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Este trabalho foi publicado primeiramente na Revista de Processo n. 161, de julho de 2008, com o título
“APRECIAÇÃO PELO JUÍZO A QUO DA EXISTÊNCIA DE ALEGAÇÃO DE REPERCUSSÃO GERAL”. Foi premiado com o
primeiro lugar no III Concurso de Monografias da Academia de Letras Jurídicas da Bahia - Prêmio Acadêmico
Calmon de Passos. Ainda que verse sobre tema específico relativo à repercussão geral, o texto trata de
aspectos gerais do instituto, o que justifica o novo título que lhe é dado para fins de publicação no scribd.
2
peremptoriamente o citado dispositivo, atribuindo tal juízo única e
exclusivamente ao STF.
1. INTRODUÇÃO
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Assim, André Ramos Tavares: “No Brasil pós-65, o STF sempre funcionou como tribunal Constitucional em
tempo parcial (FAVOREU, 1997:105), acumulando a tarefa de tribunal comum de última instância, o que se
denomina de tribunal de ‘supercassação universal’ (VALDÉS, 1999:267), e por vezes instância comum originária
para causas não constitucionais (como as das ‘altas’ autoridades do Estado)”. TAVARES, André Ramos. Reforma
do Judiciário no Brasil pós-88. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 89. No mesmo sentido, Gilmar Ferreira Mendes,
Inocêncio Mártires Coelho e Paulo Gustavo Gonet Branco: “A discussão na Constituinte sobre a instituição de
uma Corte Constitucional, que deveria ocupar-se, fundamentalmente, do controle de constitucionalidade,
acabou por permitir que o Supremo Tribunal Federal não só mantivesse sua competência tradicional, com
algumas restrições, como adquirisse novas e significativas atribuições”. MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO,
Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2007.
p. 899.
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Dados levantados e fornecidos pela Secretaria de Tecnologia da Informação do STF. Disponível em:
5
cada grupo de 69 habitantes; hoje, há um para cada 10 habitantes.
Obviamente, somente onze Ministros não podem dar conta de tanto trabalho,
por mais dedicados que sejam. Num plano interessante, nota Rodolfo de
http://www.stf.gov.br/portal/cms/verTexto.asp?servico=estatistica&pagina=REAIProcessoDistribuido. Acesso
em: 28.09.2007, 16h36min.
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ARRUDA ALVIM, José Manoel de. A EC n. 45 e o instituto da repercussão geral. In: WAMBIER, Teresa Arruda
Alvim; WAMBIER, Luiz Rodrigues; GOMES JR., Luiz Manoel; FISCHER, Octavio Campos; FERREIRA, William
Santos (coords.). Reforma do Judiciário: primeiros ensaios críticos sobre a EC n. 45/2004. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2005. p. 84.
6
Camargo Mancuso: “O crescimento avantajou-se quase que em ‘progressão
geométrica’, sendo que o relatório anual de 1985 ‘informa terem sido julgados
17.798 processos diversos’. Robichez Penna observa que ‘17.000 processos-ano
julgados por onze Ministros importa em 4,2 processos/dia, por Ministro,
contando-se sábados, domingos, feriados, recessos e férias de janeiro e julho,
ocasião em que se supõe que seus membros devem desfrutar de uma forma
qualquer de lazer e descanso. A crise do Supremo Tribunal Federal é portanto
uma crise de quantidade, que deve ser refreada sob pena de inviabilizar a
entidade em mais alguns anos’” 5.
Aqui ainda é momento de sinalizar para o fato de tal crise também acometer o
Superior Tribunal de Justiça (STJ). Ilustre-se, estatisticamente: o STJ no ano de
2005 recebeu 221.023 processos; no ano de 2006 foram 277.251, verificando-
5
MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Recurso Extraordinário e Recurso Especial. 9. edição. São Paulo: RT, 2007. p.
74.
6
TANIGUCHI, Yasuhei. O Código de Processo Civil japonês de 1996. Um processo para o próximo século. Trad.
José Carlos Barbosa Moreira. Revista de Processo. Ano 25, n. 99, julho-setembro de 2000. p. 61 e 62. São Paulo:
RT, 2000.
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7
se um aumento de 25,44% .
Com tal instituto se pretende, nota-se bem, se não dificultar o acesso ao STF,
ao menos tornar sua função mais criteriosa, submetendo à sua apreciação
somente aquelas causas cujo objeto (matéria constitucional) suscite interesse
que transcenda os interesses das partes envolvidas na demanda e guarde
relevância para a vida nacional, seja política, social, econômica ou jurídica.
7
Dados levantados e apresentados pela Secretaria Judiciária. Disponível em:
http://www.stj.gov.br/webstj/Processo/Boletim/sumario.asp. Acesso em: 28.09.2007, 17h30min.
8
ARRUDA ALVIM, José Manoel de, Ibidem. p. 84.
8
verdadeiramente a todos aqueles que participam da vida nacional. O advento
da repercussão geral não vem, pensa-se, resolver a crise do STF, mas, no
mínimo, tornar sua atuação mais digna de uma Corte Superior.
3. REPERCUSSÃO GERAL
3.1. CONCEITO
Haveria relevância política, por sua vez, nas causas em que pudesse emergir
decisão capaz de influenciar relações com Estados estrangeiros ou organismos
9
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; WAMBIER, Luiz Rodrigues; MEDINA, José Miguel Garcia. Breves Comentários
à Nova Sistemática Processual Civil. São Paulo: RT, 2007. p. 246.
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10
internacionais , ou até mesmo entre entes federativos, ou seja, que tivesse
potencialidade para ameaçar o pacto federativo, que tivesse grande relevância
e influência no processo eleitoral ou no Direito Eleitoral em si.
Impõe-se, por oportuno, uma ressalva: nas hipóteses aqui vislumbradas não é
certo ter relevância econômica, política, social e/ou jurídica, pois, como se
verá, a repercussão geral é conceito jurídico indeterminado que só ganha
concreção em face do caso concreto, que pode ter peculiaridades que escapam
à imaginação e faz da regra exceção.
Além disso, conforme expressa previsão do §3°, art. 543-A, CPC, “haverá
repercussão geral sempre que o recurso impugnar decisão contrária à súmula
10
Idem, ibidem.
11
Idem, ibidem.
12
Idem, ibidem.
10
ou jurisprudência dominante do Tribunal”. Ou seja, para fins de harmonização
vertical das decisões, presume-se a repercussão geral da impugnação recursal
extraordinária, porquanto a unidade de interpretação do Direito é, de fato,
questão de grande relevância no mínimo jurídica e de interesse maior do que
os individuais envolvidos no litígio.
13 Para uma compreensão profunda acerca da natureza de conceito jurídico indeterminado da repercussão
geral, recomenda-se a leitura do excelente ARRUDA ALVIM, José Manoel de. A EC n. 45 e o instituto da
repercussão geral. In: WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; WAMBIER, Luiz Rodrigues; GOMES JR., Luiz Manoel;
FISCHER, Octavio Campos; FERREIRA, William Santos (coords.). Reforma do Judiciário: primeiros ensaios críticos
sobre a EC n. 45/2004. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p. 63 e ss.
11
repercussão geral, não é lícito ao magistrado negá-la, por questões de ordem
subjetiva, alegando discricionariedade. Mesmo porque há discricionariedade
quando pode o agente, em face de duas alternativas legítimas, escolher uma. E,
no caso, diante da aferição da repercussão exigida, somente uma se mostra
legítima, vale dizer, a de admissão do recurso extraordinário14.
Ainda sobre este ponto, deve-se dizer que a adoção de conceitos jurídicos
indeterminados pelo legislador constitui não um fator de insegurança, mas de
evolução na redação dos textos legais, porquanto porventura previsse
exaustivamente os casos de repercussão geral acabaria por “engessar” o
instituto, retirando dele toda sua potencialidade de uso e de restrição de
acesso ao STF.
Desse modo, melhor que a própria Corte Máxima, em face do caso concreto e
considerando as variáveis verificadas a certa época em determinado espaço,
diga quais demandas tem repercussão geral, mesmo porque, alterada aquelas
variáveis, igual questão pode deixar de tê-la.
14 Nesse sentido, prelecionam Teresa Wambier, Luiz Wambier e José Medina: “Embora não se esteja diante de
conceitos determinados, ou seja, daqueles cujo referencial semântico é facilmente identificável no mundo
empírico, existem, indubitavelmente, critérios para que se possam identificar 'questões relevantes do ponto de
vista econômico, político, social ou jurídico, que ultrapassem os interesses subjetivos da causa'. Deve-se afastar
definitivamente a idéia de que se estaria aqui diante de decisão de natureza discricionária. (...) Os conceitos, de
um modo geral, mesmo os conceitos determinados, podem ser vistos como algo que tem uma estrutura
interna. Um círculo de certeza de tamanho pequeno, uma círculo maior que este, que seria a zona de
“penumbra” (Begriffshof), e uma ainda maior, que seria uma outra zona de certeza, agora negativa. Assim, esta
imagem com três círculos concêntricos encerraria, no centro, uma área em que há a certeza, positiva (é, com
certeza- núcleo do conceito-, Begriffskern), e, como última zona do círculo, uma zona de certeza negativa (não
é, com certeza)”. WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; WAMBIER, Luiz Rodrigues; MEDINA, José Miguel Garcia.
Breves Comentários à Nova Sistemática Processual Civil. São Paulo: RT, 2007. p. 244. Nesse sentido também:
MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Repercussão Geral no Recurso Extraordinário. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2007. p. 34 e 35.
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Não se tem notícia de instituto igual no direito brasileiro. A referência à
argüição de relevância15 se dá somente por esta guardar semelhança com a
repercussão geral no que toca exclusivamente a sua função de filtro recursal.
No mais, diferem em tudo, sendo compreensível a comparação freqüente em
sede de doutrina somente em razão da pendência de regulamentação
infraconstitucional, o que dava azo a especulações em torno de como seria sua
futura disciplina legal16.
Agora, após a edição da Lei n. 11.418/06, não há razão para confusões. Como
bem notam Luiz Guilherme Marinoni e Daniel Mitidiero, “enquanto a argüição
de relevância funciona como instituto que visava a possibilitar o conhecimento
deste ou daquele recurso extraordinário a priori incabível, funcionando como
um instituto com característica central inclusiva, a repercussão geral visa a
excluir do conhecimento do Supremo Tribunal Federal controvérsias que assim
se caracterizem” 17.
15 Prevista no art. 119, III, a e d c/c §1°, da Constituição Federal de 1967, alterada pela Emenda Constitucional
n. 1 de 1969 c/c arts. 325, I a XI, e 327, 1°, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, com a redação
dada pela Emenda do Regimento n. 2 de 1985.
16 Antes mesmo da edição da Lei n. 11.418/06, já havia notado com proficiência a diferença entre os dois
institutos Eduardo de Avelar Lamy: “Desse modo, a resposta ao questionamento de Rodolfo de Camargo
Mancuso, para quem a repercussão geral poderia ser um reentrée da argüição de relevância disfarçada,
evitando-se somente a ousadia de adotar-se seu nome, parece mesmo negativa. Pelo exposto, portanto,
acredita-se que a argüição de relevância e a repercussão geral são institutos diversos o suficiente à seguinte
conclusão: a última não constitui a volta da primeira”. LAMY, Eduardo Avelar. Repercussão geral no recurso
extraordinário: a volta da argüição de relevância?. In: WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; WAMBIER, Luiz
Rodrigues; GOMES JR., Luiz Manoel; FISCHER, Octavio Campos; FERREIRA, William Santos (coords.). Reforma do
Judiciário: primeiros ensaios críticos sobre a EC n. 45/2004. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p. 179.
17 MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Repercussão Geral no Recurso Extraordinário. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2007. p. 30 e 31. Nesse sentido também, revelando, através do conceito, a natureza
inclusiva da argüição de relevância, Nelson Nery: “Dessa ordem de raciocínio, a argüição de relevância da
questão federal pode ser definida como tendo sido pressuposto especialíssimo para o cabimento do recurso
extraordinário, que tinha o objetivo precípuo de afastar o óbice das restrições regimentais, ou, por outra, a
finalidade de fazer com que o STF admitisse o recurso extraordinário, fora dos casos enumerados
taxativamente no RISTF (RISTF 325 I a X)”(sem grifos no original). NERY JUNIOR, Nelson. Teoria Geral dos
Recursos. 6. edição. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. p. 104.
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relevância, de resto também presente na argüição de relevância, a
transcendência da questão discutida.
Como sabido, os recursos, como, aliás, qualquer ato postulatório, estão sujeitos
a duas espécies de análise: o juízo de admissibilidade e o juízo de mérito. Ao
primeiro, cumpre verificar o preenchimento de certas condições exigidas por
lei para que as razões da impugnação possam ser conhecidas. Ao segundo, por
sua vez, compete a própria análise do mérito do recurso.
O juízo de mérito, por seu turno, salvo quando a lei expressamente autoriza de
forma contrária (embargos de declaração, por exemplo), compete ao juízo ad
quem.
Fixadas essas tão importantes premissas, cumpre dizer que, nos termos do art.
543-A, §2°, do CPC, “o recorrente deverá demonstrar, em preliminar do
19 Assim é que ensina Barbosa Moreira: “Outro princípio fundamental é o de que, seja qual for o recurso, pelo
menos a questão da admissibilidade não deve jamais ser subtraída à apreciação do órgão ad quem. Por
conseguinte, com ressalva de expressa exceção legal, nenhum recurso pode ser rejeitado como inadmissível
pelo órgão perante o qual se interpõe, se contra essa decisão a lei não concede ao recorrente outro recurso, ou
remédio análogo, para o juízo a que tocaria julgar o primeiro”. BARBOSA MOREIRA, José Carlos. O novo
processo civil brasileiro. 25 ed. São Paulo: Forense, 2007. p. 120.
16
recurso, para apreciação exclusiva do Supremo Tribunal Federal, a existência da
repercussão geral”.
20 MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Repercussão Geral no Recurso Extraordinário. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2007. p. 41.
21 SILVA, Ticiano Alves e. Por uma nova interpretação da regra contida no art. 526 do CPC . Jus Navigandi,
Teresina, ano 11, n. 1377, 9 abr. 2007. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9711>.
Acesso em: 31 jul. 2007.
22 Critica a presente opção do legislador constituído Luiz Manoel Gomes Junior: “Novamente ousamos
discordar da opção, pois se a parte não aceitasse a decisão, seria possível a utilização do recurso respectivo
(agravo de instrumento). O presidente do tribunal a quo poderá analisar se presente a violação à Constituição,
mas não se a questão repercute de forma geral, o que permissa venia é uma nova gritante contradição”.
GOMES JUNIOR, Luiz Manoel. A repercussão geral da questão constitucional no recurso extraordinário. Revista
de Processo, ano 30, n. 119, janeiro de 2005. p. 109.
17
objeto de aferição pelo juízo ad quem, “e isso facilmente se explica, porque,
em consonância com o art. 102, §3°, da CF/88, o recurso somente pode ser
inadmitido, pela inexistência de repercussão geral, por dois terços dos
Ministros integrantes do Supremo”23, conforme explica José Rogério Cruz e
Tucci.
23 CRUZ E TUCCI, José Rogério. Repercussão geral como pressuposto de admissibilidade do recurso
extraordinário (Lei 11.418/2006). Revista de Processo. Ano 32, n. 145, março de 2007. p. 156.
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Posta esta diferenciação, razão não há para que o juízo prolator da decisão
recorrida não aprecie a existência de alegação da repercussão geral, e não, vale
ressaltar, a existência da repercussão geral em si, que só cabe, nos termos da
lei, ao STF.
Fica patente, portanto, que pode sim o juízo a quo negar seguimento ao
recurso extraordinário, afirmando que naquele caso não houve a alegação de
repercussão geral, tal como faria com os outros requisitos de admissibilidade
(conferir o art. 542, §1°, CPC).
Assim, a parte que teve seu recurso extraordinário inadmitido pelo juízo a quo
por ausência de alegação de existência de repercussão geral poderá se valer do
agravo de instrumento para ver seu recurso admitido.
24
Sobre o caso ora em análise mais se dirá em momento oportuno.
21
inexistência de repercussão geral, a justificar a inadmissibilidade do recurso
pelo juízo a quo mesmo, por imperativo de celeridade, lógica e racionalização.
Afinal, não alegar a repercussão geral e alegar manifestamente mal e
infundadamente trata-se da mesma situação, a merecer rechaço o quanto
antes.
25
No sentido que vai no texto, aduz Ticiano Alves: “É sabido por todos que o Poder Judiciário encontra-se
assoberbado, tendo que apreciar uma quantidade de demandas muito acima do que sua estrutura pode
suportar. Não bastasse, os recursos financeiros disponíveis não são suficientes para satisfazer as necessidades
da Justiça. Ocorre que tal situação, em essência política, não pode dar ensejo à denegação da justiça, sob pena
de desvincular o sistema de seu fim maior: a pacificação social com a realização do direito material in concreto.
E tem-se visto com não rara freqüência que os Tribunais vêm se apegando a aspectos de forma para se negar a
realizar a análise de aspectos de fundo, de mérito, decerto mais trabalhosa. Não se pode esquecer que o
processo é meio, e não um fim em si mesmo, e que se deve priorizar, sempre, o legítimo acesso à justiça e a
produção de resultados no mundo sensível”. SILVA, Ticiano Alves. Para além de uma aplicação tradicional do
princípio da fungibilidade: possibilidade de conhecimento do ato “intempestivo” no caso de existência de
dúvida fundada sobre a natureza do prazo de art. 2°, caput, da Lei 9.800/99. Revista de Processo 150. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.
23
apreciadas pelo STF diminuirá, permitindo que um sonhado Tribunal
Constitucional possa se deter em questões verdadeiramente importantes.
Por fim, noticia-se que a posição aqui defendida tem sido por ora a adotada
tanto pelo STJ como pelo STF.
26
STJ, RE nos EDcl no AgRg nos EDcl no RECURSO ESPECIAL n. 824.771/SC, Min. Peçanha Martins, DJ
29/06/2007.
27 Depois do julgamento da Questão de Ordem no Agravo de Instrumento n. 664.567, o STF remeteu instrução
aos tribunais informando como deveria ser realizado o juízo de admissibilidade no recurso extraordinário, no
que toca, especificamente, a existência de alegação de repercussão geral.
24
Na oportunidade, ficou decidido: “Esse o quadro, resolvo a questão de ordem
para concluir: a) que é de exigir-se a demonstração da repercussão geral das
questões constitucionais discutidas em qualquer recurso extraordinário,
incluído o criminal; b) que a verificação da existência na petição do RE de
'preliminar formal e fundamentada de repercussão geral' (C.Pr.Civil, art. 543-A,
§2º; RISTF, art. 327) das questões constitucionais discutidas pode fazer-se tanto
na origem quanto no Supremo Tribunal Federal, cabendo exclusivamente a
este Tribunal, somente, a decisão sobre a efetiva existência da repercussão
geral; c) que só se aplica a exigência da demonstração da repercussão geral a
partir do dia 3 de maio de 2007, data da publicação da Emenda Regimental nº.
21, de 30 de abril de 2007”28.
28
STF, AI 664567 QO/RS, rel. Min. Sepúlveda Pertence, Informativo 472, publicado no DJU de 26.6.2007
25
6. CRÍTICA À EXIGÊNCIA DE PRELIMINAR FORMAL DE REPERCUSSÃO GERAL
Viu-se que, segundo a nova redação dada ao art. 327 do Regimento Interno do
STF pela Emenda Regimental n. 21 e a Questão de Ordem decidida no AI nº
664.567/RS, Sessão Plenária do STF, de 18.06.2007, a alegação de repercussão
geral deverá vir em preliminar formal e fundamentada.
Com efeito, a teoria das nulidades processuais adotada pelo CPC é claríssima
no sentido que o descumprimento da forma exigida só deverá ensejar a sanção
de não-conhecimento quando o ato não cumprir com sua finalidade ou gerar
prejuízo.
29 Nesse sentido, Mandado de Segurança 21750-QO, Rel. Min. Carlos Velloso, julgamento em 24-11-93, DJ de
8-4-94.
30
STF, Agravo Regimental no Mandado de Segurança n. 26.049-1/DF, rel. Min. Joaquim Barbosa, DJ 24.08.2007.
27
Além disso, desta via só se deve utilizar quando não há recurso previsto para a
hipótese (art. 5°, II, Lei n. 1.533/51), o que não é o caso.
31
Comenta com acuidade Teresa Wambier: “A redação atual do art. 544, § 3°, estabelece que o relator, ao
receber o agravo que foi interposto contra a decisão do juízo a quo que negou seguimento ao recurso especial
ou ao recurso extraordinário, pode conhecer do agravo e julgar o mérito do recurso especial e do recurso
extraordinário, dando-lhe provimento, se o acórdão recorrido estiver em confronto (contrastar) com a
jurisprudência dominante ou com a súmula do STJ ou do STF; pode também, admitindo o agravo, converter
este recurso ou no recurso especial ou no extraordinário, passando-se a observar, daí em diante, o
procedimento relativo ao recurso no qual o agravo foi convertido”. WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Os agravos
no CPC brasileiro. 4. ed. São Paulo: RT, 2005. p. 566 e 567.
32 BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Comentários ao Código de Processo Civil. vol. 5. 11. edição. Rio de Janeiro:
Forense, 2005. p. 544 e 545.
33 Embargos no Agravo de Instrumento nº 260.674/ES. DJ 26.06.2001.
29
manifestação sobre um ponto sobre o qual deveria o tribunal se manifestar,
vale dizer, a existência de alegação de repercussão geral, seja em preliminar
formal em capítulo próprio, seja ao longo das razões recursais.
Deve-se dizer, ainda mais, que a oposição dos embargos de declaração pela
parte que teve seu recurso extraordinário inadmitido por falta de preliminar
formal de repercussão geral podem ser reflexos em outros casos.
7. CONCLUSÃO
8. REFERÊNCIAS
32
ARRUDA ALVIM, José Manoel de. A EC n. 45 e o instituto da repercussão geral.
In: WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; WAMBIER, Luiz Rodrigues; GOMES JR., Luiz
Manoel; FISCHER, Octavio Campos; FERREIRA, William Santos (coords.).
Reforma do Judiciário: primeiros ensaios críticos sobre a EC n. 45/2004. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2005.
BARBOSA MOREIRA, José Carlos. O novo processo civil brasileiro. 25 ed. São
Paulo: Forense, 2007.
_____. Comentários ao Código de Processo Civil. vol. 5. 11 ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2005.
CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil. vol. 1. 15. ed. Rio
de Janeiro: Lúmen Juris, 2006.
NERY JUNIOR, Nelson. Teoria Geral dos Recursos. 6 edição. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2004.
SILVA, Ticiano Alves e. Por uma nova interpretação da regra contida no art. 526
do CPC. Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n. 1377, 9 abr. 2007. Disponível em:
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9711>. Acesso em: 31 jul. 2007.
_____. Para além de uma aplicação tradicional do princípio da fungibilidade:
possibilidade de conhecimento do ato “intempestivo” no caso de existência de
dúvida fundada sobre a natureza do prazo de art. 2°, caput, da Lei 9.800/99.
Revista de Processo. Ano 32, n. 150, agosto de 2007. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2007.
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; WAMBIER, Luiz Rodrigues; GOMES JR., Luiz
Manoel; FISCHER, Octavio Campos; FERREIRA, William Santos (coords.).
Reforma do Judiciário: primeiros ensaios críticos sobre a EC n. 45/2004. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2005.
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Os agravos no CPC brasileiro. 4. ed. São Paulo:
RT, 2005.