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Introdução
A questão da auto-avaliação da BE é, nas três dimensões referidas por Ross Todd (2008) - evidence for practice, evidence in practice and
evidence of practice - "an approach to best practice”, “an approach that systematically engages research-derived evidence, school librarian-
observed evidence and user-reported evidence in the ongoing processes of decision making, development and continuous improvement to
achieve the school’s mission and goals”.
MacNicol (2004) refere “the importance of considering library self-evaluation as an integral part of whole school self-evaluation and also
of using the findings to inform future planning to ensure that the library has maximum impact on teaching and learning.”
No artigo “How good is your school library resource centre?”, E. Scott (2002) refere as áreas de potencial impacto da BE (identificadas
pelo projecto de investigação levado a cabo pela Robert Gordon University), a saber:
The acquisition of information;
The development of library, information, ICT, reading and study skills;
Improved quality of work;
Development of independent and interpersonal skills;
Motivation and enrichment;
Transfer of skills across the curriculum;
Reading for pleasure.
No processo de auto-avaliação da BE, inserida no processo de auto-avaliação da escola, estas áreas (domínios) estão presentes,
devendo, naturalmente, por conseguinte, constar dos relatórios de Avaliação Externa das escolas.
Tal como já referi numa das tarefas anteriores, no actual contexto português, torna-se efectivamente urgente que este processo de auto-
avaliação das bibliotecas aconteça porque serve vários fins, nomeadamente:
Mostra à comunidade educativa de cada escola e à comunidade em geral a importância da BE para o sucesso das aprendizagens e para
a formação integral dos alunos;
Mostra à comunidade nacional que o investimento realizado nos últimos anos pela RBE tem impactos concretos na vida dos alunos;
Prova, a partir deste ano lectivo, ao ME que a recente criação da figura do professor bibliotecário é um investimento seguro, porque a
sua presença na escola a tempo inteiro (ou quase…) faz a diferença.
Neste contexto, a referência à BE, e aos impactos que a mesma produz no processo de ensino e aprendizagem, no relatório de
Avaliação Externa é de extrema importância.
Relatórios seleccionados
No ano lectivo 2008/09, o Agrupamento de Escolas a que pertenço foi alvo de Avaliação Externa, por parte da IGE. Naturalmente, tomei
conhecimento do relatório final, analisando com particular interesse as referências realizadas à BE que coordeno. Para esta tarefa, decidi
escolher relatórios de agrupamentos de tipologia semelhante à daquele onde desenvolvo a minha actividade profissional, do ano lectivo
2008/09, (um exemplo de cada direcção regional), nomeadamente:
Caracterização “A biblioteca é um espaço “Existem várias salas “ A escola sede é “… tem diversas salas
do agradável e procurado” específicas, sendo de constituída por […] de apoio,
Agrupamento destacar a Centro de Recursos e nomeadamente a
Mediateca/Biblioteca” Biblioteca, integrando- biblioteca
se esta na Rede de escolar/Centro de
Bibliotecas Escolares” Recursos (BE/CRE)”
Domínio 1 Factores Agrup. De Escolas das Taipas Agrup. De Escolas da Agrup. de Escolas de Agrup. de Escolas Agrup. de Escolas de Boliqueime
Cordinha Fazendas de Almeirim de Nisa
Resultados Sucesso “Os alunos “… foi dada continuidade ao Plano Nacional de Leitura,
académico manifestam em todos os níveis de ensino. Também foram
preocupações melhoradas as condições da BE/CRE na escola sede”
com o
“Foram ainda implementadas outras medidas, no
funcionamento
sentido da melhoria das competências dos alunos em
[…] da BE”
Língua Portuguesa… entre as quais se destacam as
actividades da Biblioteca”.
Valorização e impacto
das aprendizagens
Domínio 2 Factores Agrup. De Escolas das Taipas Agrup. De Agrup. de Agrup. de Agrup. de Escolas de Boliqueime
Escolas da Escolas de Escolas de
Cordinha Fazendas de Nisa
Almeirim
“As actividades de
enriquecimento/complemento
curricular contribuem para a maior
diversificação e abrangência de
experiências de aprendizagem dos
alunos designadamente as que são
levados a cabo… pela biblioteca”
Acompanhamento da
prática lectiva em sala de
aula
Diferenciação e apoios
Abrangência do currículo e “as bibliotecas existentes (EB1) têm “As actividades da BE/CRE procuram
valorização dos saberes e dinâmicas de utilização diferenciada” motivar os alunos para a
aprendizagens aprendizagens diferenciadas,
“É de realçar o desenvolvimento de
promover a leitura, e permitir o
projectos […] Biblioteca Escolar/Centro
acesso generalizado ao conhecimento,
de Recursos”
através da disponibilização de fontes
de informação atractivas e da
dinamização periódica de sessões
culturais com diversas personalidades
convidadas”
Domínio 3 Factores Agrup. De Agrup. De Escolas da Cordinha Agrup. de Agrup. de Escolas de Nisa Agrup. de Escolas de
Escolas das Escolas de Boliqueime
Taipas Fazendas de
Almeirim
financeiros como pólo de pela coordenadora ou pelos alunos na BE/CRE e nas sals de
atracção dos diferentes professores. Está informática”
alunos” bem apetrechada e possui um
acervo actualizado e
diversificado. É de salientar
que, neste espaço, e
semanalmente, é promovida a
realização da actividade “hora
do
conto” para as crianças da
educação pré-escolar,
dinamizada por professores,
alunos dos
cursos de educação e
formação e pessoal não
docente. No 1º ciclo são
disponibilizados
baús com livros que circulam
entre os vários
estabelecimentos de ensino,
existindo a
possibilidade de serem
requisitados. O material
informático é diversificado e
pode ser
utilizado por docentes e
discentes.”
Domínio 4 Factores Agrup. De Escolas das Agrup. De Escolas da Agrup. de Escolas de Agrup. Agrup. de
Taipas Cordinha Fazendas de Almeirim de Escolas de
Escolas Boliqueime
de Nisa
Motivação e empenho
Abertura à inovação
Domínio 5 Factores Agrup. De Agrup. De Escolas da Cordinha Agrup. de Agrup. Agrup. de Escolas de
Escolas das Escolas de de Boliqueime
Taipas Fazendas de Escolas
Almeirim de Nisa
Em jeito de conclusão da análise aos relatórios, coloco aqui as classificações atribuídas aos diferentes Agrupamentos nos diversos domínios:
Agrup. de Escolas das Taipas Bom Bom Bom Muito Bom Bom
Agrup. de Escolas de Fazendas de Almeirim Muito Bom Muito Bom Muito Bom Muito Bom Suficiente
Agrup. de Escolas de Boliqueime Bom Bom Muito Bom Muito Bom Bom
Conclusão
Após a análise dos relatórios seleccionados, gostaria de tecer os seguintes comentários:
Na selecção dos relatórios, encontrei, para minha surpresa, muitos relatórios sem qualquer referência à Biblioteca/Centro de Recursos
(e com classificações de Muito Bom nos diversos domínios);
A quase totalidade das bibliotecas é referenciada logo na caracterização do Agrupamento (mera referência à sua existência como
espaço físico…);
Em relação ao domínio 1 (Resultados), não abundam as referências à BE (excepção do agrupamento do Boliqueime) e não são explícitos
os impactos das mesmas para o sucesso académico dos alunos; ainda neste domínio, não há qualquer referência às bibliotecas no
factor “Valorização e impacto das aprendizagens”;
Em relação ao domínio 2 (Prestação do serviço educativo), praticamente apenas um dos relatórios (novamente o do Agrup. de
Boliqueime) refere de forma generosa a biblioteca e o seu valor para o desenvolvimento de competências de Língua Portuguesa,
articulação entre ciclos e abrangência do currículo e valorização dos saberes e aprendizagens;
É em relação ao domínio 3 (Organização e gestão escolar) que as BE são referenciadas mais vezes nestes relatórios, mas muitas das
referências dizem sobretudo respeito à gestão dos recursos humanos e materiais (salientam-se alguns comentários relativos à
importância da BE para a equidade e justiça);
No que diz respeito ao domínio 4 (Liderança), apenas uma referência incluída no factor protocolos e parcerias. Refira-se que o PNL é
referido na sua relação com a BE algumas vezes nos diferentes relatórios;
O domínio 5 (Capacidade de auto-regulação e melhoria) é o domínio onde existem menos referências à BE. De facto, apenas um
relatório refere práticas de avaliação da Biblioteca (Agrup. de escolas da Cordinha);
Curiosamente, não parece haver relação (nestes relatórios…) entre as referências à BE e as classificações obtidas nos diferentes
domínios;
Em jeito de conclusão, gostaria de questionar o seguinte: estarão todos os intervenientes na Avaliação Externa da escola conscientes do
valor da BE para uma escola, do facto da mesma ser parte integrante do processo de ensino e aprendizagem? Ou terão ainda a visão da BE
como um mero recurso apenas físico da escola, à semelhança da reprografia ou outros? Não valerá a pena investir, tal como se está a fazer
com os professores bibliotecários (formação na área da auto-avaliação da biblioteca), em formação dos elementos da IGE (na área das BE),
para que, aquando da sua visita às escolas, o seu olhar possa ser outro? Muitas vezes, em actividades inspectivas, o coordenador da BE não é
sequer solicitado a comparecer para dialogar com o responsável pela inspecção, não se considerando a sua contribuição para o sucesso das
aprendizagens. Da minha experiência pessoal, a participação activa e a entrega da documentarão essencial da BE (incluindo projectos e
outros…) aquando da avaliação externa parece não ser suficiente, uma vez que apesar de se ter disponibilizado os projectos de BE e se ter
referido algumas actividades de grande importância no contexto da articulação curricular com os docentes do agrupamento (projecto de
promoção da literacia da informação, avaliação da leitura…), elas não aparecem referidas no relatório da Avaliação Externa da escola onde
trabalho.
As evidências (que surgirão de realização da auto-avaliação das BE a nível nacional) abrirão (esperamos!) seguramente caminho para que a
BE seja considerada, efectivamente, como uma estrutura educativa de crucial importância para a escola, pelo impacto que tem nas
aprendizagens dos alunos, pela sua responsabilidade no desenvolvimento de competências essenciais (de leitura, de literacia de informação…),
espelhando-se essa verdade nos relatórios de Avaliação Externa.
Talvez daqui a uns anos uma análise aos relatórios de Avaliação Externa revele uma realidade diferente daquela que aqui apresentámos.
Creio que temos todos, professores bibliotecários, órgãos de direcção, elementos da IGE e professores curriculares que contribuir para essa
realidade.
Bibliografia
McNicol, S. (2004). Incorporating library provision in school self-evaluation. [Em linha].[Consultado em 17-11-2009]. Disponível em
http://forumbibliotecas.rbe.min-edu.pt/mod/resource/view.php?id=8353
Scott, E. (2002). How good is your library resource centre? An introduction to performance measurement. [Em linha]. Paper presented
at 68th IFLA Council and General Conference. Glasgow, August18-24. Disponível em http://forumbibliotecas.rbe.min-
edu.pt/mod/resource/view.php?id=8352
Todd, R. (2008). The evidence –based manifesto for school librarians. School Library Jornal. [Em linha]. [Consult. 17/11/2008].
Disponível em http://www.schoollibraryjournal.com/article/CA6545434.html