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A blindagem nordestina
no subdesenvolvimento
Fundos setoriais
A ciência do
desequilíbrio regional
Edição Nº 01 — Ano I — Maio/2009 — Revista Nordeste VinteUm – Publicação sobre economia, política e cultura — www.nordestevinteum.com.br - R$ 8,90
nossa
o mundo para transformá-lo ou de prestígio, escrevia para as
que existiam na época. Por
para defender o status quo exemplo, a revista Cultura
Política que era, na verdade,
subsidiada pelo governo.
criatividade
Coluna Prestes Mas nós, que não éramos
“Quando a Coluna Prestes passou por perto, ouvi os adultos dizerem simpáticos ao governo – que
que era como uma praga de gafanhotos, que tomavam as reses dos
ricos para comer e deixavam como pagamento papéis rabiscados. éramos, pelo contrário, críticos
Poucos sabiam o que queriam aqueles homens, vistos como –, tínhamos acesso a ela porque
desertores do Exército comandados por um capitão de 26 anos.” o seu secretário era Graciliano Ramos. Ele é
que fazia o editing da revista, lia as provas dos
Cassação artigos. Ele me chamou lá e me disse: ‘Esse
“Ouvi pelo rádio a leitura dos atos institucionais que excluíam
da vida pública um grande número de cidadãos. Entre os nomes filho é seu?’. Eu disse: ‘Sim’. Era um artigo
que constituíam o pelotão de frente, figurava o meu. Cassado de sério, circunspecto.”
direitos! Proibido de ocupar-se da coisa pública! Processo secreto.
Provavelmente, a acusação fora a mesma feita a Sócrates: perverter
a mocidade!” Orson Welles
“Eu tinha conhecido Orson Welles aqui no Rio,
Capitalismo brasileiro porque, pela Revista da Semana, acompanhei-o
“O capitalismo subdesenvolvido não é um capitalismo menos em algumas saídas — me recordo uma à Tijuca – e
desenvolvido que o dos países ricos. É um sistema de outro tipo,
que não conduz ao bem-estar social, mas à concentração da renda. então fiquei muito interessado nessa personalidade.
Precisamos compreender melhor a natureza do nosso capitalismo.” E Orson Welles resolveu ir a Ouro Preto para
filmar a Semana Santa. Levei comigo o fotógrafo e
Elite brasileira fiz uma reportagem sobre a Semana Santa de Ouro
“Se eu não estivesse fora do Brasil provavelmente não teria prestado Preto. Só que o Orson Welles não foi.”
atenção, mas o fato de viver fora, de trabalhar numa equipe
internacional, me obrigou a enfrentar esse desafio que era decifrar
o Brasil, entender onde estavam os erros. Será que nós, brasileiros,
éramos realmente inferiores, como muita gente insinuava? Ou será Ernesto “Che” Guevara
que a classe dirigente brasileira é que não tinha política, não tinha
uma visão clara das coisas, não tinha projeto para alavancar o país?” “Che Guevara polarizava as
atenções, o que criava inveja
Sudene e o golpe militar em muita gente. Estive com ele
“No Nordeste, as consequências do golpe militar foram muito em mais de uma conferência e
graves, pois a repressão exercida, desde o início, liquidou com
movimentos sociais de grande alcance, surgidos no decênio anterior
via como levava vantagem. É
e que prenunciavam ampla reconstrução de suas estruturas. O verdade que tinha a bandeira
Nordeste acumulara, historicamente, o maior atraso social do país. sedutora do mito da revolução...
A criação da Sudene, que me coube dirigir, desde sua implantação
em 1959 até golpe militar, era uma tentativa de impulsionar o Che Guevara era brilhante nesse
desenvolvimento nessa área tão desvalida.” passe de mágica.”
Carta do Editor
Sumário QUEM SOMOS
Edição Nº 01
Ano I — Maio/2009
Revista Nordeste VinteUm
Política, Economia, Cultura
Editora
Por que a Revista? www.revistanordestevinteum.com.br
Fundada em agosto de 2005, com sede
Em poucas palhetadas, como diz o matuto: a em Fortaleza (CE), a Editora Assaré atua
Nordeste VinteUm nasce porque queremos o uni- no mercado editorial cearense, com a pro-
versal pelo regional. Porque entendemos que cons- Água dução de jornais, revistas, livros e demais
truir e sistematizar um veículo de comunicação
eficiente, moderno, abrangente e de conteúdo é Economia 22 A necessidade de democratizar
o acesso à água no Nordeste das
publicações gráfico-editoriais. Formada por
profissionais com experiência nas áreas de
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imperativo para ajudar a região a sedimentar polí- grandes obras hídricas comunicação, design e gráfica, a empresa
NE x Crise Econômica: porque criou e lançou diversos periódicos institu-
ticas públicas sustentáveis de desenvolvimento re- estamos blindados
cionais e comerciais, como os jornais de
gional e local. E pronto.
Entrevista parlamentos e executivos municipais, de
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Aqui, está a missão a que nos rendemos. Em
grande medida, inspirados nos pensamentos do Frederico Pernambucano de Mello: parlamentares e de entidades privadas, re-
professor Celso Furtado. Ele achava que era prima- Seções cangaço e o “Brasil profundo” vistas comerciais, de gestão pública e em-
presariais. Além disso, publicou livros de
zia para o Nordeste assumir um papel de liderança
no combate ao subdesenvolvimento brasileiro. 30. Caleidoscópio História personalidades consagradas como o cine-
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E o enfrentamento dessa tarefa se tornará tanto asta Francis Vale e o escritor e poeta Juarez
quanto mais eficaz, se o país, enfim, resolver peitar
52. Saberes&Sabores Dom Helder: 100 anos do Bispo Leitão, entre outras obras.
Vermelho da política, das grandes
seu anacrônico e inveterado problema das desigual- 60. Ciência&Tecnologia Especial polêmicas e da contestação
dades regionais. A essa luta Celso Furtado dedicou Instituto
o melhor de sua criação intelectual e de sua atua- 74. Ateliê
06
O Instituto Nordeste XXI surge no ce-
ção como homem público, no Brasil e no exterior. nário de instituições não governamentais
A tese do universal pelo regional nos impele a com objetivo precípuo de promover a di-
tratar questões políticas, sócio-econômicas e cultu- fusão social do conhecimento em todas
rais com maior profundidade. Buscar o porquê da Celso Furtado vive as áreas de atividade humana. Busca con-
pobreza, do subdesenvolvimento e das desigualda- Artigos no atual cenário de tribuir para a elevação de massa crítica de
des entre territórios deste imenso país. Através des- desenvolvimento do
29. Unicef comemora nossa sociedade, bem como fomentar o
Nordeste?
se instrumento de mídia, abrir mais ainda as portas
21 anos no Ceará Cariri cearense desenvolvimento local sustentável e o ple-
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da região Nordeste para o mundo e com ele intera- Ana Márcia Diógenes no exercício de cidadania. Outra missão do
gir. Conquistar público ávido por informação, cujo A retomada do desenvolvimento de instituto é o da realização de encontros, de-
senso crítico o coloca entre seletos segmentos for-
59. Patativa não era “analfa” uma região através do geoturismo e
Barros Alves bates, seminários, jornadas, congressos e
madores de opinião. da “economia do conhecimento” fóruns. Enfim, promover eventos em todos
Por fim, um veículo impresso é, por excelência, os formatos, bem como elaborar e formatar
um registro de fatos que passarão a perpetuar os
Poder Local Cultura projetos dentro do conceito de suas ativida-
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feitos de uma liderança, de um grupo de pessoas des finalísticas para encaminhamento aos
que transformam a realidade e catapultam uma re- Ave poesia: o centenário de
&Cidadania órgãos governamentais e ao Terceiro Setor.
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Patativa do Assaré
gião para os anais indeléveis da história humana.
Além do enfoque na discussão política, econô- Como uma cooperativa digital ajuda a
mica e científica de questões relevantes ligadas ao mudar as perspectivas de crianças e
jovens do maior bairro pobre de Fortaleza Ciência Responsabilidades
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desenvolvimento da região, falar em Nordeste sig-
Os Fundos Setoriais e os
nifica também a obrigação de abordar a riqueza de
sua cultura, sob os mais variados prismas. Editora Assaré Ltda ME
desequilíbrios regionais da
produção científica brasileira
Editoriais
E mais: a revista agrega, em breve, um caderno Rua Waldery Uchôa, 567 A n Benfica
especial sobre Ciência & Tecnologia, importante Fortaleza, Ceará n CEP: 60020-110 A Revista Nordeste VinteUm, dentro
setor da economia cujo fortalecimento pode contri- e-mail: assare@editoraassare.com.br de seu caráter pluralista, se pretende um
buir significativamente para ajudar a região a supe- Fone/fax: (85) 3254.4469 veículo aberto à participação e à constru-
rar problemas históricos. ção coletiva do seu conteúdo. Para tanto,
A revista Nordeste VinteUm conta com uma Francisco Bezerra Diretor de Marcel Bezerra Editor Adjunto Claudemir Luis Gazzoni Diretor de Arte Colaboradores ABA Film, Barros Alves, trabalha com o Conselho Editorial desig-
equipe de profissionais experientes e, acima de Negócios e Relações Institucionais marcel@editoraassare.com.br arte@editoraassare.com.br Mino Castelo Branco, Tiago Santana nado pela Editora Assaré. Nesta instân-
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tudo, conscientes da importância de construir um Vladimir Pezzole Editor de Arte Impressão Marcograf
cia, são discutidas estratégias para viabi-
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Orlando Júnior Diretor reporter@editoraassare.com.br garantir o cumprimento da sua política
grandecimento da região Nordeste. Isso dentro da
Administrativo Financeiro
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Especial
Obra de evocação ao
desenvolvimento vive no Nordeste atual?
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Especial
A reestruturação do desenvolvi-
C
elso Monteiro Furtado açúcar. Variava, no máximo, até o binô- a um encontro com os investimentos Formulador de políticas
faleceu, aos 84 anos, lú- mio algodão-pecuária. A mudança desse capazes de mudar sua realidade econô- públicas
cido, no Rio de Janeiro, paradigma representou uma obsessão mica, com a recuperação e construção para JK e Jango
em 20 de novembro de na vida de Celso Furtado. Inconforma- de rodovias, refinarias, ferrovias e obras
2004, ainda acompa- do até os seus últimos dias com a osten- no setor energético. No final dos anos 1950, Celso Furtado
nhado pela consciência siva presença de multidões de mendigos A conseqüência é o despontar submeteu um convite da então direto-
dramática do presente como uma rea- num território privilegiado em riquezas de uma moderna agroindústria, que ria do Bndes à criação de uma área es-
lidade distante do futuro que sonhou — generosas e diversificadas como o leva os produtos nordestinos (entre os Diante de Lula, a exposição de pecializada na instituição para criar as
em sua juventude. Naquele momento, amálgama da sua formação. quais a soja, uva, manga, melão, ace- bases destinadas a “cuidar dos proble-
o Brasil perdia um nordestino submer- rola e outras frutas tropicais) para ou- desafios estruturais mas e do desenvolvimento do Nordes-
so em sua época, bem nascido no ser- tros mercados continentais, a exemplo Numa das ocasiões memoráveis te”. Teve êxito e, em seguida, assumiu
fator humano, afim de ampliar a
tão paraibano em 26 de julho de 1920, Por uma nova da América do Norte, Europa e Ásia. dos seus últimos tempos, Celso a difícil tarefa de expor ao presidente
oferta de pessoal qualificado. Em
no município de Pombal. intervenção do Estado Nas últimas décadas, o Nordes- Furtado, na presença do presi- Juscelino Kubitschek, em 20 minutos,
terceiro lugar, a subvenção do pro-
De vida tão útil e laboriosa, trans- te alcançou progressivas transforma- dente Lula, proferiu um discurso sua visão de desenvolvimento em con-
cesso de globalização às prioridades
formou-se na grande figura evocativa Em seu pensamento, o Nordeste brasi- ções, que o promovem da condição na cerimônia de criação da nova vivência com a seca. A brilhante expo-
do mercado interno. Quer dizer, o
do Nordeste como cenário possível e leiro, iluminado pelas suas típicas con- de produtor de bens tradicionais e in- Superintendência do Desenvolvi- sição despertou em JK uma forte sen-
projeto de desenvolvimento do Bra-
passível de desenvolvimento. Enxergou dições climáticas e estrategicamente troduzem a fabricação de produtos de mento do Nordeste (Sudene), em sação de “tempo perdido”, iniciando-se
sil é feito a partir das potencialida-
na região o ambiente no qual uma nova situado nas proximidades logísticas base tecnológica, a exemplo dos aços 28 de julho de 2003, no qual su- aí a saga da criação da Sudene.
des do mercado interno. E não pen-
estratégia substituiria a velha política dos maiores mercados internacionais, especiais, automóveis, equipamentos bordinou as novas idéias e o plane- Foi desse modo que, antes do golpe
sar que basta exportar para resolver
de combate às secas. Promoveria ali o despontaria no futuro para o aporte de para irrigação, software e produtos pe- jamento do Nordeste à soberania militar de 1964, Celso aproveitou — a
o problema brasileiro”.
que já ocorria no Brasil desde a chama- investimentos que extrapolariam os li- troquímicos. Obras de reformulação do País — particularmente, na- favor do Nordeste — a confiança em sua
Foi a formulação de um méto-
da Era Vargas: o desenvolvimento da mites do sentido indutor da interven- aeroportuárias e as refinarias projeta- quele momento, diante do Fundo capacidade como formulador. Nomeado
do que acompanhou Celso Furtado
indústria e, portanto, do emprego, do ção de Estado. Confluindo em seus das em Pernambuco, Ceará e Mara- Monetário Internacional (FMI). para o Grupo de Trabalho para o Desen-
em sua trajetória, amadurecida com
mercado interno, com a mudança da objetivos sociais, golpeariam a perversa nhão são elementos de impulso trans- Celso ressaltou o Estado Na- volvimento do Nordeste (GTDN), ela-
sua experiência na Comissão Econô-
estrutura da propriedade. realidade de uma região submersa no formador nesse processo. cional enquanto “instrumento pri- borou o estudo Uma política de desenvol-
mica para América Latina e Caribe
Neste ambiente ensolarado de ex- predomínio do latifúndio, do analfabe- Tais fatores podem reafirmar a vilegiado para levar adiante uma vimento para o Nordeste — que lastreou
da Organização das Nações Unidas
traordinária exuberância, onde guardava tismo e de um largo contingente abaixo consciência de que os avanços do política de reconstrução estrutu- a criação, em 1959, da Sudene.
(Cepal/ONU), nos anos 1950. Nes-
seus sonhos mais definidos, as políticas da linha da pobreza. Nordeste são indispensáveis ao de- ral”. Ao mesmo tempo, partiu na No momento seguinte, em 1962,
se momento, evidenciava que os
predominantes até o final da década de Hoje, mesmo ainda distante das senvolvimento do Brasil, a partir frente e declinou o desafio “em no comando da instituição, se empe-
países subdesenvolvidos eram uma
1950 não atendiam ao Semi-árido. Não metas furtadianas de plena vitória so- da decisão política de direcionar os compatibilizar a ação estatal disci- nhava na organização de uma fren-
realidade de dominação em sua for-
tratavam a questão da água e da produ- bre as raízes do subdesenvolvimento, investimentos federais na região e plinadora dos fluxos monetários e te de governadores para a defesa
ma política na relação centro-perife-
ção de alimentos de um modo adequa- este cenário que abarca 1,5 milhão equilibrar o crescimento ante as de- financeiros, ou processo de globa- estratégica do Nordeste, quando
ria. E questionava a idéia de que “o
do às necessidades do imenso contin- de quilômetros quadrados — o equi- mais regiões do País. O Programa de lização, de crescente autonomia”. o presidente João Goulart o con-
presente sempre promete um futu-
gente de nordestinos. valente aos territórios somados da Aceleração do Crescimento (PAC), Destacou a batalha em curso vidou para a elaboração do Plano
ro melhor”. Para ele, os países que
O paradigma econômico da região França, Itália, Reino Unido e Ale- por exemplo, anuncia que pre- no Brasil como “uma luta grande Trienal do seu governo e o nomeou
se integram de modo subordinado
não conhecia nenhum horizonte além manha —, passa a exibir indícios tende investir mais de R$ 128 de transformação”, com três as- (o primeiro na História do Brasil) mi-
na divisão internacional do trabalho
dos vastos domínios territoriais do lati- mais significativos de crescimen- bilhões nos Estados da Região pectos e finalidades principais: — enquanto fornecedores de ma-
fúndio e da monocultura da cana-de- to. Em especial, esse perfil tende Nordeste até 2010. “Primeiro, o problema da fome téria prima ao centro hegemônico
e da exclusão social, já tão bem — estariam condenados ao eterno
formulados por seu Governo. Em subdesenvolvimento.
segundo lugar, os investimentos
necessários ao aperfeiçoamento do
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nistro do Planejamento. vicções de que, na assimetria da rea- sua história, Celso a considerou ina- vida democrática no Brasil sustou tam-
No entanto, esse momento foi efê- lidade (no mundo, na América Latina cabada. Acreditava que, nas duras cir- bém uma formidável trajetória — que
mero e logo o Nordeste assumiria nova- e no Brasil), o subdesenvolvimento se cunstâncias da época, seria acusado de não seria retomada após o fim do regi-
mente o centro de suas preocupações: reproduzia ao lado do desenvolvimen- “esquerdista e marxista” se atacasse os me militar. Após a transição negociada
em 1963 retornou à Sudene, criando to. Nessa época, no período 1957-58, problemas centrais da distribuição da de 1985, foi ministro da Cultura no go-
e implantando a política de incentivos elaborou no King’s College da Univer- renda em plena batalha contra o sub- verno Sarney. Com essa nomeação, Sar-
fiscais para investimentos na região. sidade de Cambridge, na Inglaterra, os desenvolvimento e a concentração do ney ignora uma recomendação de Ulys-
Entre suas inúmeras atividades, fundamentos de sua mais relevante de poder nas oligarquias. “Então”, disse, ses Guimarães, que sugere o convite a
ainda na década de 1950, Celso pre- uma extensa relação de obras: o clássi- “vou ficar por aqui”. Celso Furtado para a pasta do Planeja-
sidira o Grupo Misto Cepal-Bndes, co Formação Econômica do Brasil. mento após a crise do Plano Cruzado.
onde elaborou um estudo sobre a eco- Não obstante o reconhecimento Ditadura priva o Em sua gestão como ministro da
nomia brasileira. Publicado em 1955, mundial de sua obra clássica, na qual Brasil do pioneiro Cultura, a partir de março de 1986, lo-
serviria de base para o Plano de Metas percorria as diversas formações eco- do Planejamento grou aprovar a primeira lei brasileira de
Cepal, década de 1950. Raúl Prebisch está no centro. Da esquerda para a direita,
do governo JK. Ali, afirmaria suas con- nômicas e sociais do país ao longo de Com o golpe de 1964, a interrupção da Louis Swenson é o terceiro e Celso Furtado é o sexto incentivos fiscais à cultura. Em julho
Oscar Niemeyer
com Celso Furtado (1983)
Celso Furtado com Juscelino
O economista Celso Furtado com o Kubitschek (1959)
presidente do EUA, John F. Kennedy, na
Casa Branca (1961)
dos EUA até que um acidente, em em Economia pela Universidade ainda como professor-visitante da
Doutor e jornalista, plena ofensiva final dos aliados
no Norte da Itália, interrompe sua
de Paris, com o tema central da
“Economia Colonial Brasileira”.
American University, em Washing-
ton; da Columbia University, em
antes de tudo nordestino participação na guerra em sua
breve carreira militar. Momento das
Nova York; da Universidade Católi-
ca de São Paulo e da Universidade
A trajetória inicial da formação de atuar como jornalista na Revista da Sua inspiração jornalística se barricadas de Cambridge.
Celso Furtado coincide com o que Semana, ao CPOR e à convocação desenvolve quando envia repor- Quando já repercutia pelo mundo o No período compreendido
se pensaria popularmente: nos para a (FEB) Força Expedicionária tagens para a Revista da Semana, eco das barricadas de maio de 1968 entre 1978 e 1981, integrou o Con-
anos seguintes, saiu da Paraíba, do Brasileira, essa condição de versátil Panfleto e Observador econômico e na França, Celso Furtado veio em selho Acadêmico da Universidade
Nordeste e do Brasil, mas esses lu- nordestino apenas se aprofundou, financeiro, nas quais narra sua ex- junho ao Brasil, a convite da Câma- das Nações Unidas, em Tóquio. No
gares, cultura e recordações não se acompanhando sua profícua forma- periência como integrante de uma ra dos Deputados, pela primeira vez mesmo período, recebeu um man-
ausentaram da sua vida. ção intelectual. brigada francesa de reconstrução após sua cassação. dato do Commitee for Developement
Dos estudos secundários no Muito jovem, adiante é um de uma estrada na Bósnia. Nos anos 1970, seu périplo Planning, da ONU. Entre 1982 e
Liceu Paraibano e no Ginásio Per- advogado nordestino com a pa- No auge de sua formação aca- se estendeu aos países da África, 1985, coordenou seminários como
nambucano do Recife, à Faculda- tente do aspirante a oficial, na dêmica reafirmou sólidos víncu- Ásia e América Latina, em missões diretor de pesquisas da Ecole des
de Nacional de Direito, no Rio de Itália (Toscana), e atua como ofi- los com suas raízes. Foi assim em de agências da ONU (Organiza- Hautes Études en Sciences Sociales,
Janeiro, em 1939, à experiência de cial de ligação junto ao V Exército 1948, quando realizou o doutorado ção das Nações Unidas), atuando da Universidade de Paris.
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Base do pensamento
Permaneceu por oito anos (de moniza o debate contra a corrente mo-
1949 a 1957), inclusive como diretor
da Divisão de Desenvolvimento, na
netarista liderada por Roberto Campos
— segundo a qual os países subdesen- Linha do tempo da obra de celso furtado
Cepal, órgão das Nações Unidas que volvidos deveriam continuar colhendo,
1987
assume o lugar de única escola de pen- de modo subordinado, os frutos do “Economia colonial no Brasil nos séculos 16 e “Transformação e crise na economia mundial”
1948
samento econômico surgida no cha- processo de industrialização indireto, 17” (“L’économie coloniale brésilienne”, tese de
mado Terceiro Mundo. enquanto conseqüência do desenvolvi- doutorado, Universidade de Paris) “A fantasia desfeita”
1989
Neste período, se inicia o debate mento dos países centrais. “ABC da dívida externa”
1954
sobre os aspectos teóricos do desenvol- Celso compreendeu que o proces- “A economia brasileira”
1991
vimento, no qual orientou a metodologia so histórico específico do Brasil engen- “Os ares do mundo”
1956
e os objetivos da sua principal obra clás- dra uma industrialização dependente “Uma economia dependente”
1992
sica. Nela, enquadra a evolução da eco- dos países do centro capitalista e que, “Brasil, a construção interrompida”
1958
nomia brasileira no centro da realidade portanto, não seria superado sem uma “Perspectivas da economia brasileira”
latino-americana, enfatizando conceitos enérgica intervenção estatal capaz de
1997
“Obra autobiográfica de Celso Furtado, 3 vol”
vigentes na Cepal. Desponta aí, uma vi- redirecionar o excedente. “Formação econômica do Brasil”
1959
são da economia internacional realçada Mesmo que isso não significasse “A Operação Nordeste”
1998
“O capitalismo global”
por uma divisão do trabalho que se fun- uma plena transformação do sistema
Celso Furtado e o educar Anísio Teixeira,
1961
damenta nas relações de paradoxo, assi- produtivo, tal reorientação da política te- “Desenvolvimento e subdesenvolvimento”
1999
troca de idéias sobre o Brasil
métricas, entre países centrais, industria- ria como referência um desenvolvimento
“O longo amanhecer”
1962
de 1988 se exonerou e retornou às ativi- lizados, e países periféricos, agrícolas. mais avançado. Celso destacava o “pro- “A pré-revolução brasileira” “Em busca de novo modelo, reflexões sobre a
2002
dades acadêmicas no Brasil e no exterior. Em 1954, o mito de que o subde- blema do Brasil e do Nordeste” em sua
crise contemporânea”
Encerrava-se aí sua vinculação com o senvolvimento era uma questão de “baixa natureza estrutural, a requerer reformas
1964
“Dialética do desenvolvimento”
executivo federal, sem que seus conheci- poupança” já caíra por terra no conceito profundas “sempre consideradas marxis-
2003
mentos fossem plenamente assimilados. do “círculo vicioso da pobreza”. Revela- tas no passado” — e considerando-se, ele “Raízes do Subdesenvolvimento”
“Subdesenvolvimento e estagnação na América
1966
O primeiro Ato Institucional da se que a retenção de uma parte do ex- próprio um reformista reconhecido. Latina”
ditadura, publicado três dias depois do cedente exportado, poderia proporcionar Para o sociólogo Chico de Olivei-
golpe militar de 1964, cassara seus direi- a criação de uma indústria que gerasse ra e de acordo com escritor Antônio “Teoria e política do desenvolvimento
1967
tos políticos por dez anos. Quem perdeu emprego, salário e progresso técnico. Cândido, foi o quarto demiurgo no econômico”
com o exílio de Celso Furtado foi o Brasil Essa matriz de pensamento ganha a panteão dos grandes “inventores” do
simpatia de Getúlio Vargas, que se opõe Brasil, ao lado de Gilberto Freyre,
1968
e o Nordeste. Em 1965 aceitou um con- “Um projeto para o Brasil”
vite da Faculdade de Direito e Ciências à pretensão dos EUA — voltada inclu- Caio Prado Jr. e Sérgio Buarque.
Econômicas da Universidade de Paris sive para a perpetuação do Brasil como Nas poéticas palavras da econo-
1972
“Análise do modelo brasileiro”
— onde conquistou a inédita situação de exportador de matérias-primas — de ex- mista Maria da Conceição Tavares,
primeiro estrangeiro nomeado para uma tinguir a incômoda Cepal pelo estragos foi o grande pensador econômico do
“A hegemonia dos Estados Unidos e o
1973
universidade francesa por decreto presi- em seus interesses hegemonistas. século XX, que tinha uma “enorme subdesenvolvimento da América Latina”
dencial do general de Gaulle. Depois que assume a liderança capacidade de levantar os olhos para
Lá, permaneceu nos quadros da do pensamento desenvolvimentista de o horizonte, mesmo o vendo se afastar
1974
“O mito do desenvolvimento econômico”
Sorbonne, pelos 20 anos seguintes de orientação nacionalista, Celso hege- como uma miragem no deserto”.
vigência do regime militar.
1976
“A economia latinoamericana”
Emergência e À esquerda, Carlos André Peres, presidente da Venezuela. À direita,
Celso Furtado. Ao lado de Celso, Hélio Jaguaribe “Criatividade e dependência na civilização
1978
subdesenvolvimento
industrial”
Celso Furtado foi um especialista na
“Pequena introdução ao desenvolvimento, um
1980
arte de realizar caminhos — que com-
enfoque interdisplinar”
preendia originalmente como obra de
conhecimento e reconstrução.
1981
O pós-guerra alimentou o desejo
“O Brasil Pós-milagre”
“enorme” de conhecer a Europa e o
“A nova dependência, dívida externa e
1982
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A
Nordeste x Crise Econômica economia do Nordeste está sendo menos tivas dos agentes econômicos – produtores e consumi-
afetada pela crise do que a economia do dores de forma geral.
Brasil. Essa é a conclusão da versão preli- O primeiro ponto negativo a funcionar como anti-
minar do estudo Crise Financeira Global: corpo é o fato de que, no Nordeste, o percentual corres-
Canais de Transmissão, Impactos Regionais pondente ao estoque total das operações de crédito do
e Perspectivas, divulgada em meados de abril deste ano, sistema financeiro em relação ao Produto Interno Bruto
pelo Escritório Técnico de Estudos do Nordeste (Etene- (PIB) é inferior ao do país. Na região, a proporção ope-
BNB). O órgão concluiu que as razões para essa “blin- rações de crédito/PIB é de é 15,8%, enquanto no Brasil
dagem” estão mais ligadas aos aspectos de subdesenvol- ela chega a 41,3%.
vimento da região do que numa suposta pujança da sua “Mesmo no nível do Brasil, isso é uma coisa atenu-
dinâmica de crescimento. ante. Em muitos países desenvolvidos há um volume
O estudo do Banco do Nordeste identifica três ca- muito maior de crédito privado, por que neles o crédi-
nais de transmissão, ou seja, as resultantes da crise so- to público é muito pequeno”, pontua o gerente do Am-
bre a economia brasileira. O primeiro deles foi a redu- biente de Estudos, Pesquisas e Avaliações (Aepa) do
ção global da oferta de crédito, principalmente privado, Etene, Biágio Mendes Júnior. Na sua análise, a baixa
seguido da diminuição do comércio e da demanda mun- participação da região “não é boa em termos de desen-
dial, geradora, por último, da deterioração das expecta- volvimento, mas nesse momento de crise passa a ser um
Indicadores
Períodos de
comparação
Variação em %
Nordeste Brasil
Os efeitos calamitosos da crise econômica mundial não atingiram o Nordeste Produção industrial Jan – 09/08 -10,7 -17,4
com a mesma força com que chegaram a outras regiões do Brasil. Os pontos Pessoal ocupado na indústria Jan – 09/08 -1,8 -2,5
negativos que agem como anticorpos são a nossa menor participação nas
operações de crédito/PIB do País, maior peso dos bancos públicos no total de Horas pagas na indústria Jan – 09/08 -3,0 -3,6
empréstimos, baixo grau de abertura da economia e preponderância do Estado Estimativa da produção de grãos 2009/2008 3,4 -7,3
como empregador/investidor. Portanto, antes de soltarmos fogos de artifício, que Estimativa da área plantada de grãos 2009/2008 5,6 0,3
fique bem claro: a região parece blindada contra intempéries financeiras muito
mais por sua condição de subdesenvolvimento Estimativa produtividade de grãos 2009/2008 -2,1 -7,6
do que por um planejamento estratégico Volume de vendas do comércio varejista ampliado Jan – 09/08 3,4 2,8
que a coloque em pé de igualdade para
Exportações Jan-Fev – 09/08 -26,3 -25,7
competir com outras regiões do país
Importações Jan-Fev – 09/08 -55,9 -25,4
Saldo nas operações de crédito Dez/08 – Nov/08 -8,0 -11,6
Saldo nos depósitos bancários Dez/08 – Nov/08 1,4 -17,2
Numa escala que vai do pessimismo (entre -100 e da banca privada. Prova Itaqui, Ponta da Madeira e Alumar
Ferrovia
-60), passando pelo adverso (entre -60 e -20), pela apre- está na participação do
Biágio Mendes Junior, Gerente PA Ramal de Itaqui São Luís
Porto do Pecém Transnordestina
ensão (de -20 a +20), pela confiança (de +20 a +60) até crédito do BNB em re- Itapipoca
Ambiente Estudos Etene BNB Fortaleza
chegar ao otimismo (de +60 a +100), a pesquisa revelou lação aos demais bancos Sobral
Porto do Mucuripe
Ipu
a região com o melhor índice (26,19), em oposição ao Sul (inclusive os privados) no Caxias Baturité
total do crédito da região Nordeste, que atingiu 36,3% Nova Russas Limoeiro do Norte
(-4,23) e ao Sudeste (1,13). Já a edição de abril trouxe uma Teresina
Crateús
Macau
queda na arrecadação devido à redução nas transferên- do Estado como empregador, investidor e executor dos
cias governamentais – em parte dado o impacto da redu- programas de transferência de renda.
subdesenvolvimento econômico num prazo a partir de cinco anos.
ção do IPI dos automóveis e eletrodomésticos. Na prática, o estudo se refere ao Bolsa Família e
Ele coloca a Ferrovia Transnordestina, cujas obras devem começar nos
Quanto às perspectivas, os economistas são unânimes às aposentadorias e pensões, pagas em grande parte
próximos meses, como fundamental. “Essa obra vai criar infra-estrutura
em transferir para o segundo semestre avaliações mais com o Fundo de Participação dos Municípios (FPM).
necessária. A questão do multimodal com o São Francisco, pois a revi-
claras. “A partir do meio do ano as indústrias começam a Esse dinheiro é responsável pelo aquecimento mensal
talização vai permitir que você faça transporte pluvial. Juntar isso com a
produzir, ou seja, retoma a produção máxima para repor das economias de pequenas, e muitas vezes pobres ci-
ferrovia e ligar os portos. Vai viabilizar empresas que antes não poderiam
estoque no final do ano. E essa perspectiva de que vai ha- dades do interior, fenômeno maior em escala regional se instalar no Semi-árido”.
ver compras no final do ano é que vai motivar as empresas do que nacional. Mesmo reconhecendo como é difícil prever o impacto exato da
a contratar mais gente, vai gerar renda e impostos. É com o O último fator que explica porque a crise não nos Transnordestina, Cavalcanti considera que a obra deverá dinamizar regi-
atingiu com tanta força é o baixo grau de abertura co- ões, “quando se vê que os ramais ficam ainda mais baratos”. Ele diz que
que o governo está contando”, detalha Cavalcanti.
mercial da economia nordestina (14,2%) em compara- será possível interligar vários pólos econômicos dinâmicos à ferrovia
ção com o país (21,2%). Cavalcanti explica que isso se principal, e viabilizar diversas produções antes impossíveis no semi-
deve à maior formação comercial para o mercado inter- árido. O coordenador cita ainda a duplicação da BR-101 entre Sergipe
no, em contraponto à indústria de base, mais concen- e Rio Grande do Norte, a refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, cujo
trada em São Paulo, por exemplo. estaleiro já começou a funcionar, a transposição do rio São Francisco e
“Não que o Nordeste não sofra. Temos mercados as refinarias e siderúrgica no Ceará e no Maranhão, além da reforma de
exportadores aqui como cana-de-açúcar, lagosta, frutas, portos e aeroportos como outros exemplos. “Se não atrasar nada, em
que têm sofrido muito com a crise. No entanto, a maior torno de cinco, seis anos, o Nordeste começa a ter essa infraestrutura
parte da nossa renda advém da produção para demanda econômica pronta para ser utilizada por empresas que queiram se ins-
interna. E, nisso, temos certa estabilidade”, esclarece. talar no Nordeste”.
16 Maio/2009 Maio/2009 17
Nordeste x Crise Econômica NVU – Quanto às políticas do governo, grandes lá para o Semi-árido porque
em que sentido esses resultados mos- não tem como tirar as mercadorias de
tram o quanto o Nordeste precisa cres- lá, sem transporte, logística.
cer para superar esse padrão de subde-
Estabilidade sem autodesenvolvimento senvolvimento? NVU – Mas isso é coisa para quanto
FC – Você precisa perceber: a presen- tempo?
18 Maio/2009 Maio/2009 19
obras devem impactar diretamente na mortalidade infantil. Obras de menos, porque entram outras regi- bem confiante no desempenho da
ampliação de educação, de edificações do ensino médio, de interiori- ões também na demanda. Perde-se economia...
zação do ensino superior. Por outro lado, essa crise veio a atrapalhar. a garantia anterior. Ficaria tudo num FC – É preciso observar: alguns seto-
Mas, a idéia era ter um desenvolvimento maior na área de educação grande fundo, que poderia, de uma res foram fortemente prejudicados
na região Nordeste, ou seja, o que se chamou de “PACinho” da edu- hora para outra, ser contingenciado. pela crise. Como a produção de ca-
cação. Só que esse ainda não deslanchou, existe muito espaço para na-de-açúcar. Não é que a produção
trabalhar. Uma das grandes questões da Sudene é combater direta- NVU – Quando vocês esperam resolver vai reduzir, o problema é que eles não
mente o analfabetismo, pois acreditamos que mesmo que a Sudene essa questão crucial do órgão? estão recebendo as exportações que
consiga botar empresas lá, elas não vão ter mão-de-obra qualificada. FC – Hoje, a Sudene tem o Fundo fizeram no ano passado. Isso vai criar
Estamos tendo problemas aqui em Pernambuco com o porto. Ou de Desenvolvimento do Nordeste, É preciso observar uma crise aqui de desemprego agora,
seja, você tem muitas empresas se instalando, e não tem mão-de-
obra. São ações mais macro, de Ministério da Educação e de secre-
o FDNE, que é da ordem de R$ 2
bilhões ao ano. Ele não tem nada a
alguns setores na safra, provavelmente, em setem-
bro. Você tem a zona da mata toda
tarias estaduais de Educação. A Sudene está articulando via esse pla- ver com o FNE, que é em torno de foram fortemente que depende muito dessa renda que
no. Então, tentamos na Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2010, a R$ 8 bilhões ao ano. Esse novo fun- não vai ter, a não ser que haja uma re-
partir das prioridades que os Estados levantaram, incluir ações como do vai incorporar o outro e também
prejudicados pela viravolta nos créditos das empresas.
prioridade para os ministérios dentro do PPA Federal, para que os o FNE, que está sendo votado. En- crise. Como a Ou seja, existem vários fatores, variá-
recursos realmente cheguem, principalmente no Semi-árido. tão, por exemplo, a Transnordestina, veis que não possibilitam uma previ-
as usinas eólicas que financiamos, produção de cana de são clara. Lógico que a perspectiva é
NVU – A Sudene está na ordem do dia e estruturada de fato? O que
ela faz?
está tudo dentro do FDNE. Essa
idéia de incorporar todas essas ques-
açúcar. Não é que a favorável. Nós temos recursos, nosso
dinheiro depende na maior parte de
FC – Começamos a trabalhar em 2008, e a primeira coisa foi ten- tões de apoios e incentivos regionais produção vai reduzir, banco público, que continua empres-
tar estruturar o Fundo de Desenvolvimento do Nordeste, para que é que causa maior polêmica. É um tando, deve haver um crescimento
a Sudene pudesse agir e também estruturar administrativamente a fundo nacional de desenvolvimento
o problema é que eles muito grande dos empréstimos aqui
casa. Tocar o Plano de Desenvolvimento que a Sudene está con- regional. Para desenvolver as regiões não estão recebendo tanto por parte do FNE como do
cluindo agora. Esse plano vai dar as diretrizes da Sudene. O que está Norte, Nordeste, Centro-Oeste, mas FDNE, fora o Bndes que também
tramitando é a estrutura nova, que deveria ter sido aprovada para a também entra a linha de fronteira, as exportações está investindo muito aqui no Nor-
Sudene, na qual temos mais uma diretoria dedicada a cuidar espe-
cificamente do desenvolvimento local. Mais focada no Semi-árido.
que é parte do Sul do país, etc. Ou
seja, nós vamos incluir novas áreas
que fizeram no deste na atividade turística. Então,
nós temos diversos investimentos
E estamos sem poder fazer concurso público, etc. Ou seja, vai ser que hoje não estão presentes na divi- ano passado grandes que estão tendo continui-
possível reestruturar a Sudene a partir dessa lei, que talvez saia até são do fundo. Por exemplo, o FNE só dade este ano. Não dependem só de
por Medida Provisória, devido à urgência. Na realidade, desde o ano existe para o Norte e Nordeste. recursos da iniciativa privada. Isso é
passado, quando a Sudene foi criada, ela tinha a estrutura que está do a partir da liberação de recursos muito bom para o Nordeste.
no Congresso, tramitando. Só que cortaram partes da lei, o que invia- NVU – Até o fim do ano isso não poderia desse FDNE. Temos os incentivos
bilizou alguns projetos. Dessa forma, está novamente tramitando. ser resolvido? fiscais, que vão ser revistos. NVU – Como é a articulação do Conse-
FC – Acho difícil, porque isso en- lho com os comitês?
NVU – É a lei complementar? volve reforma tributária e nesse NVU – Que é para resolver essa guerra FC – A Sudene está se organizando.
FC – Tem os vetos a essa Lei Complementar que é uma coisa. E tem ano ninguém quer falar sobre isso. fiscal entre os estados? Dentro do Conselho Deliberativo da
uma outra que é a estrutura da Sudene. Porque, como não foram É um ano de crise e a receita do FC – A idéia maior é evitar que as em- Sudene foi criado o Comitê Regio-
aprovados os cargos, ela ficou inviabilizada de funcionar na forma governo está caindo, ele não quer presas consigam acessar os benefí- nal das Instituições Financeiras Fe-
como consta a Lei Complementar 125. E foi feita a lei para que pos- falar em nada que mexa no estado cios por Estado. Que seja por região. derais (Corife) e o Comitê Regional
sa reestruturar a parte administrativa, fazer concurso, reequipá-la de que está atualmente. Mas, de qualquer forma, esse fundo de Articulação dos Órgãos e Enti-
capital humano. não vai evitar isso, porque o ICMS, dades Federais. Esses dois comitês
NVU – A Sudene vive então uma angústia? essas coisas, ficam a critério dos Es- conseguem juntar a parte financei-
NVU – E com relação a esse fundo, uma das coisas que mais se fala da Sudene... FC – Na verdade, a Sudene está fun- tados, ainda. Eles têm autonomia ra e econômica com a parte social,
FC – Fundo Regional de Desenvolvimento. Esse fundo vai englobar cionando normalmente. Esse fundo para legislar, dar a isenção ou não. educação, saúde, para atuação no
o Fundo de Desenvolvimento do Nordeste atual, o FNE, e outros vai mudar o perfil do que é hoje, mas A alíquota de ICMS é definida pelo Nordeste. Essas articulações vão
recursos que o governo também repassa para cá. O que a Sudene nós temos recursos, continuamos fi- Senado, mas o estado tem autonomia dar um resultado muito proveitoso.
percebe é que, se isso for feito dessa forma, o Nordeste vai ficar nanciando as obras, estamos com tra- para isentar ou não. A questão desses desníveis sociais
com a mesma coisa. Vai parecer ser um dinheiro novo, mas vai ser balho de desenvolvimento local, te- que é o que a Sudene deve atacar
o mesmo dinheiro com outro nome. Não queremos que o fundo mos orçamento do FDNE que é uma NVU – O Sensor Econômico do IPEA mos- fortemente, via esses conselhos e
saia desse jeito, a Sudene está querendo que o FNE seja protegido, parte, mas desses R$ 2 bilhões que trou a confiança do setor empresarial articulações. Nós vamos tentar criar
ou seja, que ele fique fora, do jeito que é hoje, e se inclua os in- estamos para liberar esse ano, das li- brasileiro diante da crise internacio- planos específicos para o Nordeste.
centivos, outros fundos, dentro desse fundo maior. A idéia central berações do FDNE, 1,5% constituirá nal. Diz que o setor produtivo mantém Nós estamos caminhando bem rápi-
é que o fundo seja mais uma fonte de recursos. Do jeito que es- um fundo para ciência e tecnologia. a expectativa apesar do agravamento. do, por sinal, nessa parte de articu-
tão querendo fazer, vai ficar a mesma fonte de recursos. Talvez até É um outro fundo que estamos crian- Por região, ele mostrou o Nordeste lação com essas instituições.
20 Maio/2009 Maio/2009 21
RECURSOS HÍDRICOS
Brasil e EUA: acesso à água não todo o mundo, devido a doenças rela-
cionadas com a falta de água potável.
nia sobre o controle territorial de suas
águas”. A rachadura política causou
Possui o rio de maior volume –
24 Maio/2009 Maio/2009 25
Foto: Arquivo pessoal
Cisternas, tanques e barragens
Não adianta investir em grandes obras e não trabalhar
Pesquisa dá resultado e se torna case de sucesso habilidades e aptidões do povo. Na década de 1980, o
para o uso doméstico das famílias;
enquanto as cisternas calçadão, as bar-
governo implantou modelos de cisternas para famílias
ragens subterrâneas e os tanques de
pedra aproveitam a água da chuva para
difusas. Não garantiram resultado. Não basta construir
a produção de alimentos e a criação de e entregar, é preciso entender a formação como a peça
pequenos animais. A eficácia das ações
é resultado de muito estudo. principal desse quebra-cabeça
A ANA traçou, no final de 2006, Alessandro Nunes, assessor técnico da Cáritas Ceará, regional integrante da Rede Cáritas Internationalis
o diagnóstico da realidade de mais
de 1.300 municípios no Semi-árido e gar, é preciso entender a formação como países. A entidade põe em prática os atua com visão diferenciada. A situa-
organizou o Atlas Nordeste – abaste- a peça principal desse quebra-cabeça”, projetos coordenados pela ASA nos ção de seca e pobreza é colocada em
cimento urbano de água, uma compi- explica Alessandro Nunes, assessor téc- municípios do Semi-árido, que abrange contraposição às vivências da região,
lação de alternativas para demandas nico da Cáritas Ceará, regional integran- ainda o Espírito Santo e o Maranhão. desmistificando o que é noticiado na
atuais e futuras, com orçamento das te da Rede Cáritas Internationalis. Com o objetivo de apresentar um mídia. As expressões culturais, os sabe-
obras e foco no abastecimento hu- A entidade atua na defesa dos panorama da região e suas característi- res do sertão e a proeza de encontrar
mano. Por conseguinte, no desenvol- direitos humanos e desenvolvimento cas, bem como servir de canal de pes- vida digna em ambientes tão hostis são
vimento sustentável, em municípios sustentável solidário em mais de 200 quisa, o Observatório do Semi-Árido questões revalorizadas.
com mais de 5.000 habitantes.
O
Cisterna de placa
“O atlas permite identificar qual Foto: Renato Lopes/Agência Minas
a obra mais adequada em cada loca-
s projetos Um Millhão de Cisternas em se tratando de alternativas para a lidade, auxiliando as prefeituras com
(P1MC) e Uma Terra e Duas Águas convivência com as condições geo- detalhamentos técnicos”, explica Do-
(P1+2), coordenados pela Articulação gráficas desfavoráveis. minguez. O estudo se projeta como
do Semi-Árido (ASA), em parceria A construção de cisternas de placa, case de sucesso e, aliado a outras
com o Governo Federal, mostram que captam água da chuva em peque- pesquisas, garante ações com retorno
que pesquisar é a palavra de ordem nas proporções, garante água potável efetivo até 2015.
O
tes no Semi-Árido, realizado pelo Uni- “O Nordeste tem o maior volume Em formato de fórum de organizações
cef ainda em 2003. Dos 13 milhões, de água represado em regiões semi-ári- da sociedade civil, reúne mais de 700
75% são pobres. das do mundo, com cerca de 37 bilhões entidades. Os investimentos são re- rol das grandes ações estratégicas para garan-
Sem condições favoráveis a uma de m3. Nosso potencial foi construído passados pelo Governo Federal, mas tir o abastecimento do Semi-árido ainda vive
vida digna, 16 mil não completam nem com ações pontuais, com o empenho do as ações são resultado de estudos e ex- turbulências. Em xeque, o projeto de Inte-
primeiro ano de vida. E para quem Dnocs, com pesquisas assertivas. O que periências vivenciadas pela população gração do Rio São Francisco com as Bacias
escapa, o futuro reserva dificuldades falta é o bom gerenciamento da água, atingida, por meio dos saberes dos pró- Hidrográficas do Nordeste Setentrional, do
já secularmente anunciadas como in- em face a cada realidade específica. prios agricultores. Governo Federal.
transponíveis. Só que graças a grupos Nosso volume é suficiente para o abas- “Não adianta investir em grandes Há quem reivindique que o desvio do rio
como o Núcleo de Estudos e Articula- tecimento pleno da população”, aponta. obras e não trabalhar habilidades e ap- atenderá necessidades do agro e hidronegócio,
ção Sobre o Semi-Árido (Nesa), outras O pesquisador defende os projetos tidões do povo. Na década de 1980, o preterindo a questão fundamental: o abaste-
expectativas começam a proliferar. de desenvolvimento e difusão das tec- governo implantou modelos de cisternas cimento humano universal. Especialistas afir-
Criado pela Fundação Joaquim nologias de convivência, executadas por para famílias difusas. Não garantiram mam que o caminho das águas desembocará
Nabuco, o Nesa partilha projetos de ONGs e associações. “Os movimentos resultado. Não basta construir e entre- em locais onde a oferta já é abundante.
26 Maio/2009 Maio/2009 27
Artigo
I
população que vive à margem do rio Sem se falar das muitas possibilida-
não tem água, as comunidades ribei-
rinhas, para o onde o rio naturalmen-
des de atração de investimentos.
“O projeto original foi modifica-
de pessoas, com as mplantar um escritório no Ceará foi uma decisão
da instituição atendendo solicitação do então go-
que hoje conta com mais de 240 mil agentes comunitá-
rios de saúde.
te se desloca, não são contempladas. do. A vazão é relacionada ao volume águas já existentes vernador Tasso Jereissati. Lideranças da saúde es-
tavam preocupadas em mobilizar parceiros em tor-
A gestão do terceiro coordenador, o chileno natu-
ralizado brasileiro Patrício Fuentes, foi marcada por um
Parece até uma piada, não é?”, reflete do rio, em épocas de seca e épocas
o mestre em Geoquímica e Meio Am- de cheia. O São Francisco tem con- na região, enquanto no da redução da mortalidade infantil no estado.
A instituição chegou para apoiar iniciativas do Go-
projeto de mobilização gerado no escritório do Ceará. Em
1998 a preocupação maior, dentre outras, era a situação da
biente, Jémisson Santos.
Para João Suassuna, engenheiro
dições de ‘fazer a transposição’ sem
acometer seus usos”, justifica Antônio a transposição verno Estadual, dos municípios e da sociedade civil, e
sugerir novas estratégias e ações para potencializar resul-
educação infantil no Brasil e em especial nos municípios
do Ceará. Patrício, junto com a educadora Stela Naspolini,
agronômico e pesquisador da Funda-
ção Joaquim Nabuco, a abrangência
Félix Dominguez.
O ponto unânime é que levar a atende a apenas 12 tados. O primeiro coordenador, em 1988, foi o educador funcionária da instituição, buscou uma estratégia arrojada e
catarinense Antenor Naspolini. À época, os indicadores ao mesmo tempo factível de ser implantada.
social do projeto não justifica o in-
vestimento “faraônico”. “O Atlas Nor-
água do rio para regiões atingidas pe-
las secas não é tarefa simples, nem
milhões de pessoas, de saúde remetiam para centenas de crianças morrendo Eles desenvolveram a metodologia junto com ou-
deste garante um trabalho de abaste-
cimento de cerca de 34 milhões de
tampouco representa a solução para
os problemas de abastecimento de
com o dobro de por desnutrição infantil.
Cinco anos depois, em 1993, os resultados levaram o
tros funcionários, parceiros e consultores; incorporaram
temas como ensino fundamental, saúde e direitos e defi-
pessoas, com as águas já existentes água. Muito mais do que a polêmica, recursos previstos Ceará a receber o Prêmio Internacional Maurice Pate por
ter reduzido em 34% a mortalidade infantil em quatro anos.
niram que o reconhecimento deveria ser para municípios
que colocassem em prática o Estatuto da Criança e do
na região, enquanto a transposição o acesso à água se estende como um
atende apenas 12 milhões de pessoas, cenário de perspectivas e novas pos- Pela primeira vez o Unicef havia concedido este prêmio ao Adolescente (ECA).
João Suassuna, engenheiro agronômico Brasil, à América Latina, e vinha com um carimbo especial, Estava nascendo o Projeto Selo Unicef Município
com o dobro de recursos previstos sibilidades, a partir do debate amplo e pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco
para as obras do Atlas”, explica. e permanente. remetendo o feito ao “povo e ao Estado do Ceará”. Aprovado. Nascia para melhorar a vida das crianças ce-
Em meio ao debate, os números O segundo coordenador, o médico italiano Ennio arenses, para que passasse a ser vista como cidadão de
Svirtone, que já era funcionário da instituição, apoiou forma diferenciada através de creches e pré-escolas de
expressivos. Os investimentos com o BALANÇO DAS ÁGUAS uma grande estratégia gerada no Ceará: o Programa qualidade, parques infantis em praças públicas, espaços
projeto de Integração com as Bacias
Hidrográficas do Nordeste Seten- Agentes de Saúde. O Unicef trabalhou na metodologia, lúdicos em postos de saúde e hospitais, brinquedotecas,
trional, iniciado em junho de 2007, é PREVISÃO DE OFERTA POR HABITANTE/ANO (m3) Sistema de Informação e no estudo que avaliou o progra- espaço definido na gestão escolar, entre outros.
orçado em R$ 5,5 bilhões; enquanto ma no Ceará. Bastaram três edições do Selo Unicef para que o
as obras do Atlas Nordeste apontam VAZÃO DA OFERTA DE ÁGUA EXISTENTE (m3/s) A idéia dos agentes de saúde havia sido idealizada projeto encontrasse repercusão nacional e internacional.
soluções com um pouco mais da me- por Carlile Lavor, então secretário de Saúde do Ceará. Enquanto vários países agendam visitas ao projeto, aqui
tade desse custo (R$ 3,6 bilhões). Em 1987, quando o Estado passava por um período de no Brasil foi criado um movimento dos governadores de
Na defesa, os argumentos são seca, foram convocadas seis mil mulheres para conversar onze estados da região do Semi-árido que, junto com o
muitos: a transposição não compro- com outras mulheres sobre pré-natal, qualidade do parto, Presidente da República, criaram o Pacto Nacional Um
mete a saúde das águas, pois a vazão aleitamento materno, higiene com o bebê, vacinação, de- mundo para a criança e o adolescente do Semi-árido.
prevista é de apenas 1,4% de 1.850 senvolvimento infantil e aplicação do soro oral para evitar Os números passaram a falar pelo selo. Em dezem-
m³/s, aquém do bombeamento das a desidratação. bro do ano passado foi concluída a quinta edição em nível
águas do São Francisco; os projetos A conversa deu resultado: um número menor de local, e a segunda em nível nacional. Até agosto deste
de revitalização tem perspectivas de crianças morreu. Isso fez com que, em 1988, fosse criado ano, o Unicef estará lançando a nova edição.
desenvolvimento econômico e social, o Programa Agentes de Saúde. Em 1991 o Ministério da Comemorar esses 21 anos é pensar que o trabalho ape-
a partir da gestão e monitoramento, Saúde adotou o programa para todos os Estados nordes- nas começou. E, com tantos bons exemplos em que se espe-
proteção e uso sustentável dos recur- tinos, disseminando-o posteriormente para todo o Brasil, lhar, nos colocando cada vez mais a serviço da sociedade.
Fonte: Agência Nacional de Águas e João Suassuna/Fundação Joaquim Nabuco
28 Maio/2009 Maio/2009 29
Caleidoscópio
Presidente do BNB comandará Alide tem 42,5% da população e contribui
com 56,5% do PIB ); PIB per capita de
O presidente do BNB, Roberto Smith, é o
novo presidente da Associação Latinoamericana US$ 1,856.72; 18 terminais
marítimos; 18 aeroportos; 405,3
de Instituições Financeiras para o
Desenvolvimento (Alide), organismo
internacional que representa mais de 80
bancos, oriundos de 23 países da América
mil km de rodovias; 8,2 mil km
Latina e Caribe, além de Canadá, de ferrovias; 27,767.129 kw
Alemanha, Espanha e China. A decisão
foi tomada pelo conselho diretor da de capacidade instalada de energia.
instituição, no último dia 30 de março. 6 é a média de anos de estudo
Crown acerta na lata em
30 Maio/2009 Maio/2009 31
Foto: Arquivo pessoal
Entrevista
com
FREDERICO Cangaço
Pernambucano de Mello
Por Marcel Bezerra
marcel@editoraassare.com.br
Sem lei nem rei, “Guerreiros do Sol” mais
universais e irredentos do que nunca Nordeste VinteUm – Nordeste Vinte Um - Há similaridades
do cangaço com outros fenômenos em outras partes do
mundo, especialmente nos moldes da amplitude alcançada
valentão, instância privada de resolução de conflitos na au-
sência da justiça estatal, vai cedendo passo lentamente ao
capitão-mor e ao juiz de paz, depois ao delegado, ao subde-
pela figura de Lampião? legado, ao inspetor de quarteirão. E se transformando, sem
Um desdobramento da reação nativa de corrente minoritária ao longo de cinco Frederico Pernambucano de Mello – Em essência, o fenôme- o sentir, de justiceiro em criminoso. De figura socialmen-
séculos. Um resultado da luta renitente contra os valores do colonizador, sua no do cangaço é universal, correspondendo àquele perío- te exemplar a perseguido da justiça pública em ascensão.
ideologia mercantilista e a escravidão da “raça castanha”. Nessa entrevista, é do cinzento da transição privado-público na história dos Não devemos deixar de assinalar que o caráter universal
países, de modo particular nos países de colonização tar- do cangaço, em sua essência, foi proclamado por Câmara
assim que o fenômeno do cangaço começa a ser descrito e analisado, num resgate dia, nos quais se mostrou mais renitente. Mas, houve em Cascudo há muitos anos. Quanto à amplitude de espaço,
da profunda e brilhante leitura lançada em 1985 pelo historiador Frederico todos os continentes, no instante em que o braço da ad- de tempo, de engajamento de massa e de visibilidade pú-
ministração da justiça criminal pública, começando timi- blica alcançada por Lampião e seu bando, não há rival nos
Pernambucano de Mello. Sucesso de edição esgotada há anos e raridade de damente a chamar a si os conflitos sociais, vai lançando na tempos modernos, sobretudo no Ocidente.
alto preço nos sebos, a obra foi relançada em 2004. Aqui, o autor, entre outras marginalidade as práticas e os agentes da violência privada,
abordagens, fundamenta como o cangaço, “no mais fundo da carne, foi uma tradição no afã de monopolizar a coerção. Saindo do abstrato, diría- NVU – Qual o contexto histórico do Nordeste no período pré-
mos estar tratando, com referência ao Nordeste do Brasil, surgimento do cangaço?
brasileira de resistência popular armada, contínua e metarracial” daquele momento dramático em que a figura histórica do FPM – Diferentemente do que pensam muitos autores ilus-
32 Maio/2009 Maio/2009 33
Foto: Benjamin Abrahão/ ABA Film
o pé na carne opulenta de índias re- predominância do contingente racial
ceptivas – segundo salientou Gilber- que recheava suas fileiras, o canga-
to Freyre em sua linguagem plástica ço mostrou-se contínuo no tempo e
– retratou o nativo que estava encon- absolutamente metarracial. Você po-
trando. E quedou siderado no instan- dia ter sucesso no bando, ascendendo
te seguinte, acusando o impacto que à chefia, fosse branco alourado, como
tanta liberdade produzia sobre a alma Corisco; negro, como Zé Baiano; ín-
de quem velejava vergado ao cambão dio, como Gato; ou mestiço dos mais
de braúna da Coroa portuguesa e do diferentes matizes, como o caboclo
Papado de Roma. Um Papado de fo- Lampião, o mulato Sabino, o sarará
gueira acesa, com a chama da Santa Luiz Pedro, o cafuzo Jararaca, o cabo-
Inquisição. E uma Coroa absolutis- verde Zé Sereno. Sem deixar de ser
ta, a despachar para as masmorras do uma expressão de banditismo — por-
Limoeiro a quantos tropeçassem nas que sempre houve lei capaz de res-
cavilações penais do Livro Quinto das paldar esse enquadramento jurídico
Ordenações Manuelinas. de epiderme — o cangaço, no mais
fundo da carne, foi uma tradição bra-
NVU – O que foi o cangaço, finalmente? sileira de resistência popular armada,
Fotograma do filme “Lampião Rei do Cangaço”. 1936 Maria Bonita e Lampião em 1936
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Fotos: Benjamin Abrahão/ ABA Film
do século passado, quando a história volta a se assumir ceiro não menos valente: Honorato Limão. Outros, ainda,
como ciência ideográfica, ocupada com o específico e o o transformaram em asilo nômade de criminosos jurados
não-repetível, e dá as costas para as constantes nomotéti- de morte, como Ângelo Roque, o Labareda. A cada pro-
cas geradoras de estruturas generalizantes, com o perdão pósito correspondendo um estilo de vida, uma contenção
do leitor pelos nomes pesados. de gestos e até uma dimensão de espaço e de tempo. Os
primeiros mostrando-se mais longevos e de abrangência
NVU – Então, como “desembotar” essa consciência do confli- geográfica mais espalhada, chegando a atingir quatro Es-
to de viés puramente ideológico? tados, como aconteceu com o bando de Lampião, e varan-
FPM – Na história do Nordeste, a dinâmica de conflito do os vinte anos de sobrevivência. Uma tradição presta-se
por excelência residiu sempre no divórcio litoral-sertão. a muitos propósitos, não é?
Aí é que estão as placas tectônicas dos vulcões sociais
que nos sacudiram de modo recorrente, fruto da falha NVU – Por que Lampião acabou sendo a figura de maior relevo
no desdobramento do processo colonial. Da decadência nesses domínios?
Corisco, Dadá e seu bando. 1936 precoce da colonização sertaneja, geradora do isolamento FPM – O cangaço de Lampião – reinado derradeiro numa Rufino e os membros da volante do Estado da Bahia sob seu comando.
da caatinga e do que já chamamos em livro de mumifica- sucessão de “realezas” que caracteriza o desdobramento Benjamin Abrahão, 1936.
no já em 1871. Por tudo isso, não é de estranhar que ção dos costumes sertanejos, vis-à-vis da renovação que do fenômeno ao longo de séculos – marchando para se
o cangaço tenha-se desenvolvido no sertão de maneira se produzia no litoral, aberto à via marítima. Isso vem confundir com o próprio conceito, não foi senão o canto consagrada na França de 1930, proclamou o pioneirismo
extraordinária, a ponto de evoluir de endêmico a epidê- até os nossos dias, ultrapassando o paroxismo de Canu- de cisne dessa vertente contínua, minoritária e metarra- desse ilustre brasileiro do Nordeste. Ele antecipou o ga-
mico em alguns períodos. É assim que a caatinga passa dos, na Bahia de 1897, e invadindo o século XX. É ver o cial em nossa história, sem que se esteja a amesquinhar nho que a história recebeu modernamente ao incorporar,
a ser o palco por excelência das correrias dos capitães Caldeirão, em 1936, no sul do Ceará, ou a também teo- o diferencial de volume, organização e requintes estraté- com humildade digna de louvor, umas tantas lições da an-
chefes de bando. cracia do Pau-de-Colher, de 1938, novamente na Bahia. gico e tático presente nos mais de vinte anos de império tropologia. Boas lições.
O litorâneo não se via no sertanejo e vice-versa. Consi- daquele que seria chamado pela imprensa, ainda em vida,
NVU – Em que patamar a “distribuição gratuita de marxismo deravam-se estrangeiros, quando postos um em face do de Rei do Cangaço, Tigre do Sertão e Terror do Nordeste, NVU – Onde evidenciamos tal influência em seu trabalho?
simplificado” pelo meio acadêmico embotou a consciência outro, como se viu, dolorosamente, em Canudos. Mos- à base do talento pessoal, do raciocínio fulgurante e do FPM – Está no perfil que traçamos de Lampião, revelador
sobre o fenômeno do cangaço? tramos isso, detidamente, em nosso livro A guerra total de engajamento de massa que logrou atingir. Há ocasos por- de que o guerreiro insuperável, o homem de violência in-
FPM – O marxismo prêt-à-porter desenvolvido no Brasil Canudos (São Paulo, A Girafa Editora, 2007, 2ª ed.) No tentosos. Lampião nos põe diante de um. discutível, qualidades conhecidas no passado, era, ao mes-
permitiu que muita gente deitasse falação sobre o canga- sertão, coronéis e cangaceiros entendiam-se a seu mo tempo, um costureiro exímio, em pano e em couro,
ço, sobretudo no meio acadêmico do Sudeste, sem nem modo. E como se entendiam... NVU – Qual a influência de Gilberto Freyre em sua obra? além de bordador caprichoso. Um sujeito preocupado sur-
mesmo sentir a necessidade de conhecer o Brasil seten- FPM – Muito grande. Integramos sua equipe de traba- preendentemente com questões de representação simbó-
trional e o sertão. Ou de sujar-se na poeira de arquivos. NVU – O senhor identifica diferentes tipos de cangaço. lho por quinze anos, cumprindo aquilo que o profes- lica no traje e no equipamento de seu grupo, e com a ali-
Para armar o esquema da luta de classes, que tudo ex- Quais as características mais marcantes de cada um? sor Nelson Aguilar, de São Paulo, caracterizou um dia mentação dos mídia sobre os passos de seu bando. Que
plicava em seu suficientismo orgulhoso, bastava carac- FPM – No Guerreiros do sol, mostramos que houve como o mais longo doutorado já feito por um cristão. apreciava, incorporando o requinte de coronéis fidalgos
terizar-se o coronel como opressor e o cangaceiro como grupos que fizeram do cangaço predominantemente
04 Estava certo. Trabalhar com Gilberto era aprender com os quais privou, à frente Hercílio de Brito, de Propriá,
oprimido. Pronto. Para que mais? Para que queimar as al- um meio de vida, como no caso de Lampião ou de a cada minuto uma lição. Graças a ele, demo-nos Sergipe, o perfume francês e o uísque de Escócia. Que
percatas em Quixeramobim ou nas Lavras da Mangabei- Antônio Silvino. E outros, que dele se valeram 01 conta de que a história deve ir muito além do possuía cartões de visita e postal com a própria foto no an-
ra? Acontece que Lampião – e vamos pegar logo o exem- como instrumento de vingança, geralmente fato saliente na política e do registro de fatos verso já em 1936, confeccionados na Aba-Film, de Forta-
plo mais emblemático – era o queridinho dos coronéis num contexto de luta entre famílias, como objetivos. Que deve alongar-se num romance leza, para evitar falsificações em sua correspondência sur-
de barranco, gostando de estar entre estes e combatendo se deu com Sinhô Pereira e Luiz Padre, de verdadeiro, incorporando o dia-a-dia, o ordi- preendentemente ativa. Quando mostramos isso em livro,
apenas aqueles que se erguessem contra a sua violência um lado, e Sindário, do outro, na guer- nário, o cotidiano, o aparentemente banal, nos anos 80 do século passado, quase que o mundo desaba
meticulosamente organizada. Empresarialmente organi- ra privada entre Pereiras e Carvalhos. Ou
02 05 o universo íntimo. Nisso, ele se antecipou sobre nossa cabeça. A menor acusação era de que estáva-
zada. Essa era a regra, não sendo raro que as duas figuras com Jesuíno Brilhante, na guerra contra a a Braudel, a Lefèbvre, a Bartes, a Bastide, mos efeminando o Rei do Cangaço. Hoje, não há quem
se associassem nas empreitadas rentáveis da rapina. E família Limão, encabeçada por um canga- a Abelès, a Ginzburg. A Escola dos Anais, ignore ou conteste que Lampião possuía dores artísticas.
até na agiotagem posterior. Foi assim com os chefes de Ao contrário. Há livros recentes, escritos aqui e lá fora,
grupo em geral. Mas isso desmontava a barraca mar- para desenvolver essas revelações, o que nos envaidece. É
xista e não podia ser aceito. Historiadores ilustres, o salário moral de quem pesquisa. De quem come poeira
como José Honório Rodrigues, no Rio de Janeiro, 01 Cinta – de couro, com enfeites sertanejos 04 Lenço de seda – usados nas cores vermelha, e arranha os cotovelos sobre as fontes de primeira mão. O
e menos ilustres, como a paulista Cristina Mata próprias para carregar os cantis verde ou no padrão xadrez. As pontas eram presas espaço de rebeldia do assistente ficou por conta da escolha
Machado, embarcaram nessa canoa furada. E com anéis e moedas de valor do sertão como tema de estudos. Gilberto Freyre não gos-
brilharam por muito tempo em livros e na sala 02 Cantis – enfeitados, usados um de cada lado tava do sertão. Algumas vezes nos abordou com a ciumei-
de aula. Até que a voga marxista começasse a do corpo. Em um era guardado açúcar e no outro 05 Cartucheiras – de couro, abrigavam 121 ra: “Você anda conversando muito com Ariano Suassuna!”
ser varrida lentamente, a partir dos anos 70 cachaça ou água 03 projéteis de fuzil Mas não se privou de reconhecer a seriedade dos estudos
que empreendíamos, prefaciando nosso livro de estréia e
cravando na imprensa estar diante de um “mestre de mes-
Antes de padronizar a maioria do armamento no 03 Fuzil Mauser, modelo 1908. Bandoleira 06 Perneira – de couro enfeitada com ilhoses e tres em assuntos de cangaço”. Está lá, no Diário de Per-
enfeitada com moedas de prata e ilhoses brancos presa por pequenas fivelas
potente e preciso Mauser 1908, os cangaceiros 06 nambuco de 28 de fevereiro de 1985. É muito bom para o
usavam uma verdadeira miscelânea de armas aluno constatar que não decepcionou o professor.
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História
DDom H
Helder C
Instituto Chico Albuquerque
Relíquias iconográficas do
“
no ano de 1947. Tem formação ainda em exclusiva de momentos da intimidade cotidiana do cangaceiro e seu grupo, que virou tema do longa-metragem
Direito e se aposentou como Procurador Fe-
deral. É membro da Academia Pernambuca-
brasileiro “O Baile Perfumado”, de Lírio Ferreira.
Todo esse material está disponível hoje em Fortaleza (CE), sob os cuidados do Instituto Cultural Chico Albu-
João XXIII me parece um
na de Letras, onde ocupa a cadeira 36 desde querque – pioneiro da fotografia publicitária no Brasil. A entidade é vinculada à rede de lojas especializada em
o ano de 1988.
Na fundação, integrou a equipe do
materiais fotográficos Aba Film, e detém os direitos de uso do trabalho do fotógrafo. O acervo é composto por pássaro numa gaiola de ouro...
uma série de 99 fotos e um vídeo de 11 minutos, além de outras 400 fotos coletadas por Ricardo Albuquerque
sociólogo Gilberto Freyre, de 1972 a 1987,
período em que se especializou, sob a
sobre o cangaço, a maioria de fotógrafos amadores.
“Essas outras fotos são anteriores às de Benjamim. Existem outras de Lampião com vestimentas di-
Dia virá em que o Pai livrará
orientação deste, no estudo da História ferentes da habitual. Bem pobres em relação às usadas no final do cangaço”, revela Ricardo, presidente do
Social do Nordeste do Brasil, especialmen-
te em seus aspectos de conflito.
instituto e filho de Chico Albuquerque. Ele diz que foi Dadá, mulher do cangaceiro Corisco, quem motivou os o Vigário de Cristo do luxo
cangaceiros a usarem roupas enfeitadas.
Pela originalidade dos
estudos, volume da obra
A história das fotos e imagens começa com a chegada de Benjamim Abrahão a Juazeiro do Norte. O viajante aca-
bou conquistando a confiança de Padre Cícero e virou seu secretário. Com a morte do padre, decidiu renovar contato que
do Vaticano. ”
que produziu e por se de- já possuía com Lampião – o cangaceiro era devoto de Padre Cícero – e propôs a Ademar Bezerra Albuquerque, avô de
dicar a aspectos históricos Ricardo Albuquerque e fundador da Aba Film, registrar a rotina do grupo.
tidos como ásperos e de Proposta aceita, o“mascate-fotógrafo”foi ao sertão, e após um mês de convívio com o bando e todo o equipamen-
pesquisa difícil ou peno- to para cobertura, verificou que o filme havia velado. Disposto a cumprir seu intento, Benjamim recebeu dicas de Ademar,
sa, tem sido considerado, voltou outras duas vezes e conseguiu os registros. O ano era 1937. Em 1938, Benjamim foi assassinado em Recife (PE).
sobretudo no meio acadê- Segundo Ricardo Albuquerque, depois do episódio, Ademar tentou exibir o filme no Cine Mo-
mico paulista, o "historia- derno, em Fortaleza, ainda em 1938. Mas o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) do
dor do Brasil profundo". Governo Getúlio Vargas censurou e confiscou a película ao assistir uma prévia. Sorte que Ade-
Na especialidade, mar fizera uma cópia do material. As fotografias foram reproduzidas por diversos veículos
publicou ainda A tragé- como o jornal O Povo, de Fortaleza, e até pelo O Globo.
dia dos blindados (1991); O filme do grupo de Lampião foi exibido pela primeira vez em 1950 e serviu para outra
Quem foi Lampião (1993); película, “Memória do Cangaço”. Uma sala na sede da Aba Film (Rua Costa Barros, 915, 9º
A Guerra total de Canudos andar, Centro), abriga hoje todo o material em disponibilidade para publicações.
(1997) e Delmiro Gouveia (1998). Tem, no As fotos que registram a história de Lampião e seu bando foram restauradas em
prelo, o livro Estrelas de couro: a estética do 2003, quando Ricardo voltou de São Paulo para morar em Fortaleza. O vídeo teve se-
cangaço, resultado de estudo profundo a que quências compiladas e foi recuperado graças a projeto bancado pela Petrobras.
100 anos do
se dedicou desde o ano de 1997. O direito autoral pertence à família Albuquerque, e o de imagem à família
O maior sucesso foi mesmo Guerreiros de Lampião. “É uma parceria. Há um contrato entre as partes, inclusive
do Sol, o mais profundo e completo estudo a família do Benjamim. E eu tenho uma procuração para cuidar disso
sobre o fenômeno do cangaço no Nordes- tudo”, informa Ricardo Albuquerque.
te. Sua pesquisa o torna o maior especia-
“Bispo
lista no assunto, reconhecido tanto aqui Benjamin Abrahão aperta a mão de Lampião
quanto no exterior. cercado por seus cangaceiros.1936
Foto: Benjamin Abrahão/ ABA Film
Vermelho”
cano foi a única que, até o dia de hoje, me
pareceu convincente. Foi a única que expli-
cou a mim próprio os sentimentos contra-
ditórios de admiração e repulsa que sinto
diante dos cangaceiros”.
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Dom Helder Câmara, prêmio Nobel da Paz. Por uma de quatro No jogo das aparências, Dom Helder se tor- aquele religioso de olhos azuis arregalados no
nava um incômodo cada vez maior, para setores futuro e do alto de seu 1,60m, não demoraria a
oportunidades, a manchete certamente seria de primeira página. da Igreja e dos militares. Em artigo do Mestre virar sinônimo de aborrecimentos.
Não fosse a contra-campanha dos governos militares, de parte da em História Social, Márcio de Souza Porto, so- O motivo eram as freqüentes intromissões
bre o boletim da CNBB, consta que o religioso da autoridade governamental, algo já bem re-
imprensa e da própria Igreja do Brasil. Nesse sentido, seu era atacado não só por padres, bispos, e arce- corrente. Preferiu sair do cargo. Arranjar uma
centenário marca o resgate da história de um homem bispos, mas também por políticos e jornalistas nova colocação que não bastasse fugir do irri-
nacionais e estrangeiros. tante “monitoramento”. Escolheu também sair
fiel, sobretudo, à sua concepção de humanidade. Uma Dom Helder Pessoa Câmara nasceu em do Estado do Ceará. O ano era 1936. Destino,
existência de atitude, que mesmo ao esbarrar em princípios Fortaleza no dia 7 de fevereiro de 1909. Filho o Rio de Janeiro.
“ O
curso. Em 1932, um ano após sua orde- ver perfis de evangelização que contemplavam
s que agora estão prestando homena- nação sacerdotal, entusiasmado com não só a salvação do rebanho, mas a melhoria
gens ao meu tio, o estariam comba- uma época de radicalização política, o da qualidade de vida das pessoas.
tendo se hoje ele estivesse vivo. A padre aceitou militar na Ação Integra-
começar pela própria Igreja”. A fra- lista Brasileira (AIB). Influenciado por
se é do pesquisador e memorialista ideologia fascista, o Integralismo havia No Rio de Janeiro e Europa,
cearense Cristiano Câmara, sobrinho do ex-arcebispo de sido fundado pelo jornalista, escritor e o “Padre dos Pobres” ganha projeção
Olinda, Dom Helder Câmara. Em fevereiro, o religioso político Plínio Salgado, para se tornar Pela articulação e credibilidade à frente de ini-
completaria 100 anos, o que motivou homenagens em um verdadeiro transtorno ao regime ciativas populares, Dom Helder foi nomeado
vários estados do país. ditatorial de Getúlio Vargas. O bani- bispo-auxiliar do Rio de Janeiro, em 1952. Ele
O tom de crítica das palavras do parente vivo mento para a ilegalidade não tardou defendeu a promoção de uma reforma social
mais próximo do padre revela o ceticismo de al- com a instalação da ditadura do Es- através do Estado, dos sindicatos rurais e da
guém que dispensa o legado espiritual do tio, mas tado Novo, em 1937. Igreja. O prestígio do religioso pôde ser testado,
se orgulha do parentesco. A começar pelo que ca- Na parceria Igreja e Go- quando em 1955 acontece na cidade o Con-
racteriza a história de vida de Dom Helder. Sua verno Vargas, sobrou para o gresso Eucarístico Internacional. O novo bispo
postura, sempre voltada à defesa dos desvalidos, jovem sacerdote uma ordem revelou-se um fenômeno de popularidade. Sua
acabou celebrizando-o como o “Bispo Vermelho”, de imediato afastamento da figura foi o principal atrativo para mais de 1 mi-
face sua associação aos movimentos de esquerda du- AIB, assinada pelo então lhão de pessoas.
rante a ditadura militar. cardeal do Rio de Janeiro, Ao final do congresso, um gesto de solida-
A hipótese de perseguição da Igreja ao religioso ga- Sebastião Leme. Vida que riedade. Dom Helder teve a idéia de utilizar
nha fôlego na autodefesa da instituição à época. É segue mais reflexiva, ainda toda a madeira dos milhares de bancos do lo-
o que denota um boletim interno do Secretariado durante a década de 1930, cal, para a construção dos edifícios da Cruza-
Regional Nordeste I da Conferência Nacional dos já convertido aos ideais de- da São Sebastião, situada no bairro do Leblon.
Bispos do Brasil (CNBB), de 1970. mocráticos, Helder Câmara A obra, que urbanizava a favela, iria abrigar
Entre outras denúncias, o documento, intitula- teria feito um comentário re- milhares de moradores da Praia do Pinto.
do Dom Helder: Acusações e Defesas, relata que velador: “O período na AIB foi Nessa época, o padre passou a ser o prin-
em 1970, no auge da repressão, o então cardeal um erro de juventude”. cipal nome da CNBB, além de um de seus
arcebispo de Porto Alegre, Dom Vicente Scherer, Após a turbulência desse fundadores poucos anos antes. De 50 anos
afirmou, categoricamente, que Dom Helder deve- episódio, aos 26 anos, o padre para cá, a instituição se consolidou como o
ria usar seu prestígio em círculos europeus para ocupou o cargo de diretor da órgão de maior influência na promoção da
desmentir calúnias deformadoras da imagem reli- Instrução Pública do Estado Igreja Católica no país.
giosa, política e social do Brasil. do Ceará, hoje Secretaria de Durante o período em que representou a
Educação. A oportunidade, CNBB, Helder apoiou o Movimento de Edu-
Memória. Dom Hélder com seu pai, a priori extraordinária para cação de Base (MEB), projeto financiado pelo
João Eduardo Torres Câmara Filho
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Quatro indicações
Críticas à Igreja
botas dos soldados no asfalto, à medida
que uma mancha pequena e sem contor-
nos ia se infiltrando”. Era Dom Helder.
O religioso foi indicado quatro vezes Após ultrapassar gentilmente o blo-
ao Prêmio Nobel da Paz (entre 1970- co de soldados da Polícia Militar – “Com
1973). Campanhas sigilosas realizadas Se parece verossímil que a relação entre Dom licença, boa noite... Com licença, boa
pelos militares a fim de minar o pres- noite”, dizia ele a cada soldado que toca-
Helder e a Igreja Católica era pautada por
tígio do bispo no exterior impediram va o braço, o religioso se aproximou dos
visões de mundo divergentes, a conclusão estudantes e subiu em uma cadeira para
a conquista. Tanta popularidade pode
ser ilustrada em comentários do então fica ainda mais evidente a partir de escritos discursar. Usava na ocasião uma boina e
embaixador dos Estados Unidos, Charles deixados pelo Padre dos Pobres. Por exemplo: uma capa de lã “que lhe deixava à mos-
você sabia que no quarto aniversário de co- tra apenas os sapatos de couro preto”. E
Elbrick. Certa vez, o diplomata elegeu
Dom Helder como um pretenso presi- Os que agora estão prestando homenagens roação do papa, Dom Helder se escandalizou em meio às centenas de pessoas perple-
com o excesso de pompa da solenidade? xas, disse:
dente do Brasil, em uma hipotética der-
rocada do Regime Militar. ao meu tio, o estariam combatendo se hoje ele - Eu vim para ficar ao lado de vo-
“João XXIII me parece um pássaro numa cês... Só sairei na companhia de vocês”. E
Ainda sobre o boicote ao Prêmio
Nobel, a teoria também é comentada estivesse vivo. A começar pela própria Igreja gaiola de ouro... Dia virá em que o Pai livrará assim varou a madrugada com os mani-
no livro “Dom Helder Câmara – Entre o Cristiano Câmara, pesquisador e memorialista o Vigário de Cristo do luxo do Vaticano”, festantes.
Poder e a Profecia”, dos escritores Nelson cearense, sobrinho do ex-arcebispo de Olinda escreveu ele. Na verdade, Helder defendia Mas as relações entre imprensa e
Pilleti e Walter Praxedes. A publicação re- uma Igreja mais “servidora e pobre” e menos Dom Helder nem sempre foram apenas
vela uma trama do governo Médici para “senhora e rica”. O fim do Vaticano era uma de respeito e admiração. No boletim
a não premiação de Dom Helder, que Governo Federal. A idéia era alfabetizar o trabalhador rural e possibilitar interno da CNBB, de 1970, consta que
de suas propostas.
em todas as indicações era o favorito. o desenvolvimento e a conscientização política, social e religiosa. Ao parte da imprensa brasileira e estran-
Quanto à Igreja, a história denuncia mesmo tempo, promover ações comunitárias junto aos trabalhadores. Em cartas escritas durante o Concílio geira desencadeou intensa campanha
o incômodo que as ações do padre Hel- Sobre o seu legado, se destacam ainda projetos como a criação do Vaticano II, o religioso deixou clara sua contra o religioso.
der, como era chamado intimamente, Banco da Providência, que até hoje arrecada doações para os pobres, e intenção em mudar conceitos da Igreja. Em notícia publicada pelo jornal “O
causava em algumas alas do clero. O si- ainda a criação do Instituto Obra do Frei Francisco, de 1984. Posterior- Estado de São Paulo”, em 30 de maio de
Por várias vezes chegou a classificar essa
lêncio imposto pelo Vaticano incluiu até mente, o projeto passou a se chamar Instituto Dom Helder Câmara. 1970, o jornalista Gustavo Corção desqua-
Os trabalhos do Instituto consistem em tornar acessível aos pesqui-
busca como o Sagrado Complô. A idéia era
a restrição de suas viagens ao exterior. lificou Dom Helder, quando ele recebeu
sadores e ao público interessado, o conjunto dos escritos do padre. Os voltar os olhos da Igreja para a pobreza a
Ao ser retirado do cargo de Ar- o título de Doutor Honoris Causa pela
relatos, registrados em um acervo com milhares de textos, denunciam partir do Concílio. Para isso reunia bispos Universidade de Louvain, na França. “O Sr.
cebispo de Olinda, em 1985, Dom
Helder, de certa forma, afastou-se da formas de violência. Tudo em benefício dos excluídos e bem ao estilo em reuniões e palestras, a fim de trocarem Câmara não completou ainda a rede de
vida pública, e passou a viver em um de Dom Helder. idéias durante o encontro. viagens que sonhou, e ainda não percor-
pequeno quarto nos fundos da Igreja Um fato revelador, segundo integrantes da Igreja, é que a maioria reu todas as prostituídas universidades
dos escritos teria sido composta nas madrugadas. Ao todo, o padre es- O compromisso do religioso em defender
das Fronteiras, em Recife. ex-católicas que lhe trarão uma bandeja,
Faleceu em 27 de agosto de 1999, creveu 23 livros, dos quais 19 foram traduzidos para 16 idiomas. seus ideais a qualquer custo promovia péro- para ser cuspido, o título doutor honoris
sem declarar nenhuma frase que com- No auge do golpe militar, em 1964, Dom Helder tomou posse na las como seu discurso de posse na arquidio- causa”, disse o jornalista.
prometesse a Igreja Católica. “Quando Arquidiocese de Olinda, 12 dias após os tanques terem ocupado as cese de Olinda. “Ninguém pretenda prender- O periódico Combat, da França, pu-
ele mais podia fazer algo, ele foi silencia- ruas. A volta ao Ceará ocorreu devido a pressões políticas contra o já ro- me a um grupo, ligar-me a um partido, tendo blicou no mesmo ano um artigo de Jean
do”, diz o sobrinho Cristiano Câmara. tulado “Bispo Vermelho”. Não tardou para o religioso perceber a poster- como amigos os seus amigos e querendo Marc Kalfleche, que dizia: “Dom Helder
gação dos direitos humanos na ditadura e, assim, travar a luta nos anos que eu adote as suas inimizades. Minha não consegue iludir com seu simplismo
Imprensa: relações seguintes contra a tortura. A atitude gerou a revolta entre os militares. porta e meu coração estarão abertos a todos. que só produz boas manchetes”.
conflituosas, A pressão do governo pelo silêncio não intimidou Helder. Nem Abundantemente a todos. Cristo morreu por
algumas homenagens mesmo a partir do assassinato de seu secretário, padre Antônio Henri-
todos os homens: a ninguém devo excluir do
que Pereira Neto. Um crime até hoje não elucidado.
Dom Helder contribuiu para a fundação do Conselho Episcopal
diálogo fraterno”.
No terceiro capítulo do seu livro “Memó-
rias Profissionais – O que é ser Jornalista” Latino-Americano (Ceplam) na luta por reformas internas na Igreja E de fato foi assim. Era comum o bispo rece-
e através do seu blog, o jornalista Ricar- Católica durante o Concílio Vaticano II (1964-1965). Paralelamente,
ber no palácio episcopal a todos, sem distin-
do Noblat descreve um episódio que o então arcebispo, já também conhecido como Padre dos Pobres, ini-
ção, e sem hora marcada. De pessoas ilustres
envolve Dom Helder, do qual foi teste- ciou um programa social de grande visibilidade, a Operação Esperança.
Projeto de auxílio aos flagelados das enchentes. O propósito era o surgi- a bêbados e prostitutas. Sempre ancorado no
munha nos anos de violenta repressão. princípio da igualdade. Todos esses relatos
O cenário era uma manifestação de estu- mento de lideranças populares.
Foi por conta dessas obras que Dom Helder Câmara conquistou podem ser conferidos nos livros "Circulares
dantes em frente a Universidade Católica
de Pernambuco, em 27 de junho de 1968. grande reconhecimento internacional. Viajou como um requisitado conciliares" e “Circulares inconciliares", que
Noblat revela que por volta das 11 horas conferencista, a ponto de juntar mais de 20 mil pessoas na França, em compõem o início das Obras Completas de
1970, para denunciar o regime militar no Brasil. Dom Helder.
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GeoParkAraripe
Foto: Setur/CE
Cariri cearense:
redescoberta pela rota do
geoturismo Por MARCEL BEZERRA
marcel@editoraassare.com.br
F
Único nas Américas e no hemisfério Sul, um projeto na divisa do ormada por nove municípios, a região do Cariri, no Sul do Ceará, hoje é pólo
Ceará com os Estados do Piauí e do Pernambuco, é o carro-chefe de prioritário para qualquer iniciativa governamental que enseje uma retomada
uma ambiciosa retomada do progresso da região do Cariri cearense. do processo de desenvolvimento territorial. Mais populoso centro urbano do inte-
Certificado em 2006 e integrante de uma rede mundial coordenada rior cearense, com 550 mil habitantes, tem peso social, econômico, ambiental e cultural
relevantes para o Estado e regiões vizinhas. Fica em área geográfica estratégica da região Nordeste – a
pela Unesco, o Geopark Araripe quer incentivar o desenvolvimento
uma média de 600 quilômetros das principais capitais. Em termos de arrecadação, o Cariri só perde
territorial com base no geoturismo. Os investimentos iniciais são de para as regiões Metropolitana de Fortaleza (RMF) e Norte.
US$ 6 milhões para sua estruturação em seis municípios. Mas é bom Ali, a principal fonte de recolhimento de tributos ainda é o comércio. Mas, a região possui uma forte
ir devagar com o andor. Tudo ainda está só no começo... indústria calçadista, uma tradicional e reconhecida ourivesaria, agronegócios e o turismo religioso.
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Este último, ao longo de cada ano, remotivado pelas mul-
tidões de fiéis a visitar a terra de um dos maiores líderes
políticos e religiosos do Brasil, o Padre Cícero Romão Ba-
tista, nascido no Crato e fundador de Juazeiro do Norte.
Além da religiosidade popular, o Cariri tem na sua
cultura ricas personalidades e manifestações que o tor-
nam singular e conferem projeção além-fronteiras. Seja
pelo artesanato, a música das bandas cabaçais, a literatu-
ra de cordel, o maneiro-pau, o coco-de-roda, os Caretas
de Jardim, os Penitentes de Barbalha, as romarias de Jua- Fauna e Flora. No Cariri, os fósseis se destacam em
zeiro do Norte, a poesia de Patativa do Assaré ou as festas função de sua excelente preservação e particular
do Pau da Bandeira. importância paleontológica
Mas, é em outro patrimônio, ainda não explorado de-
vidamente, que reside uma das saídas para avanços na
exploração do potencial de desenvolvimento desse con-
junto de municípios reconhecido pelo triângulo denomi-
nado Crajubar (Crato, Juazeiro e Barbalha). Ele está na
abundância dos recursos naturais e paleontológicos da
região. Encravado em pleno semi-árido, o Cariri cearense
é um oásis nordestino. Potencial hídrico, terras férteis,
vegetação exuberante e a particular beleza da Chapada
do Araripe com suas formas de relevo, flora e fauna. da Era Mesozóica, compreendido entre 145,5 milhões e fauna e flora. Tudo encontrado, hoje, até em plena superfície
Período Cretáceo. Está compreendido entre 145,5 milhões e 65,5 milhões de anos atrás, aproximadamente. Durante esse período, os dinossauros alcançaram
seu ápice, mas ao fim do período acaba ocorrendo a extinção em massa desses grandes répteis e dos animais da Terra (cerca de 60% deles foi extinto).
46 Maio/2009 Maio/2009 47
Geotopes Projeto é a G4. Geotope Granito/ Juazeiro do Norte
(Colina do Horto)
Geopark Araripe A Colina do Horto fica a 3 km da cidade de Juazeiro do
“economia do conhecimento”
Norte, onde abriga a estátua de 25m do Padre Cícero.
Sua paisagem é inteiramente inserida na zona urbana de
Juazeiro do Norte e, por este aspecto, está integralmente
G1. Geotope Exu/ Santana do Cariri submetida às ocupações e edificações ali existentes. Pouco
resta de aspectos naturais relevantes.
(Pontal da Santa Cruz)
Unidade de Conservação Ambiental Estadual, fica no processo para liberação dos recursos.
topo da Chapada do Araripe, no município de Santana
do Cariri, a uma altitude de 750m, de onde se tem uma
A efetivação ideal de um geoparque se dá
através da articulação dos objetivos primários de
G5. Geotope Nova Olinda/ Nova Olinda
(Mina Triunfo)
vista panorâmica de uma parcela considerável da Bacia conservação, educação e turismo de natureza. No A Mina de Pedra Cariri situa-se a 3 km da cidade de Nova
Sedimentar do Araripe. primeiro, o geoparque procura preservar os geoto- Olinda, com fácil acesso pela rodovia CE-166 entre Nova
pes ao assegurar medidas de proteção adequadas Olinda e Santana do Cariri. É uma formação fossilífera,
em colaboração com universidades, serviços geo- que inclui grupos de invertebrados, vertebrados e plantas,
lógicos e outras instituições relevantes em acordo composta de calcários laminados de cor amarela a creme com
com as práticas locais e as obrigações legislativas.
G2. Geotope Santana/ Santana do Cariri Em relação à educação, cabe ao geopark or-
estratificação plano paralelo horizontal.
(Parque dos Pterossauros) ganizar atividades para o público e providenciar
Unidade de Conservação Ambiental Estadual. Está instalado apoio logístico na comunicação do conhecimen-
em área de 23 hectares de propriedade da Urca, na zona rural
de Santana do Cariri, como um dos principais componentes
to geocientífico e dos conceitos ambientais. Este
apoio realiza-se através da proteção e identificação
G6. Geotope Arajara/ Barbalha
do Geopark Araripe. Em sua primeira etapa, já concluída, a
(Parque do Riacho do Meio)
de geosítios, desenvolvimento de museus, centros Também Unidade de Conservação Ambiental Estadual,
proposta pretende a proteção e preservação de uma área de de informação, percursos pedestres, visitas guia- onde se destacam os aspectos paisagísticos da Bacia
escavação, visando à exposição dos diversos níveis sedimen- das, visitas de estudo, materiais de divulgação, pai- Sedimentar do Araripe que refletem a riqueza da flora,
tares, os quais contêm relevantes camadas fossilíferas. néis, mapas, material educativo, seminários, entre fauna e do potencial hídrico da região.
Joaquim Cartaxo. "Preparar a economia local para receber o outros. Um geopark apóia a investigação científica
turista de outra forma, criando a rede do que está em volta" em cooperação com as universidades e institui-
G3. Geotope Ipubi/ Santana do Cariri ções de investigação, estimulando o diálogo entre
O
(Mina Chaves)
A antiga Mina Chaves, hoje inativa, faz parte do complexo
Geopark Araripe foi incluído na estratégia
de desenvolvimento regional e local do atu-
as Ciências da Terra e as populações locais.
Quanto ao terceiro objetivo primário, o do
G7. Geotope Devoniano/ Missão Velha
(Canyon do rio Batateira)
industrial de extração de gipsita da Chaves Mineração al governo cearense. “A idéia é tentar criar turismo de natureza, através dele o geopark esti- Unidade de Conservação Ambiental Estadual, o Canyon do
e Indústria, que explora diversas minas situadas nono interior do Ceará algumas regiões que possam mula a atividade econômica e o desenvolvimento Rio Salgado situa-se a 4 km da cidade de Missão Velha,
municípios de Santana do Cariri e Nova Olinda, fornecendo
efetivamente se estruturar e compartilhar com sustentável. Com efeito, existe o estímulo ao de- próximo à ponte sobre o rio, na rodovia que conecta os
matéria-prima para a indústria de produção de cimento
Fortaleza a atração de investimentos e pessoas”, senvolvimento socioeconômico local através da municípios de Missão Velha e Aurora.
e produzindo gesso agrícola, gesso de fundição e revesti-
coloca Cartaxo. promoção de uma imagem de excelência intrinse-
mento, bem como aditivados especiais. Batizado de Cidades do Ceará – Cariri Cen- camente relacionada com um reconhecido patri-
tral, a parceria do Estado com o Banco Mundial, mônio natural de importância internacional, que
prevê aplicar de R$ 65 milhões fundamentalmente atrai um número crescente de turistas de todo o
nas cidades de Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha mundo. Este fato tende a encorajar a criação de G8. Geotope Missão Velha/ Missão Velha
Localização dos Geotopes entre 2009 e 2013. Algumas dessas obras terão
impacto no geopark. Mas nele, especifica-
empresas locais ligadas ao setor do Turismo de
Natureza, com produtos de qualidade certificada.
(Floresta Fóssil)
Floresta Fóssil, com altitude de 360m, situa-se a 6 km a
N mente, estão conjeturados investimentos “Estamos tratando de uma coisa extrema- sudeste do município de Missão Velha, ao lado esquerdo
de R$ 6 milhões na construção da sede mente nova, que está ligada fundamentalmente da rodovia CE-293, que liga Missão Velha a Milagres.
Ceará Nova – já iniciada, na Urca (Crato) – e à economia do conhecimento. É o conhecimento
Olinda Juazeiro obras de infra-estrutura dos geo- que atrai o turista, que quer ir conhecer a forma-
do Norte topes, aquisição de bens e equi- ção Santana, o pterossauro, visitar o cânion de
G5
G3 Crato G4 Missão pamentos, consultorias para Missão Velha. Isso é o atrativo. E você tem que
Santana do Carirí G2 G7 Velha
G1 G9 assistência técnica, capaci- preparar a economia local para recebê-lo de outra
Piauí
G8
Barbalha G6 Milagres
tação e elaboração de es-
tudos e planos. Dinheiro
forma, criando a rede do que está em volta. Se
você vai a um georestaurante, não vai encontrar
G9. Geotope Batateiras/ Crato
Abaiara (Rio Batateira)
garantido, hoje aguarda- lá um filé a parmegiana, e sim a culinária local, Nos pontos mais próximos à sua nascente, o Rio Batateira
se apenas que o Senado um geocardápio. Assim se fortalece a economia configura belas situações formadas por um conjunto de
Pernambuco conclua tramitação do local”, detalha o secretario. pequenas cascatas, onde é possível apreciar as formações
Paraíba rochosas do local inseridas em área de vegetação densa
ainda pouco exploradas por atividades humanas.
A
estruturação de um equipamento com a envergadura de natureza, nas 4 Aldeias de Xisto, 2 Aldeias Históricas e 70
um geopark não é tarefa fácil. E os resultados também monumentos classificados.
não aparecem no curto prazo. De acordo com Cartaxo, As rotas dos 16 geossítios, desenvolvidas pela Naturtejo,
ainda não há uma avaliação preliminar sobre o que ele pode empresa intermunicipal de promoção turística que dirige o
significar em termos de impactos econômicos sobre a região. Geopark Naturtejo, convidam os turistas a passear de barco
Ele adianta que estudos já estão sendo contratados. pelo rio Tejo e seus afluentes, entrar pelas Portas de Ródão e
Para articular todas as diversas atividades, a Secretaria do Vale Mourão, visitar o Parque Natural do Tejo Internacio-
das Cidades coordena a montagem de um programa mul- nal “surpreendendo-se com os abutres, as cegonhas negras e
tisetorial que envolve as secretarias de Turismo, Cultura, as águias imperiais, os coloridos abelharucos, os rouxinóis a
Infra-Estrutura, o Conselho Estadual de Políticas e Gestão cantar, os veados na brama e a vegetação a florescer”, como
Meio Ambiente e a Superintendência Estadual do Meio diz o material de divulgação do geopark.
Ambiente (Semace) e a própria Urca. O trabalho não pode No Naturtejo, os visitantes tem a oportunidade de via-
dar errado, pois, a cada quatro anos, a Unesco faz uma ava- jar no tempo, através dos icnofósseis de Penha Garcia, por
liação para a revalidação do selo. Monsanto, a aldeia mais
Por ora, alguns programas científicos e sociais são de- portuguesa, pela outrora
senvolvidos pelo Geopark Araripe com o objetivo de promo- cidade romana e visigótica
ver e divulgar os ideais da geoconservação, da geoeducação da Egitânea, podendo ain-
e do geoturismo. O Geopark nas Escolas procura integrar os da descobrir os castelos e
estudantes dos colégios locais públicas ou privadas à reali- Museu de Paleontologia de comendas dos Templários e
dade do local. Santana do Cariri recebe uma Hospitalários, deambulan-
Já para formar condutores para as visitas guiadas aos ge- média de 25 mil visitantes por ano. do pelos meandros dos rios
otopes foi desenvolvido o Curso de Capacitação de Conduto- Zêzere, Ponsul, Erges, Se-
res com Enfoque na Geologia, Paleontologia e Biodiversidade uma estrutura integrada e articulada que o inclua, o Museu ver e Ocreza, das ribeiras de
da Chapada do Araripe, fundamentado na construção de um de Paleontologia de Santana do Cariri, vinculado à Urca, Oleiros e Aravil, garimpando
conhecimento regional interdisciplinar, que contemple o do- recebe uma média de 25 mil visitantes por ano. Um exem- ouro entre conhais de explo-
mínio de todos os temas e assuntos correlatos ao Geopark plo desse potencial está no Geopark Naturtejo, em Portugal. ração mineira romana.
Araripe, e insere diretamente a comunidade acadêmica no Nos últimos três anos, o número de visitantes do território Segundo Armindo Ja-
O
projeto. A outra ação são as exposições itinerantes. duplicou, atingindo 200 mil pessoas por ano. O número de Geopark Naturtejo da Meseta Meridional é o primeiro cinto, o Naturtejo tem ani-
Ao Geopark Araripe foi delegada pela Unesco a tarefa leitos nos hotéis e pousadas cresceu 20% com perspectivas com o selo da Unesco em Portugal. Está integrado às mação garantida 365 dias
de ajudar a montar a rede americana de geoparks. “Vamos de chegar a 40% até o fim deste ano. redes Européia e Global de Geoparks. O presidente por ano, entre os programas
fazer no Cariri, em 2010 uma conferência internacional “A expectativa para o prazo de três anos será do aumen- do Geopark, Armindo Jacinto, coloca o equipamento como de SPAS e Termas, festas e
com o objetivo de sensibilizar os países da América Latina to da oferta hoteleira, qualificação e serviços restantes em uma abordagem inteiramente inovadora no panorama turís- feiras medievais, de saberes
no sentido de que eles criem geoparks”, antecipa. No Bra- mais 30%, e a visitação em mais 50%. Espera-se um aumen- tico português. Com 4.600 km2 de área, abrange o espaço e sabores, com passeios de
sil, a Companhia Nacional de Produção Mineral (CPRM) to de 10% no número de empregos diretos e de 3% no PIB, territorial dos municípios de Castelo Branco, Idanha-a-Nova, burro, de bicicleta, de pára-
identifica 33 possibilidades de geoparks. considerando também os efeitos de arrastamento subjacen- Nisa, Oleiros, Proença-a-Nova e Vila Velha de Ródão. quedas, de avião e a pé, por
Por outro lado, o potencial turístico de um geopark, se te ao investimento previsto (efeito multiplicador)”, explica o O geopark oferece no seu conjunto um vasto e rico percursos ancestrais, com as
bem planejado e estruturado, é bastante expressivo. Sem presidente do Geopark Naturtejo, Armindo Jacinto. patrimônio natural, histórico e cultural. São 16 geossítios marcas das invasões france-
Jacinto destaca ainda o que é preciso para que a experi- que contextualizam 600 milhões de anos de dinâmica do sas e outras.
ência se consolide. “O sucesso de um processo deste gênero
está na capacidade de envolvimento de toda a sociedade.
Só assim se conseguirá o que se pretende, fazer desenvolvi-
mento econômico, criação de emprego e preservação do pa-
trimônio para as gerações vindouras. É uma tarefa hercúlea,
mas fundamental para estes territórios”, avalia. O envolvi-
mento político é também fundamental para criar estruturas
estáveis de desenvolvimento do geopark, que com o tempo
se tornem imprescindíveis no seu funcionamento, indepen-
dentemente dos ciclos da própria política.
50 Maio/2009 Maio/2009 51
De Cajazeiras a Tel Aviv
Ba Freyre é um típico
Tô sabendo, PARA A ESTANTE
cidadão nordestino. Jorge Portugal
Relaxado, simples e de ASSUCAR CHEGA AOS 70 ANOS
uma calma cabocla. O professor Jorge Portugal dá
Nascido em Cajazeiras, mais uma demonstração de sua Prova do gênio multifacetado do escritor
na Paraíba, bem cedo versatilidade. Ele idealizou e irá Gilberto Freyre é um rebento prodigioso que
migrou para o Ceará, apresentar o programa Tô sabendo, chega aos 70 anos, com doçura incomum. O
onde adulto recebeu que será veiculado nacionalmente pela TV Brasil, a partir mundo dos livros comemora o lançamento de As-
200 anos de
a influência musical do próximo mês. O anúncio oficial foi feito pelo Ministro sucar — um abordagem em torno da etnografia,
do pai. De Fortaleza, da Cultura, Juca Ferreira, durante o Terceiro Encontro de
se albergou no Crato da história e da sociedade doce do Nordeste ca-
Dirigentes de Cultura da Bahia, realizado em abril último,
Darwin na Bahia para estabelecer
profícua parceria com
Rosemberg Cariry. Os dois foram bombardeados pela
em Salvador. O programa se propõe a ser uma revista
eletrônica de educação e cultura. O público-alvo é o
navieiro. Nele, Gilberto Freyre assinalou que o açúcar ”adoçou tantos
aspectos da vida brasileira que não se pode separar dele a civilização
nacional”. O antropólogo e museólogo Raul Lody, comemora o jubileu
Para os meios científicos e acadêmicos do música de Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro e sonoridade estudante da rede pública que busca uma "vaguinha"
mundo, 2009 é um ano especial. Sobretudo na escola de nível superior. O Tô Sabendo contará ainda afirmando que Assucar é livro sempre atual, e tem especialmente o
dos cantadores de viola e emboladores. Como diria Belchior,
nas ciências naturais, celebra-se os 200 o que pesa no norte cai no sul grande cidade. São Paulo, de com uma competição de conhecimentos (uma espécie olhar sensível do autor, motivando e dirigindo o leitor a descobrir em
anos de Charles Robert Darwin, o gênio cimento e lágrima, embalou o sonho de virar artista nacional. de game cultural) a ser disputada por estudantes da texto farto. O livro em sua primeira edição está à venda na rede mun-
britânico do naturalismo, nascido em 12 E nessas voltas que a vida dá, não é que Ba Freyre foi esbarrar rede pública de todo o país, com premiação para alunos, dial de computadores.
de fevereiro de 1809 e falecido em 1882. em Israel? Na terra dos conflitos, virou figura carimbada, numa professores e diretor da escola campeã. O projeto
Darwin aprofundou seus conhecimentos espécie de babel musical que é a capital Tel Aviv. Foi, de vez também conta com a participação da Empresa Brasil de
sobre as espécies quando viajou a bordo do em quando, espalhar sua musicalidade em palcos europeus. Comunicação (EBC) e está orçado em R$ 7,9 milhões, dos
Após compor divinamente o CD Às claras, está entre nós, LEMBRANÇAS DO SABER VIVER
navio HMS, atuando como naturalista, entre quais, R$ 6,32 milhões caberão ao MinC e o restante ao
1831 e 1836. O divulgando o trabalho e fazendo shows pelo Brasil. governo da Bahia. Dona Claudionor Velloso passa dos 101
ponto alto da anos com lucidez e disposição para viver. Isto já é
programação suficiente para render homenagens e histórias. Mas,
será em outubro, o sabor é especial por Dona Canô ser quem é - filha
no Encontro de uma cidade de atividade cultural e matriarca de
Charles Darwin, FRANCIS E OS uma família de artistas. O livro de Guerreiro e Assis reúne
na Bahia, de 7 a
9. Também serão
CURTAS DO RECIFE lembranças dos anos de dedicação à cidade, aos amigos e filhos, dentre
eles a escritora Mabel Veloso e os cantores Caetano e Bethânia. “Não é
inaugurados Os filmes de curta metragem uma biografia, mas sim um registro da memória de Dona Canô, sobre os
marcos turísticos ficaram como o destaque assuntos que tenham feito parte das suas rotinas e vivências ao longo de
da passagem do XIII CINE-PE/Festival do
do Beagle e um século”, explica o autor.
Audiovisual do Recife. Essas
de Darwin por exibições sempre atraíam
Salvador, como maior público e aplausos.
o monumento Logo na primeira noite, a Mar e Vento, de Luciano Maia
no local do
antigo Hotel do
abertura da Mostra de Cur- Anavantur, Dilma!
tas, com o filme de Fernan- “Neste livro, o consagrado poeta Luciano
Universo, na Praça do Spencer, “Nossos Ursos A estratégia de exposição da ministra-chefe da Casa Civil, Maia retoma a mística do Mar e do Vento, me-
Castro Alves, Camaradas”. Aos 82 anos, o Dilma Rousseff, aos eleitores terá mais um capítulo táforas do desconhecido e dos impulsos, justa-
onde ele ficou diretor continua a empolgar. Seu filme procura informar, agitado. Convidada pelo deputado Wolney Queirós (PDT- mente sob aquela perspectiva da incerteza dos
hospedado. Placas de forma bem humorada, sobre a presença dos “ursos” no PE), ela participará, em 30 de maio, da abertura da Festa de
comemorativas no Cemitério dos Ingleses destinos e das histórias, quer individuais, quer
carnaval pernambucano. Outros “maurícios” muito aplau- São João, de Caruaru. O evento reunirá cerca de 1,5 milhão coletivas, deixando à mostra suas lembranças do
serão afixadas onde foram enterrados dois didos foram “Eiffel”, de Luiz Joaquim, “Superbarroco” de de pessoas, ao longo de 40 dias. Para fugir da concorrência
marinheiros do Beagle (Charles Musters e passado, como se fosse um continente, um território de onde partiram
Renata Pinheiro, “O Muro”, de Tião e “Um Artilheiro de meu de outras festas, Dilma foi convidada para acompanhar
Boy Jones). A série de eventos que tem à suas naus, abrindo as velas ao sopro de um terral (célebre expressão do
coração”. Este último, realizado por três jovens de Recife a abertura, no Parque de Eventos da cidade, quando
frente o professor Chabel Ninõ El-Hani, da Diego Trajano, Lucas Fitipaldi e Mellyna Reis, resgata a his- ocorrerão shows dos cantores Fagner e Elba Ramalho. A Pe. Antônio Tomás) que as leva para as distâncias, mas sem apagar delas
Universidade Federal da Bahia (UFBA), será tória do jogador de futebol Ademir Menezes, artilheiro da expectativa é de que esses shows reúnam 100 mil pessoas. (das naus) os resquícios de terra nativa e de plantas rústicas, de modas
concluída em novembro com o simpósio seleção brasileira na Copa de 1950. Entre os longas, apenas Lula também foi convidado, mas ainda não confirmou violadas e de manhãs imaculadas, de sentidos e espaços unidos numa
"O olhar estrangeiro sobre o Brasil", no dia “Alô, Alô, Teresinha”, de Nélson Hoineff, chamou maior aten- presença. Queirós nega, porém, que a participação de indissolúvel e mesma coisa, como se revela no soneto Relembro da Pátria
19 daquele mês. Mais informações sobre o ção . O cineasta cearense Francis Vale conferiu o festival Dilma na festa tenha como objetivo central um viés IV, em que essas idéias vêm explicitamente maduras”.
assunto no site e lançou seu livro “Cinema Cearense - Algumas Histórias” eleitoral. A partir do momento em que sua candidatura
www.darwinnabahia.ba.gov.br (Editora Assaré), no Café do Cinema, da Fundação Joaquim à sucessão de Lula se tornou praticamente um consenso Do prefácio de Napoleão Nunes Maia Filho, escritor e ministro
Nabuco. Na foto, Francis aparece ao lado do cineasta per- dentro do partido, Dilma tem ampliado a sua exposição do Superior Tribunal de Justiça (STJ)
nambucano Fernando Spencer. pública. (da Agência Estado)
52 Maio/2009 Maio/2009 53
Cultura “Eu sou de uma terra que o povo padece
Mas não esmorece e procura vencer
Da terra querida, que a linda cabocla
De riso na boca zomba no sofrê
Não nego meu sangue, não nego meu nome
Olho para a fome , pergunto: que há?
Eu sou brasileiro, filho do Nordeste,
Sou cabra da Peste, sou do Ceará.”
100 anos
Muito além do repente
Da Assaré para a beleza do mundo, há 100 anos nascia o menino-agricultor
que se tornou um mestre da lírica brasileira. Daquele tipo de versejar abordado do
preconceito à exaltação extrema, mas sempre digno da consagração porteiras afora.
Um fazer poético ainda alvo de reducionismos cá entre nós, quando referenciado
apenas como “popular”. A vida, a extensa obra e a sua genialidade numa homenagem
da NORDESTE VINTEUM ao maior poeta que essas terras já conheceram.
A
ntônio Gonçalves da Silva, Casou-se com a dona Belinha
o batizado pelo povo como (Belarmina Paes Cidrão) e entregou
Patativa do Assaré, dava o também à roça sete filhos. A essa
primeiro ar de sua graça época, já fervilhava o cantar do sertão
em 5 de março de 1909, na Serra de em sua memória. Junto à inclemên-
Santana, distrito rural de Assaré, cida- cia da seca, a esperança da chuvas e a
de do Sul do Ceará. Aos quatro anos de súplica por um mundo mais justo. É
idade, ficou cego de um olho. Decor- também o início de seu passeio pela
rência de um “mal que lhe acometeu a literatura, das poesias de Olavo Bilac
vista”, dizem. e Castro Alves aos romances de Eça
O revés não o tirou da lida árdua de Queiroz, Machado de Assis e José
na roça ainda menino. Com oito anos, de Alencar. Sem esquecer o preferi-
perdeu o pai. Seguiu com a mãe e os do: Luís Vaz de Camões.
irmãos mais novos a cultivar seu chão, As freqüentes viagens ao Pará,
“resmungar” seus versos e inspirar a levando a cantoria do sertão cearen-
alma sertaneja. Escola formal só por um se e trazendo o apelido de patativa
semestre, o suficiente para juntar letras, – referência aos poetas populares em
formar palavras e fazer poesia. suas idas e vindas, tal qual a revoada
54 Maio/2009 Maio/2009 55
de pássaros da espécie – consagraram o mais de 100 horas de gravação da vida e obra do amigo para Carvalho, com autoridade de quem organizou seus versos e
menino violeiro. produzir o documentário “Patativa do Assaré – Ave Poesia” esquadrinhou sua vida em sete livros: “Patativa do Assaré”
Mas, ele não foi uma patativa qual- (2007). (2000), “Patativa Poeta Pássaro do Assaré” (2000), “Antologia
quer. Há quem diga que o reconheci- A genialidade de Patativa, mesmo destoando do rigor Poética” (2001), “Patativa do Assaré Pássaro Liberto” (2002),
mento veio tarde. O violeiro-agricultor acadêmico, deu origem a enredos rebuscados da mais pura “Cordel Canta Patativa” (2002), “Córdeis e Outros Poemas”
não era mestre apenas em criar. Recitava filosofia. Com o saber de homem do campo, ele relatou a (2006) e “Patativa do Assaré – Poeta Cidadão” (2008).
sua poesia com maestria, ao pedido de natureza, a crença e a economia em um discurso atemporal Sua obra, regionalista e universal, se confunde com
cada povo. Guardava na memória a letra e sem limites geográficos. o cenário do sertão, mas é atual e vanguardista. “Os ver-
e a métrica de todos os versos, como um “A poesia de Patativa traz as marcas da grande enun- sos trazem marcas de nossas ancestralidades ao mesmo
catálogo atualizado e sempre eficiente. ciação dos problemas que afligem os homens de todos os tempo em que têm dicção contemporânea”, acrescenta
Já passava dos 53 anos quando viu a lugares, em todos os tempos”, afirma o professor Gilmar de Tadeu Feitosa.
primeira leva do plantio de suas palavras
brotar em livro. “Inspiração Nordestina”
revela a autobiografia do “poeta de mãos
calosas”. Daí para ganhar o mundo, Pata-
tiva não silenciou. Continuava a formar
versos, sem se importar muito com a
idéia de sucesso. A poesia vinha da terra,
dos problemas e alegrias ali vividos. E era
por terra que ecoava.
“Cantos de Patativa”, “Patativa do
Assaré: Novos poemas comentados”,
“Cante Lá que Eu Canto Cá”, “Ispinho e
Fulô”. E entre tantas outras publicações,
o semeador de palavras se fez notável O canto do poeta segue em ebulição. De Sorbon-
além das fronteiras do sertão cearense. ne, na França, onde ainda nos anos 1970, o professor
É fato que nasceu poeta, mas se fez um Raymond Cantel estudou os versos de Patativa e apre-
gênio pela construção de sua obra. No sentou trechos de sua obra, até estudos mais recentes,
trajeto, além dos livros, versos musicados com Martine Kunz, que esmiuça os cordéis de nosso
e imagens poéticas em fotografias e tam- “pássaro”, a poesia de Patativa desperta a atenção de
bém no vídeo. pesquisadores em todo o mundo.
Apesar da beleza e grandeza desses Por aqui, já pesquisaram Ria Lemaire,
trabalhos, nosso Patativa, patrimônio cul- Sylvie Debs, Ismael Pordeus Jr. e François
tural e afetivo do Brasil, foi e se perpetua Laplantine. Todos encantados pelas criações.
como um artista genuinamente oral. Por “Patativa tem esse dom de encantar, não
vezes, retratando as problemáticas da pela frivolidade, não por modismos, mas por
vida sertaneja, Patativa fez política. Em cantar as verdades essenciais, aquilo que
seus poemas, as raízes da temática so- temos de mais profundo”, pontua Gilmar de
cial, as injustiças e desigualdades. Carvalho.
Para o pesquisador Luiz Tadeu Fei- E, de fato e de direito, Patativa encantou.
tosa, doutor em Sociologia e autor dos Foi homenageado pela Sociedade Brasileira
livros “Patativa do Assaré: A trajetória de para o Progresso da Ciência (SBPC), recebeu
um Canto” (2003) e “Digo e Não Peço Se- cinco títulos Doutor Honoris Causa - pela
gredo” (2001), a crítica mordaz, para além Universidade Regional do Cariri (CE), Univer-
das inclinações partidárias ou ideológicas, sidade Federal do Ceará (UFC), Universidade
deu o tom da poesia de Patativa. “Ele fin- Estadual do Ceará (Uece), Universidade Tiradentes (SE)
gia ser limitado para, na hora certa, atacar. e Universidade Federal Rural do Semi-Árido (RN) —, vi-
Seus poemas são como um chicote ideo- rou patrimônio cultural do Brasil em 1995, entre tantos
lógico que ele usava quando achava que outros títulos, comendas e homenagens. É leitura obri-
era necessário fazer”, explica. gatória para o vestibular da UFC e objeto de estudo de
De seus versos vigorosos, compro- quem não se cansa de redescobrir sua poesia.
metidos com as causas do povo, o hino O fotógrafo Tiago Santana conviveu com o poeta
nordestino “Triste Partida”, entoado em Assaré e por vários momentos tornou-se foco de
em todo o país pelo “rei do baião”, Luiz suas lentes. Em parceria com o professor Gilmar de Car-
Gonzaga (1964). Raimundo Fagner, com valho, responsável pelos textos, Tiago prepara o livro
Sina (1973) e Vaca Estrela e Boi Fubá “ABC do Patativa”, que deve ser lançado em julho e se
(1980). Rosemberg Cariri, cineasta cea- desdobrará em exposição de fotografia no Centro Dra-
rense e afeto antigo do poeta, reuniu as gão do Mar de Arte e Cultura, em Fortaleza.
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Artigo
Patativa
Barros Alves
não era “analfa”
Escritor e funcionário público
Esse Patativa abençoado por versos poéticos, com astúcia sertaneja e pensamentos ligeiros, ainda
A
vive na lembrança da neta Isabel Cristina, depois de sete anos de sua morte. Em 08 de julho de 2002, ntônio Gonçalves da Silva, o Patativa do do Assaré não era, de fato, o analfabeto que se queria
Assaré, é, indubitavelmente, figura pree- impingir ao povo através da orquestração midiática feita
o poeta se despediu de Assaré, mas deixou viva sua história na cidade. Aos 93 anos, Patativa, prejudi- minente na história do povo nordestino, por políticos interesseiros. Ele estudara Teoria do Verso
cado pelas doenças da velhice, levou seu canto para longe da terra.A falência múltipla dos órgãos nos pontificando como um gênio do verso com J. de Figueiredo Filho, respeitado intelectual cari-
apartou de sua voz. improvisado entre tantos que se alteiam riense. Daí, não ser surpresa a qualidade da poesia que
através do tempo, nos sertões adustos do Nordeste, can- escreveu nos moldes clássicos. De igual modo, também
“Mas, é como se ele estivesse entre nós. Sua obra é viva!”. A voz de Isabel ecoa o canto da esperan- tando as mágoas, os sonhares e alegrias de sua gente. En- à vista de provocação minha, escreveu-me há alguns
ça. Responsável por administrar o Memorial Patativa do Assaré, Isabel sabe da imortalidade dos versos tre estes rapsodos do povo, Patativa foi poeta singular, anos sobre o mesmo tema o professor Sânzio de Aze-
de Patativa. “Quem vem de fora visita o memorial e se apaixona por sua obra”, explica. É também a improvisador de alto dom criativo que construiu versos vedo, escritor, poeta e doutor em Literatura. Segundo
matutos em rima aprumada e ritmo escorreito. Mas, sou- aquela autoridade em História da Literatura Cearense,
neta, de 32 anos, herdeira de dona Lúcia, filha mais nova do poeta, quem administra os direitos auto- be também escrever poemas do mais fino lavor métrico e Patativa quando jovem teria recebido aulas de metro e
rais das publicações de Patativa. Há uma leva de poemas inéditos, que a família um dia vai publicar. rítmico, sonetos verdadeiramente petrarquianos ou ale- rima do Poeta Júlio Maciel, destacado magistrado cea-
xandrinos de fazerem inveja. E aqui reside a outra face do rense que esteve à frente de comarcas caririenses, entre
poeta que se vivo fosse no último dia 5 de março comple- as quais Juazeiro do Norte e Lavras das Mangabeiras.
taria cem anos de existência. A face oculta de Patativa, De sorte que Patativa do Assaré, era sim, homem rústico
por assim dizer. do sertão, dotado daquela ingenuidade que não significa
O poeta do Assaré, autor de jóias do cancioneiro estultícia, um crédulo na boa vontade dos homens do
popular como “Triste Partida” não era aquela figura anal- poder. Mas, não analfabeto. A poesia matuta que fazia
fabeta estereotipada por alguns intelectuais de esquerda era uma invenção bem arquitetada na forma e no con-
que queriam por fina força transformá-lo em um Maiako- teúdo. Para os radicais estudiosos do assunto, uma farsa
vski sertanejo. A prova concreta disto é que um criador bem urdida por um matuto que mesmo dominando a
literário que burila versos perfeitos à moda clássica, ja- norma culta da língua, sabia escrever poesia com um pa-
O caminho que liga os municípios de Assaré a Anto- que faleceu em 1994. Nos andares superiores, “uma sala mais seria analfabeto. Patativa, homem nascido e criado lavreado próprio da gente ignara, cuja prosódia encanta
nina do Norte, são 17 quilômetros de estrada asfaltada, de exposição para homenagem a outros artistas” e a bi- na roça, mantinha o seu código lingüístico e disto fazia os citadinos letrados.
na chamada “Rodovia Patativa do Assaré”. Para o embar- blioteca de cordéis. uso para agradar à platéia, aos aficcionados da chama- E aqui um dado que merece ser explorado pelos
que e desembarque dos ônibus, o “Terminal Rodoviário Na Serra de Santana, distrito rural que ouviu os pri- da poesia matuta. Na verdade, uma “parapoesia”, porque biógrafos do poeta. Patativa foi explorado – com toda a
Assaré do Patativa” anuncia as muitas marcas do poeta meiros versos, a casa em que o poeta nasceu foi reforma- algo caricaturesco e não original. Quantos não deram de carga de maldade e ideologia marxista que este vocábulo
que circulam pela cidade. da para as festividades do centenário, fruto da parceria mão desse artifício para fazer este tipo de versos agradá- possa ter – por políticos da esquerda e da direita. A es-
Nas placas de rua, os versos estampados. Na praça entre a Secretaria de Cultura do Estado do Ceará e a veis aos ouvidos, aos turistas ávidos de nordestinidade, querda o apresentava como o denunciador das misérias e
da Igreja Matriz, a réplica da silhueta do poeta fica em Prefeitura de Assaré. “A casa continua simples, de barro além de deixar boquiabertos os esquerdistas juramenta- mazelas do sistema capitalista mantenedor das imensas
cima de um pedestal, no mesmo quarteirão e chão batido, mas está toda arrumadinha”, dos. Exemplo: Carneiro Portela, advogado, jornalista, ra- distorções econômicas e sociais do povo nordestino. E
da casa que abrigou sua família, a partir dos comenta a neta Isabel, que esteve presente dialista, apresentador de televisão e autor de vários livros ainda hoje existe intelectuais de esquerda ganhando uns
anos 1970. À frente da estátua, o Memorial na inauguração do espaço, junto com os tios de poemas no estilo moderno, não é nem de longe um bons trocados em cima da obra e da figura emblemática
Patativa do Assaré, um casarão antigo, de e os primos. analfabeto, mas sabe como poucos tecer os fios de uma do velho poeta. A direita, pragmática, o levava a reboque
três andares. Para estrear os novos espaços, Isabel quer boa poesia matuta. Tem talento poético e a convivência para os palanques e o paparicava com mimos que, na ver-
É lá que a neta Isabel guarda os objetos organizar uma exposição, já para maio deste com poetas populares e cantadores incutiu-lhe o código dade, o deixavam por demais grato na sua simplicidade
pessoais do avô e parte de sua obra, entre ano, com todo o material publicado na ocasião lingüístico deles. de sertanejo sem vaidades pessoais e sem maiores ambi-
discos, livros e cordéis publicados. O auditó- do centenário do avô. A exposição deve acon- F. S. Nascimento, crítico literário da melhor cepa, ções. Neste aspecto, abstraindo qualquer juízo de valor,
rio, com capacidade para 70 pessoas, leva o tecer no próprio Memorial, mas remetendo filho do mesmo Cariri de Patativa, certa feita ao ser por Patativa foi um inocente útil para ambos os lados ávidos
nome de Dona Belinha, esposa de Patativa, também a casa onde nasceu Patativa. mim provocado, escreveu-me observando que Patativa de poder. O poeta morreu pobre.
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Sua Carteira de Plástico de cana-de-açúcar
Identidade vai mudar! produzido no Brasil
Você sabia que sua Carteira de
Identidade vai mudar? Ao longo de 2009, os
China finaliza acelerador de partículas órgãos emissores do documento passarão
a disponibilizar o RIC (Registro Único de
A China terminou a construção do seu acelerador de partículas, o SSRF Identidade Civil). Muito mais seguro e
(Shangai Synchrotron Radiation Facility), ou acelerador de partículas de Xangai, tecnológico, o RIC traz um chip, igual ao
que já nasce como a maior plataforma de pesquisas na China na área de física, dos cartões de banco, que guarda várias
biologia e materiais. O acelerador do SSRF mede 432 metros de circunferência, informações. Não só o seu biotipo (digitais,
opera com uma energia de 3,5 gigaeletron-volts (GeV). Sua construção levou altura, cor dos olhos, etc.) mas também
cinco anos e custou US$176 milhões. número de outros documentos (CPF, título
O SSRF possui sete feixes e estações experimentais, permitindo que múltiplos A Braskem desenvolveu uma
de eleitor, carteira de habilitação e de tecnologia para fabricar plástico a
experimentos sejam conduzidos em diversas áreas, como ciências biológicas e trabalho) estarão reunidos em um mesmo
médicas, novos materiais, física e bioquímica. Os raios X superfortes produzidos partir do álcool. A empresa anunciou
lugar. (Fonte: www.olhardigital.com.br) que usará nos próximos meses o
pelo acelerador permitirão a análise detalhada em altíssima resolução de
diversos tipos de materiais, incluindo proteínas e compostos destinados ao etanol de cana-de-açúcar para fabricar
desenvolvimento de novos medicamentos. (Fonte: www.inovacaotecnologica.com.br) polietileno de alta densidade linear,
usado na fabricação de embalagens e
outros produtos. Segundo a empresa,
Interface cérebro-Twitter permite a resina é a primeira no mundo
a conter 100% de matéria-prima
Dnocs apresenta pacotes tecnológicos Economia ecológica twitar usando o pensamento renovável, atestada pelo laboratório
americano Beta Analytic.
para captação de recursos na SEAP exige Terceira (Fonte: www.inovacaotecnologica.com.br)
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Fundos setoriais
Ciência e desequilíbrio
regional se explicam
Os Fundos Setoriais de Ciência e Tecnologia, criados em 1999, são a
maior fonte de financiamento de projetos de pesquisa, desenvolvimento
e inovação do país. Até 2007, os fundos aplicaram R$ 5,1 bilhões. Por
lei, 30% desses recursos deveriam financiar iniciativas nas regiões Norte,
Nordeste e Centro-Oeste. Só que o percentual não vem sendo cumprido.
Resultado: deixaram de ser aplicados nessas áreas, pelo menos, R$ 460
milhões. Por outro lado, somente o Sudeste abocanhou no período mais de
R$ 3 bilhões, ou seja, 60,41% do total
D
e dez anos para cá, a produção científica brasileira deu um salto significativo. O número de bolsas de estudo de mestrado, dou- sua importância e relevância e o campo da ciência e tec-
Mesmo questionados por pesquisadores como parâmetros de avaliação do pa- torado, recém-doutor e PNPD (Programa Nacional de nologia em cinco blocos, o Brasil estaria no segundo. Ele
norama científico nacional, face ainda a imprecisão e desatualização dos da- Pós-Doutorado) concedidas pela Capes subiu de 16,5 avalia que esse crescimento do país no campo científico
mil para 41 mil, somente no período de 1999 e 2008. é “sustentável” e se deve, primeiro, à fundação, em 1951,
dos, alguns levantamentos se mostram expressivos. Segundo a Coordenação de O total de bolsas de formação e pesquisa no país ou- de duas instituições “extremamente importantes para a
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), o Brasil ocupa o 15º torgadas por agências federais – entre elas a própria área”. No caso, o Conselho Nacional de Desenvolvimen-
lugar no ranking do número de publicações em veículos científicos internacio- Capes – dobrou, no mesmo período, atingindo 60 mil to Científico e Tecnológico (CNPq) e a Capes.
nais. A marca é de 2,2% de todos os artigos científicos publicados no mundo. no ano passado. "Apesar das flutuações de financiamento e das des-
Os 40 primeiros países da lista concentram 98% da produção científica global. Atual- Para a próxima década, projeta-se uma proporção continuidades, nunca sérias o suficiente para desmante-
mente, estamos entre os 25 primeiros. de doutores por 100 mil habitantes semelhante à dos lá-las”, coloca. O segundo motivo foi a criação, em 1999,
Estados Unidos e do Japão. Segundo o ex-secretário re- ao final do governo Fernando Henrique Cardoso, dos
Com cerca de 80 mil doutores, sendo entre 12 mil e 14 mil formados a cada ano, po-
gional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ci- Fundos Setoriais de Ciência e Tecnologia. “A ciência e
de-se considerar que a ciência brasileira cresce a uma taxa anual média de 20%. Perde ência (SBPC), doutor em Teoria da Computação e atual a tecnologia fizeram uma verdadeira revolução interna
apenas para China e Coréia. A preço de hoje, o Brasil chega a 1,5% do Produto Interno presidente da Fundação Cearense de Apoio ao Desen- com a criação desses instrumentos”, considera Tarcísio,
Bruto (PIB) em financiamento público à ciência e tecnologia. Um patamar aproximado volvimento Científico e Tecnológico (Funcap), Tarcísio acrescentando que os fundos permitiram ao Brasil mais
ao de diversos países desenvolvidos. Pequeno, se os países do mundo fossem divididos pela que duplicar a aplicação dos recursos em C&T.
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Desarmonia distributiva período. Para se ter uma idéia des- Sem massa crítica, não vai
R$ 465 milhões não chegaram ao NE, Norte e Centro-Oeste se desequilíbrio, do total de R$ 5,1
bilhões empregados no país entre “Editais tratam igualmente os desiguais”
Principal instrumento do Go- 1999 e 2007, a região Sudeste,
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cussões de um Plano de De-
senvolvimento Científico e
Desafio Quatro pontos fundamentais de desequilíbrio em Ciência
“Transformar ciência em felicidade humana” Além disso, ele defende
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PoderLocal&Cidadania
mADE IN
PIRAMBU
Como a cooperativa Pirambu Digital, projeto implantado num bairro pobre da periferia de
Fortaleza (CE), mudou a perspectiva de dezenas de jovens e melhora a vida de toda uma
comunidade, vítima do preconceito e de inúmeros problemas sociais
Por Lucílio Lessa – Texto e fotos
dois expedientes. “Passava em frente às faculdades e
achava que não era capaz de estar ali”, afirma. Numa
realidade um pouco diferente das duas, estava Bru-
ao mar na zona oeste da Capital. Teve sua história
construída à custa de grandes conflitos entre polí-
cia e comunidade no cotidiano da luta por moradia.
I
reporter@editoraassare.com.br no, 23 anos. Filho de funcionários de uma multina- Falta de infraestrutura urbana e índices de violên-
raneide, 21 anos. Filha de uma doméstica e de um vendedor cional, Bruno havia iniciado discreta carreira profis- cia sempre crescentes deixaram profundas marcas
de água de coco. Ao concluir o ensino fundamental em escola sional, mas sonhava em alçar vôos mais altos. na identidade do lugar, que há décadas também é
pública, não tinha noção do que faria. A falta de perspectiva Três jovens à procura de dias melhores, dis- espreitado pelo tráfico de drogas.
também era um problema para a costureira Patrícia, 31 anos, tintas histórias de vida, um cenário em comum: o Hoje, a comunidade ainda cresce, o que leva o
que, embora tenha herdado a profissão da mãe, sonhava em ir Pirambu, bairro mais populoso de Fortaleza, com bairro possuir a maior densidade populacional do
mais longe. Só esbarrava nos desestímulos da vida real de quem, 350 mil habitantes. É uma antiga favela formada país, com 40 mil habitantes por quilômetro quadra-
mesmo em casa, obrigava-se disciplinadamente a trabalhar os pelos ajuntamentos em terrenos ocupados próximos do e um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)
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de 0,391, entre os piores da capital cearense. Em Computadores (Fácil), que opera na recuperação
2008, ficou entre as 11 comunidades recordistas de computadores doados, que em seguida são
em assassinatos na Grande Fortaleza, ocupando alugados à comunidade; o Treinamentos e Even-
o quinto lugar. Uma realidade a que Iraneide,
Patrícia e Bruno tiveram que se habituar desde
tos (Trevo), criado para promover treinamentos e
eventos em tecnologia da informação e comuni- A grande ‘sacada’ do projeto
é que os talentos revelados
crianças. E foi nesse contexto que surgiu a coo- cação; e o Negócios de Administração (Nega), o
perativa Pirambu Digital. administrador dos negócios da cooperativa.
Criada pelo Centro Federal de Educação O principal mérito da empresa consolida-se
e Tecnologia do Ceará (Cefet), hoje Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
ao democratizar o acesso à Tecnologia da Informa-
ção no bairro. Tudo começa a partir de ações soli-
aqui podem mudar a vida
Ceará (Ifet), a cooperativa está ligada ao Movi-
mento Emaús - Amor e Justiça, ONG católica
dárias dos jovens, que totalizam 50% da população
local. A perspectiva é simples: oferecer capacitação da comunidade
situada no coração do Pirambu. A parceria possi- para que os alunos possam repassar conhecimen-
bilitou à cooperativa ocupar o segundo andar do tos, agregados ao valor do fruto de seus talentos,
galpão da ONG. A proposta é criar soluções em para outras pessoas do bairro. Uma espécie de re- Mauro Oliveira, pesquisador e ex-secretário do
Tecnologia da Informação (TI) para empresas de ação em cadeia para construção de uma realidade Ministério das Comunicações
dentro e fora do Ceará. Ou seja, provar que o local diferente.
desenvolvimento de software pode ser feito em “A gente desenvolve mecanismos para os sador e ex-secretário do Ministério das Comunica-
qualquer lugar, desde que haja oportunidades. jovens contribuírem e serem felizes no bairro ções, Mauro Oliveira, idealizador da cooperativa à
A cooperativa possui quatro empreendi- em que moram. O papel de uma instituição de época em que foi diretor do Cefet.
Antevisão solidária na França
mentos: o Pólo de Desenvolvimento de Softwa- ensino não é simplesmente resolver o problema As atividades sociais realizadas pela Pirambu
re (Podes), responsável pelo desenvolvimento de
sistemas e sites, bem como programas de alta
de meia dúzia de pessoas. A grande ‘sacada’ do
projeto é que os talentos revelados aqui podem
Digital primam pela originalidade. Um dos projetos
é o Casa do Saber, trabalho realizado junto às famí- Cursos pagos com repasse de
tecnologia para o comércio local; o Fábrica de mudar a vida da comunidade”, afirma o pesqui- lias, através da orientação aos pais sobre o valor das
propostas educacionais. Ao todo, são atendidas 100
conhecimentos e esperanças
crianças com atividades sócio-educativas como tea- As iniciativas da Pirambu Digital têm êxito reafir-
tro e xadrez. A seleção das famílias é feita após visita mado e possibilitam contribuição efetiva ao desenvol-
de professores voluntários às residências. vimento do bairro. Retribuir é palavra de ordem e valor
multiplicado quando se trata da forma de pagamento
Outra opção da cooperativa é o Agente Digi-
dos cursos. Cada aluno recompensa a oportunidade,
tal. O projeto forma jovens em informática básica ao se comprometer em repassar algum conheci-
ou avançada. Alunos universitários e do Ifet são os mento a pessoas do Pirambu. Seja sobre o conte-
monitores. Já o Pirambu Business School trata da ca- údo do curso ou mesmo habilidades adquiridas
pacitação de alunos com potencial empreendedor e potencializadas no decorrer das atividades dos
para o mercado de trabalho, através de aulas de Por- projetos de ensino. Resultado: cerca de 600 pes-
tuguês, Matemática, Inglês e Informática. O ciclo se soas circulam, por dia, na cooperativa.
fecha com a Universidade do Trabalho, que prepara Tudo começou em 1993, durante um dou-
jovens para ingressarem no ensino superior e postos torado na França, quando Mauro Oliveira ficou
de trabalho dentro do contexto deflagrado a partir da fascinado com o modelo educacional do país. “A
Pirambu Digital. minha filha, que é classe média, estudava com o
filho do vigia e, ao mesmo tempo, com o filho
do presidente da Câmara de Comércio. Então
tive vontade de fazer alguma coisa assim no
Brasil”, ressalta Mauro. No mesmo ano, pro-
fessores voluntários liderados pelo pesqui-
Inclusão Digital. Cooperativa sador iniciaram uma parceria com a ONG
democratiza acesso à Tecnologia Emaús, em atividades sócio-educativas
da Informação. no Pirambu.
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70 Maio/2009
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Informática”, “Biblioteca - Lan House”e “Agente Digital” jovens foram selecionados para um curso de preparação
de alunos para o Cefet. Nesse período, a LG Eletronics pro-
de encarar desafios e deixar o antigo emprego, sob a críti-
ca dos pais. O esforço foi recompensado. Hoje, o rapaz de
curou o centro para fazer investimentos sócio-educativos, discurso articulado e projetos ambiciosos é diretor de ges-
por meio da Lei da Informática. Com o incentivo, o projeto, tão estratégica da cooperativa. Em meio às explicações so-
A Pirambu Digital também possui os projetos es- hoje prestes a concluir a formação do segundo grupo, pas- bre o funcionamento da empresa, ele ainda se emociona.
peciais intitulados Condomínio Virtual, Personal Trainer
sou de 30 para 120 o número de jovens entre 18 e 24 anos, “Lembro de quando pintamos essas paredes. Hoje, meus
de Informática, Biblioteca Ligada a Lan House (Bila) e
matriculados na primeira turma. Os cursos oferecidos são pais têm certeza de que tomei a decisão certa”.
Agente Digital. O primeiro centra na aquisição de uma
antena viabilizada por uma empresa de internet, com de Desenvolvimento de software e o de Conectividade. O A emoção de Bruno se justifica na dimensão e credi-
sinal via rádio. O destaque se dá pela dinâmica do ser- projeto ainda inclui transporte, fardamento, 25% do salário bilidade alcançadas pela Pirambu Digital. Mas, tantos talen-
viço. Ao adquirir a antena, o custo (R$ 230) é divido por mínimo aos estudantes, equipamentos de última geração tos não poderiam de fato ficar restritos ao bairro. Há pouco
três vizinhos. A mensalidade é de R$ 25 e, atualmente, e construção de um novo prédio no Cefet. tempo a empresa deu passo importante para o seu cresci-
23 condomínios estão cadastrados. A primeira etapa do processo foi aplicar provas desti- mento, ao fechar convênio com a Universidade de Evry, na
O despreparo das pessoas ao lidar com as ferra- nadas a alunos oriundos de escolas públicas. Iraneide tirou França, para intercâmbio de negócios no campo da infor-
mentas de acesso à internet, fez surgir o Agente Digital, de letra . “A seleção não era restrita a pessoas do bairro, mas mática. A iniciativa possibilitará estágios para integrantes
programa que possibilitou também a criação de outro, o fato de estar ligada ao Pirambu praticamente anulou a da cooperativa. O presidente da Pirambu Digital, Gildenis
o Personal Trainer de Informática. O mecanismo é sim- procura de candidatos de outras localidades”, lembra. Ao Rodrigues, também aluno da primeira turma do Cefet, será
ples. Após receber o treinamento e retribuir as aulas final dos dois anos de curso da primeira turma, o professor um dos primeiros a investir na empreitada. Ele comemora
com orientações à comunidade, o jovem começa a dar
Mauro Oliveira fez a proposta da Pirambu Digital. A idéia o fato da empresa já possuir 15 clientes empresarias, além
aulas particulares de informática a clientes de outros
era fazer com que os jovens se realizassem com um negó- de dezenas na categoria pessoa física.
bairros, previamente agendados pela Pirambú Digital.
O valor das aulas é divido meio a meio entre a coope-
rativa e o personal.
A provar que estímulos criativos ajudam o apren-
dizado, surgiu a Bila. O projeto, sucesso entre as crian-
ças, também serviu para contradizer involuntariamen-
te quem acredita que as facilidades da internet irão
diminuir a procura pelo livro. Funciona assim: após uti-
lizar uma hora de internet, o usuário deve ler um dos
livros da biblioteca e realizar uma espécie de resumo,
conferido por uma das duas monitoras do local. Diaria-
mente, o local recebe a visita de aproximadamente 150
crianças. “O mais interessante é que a grande maioria já
vem diretamente em busca dos livros”, revela a auxiliar
administrativa, Marilu Alves.
E sobre Patrícia, citada do início da matéria, após
um excelente trabalho como instrutora da cooperativa
em diversas empresas, a costureira, que tinha o sonho
de vencer na vida, hoje vive bem mais dignamente,
trabalhando em um negócio próprio na Itália. “Todos
precisam de uma chance. E quando ela vem, cabe a A Bila, projeto de sucesso entre as crianças de incentivo à leitura.
gente fazer valer a oportunidade”, conclui. Após utilizar a internet, o usuário deve ler e realizar um resumo da obra
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a diferença entre seu veículo impresso e os outros
nossa criatividade
AVANZ 11 Anos
Experiência no desenvolvimento de
soluções criativas em tecnologia A AVANZ é uma empresa especializada no desenvolvimento
de aplicações multimídia e soluções para Internet. Nomercado há
11 anos, fornece apoio tecnológico a todos os tipos de negócio,
atendendo clientes em todo o território nacional.