulou.

Em compensação, Espelhos tenta abordar o mundo inteiro


recolhendo tudo, as noites e os dias, as luzes e as sombras, são todas
histórias muito curtinhas, e há também uma diferença de estilo. As veias
abertas tem uma estrutura tradicional, e a partir daí eu tentei encontrar uma
linguagem própria minha, que é a do relato curto, tijolos coloridos para
armar os grandes mosaicos, um estilo como o dos muralistas, e cada relato
é um pequeno tijolo que incorpora uma cor, e um dos últimos relatos de
Espelhos evoca uma recordação da minha infância que é verdadeiro.
Quando eu era pequenininho acreditava que tudo o que se perdia na Terra
ia parar na Lua, estava convencido disso e me surpreendeu quando
chegaram os astronautas à Lua porque não encontraram nem promessas
traídas, nem ilusões perdidas, nem esperanças rompidas, e então eu me
perguntei: se não estão na Lua, onde estão? Será que não estão aqui na
Terra, esperando-nos?
–––––––––––––––––––––––––––
* Eduardo Galeano – Jornalista e escritor uruguaio. Entrevista concedida
ao jornalista Fernando Arellano Ortiz, do jornal Cronicón, do Equador

Damasceno (1951-2009)

Alceu A. Sperança*

O artista plástico Wanderley Damasceno foi recrutado por membros


da atual direção de Cascavel do Partido Comunista Brasileiro (PCB)
em plena ditadura.

Na época, praticamente todo o movimento progressista de Cascavel


se incorporava ao Setor Jovem e ao Setor Trabalhista do PMDB – o
chamado “partido guarda-chuva”.

Só com a legalidade do PCB, em 1985, foi possível iniciar a


formação do segundo comitê municipal da legalidade (o primeiro foi
na década de 40, de curta duração, pois o Partido teve o registro
cassado em 1947).

Nesse período, perturbado por um grave envolvimento


com drogas, nosso grande artista chegou a armazenar algumas
armas para “fazer a revolução”.

Eu insistia com ele que precisávamos, sim, fazer a revolução, mas


não armando alguns amigos da Vila Cancelli para tomar a Prefeitura
de assalto como ele queria!

E assim, por mais que a ideia parecesse tentadora, não


estimulamos a “empreitada”...

Jornal Hoje
Quando a doença tomou conta de Damasceno, demos toda força
para que ele se recuperasse. Em meio a um sofrimento intenso,
recebeu a ajuda de amigos do “partido-guarda-chuva” em
Paranaguá, onde iniciou a sua revolução pessoal.
Ali, depois de algumas recaídas, aprendeu a controlar
com firmeza a dependência química, auxiliado por religiosos
evangélicos aos quais permaneceu agradecido por toda a vida.

E também agradecido aos comunistas, cuja companhia sempre


procurou e agradeceu pela força que lhe demos no período em que
esteve entre a morte por inanição e o suicídio, escapando dos dois
com a determinação de resistir.

Passado aquele tempo terrível, era divertido conversar


com Damasceno e lembrar as coisas dos tempos em que ele estava
maluco (gíria para um estado de drogadição continuada) e queria
armar a população da Vila Cancelli para a Revolução municipal.
Um dia, para tentar motivá-lo a sair da droga, conseguimos,
através da Secretaria Municipal da Cultura, garantir o espaço do
saguão do Hotel Copas Verdes para uma exposição de suas
pinturas.

Volta e meia íamos conferir como estava a produção dos


quadros. Ele estava sempre com um novo esboço em
desenvolvimento e garantia que os quadros estariam todos
finalizados em tempo até a exposição.
No dia da mostra, fomos à sua casa recolher os quadros para
colocar em cavaletes no local designado, mas Damasceno
simplesmente desapareceu. Não havia quadro algum para expor!
Em seu estado de drogadição, só conseguia tracejar, delinear
esboços e era tudo o que tinha para mostrar.

Como ele sumiu até com os esboços, não pudemos


sequer mostrá-los. Com seu talento, até os esboços seriam motivo
de interesse do público.
Mas ele só queria mostrar obras que passassem por seu crivo
estético. Resultado: foi se esconder, envergonhado, por não
conseguir dar o melhor de seu talento.

Naquele tempo, demos-lhe uma bronca homérica. Mas


depois todos ficamos felizes com sua recuperação.

Foi fantástico poder revê-lo a trabalhar normalmente, produzindo


seus quadros e, ultimamente, até esculturas que ele exibia, tímido,
para nossa avaliação.

Em nosso último encontro, no Restaurante De Ávila, diante da


Estação Rodoviária, estava de partida para Camboriú, intensamente
animado e pedindo pela enésima vez um prefácio para o novo livro
que estava preparando.

Creio que fiz meia dúzia de prefácios, mas só vi um


livro publicado. No restaurante, acossado pela família que exigia
dele interromper aquele conversa interminável, ele voltou a me
“cantar”:

– E aí, Alceu? Vamos fazer aquela histórias-em-quadrinho?

Quando ele era bem jovem, foi meu pai, Celso Formighieri
Sperança, quem o estimulou a desenhar, bolando histórias-em-
quadrinhos que ele ilustrava. Eram umas histórias meio sacanas, a
la Carlos Zéfiro.

Quando o pai Celso morreu, em 1977, ele queria que eu honrasse a


sua memória, substituindo o “velho” na bolação das histórias, mas
eu pulei fora.

E agora foi ele quem pulou fora, morrendo a dois


passos do paraíso, no balneário Camboriú.
Como disse o comandante Ivã Pinheiro sobre o camarada Pachecão,
que esteve em Cascavel poucos dias antes de morrer, se existe um
lugar feliz no “além” para onde compulsoriamente precisem ir os
bons e os solidários, é para lá que Damasceno foi.

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
*Alceu A. Sperança – Escritor e membro do Comitê Municipal do PCB de
Cascavel

Documento-base para análise de conjuntura municipal:


Participe fornecendo subsídios para um trabalho mais completo

Cascavel 2009: riqueza ostensiva e miséria crescente

1. Cascavel como parte do mundo, do Brasil e do Paraná

Há uma crise mundial que afeta principalmente os pobres. Os pobres dos


países pobres e também os pobres das cidades ricas.
Cascavel é uma cidade rica, mas seus ricos, que ostentam fortunas,
grandes mansões, arranha-céus e fazendas enormes no Centro-Oeste, Norte
e Nordeste, são uma pequeníssima minoria em confronto com a classe
média assalariada e/ou autônoma e os estratos mais fragilizados,
empurrados para as periferias.
Uma classe média asfixiada pelos altíssimos custos dos produtos e
serviços, pela insuficiência da prestação de serviços públicos pelas três
esferas do governo e por uma situação de crescente temor e insegurança.
E uma vasta esfera periférica mergulhando no risco social, com a
ampliação da miséria e da violência, à medida em que escasseia amplitude
e o alcance, assim como a efetividade e a capacidade de resolução das
políticas públicas.
Do município a Brasília, passando pelo Estado, o País está mergulhado
em uma crise que vai além da economia.
Os países mais afetados no setor econômico, já se comprovou, não
sofrem nas instituições os abalos que ocorrem no Brasil, onde a principal
ameaça é à própria democracia.
O comportamento desastroso de Lula ao liquidar o processo de reforma
agrária, privilegiar o latifúndio na Amazônia e aderir sem mais reservas ao
neoliberalismo contribui para receber puxões de orelha até de neoliberais
como ele, caso do ex-presidente Itamar Franco, que comparou o atual
presidente a um “general da ditadura”.
O governo do Estado, depois de sete anos de discurso progressista e
prática administrativa direitista, inaugura a “Operação Bondade”, que se
dá através da planejada distribuição de ambulâncias, verbas e outros
materiais aos municípios, com fins claramente eleitorais, uma vez que o
governador Requião será candidato ou ao Senado ou à Presidência, pois o
Ibope aconselhou o PMDB a abandonar Lula e lançar candidato próprio.
Cascavel, por suas elites dirigentes políticas e empresariais, mantém-se à
margem desses acontecimentos, sofrendo seus reflexos mas não
construindo mecanismos de defesa e proteção, especialmente aos setores
mais frágeis da sociedade.
A essas elites dirigentes e empresariais, geralmente egoístas e
interesseiras, soma-se a passividade de um movimento popular
fragmentado, embora promissor, um estudantado entre a alienação, a
domesticação e a conivência, e uma estrutura universitária ainda em
processo de construção e afirmação.
2. Município enfrenta desafios acima de sua capacidade
De Norte a Sul do País, a redução brusca dos recursos advindos do
Fundo de Participação dos Municípios, que sustentam a imensa maioria
das prefeituras, ocasionou um princípio de desmonte da estrutura
administrativa municipal.
A principal tarefa desse desmonte é cortar gastos e adequar o orçamento
à “Prefeitura mínima”, uma espécie de “Estado zero” no plano municipal,
em que tudo é cobrado, até mais de uma vez.
IPTU mais taxa de lixo e iluminação, por exemplo, quando
historicamente o IPTU já é destinado a todos os serviços municipais.
As prefeituras, ao mesmo tempo em que têm suas receitas bruscamente
reduzidas, estão abaixo de dívidas antigas e acumuladas, com os recursos
próprios insuficientes ou drasticamente comprometidos com as folhas do
funcionalismo.
Mal gerenciadas, com uma administração política não raro resultante da
disputa interna entre quadrilhas e oligarquias locais, as prefeituras são o
prêmio sorteado no voto entre esses grupos, que travam as eleições entre si
e se alternam no “rapa-caixa” durante seus períodos de “governo”.
A grande massa ignora e apenas alguns poucos eleitores mais
conscientes sabem que o jogo eleitoral burguês não visa à resolução dos
problemas da população.
Assim, os setores dominantes fingem que disputam uma eleição que na
verdade já está com todas as cartas marcadas para vencer sempre uma das
facções da burguesia dominante.
A única atuação real e a finalidade dos partidos e dos líderes políticos
burgueses é captar dinheiro dos financiadores de campanha para disputar
eleições.
Nelas, vençam ou não esse jogo de cartas marcadas, estarão sempre
mantendo o mesmo quadro de manipulação ideológica da população, a
alternância do “rapa-tacho” e recorrendo à tergiversação em caso de
cobranças populares, jogando a responsabilidade de tudo nos antecessores
e preparando a transferência dos problemas mais graves aos sucessores.
3. O projeto buenista
O atual prefeito de Cascavel, Edgar Bueno (PDT, ex-PSDB), acossado
por problemas estruturais gravíssimos, uma confusa estrutura
administrativa, um secretariado desconexo e desarticulado, usa toda sua
esperteza de político experiente para mascarar as graves dificuldades pelas
quais passa o Município.
De um lado, controla com mão de ferro as decisões da Câmara
Municipal, através de seu sobrinho, Marcos Damasceno, que preside a
Casa.
Teme evidentemente que se a situação sair de seu controle, as graves
deficiências administrativas já verificadas em oito meses de gestão possam
complicar a eleição de seu filho André à Assembleia e de seu candidato,
Osmar Dias, ao governo do Estado.
Bueno transparece a intenção de pretender ser vice-governador, com o
projeto de entregar a Prefeitura ao médico Jadir de Mattos (PTB), que se
sabe estar às voltas com problemas de saúde, e abrir caminho, caso André
se eleja para a AL, para que o herdeiro venha a reivindicar a candidatura
em 2012.
Ter o filho André na Assembleia seria como continuar seus mandatos
anteriores de deputado estadual interrompidos para assumir a Prefeitura de
Cascavel e se consolidar como o grande cacique político do Oeste
paranaense.
Bueno também tem boa parte da imprensa enquadrada em seu projeto de
poder e para alcançar os setores indecisos e inconsequentes lança mão de
pequenos truques midiáticos – tais como se derreter em bajulações a
Barack Obama, justamente quando os EUA afiam as garras para
estabelecer bases na América do Sul, visando ao controle das riquezas
brasileiras e continentais.
4. Incongruências e inconsistências
Não extinguir a Cettrans e a Cohavel nem encaminhar a prometida
reforma administrativa a partir de mudanças sérias de estrutura e visando
ao aprimoramento da estrutura pública, é um aval ou adesão às práticas
retrógradas e sem funcionalidade resolutiva.
O Município não demonstra nenhum interesse pela resolução do
problema da mobilidade, da política industrial, da reforma urbana
extremamente necessária, da preparação profissional da juventude e da
participação das comunidades organizadas na gestão municipal.
O Parque de Máquinas sucatado é apenas a manutenção de uma situação
que perdura por décadas: com exceção da gestão Formighieri, em que as
máquinas eram adquiridas – e o prefeito “roubou” tratores do governo do
Estado que viu abandonados em Munhoz da Rocha –, as seguintes jamais
conseguiram apresentar um Parque de Máquinas à altura das necessidades,
com estradas sempre em precário estado e obras públicas negligenciadas.
Inexiste uma política de aproveitamento do potencial dos bairros e
distritos. A Prefeitura não tem a menor ideia, menos ainda um projeto, do
que é possível fazer para o desenvolvimento econômico das regiões
urbanas e das localidades do interior.
Deficiências nas escolas municipais do interior são denúncias
continuadas e persistentes. Aliás, toda a infraestrutura municipal apresenta
carências cruciais.
Provavelmente por um arranjo entre caciques, a tese da auditoria para as
graves denúncias acumuladas na gestão Tomé foi engavetada.
São escândalos que deveriam gerar inquéritos e processos judiciais, mas
sequer estão no nível de apuração conclusiva.
São mantidos em banho-maria à espera do esquecimento ou, no interesse
político-eleitoral, do momento em que os acusados pretendam concorrer à
Câmara Federal ou Assembleia Legislativa, o que configura chantagem
com um acúmulo de prejuízos à população, desrespeitada por uma prática
inescrupulosa.
Quando nada é apurado, isso representa um atestado de boa conduta aos
governantes anteriores, desmentindo todas as acusações, suspeitas e
denúncias formuladas no curso da campanha eleitoral. Mas não parece que
se trata disso, e sim de uma deliberada ocultação de atos delituosos para
utilização posterior, na mídia e na campanha eleitoral.
É evidentemente falsa a alegação de que a proposta de extinção de
autarquias como a Cettrans e a Cohavel se deu para evitar queixas dos
sindicalistas.
A administração Bueno não teve receio de truculentamente, logo na
primeira semana, de “trombar” arrogante e autoritariamente com todo o
movimento popular – do qual os sindicatos são uma parte importante – ao
liquidar a justa pretensão habitacional dos cidadãos sem-tetos do distrito
de São João.
Enquanto a atual administração passa a se acomodar nos mesmos erros e
organogramas do passado, há uma questão gravíssima que asfixia a
administração: uma dívida impossível de ser paga.
Impossível, de um lado, pois se trata de arranjos imorais para beneficiar
os amigos do rei lá de trás. De outro, porque as diferentes gestões
empurram para a próxima os custos do que já veio de trás e do que fazem.
Esse comportamento é extremamente desrespeitoso à população, é
gerencialmente incapaz e os prejuízos advindos dessa incompetência
recaem sempre sobre a população mais carente, pois todos os recursos
queimados em ações ineficazes e no pagamento de dívidas antigas – e seus
imensos juros e correções – fará falta a obras e serviços à comunidade
mais necessitada.
5. Impasses e conjuntura
Nunca houve em Cascavel uma administração que procurasse organizar
a estrutura administrativa de modo a focalizar centralmente os problemas
mais sérios da população, que têm origem sobretudo na enorme distorção
da distribuição de renda.
Há cidadãos abastados e uma classe média exuberante, mas bolsões de
miséria, favelas e excluídos num anel que já foi diminuto, na década de 50,
mas hoje cresce e se desmembra para uma variedade imensa de anéis
“saturnianos”, pressionando fortemente a estrutura de atendimento
público, gerando situações de risco social e explosões de criminalidade e
violência.
Inexiste, ainda, uma política de treinamento para o trabalho. Os
empregos que surgem não podem ser ocupados por falta de qualificação.
Os jovens em situação de risco são vítimas dos traficantes, das quadrilhas
organizadas, das guerras de gangues, do consumo de drogas, álcool e maus
hábitos alimentares e sociais.
A família se desestrutura, há uma crescente carga de sofrimento
psíquico, poluição urbana, caos no trânsito e desestruturação dos
movimentos comunitários, cada vez mais atrelados ao assistencialismo dos
vereadores e submetidos ao controle dos grandes esquemas partidários.
Tais esquemas mantêm a população pobre vegetando para nos períodos
eleitorais “gerar” milhares de empregos para uma explícita compra de
votos a pretexto de “trabalhar” na campanha.
Acumulam-se, por toda a cidade, as queixas sobre debilidades em postos
de saúde, deficiências na educação, má qualidade da pavimentação,
ausência de pavimentação em bairros crescentemente populosos e estradas
e serviços públicos rurais precarizados.
Os conselhos municipais, essenciais para a abordagem, a análise e a
proposta de soluções, limitam-se a considerar seu tema como um bloco
estanque, isolado dos demais, quando, na verdade, trata-se de compreender
que todos os elementos administrativos estão imbricados, comunicam-se,
relacionam-se e se pressionam mutuamente.
6. Conclusão: tarefas a cumprir
Tendo plena clareza de que só a construção do Socialismo irá resolver os
problemas do País, do Estado do Paraná e de seus municípios, os
comunistas não podem, entretanto, omitir-se enquanto as condições
objetivas não nos levarem a um novo salto no desenvolvimento da
civilização.
Assim, para contribuir imediatamente com um encaminhamento mais
favorável à resolução dos problemas municipais, o PCB atualiza sua lista
de 21 Ações Revolucionárias e as apresenta ao debate da sociedade, a
avaliação dos vereadores progressistas da Câmara Municipal e dos setores
mais responsáveis da população, da sociedade organizada e da
administração local:
21 Ações Revolucionárias
Rumo ao Socialismo
e por uma Cascavel
Cascavel melhor!
1) Determinar a extinção de todas as secretarias, que servem de cabide de
emprego para os parentes e os amigos dos eleitos, assegurando que somente
funcionários públicos devidamente concursados assumam as tarefas de chefia.
2) Câmara Municipal − No lugar das secretarias, que são mecanismos de decisão,
devem ser aproveitados o empenho e a boa vontade dos vereadores, que são os
legítimos representantes do povo e podem contribuir mais com a gestão pública do
que apenas fiscalizar e propor. Com mais poder de decisão ao Legislativo, acabará a
farra dos mensalinhos, ou seja, troca de favores para alguns vereadores aprovarem
medidas duvidosas que apenas interessam ao prefeito e seu grupo. Os setores
organizados com interação e interesse nos mais diferentes temas (saúde, educação,
segurança, geração de emprego e renda, agroecologia) definirão políticas específicas
através de conferências municipais temáticas em parceria com as comissões da
Câmara Municipal, produzindo propostas ao Congresso da Cidade. Em lugar de
sessões itinerantes da Câmara Municipal, perfeitamente dispensáveis, os conselhos de
moradores dos bairros e do interior devem preparar propostas para encaminhar ao
Poder Legislativo, que, por sua vez, tomará a decisão final.
3) Para as diretorias, serão chamados os servidores concursados mais capazes,
com preferência para os mais antigos, melhor titulados e especialistas. O
profissionalismo do servidor será meta, nos termos de um plano de carreira que
favoreça e privilegie o aperfeiçoamento.
4) Nepotismo − Parentes de eleitos só poderão ser controladores ou ter cargo de
chefia se forem devidamente concursados e atenderem aos critérios de antiguidade,
melhor titulação e especialização em cada respectiva área.
5) Não permitir que dinheiro público seja desperdiçado com inaugurações festivas,
fogos de artifício e placas com louvação aos governantes. Proibir cartões de
“felicitações” pagos pelo Município em datas comemorativas, com a assinatura do
prefeito e secretários, folders publicitários custosos e outros materiais, mesmo que
supostamente doados por terceiros.
6) O Município não deve terceirizar o que os servidores podem realizar. Evitar
“revitalizações” milionárias de logradouros públicos e investir na melhoria das
escolas e ampliação do número de postos de saúde. Com economia de recursos em
gastos dispensáveis evita-se ampliar a carga tributária.
7) Só autorizar publicidade de programas e orientações (campanhas de saúde,
educação, trânsito, meio ambiente) e proibir auto-elogios ao prefeito, sua equipe e
círculo de relações.
8) Como já existem diretrizes gerais – Plano Diretor, Estatuto da Educação,
Orçamento Participativo, deliberações dos conselhos municipais etc – a eficiência da
administração deverá ser monitorada, além da Câmara Municipal, por quatro
controladorias: Controladoria Administrativa (tendo sob sua subordinação as
diretorias de Finanças, Gestão, Planejamento, Indústria, Comércio e Agricultura);
Controladoria Social (tendo sob sua subordinação Saúde, Educação, Cultura, Ação
Social, Assuntos Comunitários, Comunicação, Esporte, Lazer, Turismo e Meio
Ambiente); Controladoria Institucional (tendo sob sua responsabilidade Gabinete,
Procuradoria Jurídica, Codevel, Fundetec, Cettrans, Cohavel, Acesc e Procon), e
Ouvidoria e Auditoria (tendo sob sua responsabilidade prestar atendimento
permanente aos vereadores, aos conselhos populares e examinar denúncias públicas,
inclusive junto a instâncias do Ministério Público, Segurança Pública e do Poder
Judiciário). A coordenação de programas e projetos terá a participação do vice-
prefeito, na condição de controlador adicional e com direito a voz e voto nas
decisões. Manter as estruturas de subprefeituras, sob a condição de autonomia plena
da comunidade para a indicação dos subprefeitos. Criar administrações regionais para
grupos de bairros. Bairros e distritos podem participar da gestão pública através dosa
conselhos setoriais. População deve apoiar todas as ações efetivas e pacíficas de
reforma agrária. Assentamentos e organismos ligados à terra devem ter voz em um
Conselho Municipal Rural. Reforçar a convivência e o espírito unitário em torno das
lutas sociais.
9) As deliberações devem passar inicialmente pelos conselhos municipais e
imediatamente pela Câmara Municipal. Ao Executivo caberá aplicar as decisões,
uma vez que passando pela comissão de avaliação constitucional da Câmara, com
apoio da Procuradoria Jurídica, a serviço do interesse do Município e prioritariamente
em defesa dos cidadãos e dos excluídos, sem questioná-las. A ação caberá às
diretorias, sob o crivo das controladorias e do Poder Legislativo. Os contratos
celebrados pelo Poder Público Municipal devem ver ser monitorados, para apoiar as
controladorias, pela Procuradoria Jurídica, a Câmara Municipal e o Conselho
Municipal da área referente ao contrato. Cumprimento pleno do Plano Diretor.
Acompanhamento sistemático das ações. As normas existentes devem ser
constantemente questionadas e reexaminadas para avaliar seu cumprimento.
10) O prefeito delegará poderes às controladorias e às diretorias compostas pelos
servidores melhor preparados, cabendo-lhe principalmente o concentrar no prefeito o
papel de chefe “de Estado”, para desenvolver papéis de alta relevância para o
Município, junto aos governos estadual e federal, Judiciário, Ministério Público,
Congresso Nacional, Assembléia Legislativa, Câmara Municipal e entidades
organizadas.
11) Políticas de educação a partir do estatuto já existente e com aplicação
monitorada pelo Sindicato dos Professores. Educação de tempo integral de acordo
com a realidade de cada bairro e conforme a decisão de sua comunidade.
Aprimoramento da estrutura bibliotecária, reforçada pela inclusão digital, na periferia
e no interior. Como educação, saúde e o conjunto das políticas sociais se confundem,
as mães e as meninas devem ter políticas específicas e também ser chamadas à
participação e à formulação das políticas para as famílias. Apoio psicológico e
jurídico às famílias dos prisioneiros e das vítimas dos criminosos. Apoio à
ressocialização dos apenados. Pesquisas sistemáticas sobre fatores de pressão social:
sofrimento psíquico, abandono infantil, afirmação juvenil etc. Como também
educação é comunicante com a cultura, entendemos que ela não é espetáculo, mas
desenvolvimento espiritual. Os espetáculos cabem à iniciativa privada. Toda política
de cultura deve ser direcionada principalmente aos jovens. As políticas específicas
para os jovens, portanto, terão que ultrapassar o plano educacional e esportivo. Criar
uma rádio comunitária municipal para a veiculação, nos ônibus do transporte
coletivo, de notícias dos movimentos populares, sindicais, igrejas, clubes e poder
público, executando somente música popular brasileira, paranaense e cascavelense.
12) Meio-Ambiente − Abordagem multidisciplinar nas escolas e espaços de
convivência. Exigir o cumprimento das cláusulas do contrato com a Sanepar, via
acordo ou na Justiça. Um abraço ao Lago: criar condições para cortar e punir
despejos poluentes. Ar, outras águas, terra e destino do lixo: ligar saúde, educação e
ambiente. Monitoramento de todas as nascentes e rios, envolvendo a comunidade.
Estabelecimento de uma rede de unidades de conservação integradas à política
urbana, que contemple a preservação e a regeneração dos ecossistemas originários.
Maior rigor na fiscalização e licenciamento de atividades poluidoras, de modo a
desestimulá-las e a cobrar um maior nível de responsabilidade sócio-ambiental das
empresas. Regulamentação do relatório de impacto de vizinhança para controle de
grandes empreendimentos imobiliários e pólos geradores de tráfego. Municipalização
da coleta do lixo. Cancelamento do contrato e formação de uma estrutura municipal
de coleta e aproveitamento. Desenvolvimento de uma política municipal de resíduos
sólidos (lixo doméstico, hospitalar, industrial etc) que privilegie a reciclagem. Maior
integração da coleta de lixo com as cooperativas de catadores e uma rede de pequenas
e médias usinas de tratamento de lixo orgânico.
13) Habitação − Direcionar os invasores de fundos de vale para programas de
apoio, cidadania e inclusão social, inclusive para participar dos programas
habitacionais, eliminando a atual lei restritiva. Combater com energia o déficit
habitacional acumulado nos últimos oito anos. Instituir no grupo de conselhos
municipais o Conselho Municipal de Reforma Urbana, com competência para
deliberar, integrado por representações regionais e setoriais. IPTU (Imposto Predial e
Territorial Urbano) progressivo para fins de reforma urbana.
14) Segurança − Recusar suprir as tarefas do Estado sem contrapartida em
recursos. Guarda Patrimonial exclusivamente para cuidar das propriedades do povo
de Cascavel. Nenhuma repressão ao povo e às suas organizações. Combater as
tentativas criminalizar as ações do povo e os movimentos sociais organizados.
Privilegiar os Direitos Humanos: contra a impunidade dos assassinatos que atingem
os movimentos populares no campo e na cidade, bem como as populações pobres.
Adequação do Conselho Municipal de Segurança incorporando a representação dos
coletivos de todos os bairros e distritos.
15) Juventude − Políticas específicas para a juventude a partir de consultas aos
jovens das comunidades e diretorias das escolas de cada região. Devem ser criadas
Associações de Capacitação de Jovens com participação das confissões religiosas,
escolas, clubes e associações de bairro. Fim do esporte marrom (semiprofissional) e
estímulo a escolinhas comunitárias para privilegiar o esporte legitimamente amador.
16) Transporte coletivo – Reforço à educação dos motoristas para a urbanidade e
a cidadania. Prioridade ao uso maciço do ao transporte coletivo. Melhoria dos
serviços nas linhas mais movimentadas. Atenção às comunidades mais isoladas.
Aprimorar a limpeza dos ônibus. Organizar o acesso dos usuários aos ônibus nos
terminais. Ampliar, estruturar e prestar maior conforto aos usuários nos terminais.
Passe-livre para todos os estudantes. Estudar a gratuidade de todo o transporte
coletivo urbano.
17) Saúde – Participação da comunidade do setor de saúde, desde a Associação
Médica até os educadores e acadêmicos dos cursos de saúde, passando pelos
sindicatos de servidores e das categorias e do Conselho Municipal de Saúde. Ação
municipal prioritariamente preventiva. Ações comunitárias de prevenção. Ajuda aos
familiares para que não sofram toda a carga do atendimento aos doentes. Auditar,
com recurso ao Ministério Público e ao Conselho Regional de Medicina, os casos de
“farra” de atestados médicos.
18) Reorientar os PACs e estudar a criação de um hospital municipal de pronto
atendimento. Concentrar o atendimento nas UBS (Unidades Básicas de Saúde),
articulando-o com o Programa Saúde da Família (PSF).
19) Emprego – A Codevel deve instituir um Empregômetro, painel para
acompanhar e analisar a geração de empregos. Centrar a ação da Codevel na geração
de empregos. Estimular a formação de fábricas-escola profissionalizantes. Estímulo
aos cursos técnicos profissionalizantes por empresas e instituições. Monitoramento da
empregabilidade pelos sindicatos e movimentos sociais. Participação das entidades
empresariais, sindicatos, conselhos e melhor articulação com organismos estaduais e
federais. Apoiar ações que resultem concretamente em empregos formais. Criar uma
estrutura multissetorial de reciclagem, aprimoramento e atualização profissional.
Toda ação ligada aos setores produtivos deve ter como foco a empregabilidade.
20) Aproveitar as vocações econômicas locais, espaços e horários ociosos em
escolas para cursos. Prestar treinamento gratuitamente a pequenos empreendedores,
com apoio administrativo, financeiro e tributário.
21) Dívidas − A Procuradoria Jurídica deve determinar o pagamento das dívidas
de acordo com um cronograma jurídica e legalmente razoável, pois o Município não
é caloteiro. Tem que pagar o que deve, mas questionar o que não deve, como no caso
da Praça Wilson Joffre, uma fraude monumental.

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