Você está na página 1de 19

O homem e sua interação lingüística

com o mundo
Introdução

Os estudos desta unidade apresentam conceitos importantes para vários outros temas
estudados no curso de Comunicação e Expressão (conceitos de signo, ícone, índice,
símbolo, as funções da linguagem).

Estuda ainda outros temas importantes para entendermos melhor as situações de comu-
nicação e pensarmos em como produzir nossos textos e organizar nossa fala (conceito
de linguagem e de estilo, por exemplo).

 O homem e sua interação lingüística com o mundo Universidade Anhembi Morumbi


1.

O homem e sua interação lingüística com o mundo

O que é signo?

2. Ao olharmos para a figura 1, vemos uma moça ou uma representação dela?

Ao lermos a notícia da figura 2, estamos diante do fato ou de uma representação dele?

Ao observarmos a cena da figura 3, a música, palavras, gestos, expressões representam alguma


coisa?

Nas três situações destacadas, bem como em qualquer outra situação vivida por um
ser humano, observamos que ocorre uma intermediação entre o mundo e a visão que
temos dele.
3.
A foto mostra não uma moça, mas sua representação. Da mesma forma, o texto da
notícia não apresenta o fato em si, mas uma forma de representá-lo, usando palavras.

Na cena, por sua vez, temos uma série de elementos combinados construindo o sentido
do que vemos: a música, as palavras, os gestos, entre outros elementos, representam os
pensamentos, sentimentos, conflitos etc. vividos pela personagem.

 O homem e sua interação lingüística com o mundo Universidade Anhembi Morumbi


A interação humana com o mundo constrói-se, o tempo todo, com formas de
representação. Esse processo se dá, em última instância, por meio da combinação de
elementos denominados signos.

Para Peirce, “(...) Um signo ou representâmen é algo que, sob certo aspecto ou de algum
modo, representa alguma coisa para alguém. (...) O signo representa alguma coisa, seu
objeto. Coloca-se no lugar desse objeto, não sob todos os aspectos, mas com referência
a um tipo de idéia que tenho, por vezes denominado o fundamento do representâmen”.

Já para Hjelmslev, “(...) um ‘signo’ é, de início e acima de tudo, signo de alguma outra
coisa, particularidade que nos interessa desde logo, pois parece indicar que um ‘signo’
define-se por uma função. Um ‘signo’ funciona, designa, significa. Opondo-se a um
não-signo, um ‘signo’ é portador de uma significação (...)”.

Encontramos uma definição desse conceito bastante ampla em Umberto Eco:


“Propomos, destarte, definir como signo tudo quanto, à base de uma convenção social
previamente aceita, possa ser entendido como ALGO QUE ESTÁ NO LUGAR DE OUTRA
COISA...”.

Apesar de algumas diferenças, podemos dizer que todas essas definições têm em
comum um aspecto: indicam que qualquer coisa que estiver no lugar de uma outra,
representando-a, é um signo.

 O homem e sua interação lingüística com o mundo Universidade Anhembi Morumbi


As diferentes faces do signo

A princípio, quando pensamos nos signos verbais, observamos a arbitrariedade da


relação entre o signo e a coisa que ele representa. Quando falamos ou escrevemos
“casa”, por exemplo, essa representação não guarda nenhuma semelhança com a
“casa” propriamente dita.

Segundo Issac Epstein, essa arbitrariedade da representação do signo verbal constrói-se


em duas faces: “o significado, que é o seu sentido ou valor diferencial, e o significante,
que se manifesta fonicamente”.

Assim, pode-se dizer que a representação operada pelo termo “casa”, com relação ao
objeto, dá-se de forma dupla: temos um significado, uma imagem mental, um sentido
dado a esse signo. O significado também é chamado de “plano de conteúdo”. Temos
também uma representação sonora [kaza], o conjunto de fonemas que formam a pa-
lavra “casa”. Esse conjunto sonoro é o significante, ou “plano de expressão”.

Os signos verbais, portanto, são formados por duas articulações: a do significado (ou
primeira articulação) e a do significante (segunda articulação). As duas funcionam juntas
para construir a representação.

Isso ocorre com qualquer signo verbal na maior parte das línguas. Mas, como nem todo
signo é verbal, nem sempre há essa distância absoluta entre o que é representado e sua
representação.

É importante destacar que o significado de um signo pode variar. Novamente segundo


Epstein “(...) até mesmo quando apontamos e dizemos ‘esta casa’, o significado desta
expressão pode variar. Essas variações são explicadas pelo fato de o referente, em geral,

 O homem e sua interação lingüística com o mundo Universidade Anhembi Morumbi


ter mais de um atributo ou característica. Em contextos diferentes os atributos mais rel-
evantes do referente podem variar em relação aos pontos de vista ou objetivos de quem
fala. O significado de uma palavra depende de quem usa, quando a usa, onde, com
que objetivos, em que circunstâncias e com que sucesso (...)“.

Pensando em signos não-verbais, Charles Peirce fez um amplo estudo, classificando-os


em diversas categorias. Vamos observar três, de acordo com a relação que estabelecem
com o objeto que representam:

1 Ícone

É um tipo de signo que apresenta uma relação de semelhança, em algum aspecto, com
o que representa. São exemplos de ícones: os modelos, os esquemas etc.

2 Índice

É um tipo de signo que apresenta uma relação direta, causal com o que representa. São
exemplos de índices: uma indicação de caminho, um sintoma etc.

3 Símbolo

É um tipo de signo que apresenta uma relação convencional com seu objeto. São exem-
plos de símbolos: a cor vermelha da Coca Cola, símbolos de marcas conhecidas como
Wolksvagen, Mc Donald’s etc.

 O homem e sua interação lingüística com o mundo Universidade Anhembi Morumbi


Combinando os signos

O tempo todo, ao interagirmos com o mundo, estamos usando os mais variados


signos. Eles aparecem combinados, em todas as situações. De acordo com R. Jakobson,
as situações de comunicação podem ser organizadas a partir de seis elementos básicos:

1) Remetente ou emissor: aquele que produz a mensagem. Esse papel é normal-


mente alternado nas situações de comunicação oral, de tal modo que o emissor
passa a ser receptor e vice-versa, em uma constante troca de turnos.

2) Destinatário ou receptor: aquele a quem o emissor dirige sua mensagem. Pode ser
alguém específico, um grupo, um público genérico etc.

3) Mensagem: é o conjunto das informações transmitidas. Podem ser de diversas


naturezas, de acordo com o canal de sua transmissão.

4) Canal: é o meio pelo qual as mensagens circulam: voz, ondas sonoras, excitação
luminosa etc.

5) Contexto: segundo Vanoye, “é constituído pela situação e pelos objetos reais aos
quais a mensagem remete”.

6) Código: constituído por um conjunto de signos e regras de organização.

 O homem e sua interação lingüística com o mundo Universidade Anhembi Morumbi


As funções da linguagem

Em cada situação de comunicação, a combinação sígnica organiza-se de acordo com


certos objetivos. A partir dela, estaremos pondo em funcionamento uma ou mais
funções da linguagem. Para Jakobson, cada função da linguagem está ligada a um dos
elementos da comunicação.

CONTEXTO
(função referencial)

REMETENTE MENSAGEM DESTINATÁRIO


(função emotiva/ (função poética) (função conativa)
expressiva)

CANAL
(função fática)

CÓDIGO
(função metalinguística)

 O homem e sua interação lingüística com o mundo Universidade Anhembi Morumbi


Sintetizando as funções da linguagem, temos:
2.
1 Função Emotiva

Composta por todos os signos que, numa dada situação comunicativa, centram-se no
emissor.

2 Função Conotativa

3. composta por todos os signos que, numa dada situação comunicativa, centram-se no
receptor/destinatário.

3 Função Poética

4. Diferentemente do que se pode imaginar, a função poética não deve ser associada
apenas à poesia. Todo uso de signos que procura ir além apenas do sentido imediato
da mensagem. É quando o signo é empregado de forma sugestiva, despertando o
imaginário do receptor.

4 Função Referencial

Também chamada de denotativa, está ligada ao contexto da situação de comunicação.


Não diz respeito ao “eu” emissor nem ao “você” receptor; associa-se ao “ele” ou “isso”,
qualquer outra pessoa, assunto, acontecimento.
5. - Alô!
- Oi, Antônio, é a Clara, tudo bem? 5 Função Fática
- Tudo bem e você?
Centrada no contato. Composta por signos usados para iniciar, manter ou encerrar
- Não estou ouvindo direito...
uma dada comunicação. Segundo Vanoye, “a função fática manifesta essencialmente a
- É, a ligação parece longe...
necessidade ou desejo de comunicar”.

 O homem e sua interação lingüística com o mundo Universidade Anhembi Morumbi


VOLTA: de volta ou Lat.
*volta < volvere
6 Função Metalinguística

s. f., acto de regressar Centrada no código. Novamente segundo Vanoye, “Tudo o que, numa mensagem, serve
a um lugar de onde se para dar explicações ou precisar o código utilizado pelo destinador (ou emissor) con-
partira; acto de virar cerne a esta função”.
ou de se virar; regresso; mudança; movi-
mento circular; giro; circuito; cada uma
das curvas de uma espiral; feitio curvo
de objecto; mudança de opinião; dis- O que é língua?
posição diversa; aquilo que se dá para
igualar uma troca; curva; sinuosidade; A empresa em que Marco trabalha recebeu uma reclamação por escrito de um cliente,
tira branca de pano de linho ou de apontando uma série de falhas no atendimento. Marco é um dos encarregados em
algodão na parte superior do cabeção responder às reclamações. Seu desafio é: a fala do cliente é procedente, mas é possível
dos padres, dos seminaristas e lentes das explicar que houve uma falha específica naquele atendimento. Como escrever, de modo a
Universidades; tira de pano ou renda garantir a credibilidade?
pendente do pescoço, no uniforme de
certos funcionários. Marco vê-se diante de um problema que todos enfrentam no dia-a-dia da comunicação
oral ou escrita. Ele precisa explicar uma situação para um cliente, justificando o
atendimento que sua empresa prestou naquele momento, sem perder a credibilidade de
seus serviços.

Essa ocorrência mostra que a língua é, antes de mais nada, um lugar de interação entre
sujeitos. Uma interação que se dá, nessa e em muitas outras situações, pela
intermediação de signos verbais, combinados de acordo com as regras do idioma.
Muitas pessoas acreditam que apenas dominar o código da língua, conhecendo as
regras de seus usos padrão, é suficiente para se comunicar bem.

10 O homem e sua interação lingüística com o mundo Universidade Anhembi Morumbi


Essa concepção de língua é definida por Ingedore Koch da seguinte maneira: “Na
concepção de língua como código – portanto, como mero instrumento de
comunicação – e de sujeito como (pre)determinado pelo sistema, o texto é visto como
um simples produto da codificação de um emissor a ser decodificado pelo leitor/ouvinte,
bastando a este, para tanto, o conhecimento do código, já que o texto, uma vez
codificado, é totalmente explícito. Também nessa concepção o papel do “decodificador”
é essencialmente passivo.”

Dominar o código é importante, mas não devemos esquecer que o sentido do que se diz
ou escreve será realmente definido pelo outro, nosso interlocutor/leitor, que não é uma
figura passiva, que está ali apenas esperando o que temos a dizer. Ele tem seus próprios
valores, interesses etc. e, portanto, compreenderá o que dissermos de acordo com seus
critérios.

Importante
Assim, uma língua pode ser definida um código formado por
palavras e leis combinatórias por meio do qual as pessoas
se comunicam e interagem.

11 O homem e sua interação lingüística com o mundo Universidade Anhembi Morumbi


O que é linguagem?

Ao observar as imagens dos desfiles, é possível perceber que há muitas diferenças e


semelhanças. Do ponto de vista dos elementos em comum, vemos que todos, seja de
estilistas nacionais ou estrangeiros, apresentam alguns traços constantes, tais como:

· presença de homens e mulheres com certo padrão de estatura e peso;


· movimentos corporais bastante similares de um modelo para outro;
· o cuidado com a iluminação do espaço;
· atenção à maquiagem, cabelo;
· desfiles com peças de vestuário que variam em cor, tecido, corte, mas com
formatos relativamente estáveis: blusa, sapato, saia, calça, camisa, vestido, meia,
casaco etc.

Na moda, como nas diversas áreas de atividade humana, é possível perceber que há
algumas regras ou padrões que são obedecidos por todos os membros dessa comuni-
dade. Desse modo, nota-se que ela pode ser definida como um sistema de signos so-
cializados.

Sistema porque há regras seguidas por seus membros; sistema de signos, pois cada
elemento de um desfile representa uma forma de interação com o real. Por fim, pode-se
dizer que é um sistema socializado, pois os membros da comunidade (tanto produtores
como espectadores) esperam ver, entre outros, os traços anteriormente citados (presen-
ça de homens e mulheres com certo padrão de estatura, peso etc.).

12 O homem e sua interação lingüística com o mundo Universidade Anhembi Morumbi


Importante
Define-se como linguagem qualquer sistema de signos socializado. Nesse
sentido, podemos falar em linguagem da moda, linguagem do jornalismo,
linguagem televisiva, linguagem cinematográfica, linguagem culinária,
linguagem fotográfica, entre muitas outras.

Nas palavras de Francis Vanoye “A linguagem, segundo definição de Émile Benveniste, é


um sistema de signos socializado”. Socializado “remete claramente à função de
comunicação da linguagem. A expressão ”sistema de signos” é empregada para definir
a linguagem como um conjunto cujos elementos se determinam em suas inter-relações,
ou seja, um conjunto no qual nada significa por si, mas tudo significa em função dos
outros elementos. Em outras palavras, o sentido de um termo, bem como de um
enunciado, é função do contexto em que ele ocorre”.

De acordo com essas definições, é possível perceber que:

- as linguagens são formas de expressão humanas, representando valores de grupos


de uma dada sociedade, que podem variar no tempo, no espaço etc.;

- as línguas (o português, o inglês, o francês etc.) são linguagens; mas, diferente-


mente de outras, apresentam-se de forma exclusivamente verbal;

- as linguagens são lugares de interação humana, pois tanto produtores como inter-
locutores/leitores têm expectativas semelhantes das manifestações de linguagem
nas quais interagem.

13 O homem e sua interação lingüística com o mundo Universidade Anhembi Morumbi


O que é discurso?

Ao passar para a terceira fase de seleção de uma vaga para a empresa X, Marta ouviu
a seguinte instrução: “prepare, para amanhã, uma apresentação oral de quinze minutos,
sobre qualquer tema que você achar oportuno”. Ela foi para casa e ficou pensando no
objetivo daquilo e chegou a conclusão de que seria avaliada por sua capacidade de se
expressar em público, sua desinibição, sua facilidade em falar com clareza, em ser lógica,
em parecer natural, enfim, um turbilhão de idéias tomou conta de sua cabeça. Agora seu
problema era: o que fazer?

Marta, provavelmente, terá muitas idéias para sua apresentação. Cada uma das
situações de comunicação que ela visualizar pode ser denominada de discurso.

Importante
Segundo J. Luiz Fiorin “discurso é um dos patamares da constituição do
significado, em que um enunciador reveste formas mais abstratas com
conteúdos mais concretos”.

14 O homem e sua interação lingüística com o mundo Universidade Anhembi Morumbi


Voltando à situação vivida por Marta, pode-se dizer que ela tem uma questão mais
abstrata (a necessidade de fazer uma apresentação oral) que precisa ser revestida de
uma maneira mais concreta (ela precisa escolher se fará uma breve apresentação de
seu currículo, uma pesquisa sobre a empresa na qual pretende trabalhar e produzir uma
síntese, um comentário sobre alguns assuntos da atualidade etc).

Todas as vezes que alguém, a partir de uma situação dada, concretiza a comunicação,
houve a produção de um discurso. Isso acontece todos os dias, com todas as pessoas.
Assim, pode-se afirmar que, todas as vezes que nos comunicamos, estamos produzindo
discursos.

Para Émile Benveniste, “É preciso entender discurso na sua mais ampla extensão: toda
enunciação que suponha um locutor e um ouvinte e, no primeiro, a intenção de
influenciar, de algum modo, o outro. É em primeiro lugar a diversidade dos discursos
orais de qualquer natureza e de qualquer nível, da conversa trivial à oração mais
ornamentada. E é também a massa dos escritos que reproduzem discursos orais ou que
lhes tomam emprestados a construção e os fins: correspondências, memórias, teatro,
obras didáticas, enfim todos os gêneros nos quais alguém se dirige a alguém, se
enuncia como locutor e organiza aquilo que diz na categoria da pessoa”.

Do que foi dito anteriormente, conclui-se que:

- todo discurso é orientado: ele é produzido para um dado fim; além disso, em
situações de interação oral, por exemplo, ocorre um constante processo de retoma-
das, antecipações, sendo sempre necessário que os interlocutores estejam orien-
tado e reorientado seus discursos;

15 O homem e sua interação lingüística com o mundo Universidade Anhembi Morumbi


- todo discurso é interativo: mesmo que não tenhamos nosso interlocutor em nossa
frente, sempre estamos interagindo com o outro ao produzir nossos discursos, de
forma mais ou menos explícita;

- todo discurso é contextualizado: não é possível imaginar um discurso fora de uma


dada situação comunicativa. Sempre que um discurso se produz, esse processo se
dá em um dado contexto e é impossível separar uma coisa da outra.

O que é estilo?

Estilo
Toma uísque doze anos em copo de requeijão. Come pipoca de palito, melancia com
mostarda, bife com chocolate. Na cama é casca de pão, poeira de biscoito e papelada
de bombom. Na cozinha é mofo no mamão, caco abandonado e cinza na cerveja.
Gordura rebrilha nos telefones. Teclado se esconde no encardido. Junta xadrez com
listras, bolinhas com bolonas, ouro puro e bijuteria de lata.
Perna lanhada, arranhada, mordida, desfila feridas na lavanderia de chinela e
calcinha... O maior fenômeno de falta de estilo na face da terra.
Você não vale nada. Eu te amo.

(BONASSI, Fernando. 100 coisas. São Paulo: Angra, 2000)

16 O homem e sua interação lingüística com o mundo Universidade Anhembi Morumbi


O texto de Fernando Bonassi apresenta muitas pistas sobre o conceito de estilo. Por
algumas marcas lingüísticas, percebe-se que o tema é uma mulher (“desfila feridas na
lavanderia de chinela e calcinha”).

Sobre ela, é dito que “toma uísque doze anos em copo de requeijão”, “que come
pipoca com palito, melancia com mostarda, bife com chocolate”. Em sua cama, restos
de comida; na cozinha, imagens de abandono e por aí o texto segue. Conclui
afirmando que ela é “o maior fenômeno da falta de estilo na face da terra”.

Pelo o que o texto diz, ter estilo é fazer uma combinação de elementos; mas uma
combinação que, diferentemente da mulher descrita, segue princípios ditados
socialmente. Assim, algo considerado “caro” e “sofisticado”, como um uísque doze
anos, não pode ser misturado com “copo de requeijão”, símbolo de algo barato, vulgar,
que é adquirido como “brinde” de uma outra compra.

Todas as misturas feitas no texto caminham nesse sentido. A mulher descrita faz
escolhas combinatórias pouco aceitáveis socialmente (o que é visto pelo narrador do
texto de forma positiva, pois ele a ama justamente por fugir aos padrões) e por isso é
tachada como “sem estilo”.

Importante
Transferindo essas idéias para a comunicação, pode-se afirmar que estilo
é o conjunto das escolhas lingüísticas feitas por um falante, em uma dada
situação comunicativa.

17 O homem e sua interação lingüística com o mundo Universidade Anhembi Morumbi


Ducrot e Todorov definem estilo da seguinte forma: “Definiremos antes o ESTILO como a
escolha que todo texto deve operar entre um certo número de disponibilidades contidas
na língua”.

Quando falamos ou escrevemos, fazemos escolhas de palavras, do modo de orga-


nização da frase etc. O mesmo se dá com qualquer outra manifestação de linguagem:
se um pintor faz um tela, escolhe certas cores, certas formas de pincelar; se um fotó-
grafo vai produzir uma foto, escolhe uma certa iluminação, um certo tipo de lente, uma
posição para o(a) modelo etc.

Essas escolhas, no entanto, seguem princípios estabelecidos pelas linguagens. Assim,


nenhum falante de nossa língua produz uma combinação como “a você feira vai?”. Da
mesma forma, está socialmente convencionado que uma pessoa não pode escolher sair
às ruas apenas com a parte de cima de seu vestuário.

Importante
As escolhas lingüísticas que formam o estilo estão, portanto,
condicionadas a um certo número de possibilidades combinatórias
limitadas pelas linguagens (que, como foi visto anteriormente, são
sistemas socializados de signos).

18 O homem e sua interação lingüística com o mundo Universidade Anhembi Morumbi


Materiais complementares

PITTA, Ana Lucia, PITTA, Suely. Noções de signo. São Paulo: Anhembi Morumbi (docu-
mento em PDF)
PITTA, Ana Lucia, PITTA, Suely. Linguagem, língua, discurso e estilo. São Paulo: Anhembi
Morumbi (documento em PDF)

Bibliografia

BENVENISTE, Émile. Problemas de lingüística geral I. Campinas: Pontes, 1995.


BONASSI, Fernando. 100 coisas. São Paulo: Angra, 2000.
CHARAUDEAU, P., MAINGUENEAU, D. Dicionário de análise do discurso. São Paulo:
Contexto, 2004.
DUCROT, Oswald, TODOROV, Tzvetan. Dicionário enciclopédico das ciências da lingua-
gem. São Paulo: Perspectiva, 2001.
ECO, Umberto. Tratado geral de semiótica. São Paulo: Perspectiva, 2000.
EPSTEIN, Isaac. O signo. São Paulo: Ática, 1997.
FIORIN, José L. Linguagem e ideologia. São Paulo: Ática, 2000.
HJELMSLEV, Louis. Prolegômenos a uma teoria da linguagem. São Paulo: Perspectiva,
2003.
KOCH, Ingedore G. V. Desvendando os segredos do texto. São Paulo: Cortez, 2006.
ORLANDI, Eni. Discurso e leitura. São Paulo: Cortez, 2006.
PEIRCE, Charles. Semiótica. São Paulo: Perspectiva, 1999.
VANOYE, Francis. Usos da linguagem - problemas e técnicas na produção oral e escrita.
São Paulo: Martins Fontes, 1998.

19 O homem e sua interação lingüística com o mundo Universidade Anhembi Morumbi

Você também pode gostar