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ASSOCIAÇÃO DOS ENGENHEIROS DE TELECOMUNICAÇÕES

Fundada em 16 de Outubro de 1989


Gestão 2009-10

CT-AET-065/2009

São Paulo, 27 de Novembro de 2009

À
Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática (CCTCI)
Câmara dos Deputados
A/c. Presidente Deputado Eduardo Gomes
Câmara dos Deputados - Anexo II.
Pav. Térreo - Ala A – Sala 49
70.160-900 – Brasilia - DF

Fax: (61) 3216-6465/6467

Assunto: Audiência Pública – 01/12/2009


Ref.: Ofício 530/2009 – CCTCI/P de 09/11/2009 - Convite
Ofício 256/2009 – CCTCI/S de 26/11/2009 - Adiamento

Prezada Ilustre Presidente,

Em atenção aos ofícios em referência formalizando convite, com adiamento, para participar da
audiência pública sobre os investimentos realizados em 2008 pela Telefônica (Telesp), temos os
seguintes esclarecimentos preliminares a dar:

1. Em momento algum a AET formalizou acusação da concessionária Telefônica (Telesp) ter


fraudado o balanço de 2008, mas sim levantou para as autoridades competentes (CVM, CFC e
Anatel), e imprensa em geral, a necessidade de realizar uma auditoria nos balancetes, livro
razão e livro diário visando comprovação dos R$ 2,34 bilhões investidos na rede de telefonia
fixa que faz parte da concessão. Na carta encaminhada para a SEC (U.S. Securities &
Exchange Commission) foi utilizado o termo “suspicions of fraud“ uma vez que esse órgão é
sensível a este tipo de solicitação de averiguação quando envolve interesses de acionistas,
tanto público como privado.

2. No dia 16/11/2009 estivemos no Ministério Público Federal de São Paulo para nos colocar à
disposição das autoridades para dar esclarecimentos e complementar a entrega de
documentos da AET, para que seja aprofundada a investigação do empréstimo de R$ 2
bilhões concedidos à Telefônica (Telesp) em Out/2007 para modernização da rede de
telecomunicações do estado de São Paulo, e também reforçar a preocupação com as
informações do balanço de 2008.

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3. Basicamente, a Diretoria da AET está interessada em obter informações detalhadas sobre
os níveis de investimentos especificados na tabela abaixo, que consta do Relatório de
Administração 2008 da referida concessionária, bem como qual a relação com o empréstimo
de R$ 2 bilhões liberado em Out de 2007 pelo BNDES e, consequentemente, onde estão os
R$ 26 bilhões investidos em 10 anos de operação no estado de São Paulo.

R$ Milhões %
Desenvolvimento de Sistemas 459,2 19,6
Equipamentos de Comutação 61,1 2,6
Equipamentos de Transmissão 226,6 9,7
Infra-estrutura 56,0 2,4
Rede Externa 433,4 18,5
Comunicação de Dados 559,8 23,9
Equipamentos de Assinantes 471,8 20,1
Outros 74,6 3,20
Total de Investimentos de Exploração 2.342,5 100,0

Vale novamente mencionar que as informações existentes no Balanço 2008 da referida


concessionária não comprovam que os referidos investimentos foram de fato realizados e
incorporados ao patrimônio da empresa. Acreditamos que é muito mais fácil a concessionária
abrir as informações para a sociedade do que criar esse clima de desconfiança e
controvérsias entre a opinião pública, acionistas e governo.

Todos nós sabemos que a falta de investimentos na infra-estrutura básica de


telecomunicações compromete seriamente o crescimento econômico de São Paulo e do Brasil.

4. Desde 1998 a estrutura organizacional da concessionária Telefônica (Telesp) vem sendo


profundamente modificada como empresa privada (e não pública), de modo que a Anatel e
órgãos do governo já não sabem mais o que é bem público reversível para a União. A redução
de custos operacionais nunca é repassada à tarifa que nos últimos 10 anos só tem aumentado
de valor para o usuário, contribuindo para aumento do custo Brasil e perda de
competitividade das empresas. A competição desejada na telefonia fixa não existe.

O cenário vislumbrado pela AET é o desgaste constante dos atores envolvidos e agravamento
dos problemas no setor de telecomunicações visto que a Anatel não cumpre o papel que lhe
compete perante a sociedade, principalmente em relação à obrigação de fiscalização da
operação dos serviços prestados pelas empresas concessionárias.

5. Após a publicação da reportagem da Folha de São Paulo, no dia 03/Nov/2009, sob o título
“Associação pede investigação de investimento da Telefônica”, a diretoria da AET foi
pressionada e intimidada, inclusive através de recente notificação ExtraJudicial, por parte
da concessionária Telefônica (Telesp) visando a desqualificação da entidade e obtenção de
retratação no curto prazo.

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6. Em 20 anos de existência a AET nunca recebeu uma intimidação dessa natureza, mesmo
quando a Telesp estatal era dirigida por pessoas truculentas e estranhas ao setor, e que
impediam a empresa de prestar serviços básicos à sociedade tanto do ponto de vista de
quantidade, como de qualidade. Mesmo assim a AET acredita que já é tempo da sociedade
brasileira perceber e reconhecer que tem algo muito estranho na administração contábil da
Telefônica (Telesp) uma vez que os elevados investimentos publicados anualmente nos
respectivos balanços financeiros não conseguem refletir positivamente na satisfação dos
usuários (consumidores).

7. Desde o ano que as operadoras de telecomunicações foram privatizadas (1998) a Telefônica


(Telesp) vem se posicionando e sendo percebida por especialistas do setor como uma
empresa privada, especializada em explorar mercados rentáveis, dando pouca demonstração
de que é uma empresa concessionária de serviços públicos. Esse aspecto pode ser visto
nas propagandas institucionais da empresa e nas interfaces de relacionamento com o cliente
(call center, instalações e reparos, etc...) onde o serviço é prestado como se não houvesse
uma obrigação dessa empresa, apesar do contrato de concessão mencionar o contrário. Por
sua vez, o usuário não tem obrigação de saber se um serviço (Speedy, por exemplo) faz
parte ou não do escopo do contrato de concessão, uma vez que ele enxerga unicamente
a empresa operadora como sendo uma concessionária de serviços públicos. Do modo como
está sendo regulamentado hoje pela Anatel, é complexo e fica cada vez mais difícil para
qualquer cidadão fazer distinção de um serviço que faz parte da concessão uma vez que
vários outros serviços diferenciados são prestados pela mesma empresa operadora. Em
nosso entendimento, todo e qualquer serviço operado e prestado por uma concessionária
deveria ser visto como obrigação de prestação de serviço público, com metas de
universalização e qualidade, para evitar que a concessionária preste um mau serviço, como é o
caso atual da Telefônica (Telesp) operando o Speedy. As inúmeras reclamações junto aos
órgãos de defesa do consumidor são indicadores que mostram que tem algo errado nas
relações da concessionária Telefônica (Telesp) com o usuário do serviço público, e que
precisa ser analisado com mais atenção pela Anatel para rever o modelo construído ao longo
de 10 anos.

Apesar da postura ameaçadora da Telefônica (Telesp), que tem obrigações contratuais de prestar
contas à sociedade como empresa concessionária, informamos a Vossa Excelência que temos
interesse em participar da referida Audiência Pública, que foi adiada, para dar nossos
esclarecimentos e contribuições para tornar público o assunto, porém ressaltando que estamos
preocupados com futuras retaliações por parte do Grupo Telefônica junto a esta entidade, face o
enorme poder econômico que o grupo possui e exerce.

Atenciosamente,

Eng° Ruy Bottesi


Presidente
rbottesi@aet.org.br

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