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1.

INTRODUÇÃO

Apesar de não ser atualmente representado por muitas empresas na B3, o Setor de
Telecomunicações é um setor altamente perene e que tradicionalmente compõe carteiras
previdenciárias de qualidade.

É inegável que, a cada ano que passa, a comunicação vem se tornando cada vez mais uma
necessidade quase que tão básica como saúde, alimentação ou segurança. Você duvida disso?
Te convidamos então a fazer uma viagem de metrô em algum centro urbano, como São Paulo
ou Rio de Janeiro, por exemplo. Experimente olhar para as pessoas ao seu redor no vagão. Ouso
dizer que cerca de 70 ou 80% das pessoas estarão olhando para seu celular. Não, você não ouviu
errado. 7 ou 8 pessoas em cada 10 estarão com o aparelhinho na mão lendo mensagens de
texto, navegando na internet ou falando com alguém ao telefone.

Como Luiz Barsi mesmo sempre faz questão de destacar, Telecom é um daqueles setores em
que o “cliente paga sem consumir”. Mas afinal, o que isso significa na prática? Muito simples. O
formato de contratação do serviço junto às operadoras acaba fazendo com que o cliente sempre
tenha que pagar sua conta mensal, faça chuva ou faça sol, mesmo que seu celular tenha ficado
desligado o mês inteiro.

Além disso, geralmente a conta telefônica ainda é colocada em débito automático pelos clientes,
o que diminui o risco de inadimplência para a operadora.

Na maioria das vezes como cliente, seu contrato vai se tornando defasado com o tempo e,
quando menos espera, se dá conta que está pagando caro por um pacote pouco atrativo. E o
pior. Você anda na rua e percebe que a mesma operadora está oferecendo pacotes e condições
muito mais atrativas para clientes de outras operadoras que migrarem seus planos para ela!

Quando você se sente incomodado com tudo isso e decide ligar na operadora para reclamar,
tem que reservar quase que uma manhã inteira só para fazer isso. E o pior, na maioria das vezes
ainda não consegue resolver seu problema!

Se você está achando tudo isso um absurdo, lembre-se da famosa máxima: “se você não
consegue vencer seu inimigo, junte-se a ele!”

Verdade seja dita, o setor de Telecomunicações evoluiu muito ao longo dos últimos anos no
Brasil, tanto em tecnologia e qualidade do serviço, quanto em relação ao respeito pelo cliente.
Mas ainda nos dias de hoje o consumidor continua sofrendo com problemas nos serviços
prestados e com as inúmeras ligações indesejadas feitas pelas operadoras.

De certa forma, tudo isso só evidencia uma coisa: a posição privilegiada que as operadoras de
telefonia se encontram no Brasil e em grande parte do mundo.

Mesmo com toda a evolução tecnológica e com o aumento da demanda por comunicação, ainda
nos vemos obrigados a eleger uma das somente três ou quatro grandes operadoras para
estabelecermos uma relação de longo prazo. E por mais que a troca de contrato de uma
operadora para outra tenha sido bastante facilitada para os clientes nos últimos anos, a
realidade é que inevitavelmente você ainda vai acabar dependendo de alguma delas.
Assim, podemos tranquilamente dizer que, passados mais de 20 anos da privatização do setor
de Telecomunicações no Brasil, o setor deixou de ser um monopólio estatal para se tornar um
oligopólio comandado por alguns grandes grupos empresariais.

Mas ainda assim, por incrível que possa parecer, o mercado brasileiro de Telecom apresenta um
baixo nível de concentração comparado ao de outros países do mundo. De forma isolada, o
índice de concentração do Brasil é considerado moderado. Para medir o nível de concentração
de uma indústria o indicador usado com maior frequência é o Herfindahl-Hirschman (HHI).
Quanto maior o HHI de uma indústria, maior o nível de concentração dela. Quanto menor, o
contrário.

A Figura 1 apresenta de forma detalhada o HHI do setor de Telecom em vários países. O HHI do
Brasil é de 0,21 (ou 2.100), enquanto que a média dos principais países analisados fica em torno
de cerca de 0,38 (ou 3.800).

Figura 1 – Índice de Herfindahl-Hirschman (HHI) para o Setor de Telecom

Fonte: Morgan Stanley

O setor de Telecom, além de ser um setor bastante complexo por natureza, é também altamente
regulado.

No ambiente brasileiro, passados mais de 20 anos da privatização das telecomunicações, a


transformação do setor gerou resultados que superaram as melhores das expectativas traçadas
na época. Alguns dados impressionam. De acordo com a Anatel, em 2018 o Brasil possuía cerca
de 230 milhões de linhas de telefonia celular com uma penetração de cerca de 110% da
população, o que significa que na média cada brasileiro possui mais de uma linha móvel em seu
nome. Isso faz do Brasil o 5º maior país do mundo em números de acessos na telefonia celular,
atrás apenas de China, Índia, Indonésia e Estados Unidos.

Por outro lado, apesar das melhorias e do alto investimento privado ao longo dos anos, ainda
existem muitos desafios e oportunidades no setor. Um exemplo é o segmento de banda larga,
que possui enormes oportunidades, tanto no aumento da penetração do serviço, quanto na
velocidade de conexão.

De forma resumida, o setor de Telecom se divide em quatro grandes segmentos:

 Telefonia Fixa
 Telefonia Móvel
 Banda Larga Fixa
 TV por Assinatura

Os principais drivers, isto é, os fatores correlacionados com o desempenho da indústria, se


assemelham bastante aos de outras indústrias de prestação de serviço direto para a população
ou para empresas. Fatores como a taxa de desemprego, o endividamento das famílias e o índice
de confiança do consumidor ou dos empresários possuem impacto direto na performance do
setor de Telecom.

2. EVOLUÇÃO DO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES NO BRASIL

Em 1876, o imperador D. Pedro II visitou uma exposição na Filadélfia e teve contato com
ninguém menos que Graham Bell. Assim, pode entender diretamente de Bell como funcionava
sua mais nova invenção, o telefone. Mas, diante da demonstração do invento, não escondeu seu
encanto, exclamando espantado “Isto fala!”.

Como grande entusiasta das inovações, D. Pedro II decidiu trazer a novidade para o Brasil,
tratando de instalar em 1877 a primeira linha telefônica do Brasil em sua casa na Quinta da Boa
Vista no Rio de Janeiro em 1877. Ela conectava a casa do Imperador às casas dos Ministros de
Estado, outras repartições do governo, órgãos militares e corpo de bombeiros. Isso deu ao
Brasil o privilégio de ser a segunda nação do mundo com um serviço regular de telefonia em
funcionamento.

Mais de duas décadas antes disso, no ano de 1854, já se iniciava a regulação das
telecomunicações, com a implantação do telégrafo. Inicialmente voltado ao uso do Estado,
os serviços de telégrafos foram estendidos ao público em 1858. Em 1860 surge o primeiro
regulamento do serviço telegráfico, estabelecendo as tarifas aplicáveis e determinando o
sigilo das comunicações.

No ano de 1879, D. Pedro II concedeu autorização para a exploração dos serviços telefônicos
no Brasil. O empresário Charles Paul Mackie foi quem recebeu a autorização para construir
e explorar linhas telefônicas no Rio de Janeiro, em Niterói e em outras cidades do subúrbio.
Mackie se tornaria sócio da Companhia Telefônica do Brasil, empresa de capital norte-
americano que ficara responsável por operar o serviço de telefonia nessas localidades.

Após a proclamação da República em 1889, a competência para concessão dos serviços foi
delegada em parte aos estados pela Constituição de 1891. Alguns estados delegaram ao âmbito
municipal essas concessões. Nessa mesma época também foi implantada a primeira linha
telefônica interurbana no país, conectando as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo.

Com essa transferência de poder aos estados, em pouco tempo foi se perdendo o controle do
desenvolvimento dos serviços de telefonia no Brasil. Assim, em 1917 o governo federal decide
retomar para si a responsabilidade de conceder autorizações para a prestação do serviço.

Pouco antes, em 1916, foi criada a Companhia Telefônica Brasileira (CTB). Fundada pela empresa
canadense Brazilian Traction, expandiu-se rapidamente pelo Brasil, com operações no Rio de
Janeiro, em São Paulo, em Minas Gerais e no Espírito Santo. A expansão da CTB proporcionou
um aumento acelerado no número de usuários de telefonia no País após a Primeira Guerra
Mundial.

A década de 1920 foi marcada principalmente pelo surgimento e a disseminação do rádio, que
depois viria a se tornar o principal meio de comunicação de massa.

A década seguinte, de 1930, trouxe importantes avanços para a telefonia. Em 1930, é


inaugurada a primeira central automática, fazendo com que as pessoas conseguissem completar
ligações sem o auxílio de telefonistas. No ano seguinte é instalado no Rio de Janeiro o primeiro
PABX em empresa particular, com 40 ramais. Surgem, também, os primeiros postos telefônicos
públicos. Em 1939, já existiam cerca de 300 mil terminais telefônicos no País, sendo que 100 mil
se encontravam no Rio de Janeiro. Apesar de parecer grande, a base instalada ainda era bem
modesta se comparada com outros países mais desenvolvidos da época.

Pela Constituição de 1946 ficou estabelecida a competência da União para explorar diretamente
ou por outorga, os serviços de telégrafos, radiocomunicação, radiodifusão e telefonia de longa
distância. A telefonia local manteve-se sob regulação estadual e municipal, resultando em um
sistema diversificado, que chegou a ter, em certos períodos, cerca de mil empresas em
operação.

Na década de 1960 o Brasil atingiu a marca de 1 milhão de telefones em território nacional. O


período também ficaria marcado pelo surgimento em 1962 do Código Brasileiro de
Telecomunicações (CBT), que nos 35 anos seguintes serviria como base para a regulação da
radiodifusão e das telecomunicações. Pouco depois, em 1965, foi criada a Empresa Brasileira de
Telecomunicações (Embratel). A Embratel foi responsável por estruturar linhas tronco de longa
distância, interligando todas as capitais e as principais cidades do país. Esse foi um passo muito
importante para a modernização das telecomunicações no Brasil.

No início da década de 1970 foi instituída uma nova Política Nacional de Telecomunicações
alinhada com as diretrizes de planejamento e de segurança nacional que o governo militar havia
traçado. Seus objetivos principais eram melhorar a qualidade da telefonia local, ampliar a base
de telefonia fixa do país e oferecer o serviço a custos competitivos com uma estrutura tarifária
justa. Assim em 1972 nascia a Telebrás, uma holding, que teria debaixo do seu guarda-chuva
todas as operadoras de telefonia existentes. Nessa nova configuração, a Embratel passou a ser
mais uma das muitas subsidiárias da Telebrás. Outras mais conhecidas eram a Telesp, Telerj e
Telemig, entre tantas outras.

Apesar das metas ambiciosas do governo, a expansão da infraestrutura de telecomunicações


acabou acontecendo a passos lentos. A marca de 10 milhões de telefones fixos, que inicialmente
desejava-se atingir no início da década de 1980, só foi ser alcançada em 1990, quase dez anos
depois. Isso expôs as sérias limitações que o Sistema Telebrás tinha para realizar investimentos
de qualidade e atender à demanda.

Em paralelo, surgem também nessa época alguns novos serviços que mudariam o panorama do
setor nas décadas seguintes: TV por assinatura, telefonia celular, TV digital e acesso à internet.

A telefonia celular começou a ser operada ainda pela Telebrás em 1990. As primeiras linhas
chegaram a custar cerca de US$ 10 mil e a tarifa de utilização cerca de um dólar o minuto. A
partir de 1994 o serviço foi barateando, a cobertura aumentando e, consequentemente, o
número de usuários rapidamente começou a crescer. Até então o serviço móvel era somente
dedicado à telefonia de voz, com limitação na troca de dados.

Passados alguns anos, em julho de 1997 é aprovada a Lei Geral das Telecomunicações, que criava
um órgão para o setor: a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). A nova lei também
estabeleceu a reorganização do Sistema Telebrás e sua consolidação em quatro empresas de
telefonia fixa. Essa era uma preparação para a privatização da Telebrás, que viria a acontecer no
ano seguinte, em 98.

Após a privatização, quatro concessionárias ficaram responsáveis pela prestação do serviço de


telefonia fixa: Telefônica em São Paulo, com capital do grupo espanhol Telefónica de España;
Brasil Telecom (BrT) no Centro-Oeste e Sul, com capital da Telecom Italia e do banco de
investimentos Opportunity; Telemar, operando na região que englobava Norte, Nordeste e
Sudeste do Brasil, com controle do grupo La Fonte, do BNDES e da Andrade Gutierrez; e
Embratel, que operava os serviços de longa distância, sob controle da norte-americana MCI.

Em paralelo, também passaram a operar algumas “empresas espelho” em regime privado, com
liberdade tarifária e sem obrigações. Exemplos dessas empresas são a Vésper, a Intelig e a Global
Village Telecom (GVT).

Vale notar que nesse novo cenário o número de linhas fixas cresceu exponencialmente, saltando
de 17 milhões em 1997 para quase 40 milhões em 2001.

Em meados dos anos 1990 começava a surgir no Brasil de forma bem tímida a conexão à
internet. Incialmente a conexão era discada, ou seja, através de um modem e uma linha
telefônica. Além da dificuldade operacional, a velocidade de acesso também era bastante baixa.
Somente nos anos 2000 que essa realidade começaria aos poucos mudar.

Foi também no início dos anos 2000 que o acesso móvel à internet começou a se massificar,
revolucionando por completo o mercado de telecomunicações. Inicialmente de forma mais
lenta e em seguida com uma velocidade impressionante, a telefonia móvel passou a substituir a
telefonia fixa. Em 2004, a tecnologia 3G que começava a ser oferecida no Brasil, foi um grande
indutor desse fenômeno. Pouco tempo depois, em 2007, foi realizado o leilão das faixas de
frequências, o que viabilizou por completo a expansão dessa tecnologia por todo o território
nacional. O 4G viria em 2013 com sua implantação ocorrendo nas capitais-sede da Copa do
Mundo de 2014. Em 2019 as operadoras iniciaram os testes para a tecnologia 5G.

3. ESTRUTURA, CONDUTA E DESEMPENHO

Nesta seção vamos tratar de algumas questões mais específicas ligadas ao setor de
Telecomunicações. Apresentaremos o ambiente em que estão inseridas, a dinâmica setorial e
seus desempenhos mais recentes. O modelo selecionado baseia-se nas análises de Estrutura,
Conduta e Desempenho (ECD) das principais empresas do setor.

Primeiramente, examina-se a Estrutura do mercado e como essa influi na forma de atuação das
empresas. Em seguida, analisa-se a Conduta das empresas. Isto é, como se comportam para
maximizar seus retornos, buscar soluções para a melhoria da competitividade e eficiência.
Por fim, examina-se seu Desempenho baseado nas influências macro e microeconômicas.

3.1. ESTRUTURA DO SETOR DE TELECOM

A Anatel é o órgão regulador do setor, atuando de forma a atender o interesse público e a


desenvolver as telecomunicações no país. Apesar de vinculada ao Ministério das Comunicações
(atualmente Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações), a Anatel é uma
autarquia administrativamente independente, financeiramente autônoma, não subordinada
hierarquicamente a nenhum órgão de governo. Última instância administrativa, as decisões da
Anatel só podem ser contestadas judicialmente.

A agência atua em quatro principais capítulos regulatórios: Licenças e Espectro, Competição,


Qualidade e Defesa do Consumidor e Política de Universalização e Banda Larga

Além da Anatel, alguns outros órgãos são também importantes atores nas Telecomunicações.
Entre eles, podemos destacar:

 Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE)


 Tribunal de Contas da União (TCU)
 Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) e Órgão de Proteção e Defesa do
Consumidor (Procon)
 Outros órgãos ligados à Infraestrutura, como Aneel e DNIT

Para um entendimento mais aprofundado da estrutura do setor de Telecom utilizaremos à


análise das Cinco Forças de Porter. Esse é um modelo de análise setorial bastante conhecido e
útil, que consiste na análise de cinco dimensões do setor em questão: ameaça de novos
entrantes, ameaças de produtos substitutos, poder de barganha dos fornecedores, poder de
barganha dos clientes e rivalidade do mercado de atuação (concorrentes).
Na primeira dimensão, que considera a ameaça de novos entrantes, o setor de Telecom pode
ser considerado relativamente protegido. Para uma nova operadora de porte considerável se
instalar no Brasil ela deve atender inúmeros pré-requisitos e exigências regulatórias. Sem o
cumprimento dessas exigências a nova operadora não poderia participar dos leilões realizados
pela Anatel.

Também existe o fator escala. Para que uma operadora tenha taxas de retorno atrativas ela
precisa atuar em um nicho muito específico ou, obrigatoriamente, ter uma larga escala de
operação para diluir seus custos fixos. Isso exige investimentos muito elevados e leva tempo
para se concretizar.

A segunda força de Porter olha para a ameaça de produtos substitutos. Neste caso, poderíamos
pensar em serviços substitutos. Por mais que essa substituição possa existir, como é o caso da
substituição da telefonia fixa pela telefonia móvel (ou a migração de voz para dados), na maioria
das vezes as operadoras que atuam no mercado acabam se adaptando a essas mudanças e
realizando a transição de uma tecnologia para a outra. É fato que algumas obrigações de
prestação do serviço que se torna obsoleto às vezes pode impactar na situação financeira das
empresas. Mas a história mostra que, em geral, as operadoras conseguem incorporar as novas
tecnologias ao seu portfólio de serviços, passando a realizar investimentos para crescer nesses
novos segmentos.

A terceira força leva em conta o poder de barganha dos fornecedores. Quem seriam os
fornecedores das operadoras? Principalmente os grandes fabricantes de equipamentos, que
fazem parte das enormes redes e da infraestrutura de telecomunicações.

Como dissemos anteriormente, o setor de Telecom vem passando por um movimento de


consolidação nos últimos anos. Isso fez com que o poder de barganha dos fornecedores
diminuísse, uma vez que as operadoras, que são os grandes compradores desses equipamentos,
ganharam mais força nesse novo contexto de mercado. Com uma maior concentração no setor,
os fornecedores passaram também a ter uma base de clientes bem mais concentrada, o que
gera uma dependência enorme desses poucos clientes. Se esses clientes decidem reduzir os
investimentos, dificilmente alguns desses fornecedores sobrevive. Isso tudo demonstra um
baixo poder de barganha dos fornecedores.

A quarta força de Porter está relacionada ao poder de barganha dos clientes. Os principais
clientes das operadoras são clientes individuais, o chamado B2C, e corporativos, o chamado B2B.
De forma individual, não parece que os clientes tenham grande poder de barganha sobre as
operadoras, uma vez que a base de clientes é bastante fragmentada e o ticket médio individual
não é tão representativo. Porém, se analisamos sob uma ótica coletiva, os clientes possuem
algum poder de barganha moderado. Isso porque nos casos em que as operadoras não possuem
um diferencial competitivo tão grande, como a oferta de algum serviço muito específico, tanto
o consumidor quanto o cliente corporativo simplesmente podem tomar sua decisão baseada
nos preços dos pacotes oferecidos.

Nos serviços de telefonia fixa e móvel a decisão de troca de operadora também foi facilitada
pela portabilidade numérica, que foi implementada a partir 2009. Com ela, o cliente pode migrar
seu plano de uma operadora para outra mantendo o mesmo número de telefone.
A quinta e última força avalia a rivalidade no setor de atuação, isto é, sua dinâmica competitiva.
Nas Telecomunicações, muitas vezes os serviços prestados são relativamente similares e com
baixa diferenciação. Isso tende também a gerar uma guerra de preços entre os players atuantes.
Nos últimos anos, porém, essa tendência parece estar mudando. Os mercados móvel e de banda
larga, os mais competitivos, vêm mostrando uma evolução com maior racionalidade. A inovação
voltada à transformação digital e a melhoria na experiência do cliente passaram a ser
fundamentais para o crescimento consistente e sustentável das operadoras.

Assim, a rivalidade no setor também pode ser vista como baixa ou relativamente moderada.
Reforçando que no médio prazo existe ainda uma forte tendência de consolidação entre
algumas das operadoras no mercado.

3.2. CONDUTA DAS OPERADORAS DE TELECOM

Após uma série de fusões e aquisições ocorridas desde a privatização do setor, atualmente o
mercado ficou segmentado entre dois perfis de empresas: as que possuem um modelo de
atuação integrado e as que possuem um modelo puro, com grande concentração em um
segmento único. Essas duas formas de conduta englobam praticamente todas empresas
relevantes do setor.

Na primeira categoria, das integradas, podemos destacar Vivo, Claro e Oi. Já na segunda, das
puras, destacam-se a TIM, que possui forte atuação no segmento móvel, e Sky, que atua
basicamente em TV por assinatura. A Nextel, outro player relevante no segmento móvel, foi
adquirida em 2019 pela Claro. Existem ainda algumas operadoras regionais ou de nicho, como
é o caso por exemplo da Algar, um player integrado. Também fazem parte do universo de
operadoras as operadoras móveis virtuais ou MVNOs, que alugam infraestrutura das operadoras
tradicionais para atender clientes que essas não têm interesse ou não conseguem, e os ISPs, que
são os provedores de internet.

O setor foi fortemente impactado pela crise econômica iniciada em 2014, que gerou uma forte
baixa no consumo e consequente queda no faturamento das operadoras. Nesse contexto,
serviços tradicionais como telefonia fixa e TV por assinatura vêm perdendo relevância, enquanto
que outros como internet, tanto fixa quanto móvel vêm ganhando destaque.

Olhando adiante, a expectativa para o setor é de uma maior concentração de investimentos em


tecnologias mais avançadas, o que já vem acontecendo nos últimos anos. Como o Brasil já
atingiu um alto nível de penetração e de densidade, as empresas do setor dependerão da
implantação de tecnologias mais avançadas e novos serviços para se manterem competitivas
nos próximos anos. Investimentos na infraestrutura de 4G e em fibra ótica, assim como em
tecnologia 5G mais adiante, são investimentos prioritários para o futuro.

O mercado brasileiro continua sendo bastante relevante mundialmente, e as operadoras locais


vêm atuando principalmente no sentido de buscar crescimento de ARPU, o que em português
significa receita média por usuário. Como já dissemos, o Brasil possui a 5º maior base móvel do
mundo em números de clientes, porém ocupa somente a 35ª posição no ranking de ARPU móvel,
medido em U$S de receita por mês. Isso demonstra um enorme potencial de crescimento
futuro.

3.3. DESEMPENHO DAS OPERADORAS DE TELECOM

No passado as empresas de telefonia tiveram uma presença muito relevante na bolsa de valores
brasileira. Nos anos 1990 as empresas de telecomunicações dominavam a bolsa e somente a
Telebrás, sozinha, chegou a representar metade do Índice Bovespa. Mas com o passar do tempo
e a privatização da Telebrás, o setor e a própria empresa foram perdendo relevância na bolsa.

Existiram ainda ações da Embratel Participações, que passou a ter 98% de suas ações em poder
do Grupo América Móvil, dono da Claro, e da NET, incorporada pela Embratel.

Em 2019, além da Telebrás, que continua uma empresa de capital aberto, mas sem nenhuma
liquidez nas suas ações, possuem também ações na B3 a Vivo, a Tim e a Oi.

A Vivo, maior das três e líder de mercado, possui um valor de mercado de quase R$90 bilhões.
Já a TIM, terceira colocada no mercado, tem um valor de mercado próximo de R$31 bilhões, ou
cerca de um terço do valor da Vivo. Por fim a Oi, que como falamos passa por uma situação
delicada, teve seu valor de mercado reduzido ao longo dos anos para menos de R$ 6 bilhões.
Isso representa quinze vezes menos que o valor de mercado da Vivo.

Em termos de desempenho, no segmento de telefonia móvel, em agosto de 2019 as quatro


maiores operadoras do país possuíam 97% do total do mercado. Se incluirmos ainda o market
share da Nextel no número da Claro, essa fatia salta para incríveis 99%. Na Figura 2 estão
detalhadas as participações por operadora.

Figura 2 – Market Share das Operadoras em Telefonia Móvel

Fonte: Teleco
Com 32,3% a Vivo aparece como líder absoluta de mercado. Nos três anos anteriores a
operadora ganhou cerca de 2pp de participação, ampliando ainda mais sua liderança. Em
segundo lugar, sem contar a participação da Nextel, está a Claro, com 24,7% de participação. A
TIM, que em 2016 era a segunda colocada, perdeu participação para Claro e Vivo e acabou
caindo para a terceira posição. Com 24,0% ela fica bem próxima da Claro na segunda posição.
Por fim a Oi, que enfrentou uma crise sem precedentes e acabou entrando em recuperação
judicial em 2016, também perdeu participação e atualmente possui 16,4% do mercado de
telefonia móvel.

Ao longo dos últimos anos as operadoras tiveram que lidar com importantes desafios, que
impactaram diretamente seus desempenhos financeiros e operacionais.

A atualização do cenário regulatório há anos vem sendo uma necessidade básica do setor, já
que o volume crescente de obrigações das operadoras acaba drenando recursos para
investimentos em novas tecnologias. E é só com essa atualização que as operadoras conseguirão
manter a expansão das redes e dos serviços.

Neste sentido, o PLC 79, projeto de lei complementar que altera a Lei Geral de
Telecomunicações, foi aprovado no segundo semestre de 2019. Essa atualização no marco
regulatório chega para atender as necessidades crescentes do setor e assim adequá-lo a uma
nova realidade. Com o projeto aprovado, as concessionárias podem migrar do regime de
concessão para o de autorização. Assim, as operadoras podem direcionar as obrigações de
investimentos em telefonia fixa para infraestrutura de banda larga fixa.

A aprovação desse PLC foi de vital importância para a Oi, que concentra as maiores obrigações
de investimentos em telefonia fixa. A Vivo foi a outra empresa do setor beneficiada com o
projeto.

4. POR QUE O BARSI INVESTE

Todo esse panorama deixa claro que o setor de Telecomunicações passou por muitas mudanças
ao longo das últimas décadas até chegar aos dias de hoje da maneira que o conhecemos. É
inegável que o setor, que um dia já foi controlado pelo Estado e que passou por algumas
turbulências no meio do caminho, evoluiu em vários aspectos.

Assim, sem sombra de dúvidas podemos considerar que é um setor altamente perene. Por mais
que a forma da população se comunicar possa mudar com o passar do tempo, como aconteceu
na migração de voz para dados, não nos resta dúvidas que o setor continuará existindo e
prosperando. Como Barsi gosta de dizer, o setor de Telecom é um daqueles poucos setores em
que o cliente “paga sem consumir”, pois ainda que não utilize o serviço, o boleto da operadora
estará esperando por ele todo mês.

Também nos dias de hoje, muitos hábitos têm mudado. Cada vez mais existe uma necessidade,
principalmente por parte dos jovens, de estar permanentemente conectado. É uma
dependência tão forte, que o jovem de hoje não consegue passar cinco minutos longe de seu
aparelho celular. O Brasil é o segundo país no mundo em horas gastas diariamente na internet
e nas redes sociais. E tudo isso tem reflexo direto no setor de Telecom.

Apesar do setor ter uma competição moderada e algum poder de barganha por parte dos
clientes, ele é um setor bastante protegido e com importantes barreiras de entrada. Existem até
barreiras de saída, pois a quebra de uma operadora causa um impacto terrível na prestação do
serviço que é essencial. Assim, dificilmente uma empresa do setor quebra. Isso é algo que
custaria muito caro para qualquer governo, e ninguém quer correr esse risco. Nesse caso, ao
menor sinal de alerta, provavelmente já seria articulado um movimento de consolidação.

Também não é possível identificar nenhuma ameaça de serviço substituto no setor.

Por fim, apesar do setor de Telecom ser um setor de capital intensivo, as empresas ao redor do
mundo costumam ter caixa suficiente para fazer seus investimentos e ao mesmo tempo
distribuir generosos dividendos.

Por todos esses motivos as empresas do setor de Telecomunicações estão sempre no radar de
Luiz Barsi e da Equipe AGF para integrar as carteiras previdenciárias, quando suas cotações se
mostram atrativas.

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