OBJETIVO: Analisar os avanços na Norma Brasileira de Comercialização de
Alimentos para Lactentes no período de 1988 a 2002, comparando seus diferentes
textos entre si e com o Código Internacional de Comercialização de Substitutos do
Leite Materno.
MÉTODOS: Trata-se de um estudo descritivo, cujos dados foram obtidos em
documentos, relatórios, portarias e resoluções do Ministério da Saúde. As versões
utilizadas na comparação foram a de 1992 e a de 2002.
Título original
Avanços na norma brasileira de comercialização de alimentos para idade infantil
OBJETIVO: Analisar os avanços na Norma Brasileira de Comercialização de
Alimentos para Lactentes no período de 1988 a 2002, comparando seus diferentes
textos entre si e com o Código Internacional de Comercialização de Substitutos do
Leite Materno.
MÉTODOS: Trata-se de um estudo descritivo, cujos dados foram obtidos em
documentos, relatórios, portarias e resoluções do Ministério da Saúde. As versões
utilizadas na comparação foram a de 1992 e a de 2002.
OBJETIVO: Analisar os avanços na Norma Brasileira de Comercialização de
Alimentos para Lactentes no período de 1988 a 2002, comparando seus diferentes
textos entre si e com o Código Internacional de Comercialização de Substitutos do
Leite Materno.
MÉTODOS: Trata-se de um estudo descritivo, cujos dados foram obtidos em
documentos, relatórios, portarias e resoluções do Ministério da Saúde. As versões
utilizadas na comparação foram a de 1992 e a de 2002.
de comercializao de alimentos para idade infantil Advances in the Brazilian norm for commercialization of infant foods RESUMO OBJ ETIVO: Analisar os avanos na Norma Brasileira de Comercializao de Alimentos para Lactentes no perodo de 1988 a 2002, comparando seus diferentes textos entre si e com o Cdigo Internacional de Comercializao de Substitutos do Leite Materno. MTODOS: Trata-se de um estudo descritivo, cujos dados foram obtidos em documentos, relatrios, portarias e resolues do Ministrio da Sade. As verses utilizadas na comparao foram a de 1992 e a de 2002. RESULTADOS: A anlise comparativa permitiu identificar importantes avanos na legislao. Em 1992, foram includos os leites fludos, em p, as chupetas e frases de advertncia na propaganda e na rotulagem dos produtos. Em 2002, a regulamentao dos produtos foi publicada pela Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria, fortalecendo a ao de fiscalizao e incluindo a regulamentao dos alimentos para crianas de primeira infncia, frmulas de nutrientes indicadas para recm-nascido de alto risco e protetores de mamilo. As frases utilizadas na promoo comercial e na rotulagem dos produtos, inclusive de chupetas e mamadeiras, passaram a ser de advertncia do Ministrio da Sade. A rotulagem foi definida para cada tipo de produto, baseada em regras mais restritas. CONCLUSES: Foram identificadas importantes modificaes no controle do marketing dos produtos dirigidos me no perodo de lactao. No entanto, ainda h questes legislativas que possibilitariam o aprimoramento da norma brasileira, visando proteo do aleitamento materno. necessrio tambm que o governo implante rotinas de monitoramento sistemtico de fiscalizao dessa legislao. DESCRITORES: Legislao sobre alimentos. Aleitamento materno. Desmame. Alimentao artificial, normas. Alimentos infantis, normas. Frmulas infantis, legislao e jurisprudncia. Chupetas, normas. ABSTRACT OBJ ECTIVE: To assess the advances in the Brazilian norm for commercialization of infant foods from 1988 to 2002, comparing the different texts with each other and with the International Code of Marketing of Breast-Milk Substitutes. METHODS: This was a descriptive study based on data collected from documents, reports, ordinances and resolutions from the Brazilian Ministry of Health. The versions utilized in the comparison were from 1992 and 2002. RESULTS: Comparative analysis made it possible to identify important advances in the legislation. In 1992, liquid and powdered milk were included in the scope, along Maria de Ftima Moura de Arajo I Marina Ferreira Rea II Karina Arago Pinheiro III Bethsida de Abreu Soares Schmitz III I Escola Superior de Cincias da Sade. Fundao de Ensino e Pesquisa em Cincias da Sade. Braslia, DF, Brasil II Instituto de Sade. Secretaria de Estado de Sade de So Paulo. So Paulo, SP, Brasil III Departamento de Nutrio. Universidade de Braslia. Braslia, DF, Brasil Correspondncia | Correspondence: Maria de Ftima Moura de Arajo SQN 215 Bloco J apto. 205 70874-100 Braslia, DF, Brasil E-mail: mfmaraujo@terra.com.br Recebido: 18/2/2005 Revisado: 8/12/2005 Aprovado: 6/2/2006 Artigo Especial | Special Article 514 Rev Sade Pblica 2006;40(3):513-20 Comercializao de alimentos para lactentes Arajo MFM et al with teats and dummies (pacifiers), and also warning phrases in advertising and on product labeling. In 2002, regulations for products were published by the National Agency for Sanitary Surveillance, thereby strengthening supervisory actions and including regulations for baby foods, nutrient formulae for high-risk newborns, and nipple protectors. The phrases used in commercial advertising and on product labeling, including dummies, teats and bottles, became Ministry of Health warnings. The labeling was defined according to product types, on the basis of more restrictive rules. CONCLUSIONS: Significant modifications in the control over the marketing of products aimed at mothers during the lactation period. However, there are still some legislative questions that would make it possible to improve the Brazilian norm, in order to protect breastfeeding. There is also a need for the government to implement systematic monitoring routines to supervise this legislation. KEYWORDS: Legislation, food. Breastfeeding. Weaning. Bottle feeding, standards. Infant food, standards. Infant formula, legislation & jurisprudence. Teats, standards. INTRODUO A Organizao Mundial de Sade (OMS) e o Fundo das Naes Unidas para a Infncia (UNICEF) h mui- to reconhecem que o leite materno exclusivo o alimento ideal para o crescimento e o desenvolvi- mento infantis, especialmente nos primeiros seis meses de vida. Entretanto, seja por influncia de fatores externos ou por caractersticas da prpria mulher, muitas mes tm introduzido novos produ- tos para os bebs antes do tempo recomendado. O risco de morte por pneumonia e por diarria de, respectivamente, cinco e sete vezes maior em bebs no amamentados nos primeiros cinco meses de vida, nos pases subdesenvolvidos. 4 Alm disso, a Acade- mia Americana de Pediatria afirma que amamentar tem o potencial de reduzir custos anuais em cuida- dos de sade de cerca de US$3,6 bilhes de dlares s nos Estados Unidos. 2 A amamentao impor- tante tambm na preveno da obesidade. 5 Entre as diversas causas do abandono do aleitamento materno, est a influncia da propaganda de frmu- las infantis e leite integral utilizado em frmulas ca- seiras, alimentos complementares e cereais para a ali- mentao infantil, veiculados habitualmente por mamadeiras. 9 J elliffe, 6 preocupado com o uso preco- ce da alimentao por mamadeira, criou o termo des- nutrio comerciognica, para descrever a influn- cia marcante da indstria na sade infantil. A influncia do marketing utilizado pelas indstrias sobre as prticas de alimentao infantil e suas con- seqncias sobre o desmame precoce, a desnutrio e a mortalidade infantil preocuparam a OMS e o UNICEF. Em conseqncia disso, realizaram a Reu- nio Conjunta sobre Alimentao do Lactente e Cri- anas Pequenas em Genebra, 1979.* Ao final da reu- nio, foi recomendada a criao de um conjunto de normas, fundamentadas em princpios ticos, para nortear a promoo comercial de substitutos do leite materno. A partir de ento, o Cdigo Internacional de Comercializao de Substitutos do Leite Materno foi desenvolvido e aprovado em 1981 pela Assemblia Mundial de Sade (AMS). 15 O objetivo principal do Cdigo Internacional con- tribuir para o fornecimento de nutrio segura e ade- quada aos lactentes, por meio da proteo e promo- o da amamentao e da regulao da promoo comercial dos substitutos do leite materno. O Cdi- go aplica-se aos substitutos do leite materno, sejam frmulas, leites ou alimentos complementares, a ma- madeiras e bicos. 15 At 2005, 64 pases haviam adotado medidas para a implementao do Cdigo Internacional. Dentre eles o Brasil, que adotou uma Norma, em 1988, abrangen- do praticamente todas as disposies do Cdigo.** Entretanto, existem ainda pelo menos 10 pases onde nenhuma medida foi tomada, alm de muitos outros onde o Cdigo voluntrio ou inclui parcialmente as medidas. 13 Dados de estudo realizado nas capitais brasileiras e no Distrito Federal, em 1999 mostraram ndice de *OMS; Unicef. Reunio conjunta OMS/Unicef sobre a alimentao de lactentes e crianas pequenas: declarao e recomendaes. Genebra; 1979. **Ministrio da Sade. Resoluo CNS n o 5 de 20 de dezembro de 1988 do Conselho Nacional da Sade: normas para comercializao de alimentos para lactentes. Dirio Oficial da Unio, Braslia (DF), 23 dez 1988. 515 Rev Sade Pblica 2006;40(3):513-20 Comercializao de alimentos para lactentes Arajo MFM et al aleitamento materno exclusivo nos seis primeiros meses inferior a 10%,* quando o recomendvel cerca de 100%. 7 O uso de mamadeira muito amplo no Brasil, com freqncia de 62,8% em menores de um ano, 3 revelando a necessidade de estimular a ama- mentao no Pas. Por outro lado, nesse mesmo es- tudo, observou-se que 52,9% das crianas menores de um ano faziam uso de chupeta. 3 Na poca de sua realizao (1981) no era clara a importncia do uso de chupeta como causador de confuso de bicos e colaborando para o desmame precoce. 14 Assim, nos anos 90, que foi inserida a normatizao da propa- ganda de chupetas nos Cdigos nacionais apenas em regulamentaes. A Norma para Comercializao de Alimentos para Lactentes (NCAL - primeiro texto), publicada como Resoluo do Conselho Nacional de Sade (CNS) n 5 de 20 de dezembro de 1988, foi elaborada por vrios parceiros, entre os quais a Sociedade de Pe- diatria e Associao Brasileira de Alimentos Infan- tis (ABIA). Em 1990, o Programa Nacional de Incentivo ao Aleitamento Materno (PNIAM)/Ministrio da Sa- de, com o apoio da International Baby Food Action Network (IBFAN) e participao da ABIA, realizou cinco treinamentos para profissionais de sade so- bre a Norma, nas diversas regies do Pas, os quais evidenciaram, na ocasio, dificuldades na inter- pretao do texto da NCAL. Assim, realizou-se um seminrio nacional, onde foi possvel discutir e encaminhar propostas de modificaes na NCAL. Essas propostas de alteraes foram aprovadas como a Norma Brasileira para Comercializao de Alimentos para Lactentes (NBCAL - segundo tex- to), publicada como Resoluo CNS n 31, de 12 de outubro de 1992.** Em 1999 e 2000 a rea de Aleitamento Materno do Ministrio da Sade (MS), em parceria com a Rede IBFAN, Ministrio Pblico, Promotoria de Defesa do Consumidor (PROCON) e as Vigilncias Sanitrias Estaduais, realizou cursos de capacitao sobre a NBCAL em oito capitais brasileiras, acompanhados de um monitoramento sobre sua fiscalizao. Os re- sultados apontaram infraes graves em relao a alimentos infantis, chupetas, bicos e mamadeiras. 8 Este fato desencadeou uma reflexo sobre as incon- sistncias e dificuldades de implementao desse segundo texto da Norma brasileira e assim novo pro- cesso de reviso da NBCAL foi iniciado, com a for- mao de um grupo de trabalho. O conjunto da Portaria MS 2.051, de 8 de novembro de 2001 e das Resolues ANVISA - RDC 221 e 222, de 5 de agosto de 2002, constituem hoje a Norma Brasileira de Comercializao de Alimentos para Lactentes e Crianas de Primeira Infncia, Bicos, Chupetas e Mamadeiras.*** , **** O objetivo do presente trabalho foi analisar e compa- rar as mudanas nos textos das normas elaboradas para produtos que substituem a amamentao, bus- cando-se justificativas para suas modificaes e pers- pectivas de melhoria no controle da propaganda des- ses produtos. MTODOS Trata-se de um estudo descritivo onde foram coleta- das informaes a respeito do processo de elabora- o e normatizao dos textos referentes s verses da NBCAL, comparando-os entre si. A histria de criao da norma brasileira foi resgata- da por meio de documentos e relatrios do PNIAM,***** sobre o perodo de 1981 a 1992, e da rea de Aleitamento Materno/MS, sobre o perodo de 1998 a 2003. As informaes sobre as mudanas ocorridas na le- gislao brasileira de comercializao de alimentos para lactentes no perodo de 1988 a 2002 foram obti- das por meio da anlise dos artigos da Norma para Comercializao de Alimentos para Lactentes (NCAL), publicadas em 1988; NBCAL, de 1992 e do conjunto da Portaria MS 2.051 de 15 de novembro de 2001e das Resolues RDC ANVISA n 221 e 222, de 5 de agosto de 2002. O processo de reviso da NBCAL teve a participao de diversos segmentos da sociedade, a saber: MS (Sa- de da Criana e Aleitamento Materno, Nutrio, Agn- cia Nacional de Vigilncia Sanitria - Anvisa), Minis- trio da Agricultura, Ministrio Pblico, Assessoria Parlamentar do Senado Federal, IBFAN, UNICEF, Or- ganizao Pan-Americana de Sade (OPS), SBP, ABIA, Associao Brasileira de Produtos de Puericultura (APRAPUR) que congrega companhias de mama- *Ministrio da Sade. Pesquisa de prevalncia do aleitamento materno nas capitais e no Distrito Federal: relatrio. Braslia (DF); 2001. **Ministrio da Sade. Resoluo CNS n o 31/1992 do Conselho Nacional da Sade: norma brasileira para comercializao de alimentos para lactentes. Dirio Oficial da Unio, Braslia (DF), 12 nov 1993. ***Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria. Resoluo RDC n o 221 de 5 de agosto de 2002. Dirio Oficial da Unio, Braslia (DF), 6 ago 2002. ****Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria. Resoluo RDC n o 222 de 5 de agosto de 2002. Dirio Oficial da Unio, Braslia (DF), 6 ago 2002. *****Ministrio da Sade. Programa de Incentivo ao Aleitamento Materno. Braslia (DF): Instituto de Alimentao e Nutrio; 1991. 516 Rev Sade Pblica 2006;40(3):513-20 Comercializao de alimentos para lactentes Arajo MFM et al deiras e chupetas, entre outros produtos, e o Instituto Nacional de Metrologia, Normalizao e Qualidade Industrial (INMETRO). RESULTADOS Dos 10 pontos abordados no texto publicado em 1988, seis foram modificados em 1992. As questes ligadas aos objetivos, definies, educao e infor- mao ao pblico e aos profissionais e pessoal de sade mantiveram-se iguais na NBCAL/1992. Na ltima reviso (2001/2002), todos os pontos da nor- ma sofreram alteraes importantes. Os avanos ob- tidos na legislao brasileira, durante essas duas re- vises, foram: NBCAL (1992) A NBCAL avanou nos seguintes pontos em relao a NCAL: 1) Abrangncia: incluso dos leites em p, leite pas- teurizado e leite esterilizado (inciso II); as chupe- tas e copos fechados com canudinhos ou bicos (inciso IV). 2) Promoo comercial: incluso de frase obriga- tria para os produtos descritos no inciso II, des- tacando que eles no devem ser utilizados na alimentao do lactente nos primeiros seis me- ses de vida, salvo sob orientao de mdico ou nutricionista; foi vedada a promoo comercial de chupetas. 3) Rotulagem: exigncia da obrigatoriedade do uso de embalagens e/ou rtulos em mamadeiras, bi- cos ou chupetas, e definida a mensagem a ser inserida nos rtulos destes produtos. 4) Qualidade: estabelecimento de regra de qualida- de para chupetas 5) Amostras: os fabricantes podero fornecer amos- tras somente dos produtos abrangidos pela norma a mdicos e nutricionistas. 6) Implementao: previso da aplicao das dispo- sies do Cdigo de Defesa do Consumidor, Lei n 8.078, de 11 de setembro de 1990.* Norma Brasileira de Comercializao de: alimentos para lactentes e crianas de primeira infncia, bicos, chupetas e mamadeiras (2001/2002) Esta Norma avanou, em relao a NBCAL/1992, nos seguintes pontos: 1) Objetivos: incluso da proteo do aleitamento materno exclusivo at os seis meses e continuado at os dois anos ou mais; e a regulamentao da promoo comercial dos alimentos para crianas de primeira infncia (definida como crianas de um a trs anos de idade). 2) Abrangncia: incluso da frmula infantil de se- guimento para crianas de primeira infncia, ali- mentos de transio para crianas de primeira in- fncia, frmulas de nutrientes (FN - os chamados fortificantes do leite humano) apresentadas ou indicadas para recm-nascido (RN) de alto risco e os protetores de mamilo. 3) Definies: incluso das definies de termos utilizados em textos de outros artigos da norma, como por exemplo: apresentao especial, desta- que, exposio especial, promoo comercial. 4) Promoo comercial: definio de frases obriga- trias, precedidas das palavras: O Ministrio da Sade adverte. Essas advertncias passaram a ser feitas com destaque, especficas de acordo com o produto, durante a promoo comercial de leites fludos, em p, de diversas espcies animais ou os de origem vegetal, e para os alimentos de transi- o. Foi vedada a promoo comercial de fortifi- cante de leite humano para RN de alto risco e de protetores de mamilo. 5) Qualidade: padronizao dos limites de nitrosa- minas para mamadeiras, bicos, e chupetas, con- forme os estabelecidos internacionalmente. 6) Rotulagem: Foram includas regras de rotulagem e frases de advertncia especficas para frmu- las infantis de seguimento (FIS) para crianas de primeira infncia, frmulas de nutrientes in- dicadas para RN de alto risco e protetores de mamilo. Ficou vedado, nos rtulos de FIS para crianas de primeira infncia, leite fludo, em p integral e alimentos de transio, as fotos ou imagens de lactentes e de crianas de primeira infncia. Para os rtulos de mamadeiras, bicos, chupetas e protetores de mamilo foram vedadas as fotos ou imagens de crianas. Para os ali- mentos de transio, foi exigida, no painel prin- cipal, a idade a partir da qual o alimento poder ser utilizado. 7) Material educativo e tcnico-cientfico: esta- belecimento de regras para a produo de ma- terial educativo sobre crianas de primeira in- fncia, mamadeiras, bicos, chupetas e proteto- res de mamilo. Proibio da produo ou patro- cnio de materiais educativos e tcnico-cient- ficos pelos fornecedores e distribuidores des- ses produtos. 8) Amostras e doaes: amostra foi definida como fornecimento gratuito de uma unidade de produ- to, no perodo de lanamento. Vedada a distribui- o de amostras de suplementos nutricionais para RN de alto risco, mamadeiras, bicos, chupetas e protetores de mamilo; definido o perodo de lan- *Lei n o 8.078 de 11 de setembro de 1990: Cdigo de Defesa do Consumidor. Dirio Oficial da Unio, Braslia (DF), 12 set 1990. 517 Rev Sade Pblica 2006;40(3):513-20 Comercializao de alimentos para lactentes Arajo MFM et al amento do produto em 18 meses; vedada a dis- tribuio de amostra no relanamento ou mudan- a de marca do produto. 9) Sistema de sade e instituies de ensino e pes- quisa: entidades contempladas com auxlio pes- quisa devem divulgar o nome da empresa envol- vida no auxlio em todo o material produzido. 10)Competncias e implementao: as normatiza- es de alimentos infantis para lactentes, crian- as de primeira infncia, de bicos, chupetas, ma- madeiras e de protetores de mamilo passaram a ser Resolues da Anvisa, cabendo a esta a ado- o das aes sanitrias aplicveis aos infrato- res. Os aspectos da Norma relacionados aos pro- fissionais e sistema de sade passaram a ser de competncia do MS, conforme indicado na Por- taria 2052 do Ministro. DISCUSSO De acordo com reviso de literatura, o presente traba- lho o primeiro desta natureza. O objetivo das normas se manteve, mas o texto da primeira verso, com base no modelo do Cdigo de 1981, restringia-se a proteger o lactente, ento definido como criana de 0 a 12 meses. Aplica- va-se aos leites infantis usados como substitutos do leite materno, alimentos base de leite e ali- mentos complementares, mamadeiras e bicos. So- mente anos mais tarde verificou-se a proteo ao aleitamento materno por dois anos ou mais como recomendao. Em 1985, uma Consulta Tcnica realizada pela OMS indicou baixo nmero de lactentes que ne- cessitam de substitutos do leite materno, por ra- zes fisiolgicas ou socioeconmicas, e apontou como desnecessria e potencialmente perigosa a disponibilizao desses produtos, especialmente em maternidades.* Assim como o Cdigo Internacional, o primeiro tex- to da Norma proibia a promoo comercial dos lei- tes infantis, mamadeiras e bicos. Em relao aos ali- mentos complementares, a Norma exigia uma frase de advertncia sobre a no utilizao desses produ- tos nos primeiros seis meses de vida, salvo sob ori- entao dos servios de sade, possibilitando qual- quer profissional de sade a orientar sobre a intro- duo dos alimentos de transio. Isso preocupante j que em So Paulo, entre pediatras entrevistados sobre alimentos infantis, observou-se que o materi- al informativo e promocional entregue pelos repre- sentantes de companhias constituam a principal fonte de informao. 10 Em estudo realizado nos EUA, Lawrence 8 mostrou que mais de 80% dos pediatras e mdicos de famlias recomendavam a administra- o de lquidos suplementares para crianas ama- mentadas, evidenciando a falta de conhecimento dos profissionais de sade sobre a prtica do aleitamen- to materno. Na rotulagem dos produtos de sua abrangncia, a NCAL vedava a utilizao de fotos ou imagens de crianas. Os fabricantes no podiam fornecer amos- tras dos produtos abrangidos pela Norma a profissi- onais e/ou pessoal de sade, exceto na poca do lanamento, ou com pedido formal do profissional ou da instituio quando da realizao de pesquisa. Em que pese j haver sido publicada a Resoluo da AMS de 1986, baseada na Consulta Tcnica anterior- mente referida, a norma permitia doaes de frmu- las a maternidades, conforme orientaes da autori- dade sanitria local. A discusso sobre doaes decorreu da Resoluo do Conselho Executivo do Unicef que, em 1991, lanou o Hospital Amigo da Criana, cujos objetivos inclu- am a necessidade de advertir os fabricantes e distri- buidores de substitutos do leite materno a acabar com as doaes desses produtos para maternidades.** A primeira Norma brasileira foi sancionada num mo- mento de transio poltica, por isso, em 1989 os trabalhos restringiram-se sua divulgao.
Mostrou- se um documento pouco claro, com abrangncia li- mitada, de difcil compreenso, permitindo vrias interpretaes de alguns de seus artigos. A falta de envolvimento de companhias de bicos e mamadei- ras em sua elaborao, impediu o processo educati- vo havido com os produtores de alimentos infantis, o que levou os fabricantes daqueles produtos a ig- norarem o cumprimento da legislao por muitos anos no Pas. J o texto publicado como Resoluo em 1992 avan- ou em alguns pontos. Melhorias sobretudo na abrangncia, ao incluir os leites em p, pasteuriza- do e esterilizado, muito utilizados na alimentao de crianas menores de um ano de idade como subs- titutos do leite materno.
Tambm foram includas as chupetas e bicos, que interferem negativamente no aprendizado da tcnica correta de suco, prejudi- cando a produo do leite e favorecendo o desma- me precoce. 14 *WHO. Report of a joint WHO/UNICEF consultation concerning Infant who have to be fed on breastmilk substitutes. Geneva: WHO; 1986. (WHO/MCH/NUT/86.1). **Unicef. Resoluo n o 1991/22 do Conselho Executivo do Unicef. Nova Iorque; 1991. 518 Rev Sade Pblica 2006;40(3):513-20 Comercializao de alimentos para lactentes Arajo MFM et al No tocante promoo comercial e rotulagem, o texto de 1992 definiu frases obrigatrias para os leites fludos e em p, para os leites infantis modifi- cados e alimentos complementares. No entanto, este segundo texto regrediu em relao ao primeiro ao permitir a utilizao de fotos ou imagens de bebs no rtulo, enquanto a legislao anterior vedava as imagens de crianas e bebs. As atraes visuais dos rtulos, prprias das tcnicas de propaganda podem sugerir a utilizao do produto para crianas peque- nas (de 1 a 3 anos), prejudicando o estmulo ao alei- tamento materno continuado nesta faixa etria. A Resoluo de 1992 tambm apresentou um texto pouco claro e muitos conflitos ocorreram na inter- pretao dos artigos, novamente quanto rotulagem dos produtos. Monitoramentos realizados pela IBFAN indicaram que os fabricantes adaptaram suas prticas de marketing para descobrir as lacunas e ambigidades, passando a burlar a Norma em vi- gor. 11 Esses fatos provocaram, mais uma vez, a ne- cessidade de reviso da legislao. Ressalta-se que os dois primeiros textos foram pu- blicados como Resolues do CNS, dificultando por muitos anos o processo de fiscalizao da Nor- ma Brasileira, j que o CNS um rgo delibera- tivo, sem papel executivo ou de fiscalizao. Sua competncia restringe-se a atuar na formulao e no controle da execuo da Poltica Nacional de Sade.* Os vrios rgos apontados nas Normas no assumiram compromisso de fiscalizao na rea de alimentos, nem foi definido o rgo respons- vel pela aplicao da Norma quanto mamadeira, bicos e chupetas. Caso semelhante ocorreu na Guatemala, onde foi de- cretada, em 1983, a Lei sobre marketing de substitu- tos do leite materno. No entanto, esta Lei s pde ser aplicada em 1987, quando foram estabelecidas as re- gras para a sua implementao, designando e deline- ando os poderes da agncia responsvel pela sua apli- cao e fiscalizao.** Na Repblica dos Camares, o Cdigo local monitorado pelo Ministrio da Sa- de, que pode submet-lo Procuradoria Geral para penalidades.*** Em alguns pases foram criados co- mits interministeriais para se responsabilizar pela implementao do Cdigo, como o caso da Chi- na. 13 Portanto, para que a legislao seja aplicada, necessrio um rgo responsvel pela sua fiscaliza- o, o que no ocorreu no Brasil em relao aos dois textos iniciais. A partir de 1999, com apoio de um consultor da Procuradoria J urdica do Distrito Federal, o MS pas- sou a dialogar com as indstrias e a impor regras s companhias infratoras. Os resultados do monitora- mento realizado pelo MS nos anos de 1999 e 2000**** nortearam a segunda reviso da NBCAL, publicando-se novas portarias, mais abrangentes e mais bem elaboradas. O principal avano ocorreu em 2002, quando foram promulgadas as Resolues RDC ANVISA n 221 que trata de bicos, chupetas, mamadeiras e protetores de mamilo e a de n 222 que dispe sobre alimentos para lactentes e crianas de primeira infncia. Com a pu- blicao desses dois documentos pela ANVISA, o Brasil passou a ter rgo com a atribuio constitu- cional de fiscalizar e inspecionar alimentos e produ- tos relacionados sade do indivduo. Isso viabilizou a vigilncia da prtica de promoo comercial e a correo das irregularidades encontradas. Esse conjunto de regras, em vigor no Pas desde maio de 2003, alterou todos os pontos da verso anterior da norma. Alm de apresentar um texto mais claro e objetivo, procurou contemplar novos produtos e estratgias de marketing utilizadas pe- las indstrias, como por exemplo, o uso da Internet e o merchandising. O Cdigo Internacional foi aprovado como recomen- dao mnima***** a ser seguida, dando abertura para que cada pas ampliasse suas medidas de prote- o amamentao. Portanto, a incluso dos produ- tos destinados s crianas de primeira infncia, na nova reviso da norma, permitiu proteger a prtica do aleitamento continuado por dois anos ou mais, con- forme a recomendao brasileira e internacional da OMS. As frmulas de nutrientes indicadas para RN de alto risco e os protetores de mamilo, presentes no mercado brasileiro sem regulamentao, tambm fo- ram includos, com regras claras e restritas. As frases obrigatrias para a promoo comercial foram definidas como frases de advertncia do MS, especficas para cada produto. Este fato fortaleceu as mensagens a serem divulgadas, j que o MS a *Ministrio da Sade. Resoluo CNS n o 291 /1999 do Conselho Nacional de Sade. Dirio Oficial da Unio, Braslia (DF), 9 jun 1999. **Guatemala. Acordo do Governo n o 841-87 de 30 de setembro de 1987: regras para a mercadizao de substitutos do leite materno. Art. 14 e 15. ***Cameroon. Arrete Interministeriel n o 40 portant sur l reglementation de la commercialisation des substituts du lait maternel; 1993. Art. 19. ****Ministrio da Sade. Relatrio de monitoramento da Norma Brasileira de Comercializao de Alimentos para Lactentes 1999/2000: relatrio. Braslia (DF); 2001. *****WHO. World Health Assembly Resolution 34.22 [prembulo]. Geneva; 1981. 519 Rev Sade Pblica 2006;40(3):513-20 Comercializao de alimentos para lactentes Arajo MFM et al autoridade mxima de sade no Pas. O mesmo acon- teceu para os rtulos de todos os produtos contem- plados na abrangncia da Norma, onde foram tam- bm definidos os tamanhos das letras da advertn- cia. As fotos ou imagens de bebs foram vedadas, tanto nos alimentos indicados para esta faixa etria como nos leites em p e fludos. J para mamadei- ras, bicos, chupetas e protetores de mamilo, foram proibidas as imagens e fotos de crianas menores de 12 anos nestes produtos. Apesar de alguns pases proibirem a distribuio de amostras, como o caso das Filipinas e de Cama- res, 12 a legislao brasileira conseguiu avanar no sentido de definir a amostra como uma unidade distribuda em uma nica vez, no perodo de lan- amento do produto, definido em 18 meses em todo o territrio nacional. Foi vedada a distribuio de amostras de suplementos nutricionais (os chamados fortificantes do leite humano) para RN de alto risco, mamadeiras, bicos, chupetas e protetores de mamilo. Este maior rigor poder contribuir para evi- tar a distribuio de amostras grtis de frmulas in- fantis e de alimentos complementares a gestantes e mes em hospitais e maternidades. Desde a dcada de 80, estudo canadense 3 j havia mostrado que o recebimento de amostras nas maternidades est re- lacionado ao desmame precoce. Tanto a elaborao inicial como as duas revises da Norma aconteceram dentro de um processo democr- tico, com a participao de todos os segmentos en- volvidos nesta questo, fato importante por possibi- litar s indstrias a ratificao do cumprimento da legislao no Pas. A presente anlise mostra que alguns pontos da Norma atual ainda podem ser revistos, permitindo o aprimoramento desta legislao e maior prote- o do aleitamento materno exclusivo e continua- do no Brasil. So exemplos, a questo da distribui- o de amostras e a publicidade de alimentos para crianas de primeira infncia, faixa etria que tam- bm deve ser protegida privilegiando-se a reco- mendao de aleitamento materno complementado at dois anos ou mais. Por outro lado, importante estabelecer um com- promisso social entre o governo brasileiro, nos seus diversos nveis de gesto de sade, alm de fabri- cantes, distribuidores e profissionais de sade, no sentido de garantir o cumprimento desta legisla- o no Pas, contribuindo assim para a adequada nutrio dos lactentes e das crianas de primeira infncia. Ao governo cabe a implantao de roti- nas de monitoramento sistemtico de fiscalizao do cumprimento desta legislao, para detectar e punir os infratores. Apesar da Norma estar em vigor h 16 anos, e o sistema de fiscalizao e de aplica- o das infraes realizado pela Anvisa, muitas in- fraes tm sido detectadas ainda hoje. Aos profis- sionais de sade cabe a adoo de um comporta- mento tico compatvel com a proteo sade e nutrio da criana. Aos fabricantes e distri- buidores, cumpre-lhes obedecer fielmente a Nor- ma brasileira. REFERNCIAS 1. Allain A. Fighting an old battle in a new world: how IBFAN monitors the baby food market. 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