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com o mundo
Introdução
Os estudos desta unidade apresentam conceitos importantes para vários outros temas
estudados no curso de Comunicação e Expressão (conceitos de signo, ícone, índice,
símbolo, as funções da linguagem).
Estuda ainda outros temas importantes para entendermos melhor as situações de comu-
nicação e pensarmos em como produzir nossos textos e organizar nossa fala (conceito
de linguagem e de estilo, por exemplo).
O que é signo?
Nas três situações destacadas, bem como em qualquer outra situação vivida por um
ser humano, observamos que ocorre uma intermediação entre o mundo e a visão que
temos dele.
3.
A foto mostra não uma moça, mas sua representação. Da mesma forma, o texto da
notícia não apresenta o fato em si, mas uma forma de representá-lo, usando palavras.
Na cena, por sua vez, temos uma série de elementos combinados construindo o sentido
do que vemos: a música, as palavras, os gestos, entre outros elementos, representam os
pensamentos, sentimentos, conflitos etc. vividos pela personagem.
Para Peirce, “(...) Um signo ou representâmen é algo que, sob certo aspecto ou de algum
modo, representa alguma coisa para alguém. (...) O signo representa alguma coisa, seu
objeto. Coloca-se no lugar desse objeto, não sob todos os aspectos, mas com referência
a um tipo de idéia que tenho, por vezes denominado o fundamento do representâmen”.
Já para Hjelmslev, “(...) um ‘signo’ é, de início e acima de tudo, signo de alguma outra
coisa, particularidade que nos interessa desde logo, pois parece indicar que um ‘signo’
define-se por uma função. Um ‘signo’ funciona, designa, significa. Opondo-se a um
não-signo, um ‘signo’ é portador de uma significação (...)”.
Apesar de algumas diferenças, podemos dizer que todas essas definições têm em
comum um aspecto: indicam que qualquer coisa que estiver no lugar de uma outra,
representando-a, é um signo.
Assim, pode-se dizer que a representação operada pelo termo “casa”, com relação ao
objeto, dá-se de forma dupla: temos um significado, uma imagem mental, um sentido
dado a esse signo. O significado também é chamado de “plano de conteúdo”. Temos
também uma representação sonora [kaza], o conjunto de fonemas que formam a pa-
lavra “casa”. Esse conjunto sonoro é o significante, ou “plano de expressão”.
Os signos verbais, portanto, são formados por duas articulações: a do significado (ou
primeira articulação) e a do significante (segunda articulação). As duas funcionam juntas
para construir a representação.
Isso ocorre com qualquer signo verbal na maior parte das línguas. Mas, como nem todo
signo é verbal, nem sempre há essa distância absoluta entre o que é representado e sua
representação.
1 Ícone
É um tipo de signo que apresenta uma relação de semelhança, em algum aspecto, com
o que representa. São exemplos de ícones: os modelos, os esquemas etc.
2 Índice
É um tipo de signo que apresenta uma relação direta, causal com o que representa. São
exemplos de índices: uma indicação de caminho, um sintoma etc.
3 Símbolo
É um tipo de signo que apresenta uma relação convencional com seu objeto. São exem-
plos de símbolos: a cor vermelha da Coca Cola, símbolos de marcas conhecidas como
Wolksvagen, Mc Donald’s etc.
2) Destinatário ou receptor: aquele a quem o emissor dirige sua mensagem. Pode ser
alguém específico, um grupo, um público genérico etc.
4) Canal: é o meio pelo qual as mensagens circulam: voz, ondas sonoras, excitação
luminosa etc.
5) Contexto: segundo Vanoye, “é constituído pela situação e pelos objetos reais aos
quais a mensagem remete”.
CONTEXTO
(função referencial)
CANAL
(função fática)
CÓDIGO
(função metalinguística)
Composta por todos os signos que, numa dada situação comunicativa, centram-se no
emissor.
2 Função Conotativa
3. composta por todos os signos que, numa dada situação comunicativa, centram-se no
receptor/destinatário.
3 Função Poética
4. Diferentemente do que se pode imaginar, a função poética não deve ser associada
apenas à poesia. Todo uso de signos que procura ir além apenas do sentido imediato
da mensagem. É quando o signo é empregado de forma sugestiva, despertando o
imaginário do receptor.
4 Função Referencial
s. f., acto de regressar Centrada no código. Novamente segundo Vanoye, “Tudo o que, numa mensagem, serve
a um lugar de onde se para dar explicações ou precisar o código utilizado pelo destinador (ou emissor) con-
partira; acto de virar cerne a esta função”.
ou de se virar; regresso; mudança; movi-
mento circular; giro; circuito; cada uma
das curvas de uma espiral; feitio curvo
de objecto; mudança de opinião; dis- O que é língua?
posição diversa; aquilo que se dá para
igualar uma troca; curva; sinuosidade; A empresa em que Marco trabalha recebeu uma reclamação por escrito de um cliente,
tira branca de pano de linho ou de apontando uma série de falhas no atendimento. Marco é um dos encarregados em
algodão na parte superior do cabeção responder às reclamações. Seu desafio é: a fala do cliente é procedente, mas é possível
dos padres, dos seminaristas e lentes das explicar que houve uma falha específica naquele atendimento. Como escrever, de modo a
Universidades; tira de pano ou renda garantir a credibilidade?
pendente do pescoço, no uniforme de
certos funcionários. Marco vê-se diante de um problema que todos enfrentam no dia-a-dia da comunicação
oral ou escrita. Ele precisa explicar uma situação para um cliente, justificando o
atendimento que sua empresa prestou naquele momento, sem perder a credibilidade de
seus serviços.
Essa ocorrência mostra que a língua é, antes de mais nada, um lugar de interação entre
sujeitos. Uma interação que se dá, nessa e em muitas outras situações, pela
intermediação de signos verbais, combinados de acordo com as regras do idioma.
Muitas pessoas acreditam que apenas dominar o código da língua, conhecendo as
regras de seus usos padrão, é suficiente para se comunicar bem.
Dominar o código é importante, mas não devemos esquecer que o sentido do que se diz
ou escreve será realmente definido pelo outro, nosso interlocutor/leitor, que não é uma
figura passiva, que está ali apenas esperando o que temos a dizer. Ele tem seus próprios
valores, interesses etc. e, portanto, compreenderá o que dissermos de acordo com seus
critérios.
Importante
Assim, uma língua pode ser definida um código formado por
palavras e leis combinatórias por meio do qual as pessoas
se comunicam e interagem.
Na moda, como nas diversas áreas de atividade humana, é possível perceber que há
algumas regras ou padrões que são obedecidos por todos os membros dessa comuni-
dade. Desse modo, nota-se que ela pode ser definida como um sistema de signos so-
cializados.
Sistema porque há regras seguidas por seus membros; sistema de signos, pois cada
elemento de um desfile representa uma forma de interação com o real. Por fim, pode-se
dizer que é um sistema socializado, pois os membros da comunidade (tanto produtores
como espectadores) esperam ver, entre outros, os traços anteriormente citados (presen-
ça de homens e mulheres com certo padrão de estatura, peso etc.).
- as linguagens são lugares de interação humana, pois tanto produtores como inter-
locutores/leitores têm expectativas semelhantes das manifestações de linguagem
nas quais interagem.
Ao passar para a terceira fase de seleção de uma vaga para a empresa X, Marta ouviu
a seguinte instrução: “prepare, para amanhã, uma apresentação oral de quinze minutos,
sobre qualquer tema que você achar oportuno”. Ela foi para casa e ficou pensando no
objetivo daquilo e chegou a conclusão de que seria avaliada por sua capacidade de se
expressar em público, sua desinibição, sua facilidade em falar com clareza, em ser lógica,
em parecer natural, enfim, um turbilhão de idéias tomou conta de sua cabeça. Agora seu
problema era: o que fazer?
Marta, provavelmente, terá muitas idéias para sua apresentação. Cada uma das
situações de comunicação que ela visualizar pode ser denominada de discurso.
Importante
Segundo J. Luiz Fiorin “discurso é um dos patamares da constituição do
significado, em que um enunciador reveste formas mais abstratas com
conteúdos mais concretos”.
Todas as vezes que alguém, a partir de uma situação dada, concretiza a comunicação,
houve a produção de um discurso. Isso acontece todos os dias, com todas as pessoas.
Assim, pode-se afirmar que, todas as vezes que nos comunicamos, estamos produzindo
discursos.
Para Émile Benveniste, “É preciso entender discurso na sua mais ampla extensão: toda
enunciação que suponha um locutor e um ouvinte e, no primeiro, a intenção de
influenciar, de algum modo, o outro. É em primeiro lugar a diversidade dos discursos
orais de qualquer natureza e de qualquer nível, da conversa trivial à oração mais
ornamentada. E é também a massa dos escritos que reproduzem discursos orais ou que
lhes tomam emprestados a construção e os fins: correspondências, memórias, teatro,
obras didáticas, enfim todos os gêneros nos quais alguém se dirige a alguém, se
enuncia como locutor e organiza aquilo que diz na categoria da pessoa”.
- todo discurso é orientado: ele é produzido para um dado fim; além disso, em
situações de interação oral, por exemplo, ocorre um constante processo de retoma-
das, antecipações, sendo sempre necessário que os interlocutores estejam orien-
tado e reorientado seus discursos;
O que é estilo?
Estilo
Toma uísque doze anos em copo de requeijão. Come pipoca de palito, melancia com
mostarda, bife com chocolate. Na cama é casca de pão, poeira de biscoito e papelada
de bombom. Na cozinha é mofo no mamão, caco abandonado e cinza na cerveja.
Gordura rebrilha nos telefones. Teclado se esconde no encardido. Junta xadrez com
listras, bolinhas com bolonas, ouro puro e bijuteria de lata.
Perna lanhada, arranhada, mordida, desfila feridas na lavanderia de chinela e
calcinha... O maior fenômeno de falta de estilo na face da terra.
Você não vale nada. Eu te amo.
Sobre ela, é dito que “toma uísque doze anos em copo de requeijão”, “que come
pipoca com palito, melancia com mostarda, bife com chocolate”. Em sua cama, restos
de comida; na cozinha, imagens de abandono e por aí o texto segue. Conclui
afirmando que ela é “o maior fenômeno da falta de estilo na face da terra”.
Pelo o que o texto diz, ter estilo é fazer uma combinação de elementos; mas uma
combinação que, diferentemente da mulher descrita, segue princípios ditados
socialmente. Assim, algo considerado “caro” e “sofisticado”, como um uísque doze
anos, não pode ser misturado com “copo de requeijão”, símbolo de algo barato, vulgar,
que é adquirido como “brinde” de uma outra compra.
Todas as misturas feitas no texto caminham nesse sentido. A mulher descrita faz
escolhas combinatórias pouco aceitáveis socialmente (o que é visto pelo narrador do
texto de forma positiva, pois ele a ama justamente por fugir aos padrões) e por isso é
tachada como “sem estilo”.
Importante
Transferindo essas idéias para a comunicação, pode-se afirmar que estilo
é o conjunto das escolhas lingüísticas feitas por um falante, em uma dada
situação comunicativa.
Importante
As escolhas lingüísticas que formam o estilo estão, portanto,
condicionadas a um certo número de possibilidades combinatórias
limitadas pelas linguagens (que, como foi visto anteriormente, são
sistemas socializados de signos).
PITTA, Ana Lucia, PITTA, Suely. Noções de signo. São Paulo: Anhembi Morumbi (docu-
mento em PDF)
PITTA, Ana Lucia, PITTA, Suely. Linguagem, língua, discurso e estilo. São Paulo: Anhembi
Morumbi (documento em PDF)
Bibliografia