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2.

Métodos de resolução dos conflitos sociais e sua evolução


através dos tempos: da justiça privada à justiça pública
(autotutela, autocomposição e jurisdição).

• A existência do direito confunde-se com o da própria sociedade:


ubi societas ibi jus. O direito exerce a função
ordenadora/pacificadora da sociedade, a coordenação dos
interesses e a composição dos conflitos, promovendo a
harmonização das relações intersubjetivas.

• A existência do direito, por si só, não é capaz de eliminar todos os


conflitos sociais, pois a natureza humana faz emergir,
invariavelmente, interesses contrapostos sempre que um
agrupamento de pessoas passa a manter qualquer tipo de relação.
Conflito de interesses na ótica carneluttiana.

• Diversas formas de resolução dos conflitos sociais foram


concebidas através dos tempos: autotutela (justiça de mão-
própria); autocomposição, arbitragem e jurisdição.

• AUTOTUTELA: fase primitiva da civilização dos povos. Inexistência de


Estado suficientemente organizado. Definição: subjugo do direito
do mais fraco pelo do mais forte. Características: a) ausência de
árbitro/julgador estranho às partes; b) imposição coercitiva do
direito da parte vencedora à outra. Conseqüência: iniqüidade.
Resquícios no direito moderno: julgamento de crimes de guerra por
“tribunais de exceção” (Nuremberg – 2ª Guerra – plano
internacional), desforço pessoal em defesa da posse (art. 1210, CC)
e direito de retenção (CC., arts. 578, 644, 1433, II, etc.).
• AUTOCOMPOSIÇÃO: da fase primitiva à intermediária do direito.
Definição: uma ou ambas as partes em conflito abrem mão do
interesse ou de parte dele. Característica: solução privada e
voluntária dos conflitos, com ausência de terceiro estranho à
disputa. Formas: a) renúncia à pretensão; b) submissão à pretensão
(renúncia à resistência); c) transação (concessões mútuas e
recíprocas). Na fase primitiva do direito, a sua realização dependia
da colaboração dos sujeitos, prescindindo da coerção estatal.
Resquícios no direito moderno: direitos disponíveis e transacionais.

• ARBITRAGEM: fase primitiva à fase intermediária do direito romano.


Inicialmente, a mediação era confiada a sacerdotes e anciãos.
Após, pelo próprio Estado (praetor et iudex – magistrado e árbitro.
Compromisso: litiscontestatio), por submissão voluntária dos
sujeitos. Por fim, a arbitragem facultativa deu lugar à obrigatória
(nomeação obrigatória do árbitro), embrião da moderna jurisdição.
Nesta fase, surge o processo. Característica: solução dos conflitos
por elemento estranho à contenda, eleito inicialmente pelas
próprias partes.

• JURISDIÇÃO (processo): ao período arcaico e clássico do direito


romano, conhecido por ordo judiciorum privatorum, sobreveio o
período moderno deste, denominado período da cognitio extra
ordinem. Neste, o pretor romano não se limitava a nomear ou
aceitar a nomeação de árbitros pelas partes: ele próprio passou a
prolatar decisões sobre o mérito das questões que lhe eram trazidas.
A justiça privada deu lugar à justiça pública, nascendo o
monopólio jurisdicional estatal (imposição autoritativa do direito
declarado nas decisões). Características: atividade pública,
exercida pelo Estado-juiz (órgão estranho e imparcial), substitutiva
à das partes (vedação da autotutela), em regime de monopólio,
tendo por escopo primordial a pacificação das relações sociais.
2. PROCESSO E RELAÇÃO JURÍDICA PROCESSUAL. ELEMENTOS.
AUTONOMIA.

• JURISDIÇÃO – função estatal (Montesquieu) – Estado moderno –


exercício através de órgãos especializados – submissão a
esquemas legais, a fim de evitar-se o arbítrio – método do
exercício da função jurisdicional: processo (sistema de regras
e princípios previamente estabelecidos e aceitos pela
sociedade).

• PROCESSO – feição ambivalente/dúplice: PURAMENTE INSTRUMENTAL


(série de atos coordenados regulados pelo direito processual,
através do qual se concretiza a prestação jurisdicional) e
SUBSTANCIAL (processo c/ veículo de relação jurídica).

-Processo
(sistema/método)
ASPECTO INSTRUMENTAL
-Procedimento
(manifestação
extrínseca
realidade concreta
perceptível)
PROCESSO

rel. juríd. material


continente
ASPECTO SUBSTANCIAL
rel. jur. processual
conteúdo (mérito)

• PROCESSO – NATUREZA JURÍDICA: relação jurídica processual.


• PROCESSO – NECESSIDADE: vedada a autotutela, o Estado avocou
para si a atividade exclusiva de dirimir os conflitos sociais.
Havendo violação ou ameaça de violação do direito, surge a
necessidade, vedada a justiça privada, da parte submeter sua
pretensão ao crivo do órgão jurisdicional estatal. Tal
necessidade, faz surgir uma segunda relação jurídica, distinta
daquela submetida à apreciação do órgão jurisdicional: a
relação jurídica processual.

ativo (credor/prop.)
Sujeitos
passivo (devedor...)

Objeto bem da vida


corpóreo/incorpóreo
RELAÇÃO JURÍDICA
SUBSTANCIAL
(elementos) Causa obrigação ou
dever legal

Pressupostos artigo 104, CC


(rel. obrigac.)

PROCESSO
(objeto) autor
Sujeitos juiz
réu

Objeto prestação da
RELAÇÃO JURÍDICA tutela
PROCESSUAL jurisdicional
(elementos)
Causa vedação da
autotutela

Pressupostos const. e desen.


válido

* RELAÇÃO JURÍDICA SUBSTANCIAL: regulação normas de


dir. material
CC, CP, CTN

* RELAÇÃO JURÍDICA PROCESSUAL: regulação normas de


dir. proces.
CPC, CPP, etc

CARACTERÍSTICAS DA RELAÇÃO PROCESSUAL

I) PRINCIPIA LINEAR: art. 263, primeira parte.

AUTOR ESTADO-JUIZ

II) TORNA-SE (TRI)ANGULAR: art. 263, segunda parte, c/c 213/214

ESTADO-JUIZ

AUTOR RÉU

“judicium est actum trium personarum: judicis, actoris et rei”


CARACTERÍSTICAS QUE DISTINGUEM A RELAÇÃO
PROCESSUAL DA RELAÇÃO JURÍDICA SUBSTANCIAL

* Ausência de direitos e deveres


recíprocos entre as partes (sinalagma)

* Presença Estado-juiz num dos pólos da


relação juríd. Binômio poder-sujeição.

* Pressupostos próprios: constituição e


desenvolv. válidos. Requis. adm. prov.

RELAÇÃO PROCESSUAL:
CARACTERÍSTICAS
DISTINTIVAS

* Autonomia: independe da existência


do direito material controvertido.
Decorre da presença de pressupostos
próprios. Princípios e regras próprias.

* Atualidade da ciência jurídica: Bülow.

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