Você está na página 1de 8

Revista de Pesquisa e Pós-Graduação – Santo Ângelo, 2003.

EVOLUÇÃO DA COBERTURA DO SOLO DA RESERVA INDÍGENA DO GUARITA

STEFANELLO1, A. L., ZANG2, N., HOLZSCHUH3, M. L.

RESUMO

A identificação e a análise do processo evolutivo dos diferentes usos do solo da Reserva


Indígena do Guarita é de fundamental importância, uma vez que se presume que ocorreram
mudanças no decorrer dos anos com relação a posse da terra, provocando diferentes formas de
utilização do solo. Neste trabalho foram analisadas e avaliadas as evoluções das diferentes
categorias de uso e cobertura do solo existentes na Reserva Indígena do Guarita. Esta área foi
caracterizada, utilizando-se geoprocessamento, que permite utilizar dados de diferentes
fontes, como imagens de satélites, previamente referenciadas com um sistema de
coordenadas, Sistema de Posicionamento Global “GPS”, digitalização de mapas, todos
voltados para o mesmo objetivo. Foram utilizadas quatro imagens do Satélite LandSat TM5,
datadas de 1984, 1989, 1994 e 1999, georreferenciadas com base em cartas topográficas,
elaboradas pelo Departamento de Serviço Geográfico do Exército Brasileiro (DSG). Com a
digitalização e edição do limite e da hidrografia obteve-se o mapa, onde fica claro a existência
de uma vasta rede hidrográfica dentro da Reserva Indígena do Guarita com aproximadamente
205.934 metros de rios. Foram encontradas grandes desigualdades entre as imagens dos anos
que dizem respeito ao período de estudos no que diz respeito aos usos do solo, que foram
classificados em áreas de mata e áreas de solo exposto, um banco de dados digital foi criado
para o armazenamento dos dados.

Palavras-chave: Geoprocessamento; Usos E Ocupação Do Solo; Reserva Indígena.

INTRODUÇÃO

A caracterização ambiental dos elementos estruturais de uma unidade da paisagem,


associada ao diagnóstico ambiental dos efeitos das atividades humanas em relação à
biodiversidade, corresponde a uma das primeiras etapas para a elaboração de um cenário para
a proposição de diretrizes de conservação da biodiversidade no contexto local ou regional.
Apesar de longa e exaustiva, a caracterização ambiental proporciona aos administradores e
usuários da unidade da paisagem a compreensão da dinâmica ocupação do solo no âmbito da
mesma e de seu entorno imediato. (AFONSO, 1999), demonstra que para operacionalizar o

1
Bolsista PIIC/URI – GPA/URI – Frederico Westphalen – RS.
2
Prof. Do Depto ECC da URI – Campus de Frederico Westphalen – RS.
3
Bolsista PIIC/URI – GPA/URI – Frederico Westphalen – RS.
Endereço para correspondência: Av. Assis Brasil, 709. Frederico Westphalen – RS. CEP: 98400000 . e-mail:
gpa@fw.uri.br
Revista de Pesquisa e Pós-Graduação – Santo Ângelo, 2003.

desenvolvimento sustentável, fazem-se necessárias, além de outros itens importantes, a


elaboração e a implantação de uma proposta de planejamento integrado que possa reduzir, ou
anular os efeitos dos impactos ambientais determinados pela ação do homem, criando
condições ambientais estáveis.
Atualmente o problema da terra é o eixo central da questão indígena. A noção de
território para a sociedade indígena é muito mais do que simples meio de subsistência. A terra
representa o suporte da vida social e está ligado ao sistema de crenças e de conhecimento.

A importância de SIG para a obtenção de atributos, na perspectiva de obtenção de


subsídios para a proposição de estratégias de manejo e pesquisa que asseguram a manutenção
da qualidade ambiental da área da paisagem, contribuindo com a tomada de decisões para a
elaboração de propostas de manejo e gestão ambiental. Isso é trabalhado por (MISSIO et al.,
2000).

Sendo assim sem conhecermos os problemas de uma determinada região, não


podemos organizar formas de recuperação e conservação de qualquer tipo de sistema.
Destacando-se, a importância da caracterização da área de estudos.

OBJETIVO

Foi objetivo do trabalho, caracterizar o uso e ocupação do solo da Reserva Indígena do


Guarita, avaliando assim as alterações ocorridas na cobertura vegetal no período de 1984 à
1999. Especificamente objetivou-se obter informações precisas sobre o limite e os principais
usos do Solo da Reserva Indígena da Guarita, para que, desta forma, seja possível a análise do
processo evolutivo, assim como a confecção de um mapa de Hidrografia da Reserva, e por
fim a elaboração de um Banco de Dados Digital com as imagens processadas.

FUNDAMENTAÇÃO

Segundo (HENKE OLIVEIRA, 2000), geoprocessamento define-se como sendo um


conjunto de técnicas digitais (computacionais) com o emprego de Sistemas de Informações
Geográficas (SIGs) e Software auxiliares, direcionadas a análise das feições e relações
geográficas, físicas, biológicas e humanas; o geoprocessamento dispõem de recursos para a
manutenção de cadastros georreferenciados (banco de dados), consulta aos mesmos e
execução de modelos numéricos (modelagem matemática).
Revista de Pesquisa e Pós-Graduação – Santo Ângelo, 2003.

Os principais reservatórios de Ecossistemas naturais estão sendo significativamente


alterados ou destruídos. Além do mais, as coleções e reservas atuais são insuficientes, e não
existe apoio para se manterem tais reservas (ODUM, 1998). Neste contexto, (TONIAL,
2000), aponta que as atividades de monitoramento com o objetivo de atualizar as informações
sobre o uso e ocupação do solo, são extremamente relevantes na medida em que são
evidenciados o uso desordenado e o grau de degradação ambiental da paisagem. Algumas
reservas indígenas estão demarcadas e contam com registros em cartório. Outras estão em
fase de reconhecimento e há, também, áreas indígenas sem nenhuma regularização.
Entretanto, o Estado não tem garantido seu papel legal de proteção às áreas indígenas. Mesmo
as totalmente regularizadas, na sua maior parte, sofrem invasões de garimpeiros, mineradoras,
madeireiras e posseiros. São cortadas por estradas, ferrovias, linhas de transmissão, áreas são
inundadas por usinas hidrelétricas e outros impactos ocorrem em conseqüência de projetos
econômicos da iniciativa privada e projetos desenvolvimentistas governamentais. O principal
objetivo da caracterização ambiental de qualquer área é permitir entre alternativas, o melhor
uso possível de seus recursos ambientais. Surge, então, a necessidade de um planejamento
ambiental, desenvolvida a partir da caracterização da área, buscando resolver a questão sobre
qual é a melhor combinação de usos de uma área, para satisfazer a necessidade de um maior
número de pessoas de forma sustentada (hoje e no futuro) (PIRES, 1995).

METODOLOGIA

A fim de conhecer um pouco melhor o ecossistema da área da Reserva Indígena do


Guarita entre os anos de (1984 e 1999), foram elaborados mapas de usos e ocupação da terra
da reserva, com o auxílio do software SIG-Idrisi. A caracterização e configuração da
paisagem foi feita , e identificou-se a evolução ocorrida nos usos e ocupação do solo e da
paisagem, da Reserva Indígena do Guarita, que está localizada no Sul do Brasil, no Nordeste
do estado do Rio Grande do Sul, a 27° 20' de Latitude Sul e 27°36' de Latitude Sul, 53° 32' de
Longitude Oeste e 53 ° 45' de Longitude Oeste, com uma área de 23.664 ha, devido ao
acréscimo do Rio Guarita na área de estudos.

A região objeto de estudo compreende uma área total de aproximadamente 23.406 ha,
homologada por Decreto s/n.º, de 04/04/1991, abrangendo parte dos municípios de Erval
Seco, Miraguaí, Redentora e Tenente Portela.

Para a identificação da área de estudos utilizou-se de informações oriundas da FUNAI


(Fundação Nacional do Índio), através de visita feita a FUNAI de Passo Fundo. Dentre as
informações obtidas está o mapa que consta no Anexo 1. Também utilizou-se cartas
Revista de Pesquisa e Pós-Graduação – Santo Ângelo, 2003.

topográficas na escala 1:50.000, elaborada pela Diretoria do Serviço Geográfico do Exército


Brasileiro(DSG).

Tabela 1: Cartas Topográficas utilizadas para confecção do mapa de hidrografia.

Carta Folha Mapa Índice Escala Elaboração


Palmitinho SG.22-Y-C-I-4 2884/4 1:50.000 (DSG)
Coronel Bicaco SG.22-Y-C-IV-2 2899/4 1:50.000 (DSG)

Fonte: Diretoria do Serviço Geográfico do Exército Brasileiro (DSG, 1979).

As cartas topográficas foram digitalizadas em uma mesa tamanho A1, modelo DB III
marca CalComp, utilizando-se mouse de 8 botões, gerando arquivos vetoriais, os quais foram
editados para pequenas correções necessárias.
Os mapas de uso e cobertura do solo, foram elaborados com base na interpretação das
imagens do Satélite LandSat TM5, bandas 3, 4 e 5 da cena 223/079 dos anos de 1984, 1989,
1994 e 1999 previamente georreferenciadas, juntamente com levantamentos feitos no campo
para confirmação de informações duvidosas, através de um (GPS) Sistema de Posicionamento
Global.

A interpretação das imagens de satélite para posterior classificação dos usos e ocupação
do solo, foi feita utilizando-se o software SIG Idrisi 32. Esta classificação permitiu a
identificação das principais classes de uso e cobertura da terra que se apresentam como as de
maior influência no que diz respeito às questões ligadas ao meio ambiente. Utilizando-se o
SIG – IDRISI 32, todos os mapas em formato vetorial foram transformados em imagens
raster, utilizando-se uma resolução espacial de 30m por pixel, quando foi possível a
elaboração do mapa de localização da Reserva Indígena. O sistema de Informações
Geográficas (SIG-IDRISI) forneceu suporte para o geoprocessamento e desenvolvimento de
um Banco de Dados Digitais (BD) da área de estudo, os quais foram desenvolvidos no
Laboratório de Geoprocessamento da URI – Campus de Frederico Westphalen.
Revista de Pesquisa e Pós-Graduação – Santo Ângelo, 2003.

RESULTADOS

Figura 1: Figura com o número de arrendatários na Reserva Indígena do Guarita entre os


anos de 1964 e 1994. Fonte(Fundação Nacional do Índio) FUNAI.

Arrendatários

275 271
250

Número de Arrendatários
225
200 196
175 172
150 148
125
100
75
50 48
25
0
1964 1967 1973 1978 1994
Ano

Figura 2. Mapa da localização da Reserva Indígena do Guarita

Figura 3. Mapa da Hidrografia


Revista de Pesquisa e Pós-Graduação – Santo Ângelo, 2003.

A Reserva Indígena do Guarita está localizada no Sul do Brasil, no Nordeste do estado


do Rio Grande do Sul, a 27° 20' de Latitude Sul e 27°36' de Latitude Sul, 53° 32' de
Longitude Oeste e 53 ° 45' de Longitude Oeste, com uma área de 23.664 ha, como se vê na
Figura 2, ao interpretarmos as imagens de satélite, tivemos então uma noção do que está
ocorrendo na região, da Reserva Indígena do Guarita, com o desmatamento indiscriminado,
não somente em áreas de pequeno risco de erosão mas também na grande maioria das
margens dos rios que compõe a rede fluvial da mesma.

Como pode-se notar na Figura 1, a Reserva Indígena do Guarita é muito explorada, por
atividades agrícolas, chegando a suportar 271 arrendatários com suas famílias ou 1570
pessoas sem levarmos em consideração a população indígena que na época eram mais de
4.700 pessoas em uma área de aproximadamente 95 Quilômetros quadrados. Atualmente
Kaingangs e Guaranis ocupam a Reserva totalizando 8 aldeias com 4.149 índios, segundo
dados da FUNAI (2003).

Como podemos notar na Figura 3 no Mapa de Hidrografia da Reserva Indígena do


Guarita, temos uma vasta malha fluvial, com Rios e Riachos, o que eqüivale a um total de
205.934 metros, de um total de 180 rios que cortam ou banham a Reserva.
Revista de Pesquisa e Pós-Graduação – Santo Ângelo, 2003.

Como foi objetivado no projeto, se fez a caracterização dos usos do solo da Reserva
Indígena do Guarita conforme a imagem de 1984, primeira a ser estudada, se tem como
resultado cerca de 9.595 ha de solo exposto de uma área total de 23.664 ha, cerca de 40, 55%,
já na segunda imagem estudada, a de 1989 se vê um pequeno crescimento na área desmatada,
onde neste ano o solo exposto ficou com uma percentagem de 42,48% cerca de 10.051 ha, foi
a maior percentagem de solo exposto da região da reserva até o ano de 1999, com a
interpretação da imagem de satélite de 1994 se vê uma grande diminuição no solo exposto,
esse passa a ocupar cerca de 27,99% da área o que eqüivale a 6.622 ha da área total da reserva
e a última imagem que foi estudada, a do ano de 1999 mostra que o percentual de solo
exposto aumentou cerca de 10% em comparação ao ano de 1994, ou seja ficou em 37,71% o
que eqüivale a 8.924 ha da área total da reserva conforme visto na tabela e no gráfico abaixo.

Área Hectares Hectares Solo


25000 Ano Total(ha) Mata Exposto
20000 1984 23664 14069 9595
15000 Total
Mata
1989 23664 13613 10051
10000
5000 Solo Exposto 1994 23664 17042 6622
0 1999 23664 14740 8924
1984 1989 1994 1999

CONCLUSÃO

Com isso, temos em vista que é de fundamental importância o estudo da Reserva


Indígena do Guarita, uma vez que essas já foram muito exploradas nas ultimas décadas, seja
pela destruição de florestas para que a área fosse usada na agricultura ou até mesmo para
pastagens.

No que diz respeito ao Banco de Dados, as imagens da localização, mapa da


hidrografia, limite da Reserva Indígena do Guarita, Imagens de satélite georreferenciadas dos
anos de 1984, 1989, 1994, 1999, assim como todos os arquivos necessários para que elas
pudessem ser criadas serão gravadas em mídia digital, onde ficarão disponíveis para consulta
no Laboratório de Geoprocessamento da URI – Campus de Frederico Westphalen.

O nosso foco de estudo deve ficar limitado não somente a elaboração de imagens, mas
também na pesquisa de soluções que sejam viáveis e aceitas, por toda a população que
habitem na área de estudos.
Revista de Pesquisa e Pós-Graduação – Santo Ângelo, 2003.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

MISSIO, E. TONIAL, Tania Maria. PIRES, J. S. R. e outros. CARACTERIZAÇÃO


AMBIENTAL DE UNIDADES DA PAISAGEM DA REGIÃO NOROESTE DO ESTADO
DO RIO GRANDE DO SUL. São Carlos, SP. Sociedade de Ecologia do Brasil, 2000.

PAREDES, Evaristo A.. SISTEMAS DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICAS. São Paulo. SP.


Érica, 1994.

PIRES, J. S. R.. SANTOS,J. E.. BACIAS HIDROGRÁFICAS: INTEGRAÇÃO ENTRE


MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO. São Paulo. SP. Ciência Hoje, 1995.

PÁGINA DA FUNAI (FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO):


www.funai.gov.br/mapas/fundiarios/rs/rs-guarita.html

TONIAL, Tania Maria. SANTOS,J. E.. PIRES, J. S. R. e outros. USO E OCUPAÇÃO DO


SOLO DE UNIDADES DA PAISAGEM DA REGIÃO NOROESTE DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL.

Você também pode gostar