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RESPONSABILIDADE CIVIL
PROF. ANA LECTÍCIA
AULA 4
TEMA: DANO
- Conceito;
- Dano material: dano emergente e lucro cessante.
- Dano hipotético ou remoto (perda de uma chance).
- Dano reflexo e indireto.
- Dano moral: evolução doutrinária, posicionamento atual, configuração, prova,
arbitramento.
- Legitimação para pleitear dano moral. Transmissibilidade.
- Dano estético.
- Dano à imagem.
- Dano à imagem de pessoa falecida.
- Liquidação do dano.
- Verbas indenizáveis.
• PREMISSAS:
a) Sem dano não há responsabilidade civil;
b) Responsabilidade é sinônimo de obrigação de indenizar, logo, se não há o que
indenizar, não há responsabilidade;
c) A finalidade da responsabilidade civil (1a aula) é fazer com que o agente retorne ao
estado anterior ao da lesão (statu quo ante), vale dizer, a restituição integral dos danos
sofridos (restitutio in integrum);
d) Nesse sentido, dispunha o art.948 do CC de 1916: “Nas indenizações por ato ilícito
prevalece o valor mais favorável ao lesado”.
e) Atualmente, tem-se o art.944, segundo o qual “a indenização mede-se pela extensão do
dano”.
• CONCEITO – É a lesão a um bem jurídico, tanto patrimonial quanto moral, que
acarreta prejuízo ao lesado. Envolve uma diminuição do patrimônio de alguém, em
razão de uma ação ou omissão lesiva do agente-infrator.
Etimologicamente, dano significa mal, ofensa pessoal, prejuízo moral ou material.
• Danos materiais são aqueles que atingem o patrimônio econômico da vítima. Envolve
uma diminuição no patrimônio de alguém, em decorrência da ação lesiva de terceiros.
Possui duas espécies básicas (art. 402, CC), quais sejam: os danos emergentes e os
lucros cessantes.
• Danos emergentes: é o efetivo prejuízo; a efetiva diminuição no patrimônio da vítima;
“o que ela perdeu” (tema ligado ao tempo presente);
Ex. Colisão de veículos com perda total do carro. O dano emergente é o valor do carro.
• Lucros cessantes: é aquilo que a vítima razoavelmente deixou de lucrar; “o que ela não
ganhou (ou, temporariamente, não mais ganhará)”; (tema ligado ao tempo futuro). Aqui
ocorre uma frustração da expectativa de lucro. Deve se usado o princípio da
razoabilidade para encontrar o valor devido (juízo de probabilidade, bom senso, aquilo
que normalmente acontece segundo o curso normal das coisas); (ex. taxista)
• Pablo Stolze, analisando o tema lucros cessantes, diz em sua obra o seguinte: “a
jurisprudência do STJ continua sendo rígida quanto a necessidade de o julgador utilizar
o bom senso para aferir a sua configuração (...) – Resp 320417/RJ: “A expressão ‘o que
razoavlemente deixou de lucrar’, constante do art. 402 do CC, deve ser interpretada no
sentido de que, até prova em contrário, se admite que o credor haveria de lucrar aquilo
que o bem senso diz que obteria, existindo a presunção de que os fatos se
desenvolveriam dentro do seu curso normal, tendo em vista os antecedentes”. Por isso a
compensação devida à vítima só deverá incluir os danos emergentes e os lucros
cessantes diretos e imediatos, ou seja, só se deverá indenizar o prejuízo que decorra
diretamente da conduta ilícita (infracional) do devedor (art.403, CC), excluídos os
danos remotos”.
• Pelo termo razoavelmente devemos entender aquilo que estava mais próximo de
acontecer do que de não acontecer, no momento em que o evento ocorreu. Mera
probabilidade, hipóteses remotas estão excluídas.
• Trabalha-se com a expectativa de vida da pessoa vitimada. Assim, as diferenças
“gritantes” existentes no Brasil, também devem ser levadas em conta.
Ex. Se na hipótese acima, um dos veículos fosse um táxi. Lucro cessante seria o que o
taxista deixará de lucrar (média feita pelo juiz, de acordo com os valores que
normalmente eram percebidos pelo taxista), enquanto aguarda o conserto ou a entrega
de novo veículo.
Ex. morte da vítima: indenização com base nos seus ganhos durante sua sobrevida
provável. Se autônomo: média dos seus ganhos durante os últimos 6 ou 12 meses.
A doutrina francesa fala na perda de uma chance (perde d’une chance) nos casos em
que o ato ilícito retira da vítima a oportunidade de obter um situação futura melhor,
como progredir na carreira artística ou no trabalho, deixar de ganhar uma causa por
falha do advogado. Contudo, é necessário que se trate de um chance real e séria.
Isso não deve ser confundido com lucro cessante imaginário, simplesmente
hipotético ou dano remoto, que seria apenas conseqüência indireta ou mediata do ato
ilícito.
• Danos indiretos. Danos reflexos (ou em ricochete): há quem diga que o conceito de
dano indireto está ligado à idéia da violação de bens personalíssimos (nome, reputação,
saúde, imagem, etc), que podem refletir no patrimônio da vítima (ex. o médico
difamado pode perder sua clientela: furto de um bem com valor afetivo, etc), isto é,
aquele que além de trazer prejuízos financeiros, traz efeitos morais lesivos a alguém.
Todavia, os autores seguindo o disposto no art. 403 do CC estabelecem que o
agente causador do dano somente responderá pelos danos diretos e imediatos do
seu comportamento, vale dizer, excluindo-se os danos indiretos, futuros ou
meramente hipotéticos, situados fora do desdobramento natural do curso normal
da vida.
Importante notar, contudo, que quando o dano atingir reflexamente, indiretamente,
pessoa próxima, ligada à vítima direta da atuação ilícita, trazendo prejuízos certos, é
possível a reparação, consoante o disposto no art. 948, II, do Código Civil.
Assim, a regra é que o autor do ilícito não responda pelos danos indiretos ou
mediatos, conforme dispõe o art. 403 do CC. Porém, na hipótese em que fique demonstrado
o prejuízo à vítima indireta, a exemplo daqueles danos causados a pessoas a quem a vítima
teria que prestar alimentos se viva fosse, configura-se o dano em ricochete indenizável.
Ex. Pai de família (que deixa esposa e dois filhos menores) morto em razão da conduta
imprudente de outro motorista que dirigia embriagado na contramão. Seus herdeiros
(mulher e filhos) sofreram os reflexos da conduta imprudente do motorista, por conta da
ausência do sustento paterno. Logo, cabe ação contra o causador do dano.
• Danos morais: é aquele que não tem caráter patrimonial, ou seja, que não é suscetível
de estimativa pecuniária. É a lesão a um bem integrante da personalidade, tal como a
honra, a liberdade, a saúde, a integridade psicológica, causando dor, vexame,
sofrimento, desconforto e humilhação à vítima. (art.186, CC)
• Conceito de Pablo Stolze: “O dano moral consiste na lesão de direitos cujo conteúdo
não é pecuniário, nem comercialmente redutível a dinheiro. Em outras palavras é aquele
que lesiona a esfera personalíssima da pessoa (seus direitos da personalidade), violando,
por exemplo sua intimidade, vida privada, honra e imagem, bens jurídicos tutelados
constitucionalmente”
• O importante, de plano, é perceber que a pessoa pode ser extremamente pobre
financeiramente e, ainda assim, terá direito à reparação de danos morais, já que ainda
assim será dotada deste conjunto de bens integrantes de sua personalidade. Isso porque
o princípio essencial quanto a este tema é o da proteção à dignidade humana (art.1o, III,
da Constituição da República). Assim, todos temos direito subjetivo constitucional à
dignidade. Esta é a essência de todos os direitos personalíssimos (honra, imagem, bom
nome, intimidade, privacidade, etc.)
• Dano moral à luz da CF/88, nada mais é do que violação do direito à dignidade.
• A CF/88 estabelece a plena reparação do dano moral (art.5o, V e X); igualmente o CDC,
art.6o, VI e tb o NCC, art.186.
• Tem existência própria e autônoma. Exige tutela independente.
• Causa vexame, humilhação, intenso sofrimento, sentimento de inferiorização perante os
demais membros da comunidade.
• É insuscetível de avaliação pecuniária. Deve, portanto, ser compensado e não
indenizado.
EVOLUÇÃO (3 fases):
• PESSOA JURÍDICA – Enunciado 227 STJ: pode sofrer dano moral, uma vez que
esta pode e deve zelar pelo seu nome e imagem perante o público-alvo.
A própria CF/88 ao tratar do tema dano moral, não fez qualquer distinção no
sentido de que só se indenizaria a pessoa física, ao revés, fala no art.5o, X em
“pessoas”, não cabendo, portanto, ao intérprete fazer distinção ou restringir o conceito
quando a Lei Maior não o fez.
Art. 52, CC – “Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção aos direitos da
personalidade”.
Verbete 227 STJ – “A pessoa jurídica pode sofrer dano moral”.
- art.948, II, por analogia ao dano moral (cônjuge, pais e filhos) c/c p.u. do art.20.
- Dupla faceta do dano moral: compensatório e punitivo.
Atenção: o fato de a vítima não exercer atividade remunerada não autoriza a concluir que,
por isso, ela não contribuía com a manutenção do lar. Os trabalhos domésticos prestados no
dia-a-dia podem ser mensurados economicamente, gerando reflexos patrimoniais imediatos.
Em especial, se considerarmos as famílias de baixa renda, cuja mantença do grupo é fruto
da colaboração de todos, de modo que o pensionamento não pode ficar restrito à prova
objetiva da percepção de renda.
1a) TJ/RJ (corrente prevalente) – pode cumular com dano moral, pois são coisas
distintas: uma é a deformidade, o enfeamento da vítima, outra é a frustração decorrente
de uma dor íntima causada por outrem, um insucesso.
2a) Minoritária - o dano estético é um aspecto do dano moral, sendo que quando
verificado pode-se majorar a indenização, mas não cumulá-los.
- OBERVAÇÕES FINAIS:
Art. 948: Leva-se em conta a sobrevida provável da vítima: 65 e 70 anos. (ex. sujeito
tinha 40 anos: sobrevida de 30 anos; do valor que recebia como rendimentos deve-se abater
1/3 que seria o que a vítima gastava consigo mesma. Se desempregado, indenizar em 1
salário mínimo, renda mínima a ser fixada.
- Morte de filho menor: alguns limitam a pensão aos 25 anos, sob o argumento de que
com esta idade constituiria família. Ao revés, para Sérgio Cavalieri, depois dos 24 anos
reduz-se em metade a pensão.
- Morte do pai: a pensão é devida ao menor até 25 anos.