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Superior Tribunal de Justiça

AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 1.053.952 - SP (2008/0115140-1)

RELATOR : MINISTRO SIDNEI BENETI


AGRAVANTE : COOPERATIVA HABITACIONAL DOS BANCÁRIOS DE
SÃO PAULO - BANCOOP
ADVOGADO : DANIEL DE LIMA CABRERA E OUTRO(S)
AGRAVADO : ALBERTO BILAC BARROS GUIMARÃES
ADVOGADO : ROGÉRIO RIBEIRO CELLINO E OUTRO(S)
DECISÃO

1.- Trata-se de Agravo de Instrumento interposto por


COOPERATIVA HABITACIONAL DOS BANCÁRIOS DE SÃO PAULO -
BANCOOP contra decisão que negou seguimento ao Recurso Especial fulcrado na
alínea "a", do inciso III, do artigo 105, da Constituição Federal, contra Acórdão
proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (fls. 94/99).

2.- As razões do Recurso Especial (fls. 105/121) sustentam ofensa ao


artigo 4º da Lei nº 5.764/71, entendendo não aplicável às Cooperativas o Código de
Defesa do Consumidor e conseqüentemente a inversão do ônus da prova.

É o relatório.

3.- O Acórdão recorrido restou assim ementado (fls. 94/99 -


Desembargador Relator, Dr. ELCIO TRUJILLO):

INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA - Cooperativa habitacional -


Possibilidade - A circunstância de ter o ajuste a denominação
de adesão e participação em regime cooperativo, não o
descaracteriza como contrato de adesão - Incidência do Código
de Defesa do Consumidor - A inversão do ônus probatório pode
acontecer em favor do consumidor, quando for verossímil sua
alegação ou quando for hipossuficiente, segundo as regras
gerais de experiência - Instrumento de facilitação de defesa dos
direitos dos consumidores que não deve ser confundido com a
obrigação de depositar os honorários do perito - Aplicação dos
arts. 19 e 33, do Código de Processo Civil - Decisão
parcialmente formada - AGRAVO PARCIALMENTE PROVIDO.

4.- Em seu voto, esclarece o ilustre Desembargador (fls. 95 e 97/98):

Sustenta a agravante, em busca de reforma da r. decisão, a


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inaplicabilidade da legislação consumerista ao presente caso,
bem como da impossibilidade de inversão do ônus probatório.
(...)
Tem-se, de início, que a circunstância de ter o ajuste a
denominação de adesão e participação em regime cooperativo,
não o descaracteriza como contrato de adesão, nem dispensa
sua sujeição às normas do Código de Defesa do Consumidor.
Todavia a realidade do negócio é que deve imperar em termos
de análise e enquadramento legal e não, como pretendido, o
rótulo utilizado que, em realidade, nada apresenta, na essência,
de sistema cooperativo.
(...)
No tocante a inversão do ônus da prova, pode esta acontecer em
favor do consumidor, quando for verossímil a alegação ou
quando for hipossuficiente, segundo as regras gerais de
experiência, vale dizer, de acordo com as normas de experiência
comum fornecidas pela observação do que ordinariamente
acontece (...).
(...)
Entretanto, a inversão dos ônus da prova, instrumento de
facilitação de defesa dos direitos dos consumidores, não deve
ser confundida com a obrigação de depositar os honorários do
perito.
(...)
O custeio das despesas para a produção da prova é condição
diversa da inversão, portanto, o ônus recai sobre quem requereu
a produção, nos termos do art. 33, do Código Processo Civil.
Afastada, por conseqüência, a obrigação da recorrente
proceder ao depósito do salário do perito judicial.

5.- Para melhor compreensão dos fatos, vale a transcrição da decisão


agravada no Tribunal de origem (fls. 31/34):

(...)
Antes de ser cooperado, a intenção do autor era a de adquirir o
imóvel residencial. Pouco importa a forma de organização da
entidade, basta que desenvolva atividades de "produção,
montagem, criação, construção, transformação, importação,
exportação, distribuição ou comercialização de produtos os

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prestação de serviços", para que se reconheça a qualidade de
fornecedor (art. 3º, do Código de Defesa do Consumidor).
Com efeito, é aplicável ao caso o Código de Defesa do
Consumidor.
(...)

6.- Nota-se, no que a decisão agravada e o Acórdão recorrido estão em


consonância com a jurisprudência desta Corte em admitir a aplicação do Código de
Defesa do Consumidor à relações mantidas entre cooperativas e cooperados. REsp
403189/DF, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, DJ 01.09.03, REsp
255947/SP, Rel. Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, DJ 08.04.02 e
REsp 470327/DF, Rel. Ministro HÉLIO QUAGLIA BARBOSA, DJ 16.04.07.

Nesse sentido, aplica-se a Súmula 83/STJ no que diz respeito à


aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor ao caso em análise.

7.- Em relação à inversão do ônus da prova, infere-se que o Acórdão


recorrido decidiu com base na análise do conjunto probatório apresentado, conforme
transcrito anteriormente (fls. 97):

No tocante a inversão do ônus da prova, pode esta acontecer em


favor do consumidor, quando for verossímil a alegação ou
quando for hipossuficiente, segundo as regras gerais de
experiência, vale dizer, de acordo com as normas de experiência
comum fornecidas pela observação do que ordinariamente
acontece (...).

Ademais, a decisão agravada 39ª Vara Cível Central do estado de São


Paulo pronunciou-se a respeito da matéria (fls. 31 e 32):

(...)
Por outro lado, não é admissível que a ré apresente,
unilateralmente, a suposta diferença de R$ 27.003,18, a ser
paga pelo autor, sem exibir o fundamento detalhado das
parcelas que determinaram o referido valor.
(...)
A ré tem melhores condições de realizar a prova quanto ao
montante imputado ao autor, afinal, foi ela quem apresentou a
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conta a cargo do demandante. Assim, adotando a teoria da
carga dinâmica das provas, cabe à ré, produzir a prova quanto
ao valor que reclama.

Nesse sentido, adotar entendimento diverso do Acórdão recorrido


envolveria, necessariamente, reexame de provas, o que é vedado em Recurso Especial
pelo comando da Súmula 7 do STJ.

8.- Diante o exposto, nega-se provimento ao Agravo de Instrumento.

Intimem-se.

Brasília (DF), 08 de agosto de 2008.

Ministro SIDNEI BENETI


Relator

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