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A psicologia da Gestalt
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Um insight repentino
✓
Tenerife, localizadaa200 milhasdacostadaAfrica, éailhamaisfamosanahistóriadapsicologia, poisfoi
láque Wolfgang Köhler estudou macacos. Mas essenão émais umconto sobre Hans, oEsperto, ou Pris
cilla, o Porco Metódico, animais quetinhamsido treinados ou condicionados asecomportar dedetermi
nadamaneira. AtéKöhler, psicólogo alemão, ir paraTenerife, em1913, acreditava-sequeaúnicamaneira
de animais aprenderem era por meio de tentativa e erro, isto é, tropeçando acidentalmente na resposta
correta —aquela que trazia comida como recompensa. A maioria das pesquisas sobre animais citadas nos
capítulos anteriores envolve animais ensinados ase comportar da maneira como o experimentador ou
treinador desejava.
Köhler nãotinhainteresseemtreinar osmacacosqueencontrouvivendonailha. Seuobjetivoeraobservá-
-losparaver como elesresolviamproblemas. Eleacreditavaqueeleserammaisinteligentesdo queaspessoas
imaginavamequeeramcapazesderesolver problemasdemaneiramuito semelhanteàdoshumanos. Assim,
colocou osmacacosemgaiolasgrandes, colocou osinstrumentos quepoderiamusar paraobter comidabem
àvistadeles, esentou-separaobservar o quefaziam.
Uma macaca, Nueva, pegou uma vara que Köhler havia colocado emsuagaiola. Ela arranhou o chão
comavarapor umcurto período; emseguida, perdeu o interesse eadeixou delado. Dez minutos depois,
algumasfrutasforamcolocadasdo lado defora. Elaesticou umdosbraçospelasgradesdagaiolaemdireção
auma fruta, mas não conseguiu alcançá-la. Começou achoramingar eagemer, eemseguidajogou-se no
chão emum“gesto muito eloquentededesespero”, Köhler escreveu.
Minutos depois elaolhou avara, parou de choramingar, erepentinamente aagarrou. Então, esticou a
varapelasgrades dagaiolaearrastou afrutaatéqueestivesseperto o suficienteparapoder alcançá-lacoma
mão. Umahoradepois, Köhler repetiu oexperimento. Dessavez, Nuevapegou avaraeausou como instru
Capítulo 12 A psicologia da Gestalt 287
A revolta da Gestalt
Traçamosatéaqui aevolução dapsicologiadesdeasideiasiniciaisdeWundt eaelaboração dessasnoçõespor
Titchener, passando pela escoladepensamento funcionalista, bemcomo pelasáreas aplicadas dapsicologia,
atéchegar aobehaviorismo deWatsoneSkinner eaodesafiocognitivo nessemovimento. Maisou menosna
mesma época emquearevolução behaviorista aglutinavaforçasnosEstados Unidos, arevolução daGestalt
tomava conta dapsicologia naAlemanha. Essarevolução consistia emmais umprotesto contra apsicologia
wundtianaeviria, maistarde, asetornar umtestemunho dasideiasdeWundt como fontedeinspiraçãopara
osurgimento denovasvisõesecomo baseparaolançamento denovossistemasdepsicologia.
Nesse ataque contra apsicologia dominante, apsicologia da Gestalt concentrava-se principalmente na
natureza elementar do trabalho deWundt. Apenaspararelembrar, oselementos sensoriaisformavamabase
dapsicologiawundtiana, eospsicólogos da Gestalt fizeramdesse enfoque o alvo do seu ataque. Wolfgang
Köhler, fundador dapsicologiadaGestalt, afirmou: “Ficamoschocadoscomatesedequetodo fatopsicoló
gico constitui-sedeátomosinertesnão relacionadosequeasassociaçõesconsistem, praticamente, nosúnicos
fatoresquecombinamessesátomos, introduzindo, assim, aação” (Köhler, 1959, p. 728).
Paracompreender o protesto da Gestalt, retornemos ao ano de 1912. O behaviorismo deWatson co
meçava aatacar Wundt eTitchener e também o funcionalismo. A pesquisa sobre animais realizada nos
laboratórios de Thorndike ede Pavlov exercia grande impacto eapsicanálise de Freud (ver Capítulo 13)
já completava uma década. Embora o movimento dos psicólogos da Gestalt contra aposição de Wundt
tenhaocorrido concomitantementeaosurgimento dobehaviorismo nosEstadosUnidos, osdoismovimen
tos foramtotalmente independentes. Eainda que ambas asescolas depensamento tivessemcomeçado por
seopor àsmesmasideias—ofoco deWundt sobreoselementossensoriais, elasacabarampor voltar-seuma
contra aoutra.
As diferenças entre apsicologia da Gestalt eo behaviorismo logo ficaramevidentes. Os psicólogos da
Gestalt admitiamovalor daconsciência, emboracriticassematentativadereduzi-laaelementosou átomos,
enquanto ospsicólogosbehavioristasrecusavam-seareconhecer ovalor do conceitodeconsciêncianapsico
logiacientífica.
OspsicólogosdaGestalt comparavamaabordagemdapsicologiadeWundt (domodo como ainterpre
tavam) comaconstruçãodeumacasa, emqueoselementos(ostijolos) seriamunidospelaargamassamedian
te o processo de associação. Afirmavamque, ao olhar pelajanela, enxergamos efetivamente asárvores eo
céu, enão osdenominadoselementossensoriais, como obrilho eastonalidades, osquais, dealgumaforma,
seconectariamparaformar anossapercepção deárvoreedecéu.
288 Historia da psicologia moderna
Ademais, ospsicólogos da Gestalt insistiamno fato de que, quando oselementos sensoriaissão combi
nados, elesformamumnovo padrão ou configuração. Sejuntarmos umgrupo denotasmusicaisindividuais
(elementosdamúsica), por exemplo, umamelodiaou umtomsurgedessacombinação, formando algonovo,
quenão existiaemnenhumadasnotasenquanto elementosindividuais. Ummodo popular deseafirmar essa
noção éaideiadequeotodo édiferentedasomadaspartes. ParafazerjustiçaaWundt, deve-seobservar que
eleconsiderou essaquestão emsuadoutrinadasíntesecriativa. OspsicólogosdaGestalt, no entanto, fizeram
desteoponto central dasuarevolução.
—Umlivro.
—Sim, éclaroqueéumlivro—eleconcorda— , masoquevocêvê, realmente?
—Oquevocêquer dizer?Oqueeuvejorealmente?- vocêquestiona, intrigado. - Eu dissequeestou
vendoumlivro. Umlivropequeno comcapavermelha.
Opsicólogoépersistente.
—Qual ésuaverdadeirapercepção?- eleinsiste. - Descrevadaformamaisprecisaquepuder.
—Vocêquer dizer queissonãoéumlivro?E /
algumtipodetruque?
Surgeumtraçodeimpaciência.
—Sim, éumlivro. Enãotemnenhumtruqueenvolvido. Sóquero quemedescrevaexatamenteoque
vê, nemmais, nemmenos.
Agoravocêcomeçaaficar desconfiado.
—Bem—vocêdiz— , desteânguloaqui, acapadolivroseparececomumparalelogramovermelhoescuro.
—Isso- elediz, animado. —Sim, vocêvêumpedaçovermelhoescurocomaformadeumparalelogra
mo. Oquemais?
—Temumcanto acinzentado debaixo deleeoutralinhafinadamesmacor maisparabaixo. E, sobo
livro, euvejoamesa. —Eleestremece. —Emvoltadela, vejoalgoamarronzadocomlistrasquaseparalelasem
ummarrommaisclaro.
—O ✓
timo—eleagradecepor suacooperação.
Enquanto espera, olhandoparaolivronamesa, vocêsesenteumpouco envergonhado por seucolega
persistenteter conseguidoinduzi-loatal análise. Eleodeixoutãocauteloso, quevocênãotinhamaiscerteza
doqueviurealmenteoudoqueachaqueviu... Emsuaprecaução, vocêcomeçouafalar sobreoqueviuem
termosdesensações, enquanto, umminutoantes, vocêtinhacertezadeter percebidoumlivrosobreumamesa.
Seu devaneio éinterrompido repentinamentepelapresençadeumpsicólogo quelembravagamente
WilhelmWundt.
—Obrigadopor ajudar aconfirmar maisumavezminhateoriadapercepção. Vocêcomprovou—diz
ele—, queolivro queviu não énadamaisqueumaglomerado desensaçõeselementares. Quando estava
tentandoser precisoedizer exatamenteoqueviu, precisoufalar emtermosdepedaçosdecores, enãoobje
tos. Assensaçõesdecoressãoprimárias, etodoobjetovisual podeser reduzidoaelas. Suapercepçãodolivro
éconstruídapor sensações, assimcomoumamoléculaéconstruídapor átomos.
Capítulo 12 A psicologia da Gestalt 289
1De Psychology: The Scienceof Mental Life, de G. A. Miller. Nova York: Harper Sc Row, 1962, p. 103-105. Copyright 1962 por George A. Miller.
Reproduzido com permissão da Harper Sc Row, Publishers, Inc.
290 Historia da psicologia moderna
Mach alegava que apercepção de umobjeto não muda, ainda que modifiquemos nossaorientação em
relação aele. Umamesacontinuaaser umamesaseaolharmosdelado, decimaou dealgumoutro ângulo.
Do mesmo modo, otomcontinuaomesmo emnossapercepção atéquando aformado tempo émodificada;
ou seja, quando éexecutado maislentaou rapidamente.
Christian von Ehrenfels (1859-1932) estudou asideiasdeMach epropôs qualidades deexperiência que
não podemser explicadas, como combinações de elementos sensoriais. Chamou essasqualidades deGestalt
Qualitäten (qualidades de forma), que são percepções baseadas emalgo alémda aglutinação de sensações
individuais. A melodia éuma qualidadedeforma, porquepareceamesmaatéquando transpostaparaoutra
nota. Elaindepende dassensaçõesdequeécomposta. ParaEhrenfels eosseusseguidores, aformaemsi era
umelemento criado pelamenteemoperação sobreoselementossensoriais. Dessemodo, amenteseriadota
dadecapacidadeparacriar formasapartir desensaçõeselementares. Max Wertheimer, umdostrêsprincipais
fundadores dapsicologiadaGestalt, percebeu que, do trabalho deEhrenfels, comquemestudara emPraga,
vinha o maior incentivo parao movimento daGestalt.
WilliamJames, queseopôsàtendênciado elementarismo napsicologia, tambémfoi precursor daesco
ladepsicologiadaGestalt. Jamesconsideravaoselementosdaconsciênciaabstraçõesartificiais. Afirmavaque
aspessoasveemosobjetoscomo umaunidade, enão como pacotesformadosdesensações. Outrosprincipais
fundadores dapsicologia da Gestalt, Kurt Koffka eWolfgang Köhler, tomaramcontato como trabalho de
James quando foramalunosdeStumpf.
Fenomenologia: a b o rd a g e m do
conhecim ento com b a se em uma
Outra influência anterior foi o movimento ocorrido na filosofia ena
d e sc riç ã o imparcial da experiência psicologia alemãs, conhecido como fenomenologia, doutrina baseada na
imediata conform e ela ocorre, e descrição imparcial da experiência imediata na forma como ela ocorre. A
não a n a lisa d a ou reduzida a
elementos.
experiêncianão éanalisadanemreduzidaaelementos ou abstraídadealgu
ma forma artificial. Ela envolve uma experiência praticamente ingênua de
senso comum, enão uma experiência relatadapor umobservador treinado, dotado deorientação ou ten
dênciasistemática.
Muitos anos depois, Köhler escreveu que “Koffka eraumapessoaorgulhosa; nunca o vi commedo de
nada. Parapoucos, eleeraoamigo maisleal. Todos o consideravamgeneroso ejusto” (1942, p. 101).
Em1911, Koffkaaceitou umcargo naUniversity of Giessen, a64 quilômetros deFrankfurt, ondeper
maneceu até 1924. Durante aPrimeiraGuerraMundial, trabalhou emuma clínicapsiquiátrica, tratando de
pacientesafásicosecomdanoscerebrais.
Depois daguerra, percebendo queospsicólogosnorte-americanosestavamtomando conhecimento dos
desenvolvimentos da psicologia da Gestalt na Alemanha, Koffka escreveu um artigo para arevista norte-
-americanaPsychological Bulletin intitulado “Percepção: umaintrodução àteoriadaGestalt” [“Perception: an
introduction to theGestalt-Theorie”] (Koffka, 1922). Nesseartigo, apresentou osconceitosbásicosdapsico
logiadaGestalt, acompanhados dosresultados edasconsequênciasdeváriaspesquisas.
Apesar daimportânciado artigo como aprimeiraexplicação completado movimento daGestalt para
psicólogos norte-americanos, eleparece ter provocado mais danos que benefícios. A palavra percepção,
usada no título, criou umenorme equívoco, dando aimpressão de que ospsicólogos da Gestalt lidavam
exclusivamentecompercepção edequemovimento não eraimportanteparaasoutrasáreasdapsicologia.
Em 1925, Max Wertheimer escreveu que acrença de que apsicologia da Gestalt seocupava somente da
percepção eraum“mal entendido [queera] objetivaehistoricamentefalso, queseespalhou” (apud King,
Wertheimer, Keller eCrochetiere, 1994, p. 1-2). Naverdade, apsicologia daGestalt preocupava-se mais
amplamente com os processos cognitivos, as questões relacionadas ao pensamento, àaprendizagem e
outros aspectos da experiência consciente. Michael Wertheimer explicou o enfoque inicial da Gestalt,
como segue:
Em 1921, Koffka publicou O desenvolvimento da mente [Thegrowth of the mind], umlivro arespeito da
psicologia do desenvolvimento infantil, que teve sucesso na Alemanha enos Estados Unidos. Koffka le
cionou como professor visitantenaCornell University enaUniversity of Wisconsin, e, em1927, foi indi
cado paralecionar naSmith College, emNorthampton, Massachusetts, ondepermaneceu atéamorte, em
1941. Em1935, publicou Princípios dapsicologia Gestalt [Principies of Gestalt psychology] , obradedifícil leitu
ra, que, portanto, não setornou aabordagemdefinitivadapsicologia daGestalt, contrariando asexpecta
tivas do autor.
No entanto, asprovas para sustentar essas acusações intrigantes continuam sendo circunstanciais eforam
contestadaspor seguidoresdeKöhler ehistoriadores (Liick, 1990).
Sejacomo espião, sejacomo umcientistadesamparado por causadaguerra, Köhler passou osseteanos
seguintes estudando o comportamento doschimpanzés. Registrou o trabalho no clássicovolumeA mentali
dadedos macacos [The mentality of theapes] (1917), lançado emsegundaediçãoem1924etraduzidoparaoinglês
eofrancês. Embora, no começo, considerasseinteressanteapesquisacomoschimpanzés, logo secansou de
trabalhar comosanimais, edeclarou: “Dois anos observando macacos todos os dias; qualquer umacabase
transformando emum ‘chimpanzoide’ enão consegue mais perceber facilmente qualquer característica do
animal” (apudAsh, 1995, p. 167).
Em1920, Köhler retornou àAlemanha. Vendeu oschimpanzésparaozoológico deBerlim; no entanto,
por nãosuportaremamudançaclimática, osanimaisnãosobreviverammuito tempo. Doisanosdepois, Köh
ler substituiu Stumpf como professor depsicologia daUniversity of Berlin. A razão maisprovável para essa
honrosaindicação teriasidoapublicação deStatic and stationaryphysical Gestalts (1920), livro bastanteelogia
do emrazão do seu elevado grau deerudição. Nele, Köhler sugerequeateoriadaGestalt consistiaemuma
lei geral danaturezaquepodeser amplamenteaplicadaemtodasasciências.
Na metade da década de 1920, Köhler sedivorciou da esposa ecasou-se comumajovemerica aluna
sueca; depois, cortou contatocomosquatro filhosdoprimeiro casamento. Cercade60anosdepois, asegun
daesposadisseemuma entrevistaque, por princípio, Köhler seopunha ao casamento, vendo-o como uma
“imposição àsualiberdade”, eque não gostavadavidafamiliar. Eleachavaque “todos deveriamser livres”
(apud Ley, 1990, p. 201). Não muito tempo depois, Köhler desenvolveu umtremor nasmãos, que eramais
notado quando estavaaborrecido; assim, todasasmanhãs, seusassistentesdelaboratórioobservavamotremor
dasmãosdeleparaavaliar como estavao seu humor.
No anoletivode1925-1926, Köhler lecionounaHarvard University enaClark University, ondetambém
ensinou osestudantesdepós-graduaçãoadançar tango. Em1929, publicou Psicologia da Gestalt [Gestalt psycho-
logy], uma descrição completado movimento daGestalt.
Deixou aAlemanha nazistaem1935, por causadedivergências como governo. Depois deeleter criti
cado o regime emsuasaulas, uma gangue deassassinosnazistas invadiu aclasse. Asameaças, porém, não o
impediramdecontinuar correndo riscosque, facilmente, oteriam-no levadoàsentençademorte. Motivado
pelademissão dosprofessoresjudeus dasuniversidadesalemãs, escreveu uma cartacorajosacriticando o na-
zismoeenviou-aparaumjornal deBerlim. A tarde, acartafoi publicada, eeleealgunsamigospermanece
N
Constância perceptual
Depois que Wertheimer passou aestudar apercepção do movimento aparente, ospsicólogos da Gestalt co
meçaramasededicar aoutrofenômenoperceptual. Aexperiênciadaconstância perceptual produziuapoio
adicional paraassuasvisões. Por exemplo, quando paramosnafrentedeumajanela, umaimagemretangular
éprojetadananossaretina, masquando paramosdelado, aimagemdaretina
Constância perceptual: qualidade
de integridade ou plenitude da transforma-seemumtrapezoide, embora, éclaro, continuemos aperceber a
experiência perceptual que não se janela no formato retangular. A percepção dajanela permanece constante,
altera m e sm o com a m u da nça dos
f emboraainformação sensorial (aimagemprojetadanaretina) mude.
e le m en tos se n so ria is.
O mesmo ocorre comaconstância do tamanho edo brilho emque os
elementossensoriaismudam, masnão apercepção. Nessescasos, assimcomo no movimento aparente, aex
periência perceptual édotada da qualidade da totalidade ou da integridade não encontrada emnenhuma
parte componente. Assim, existe uma diferença entre o caráter daestimulação sensorial edapercepção em
si. A percepção não podeser explicadaapenascomo umconjunto deelementos ou asomadaspartes.
A percepção é um todo, uma Gestalt, equalquer tentativa de analisá-la ou reduzi-la emelementos a
destruirá.
emborahojeotermojáfaçapartedalinguagemcotidianadapsicologia. Ostermosequivalentesmaiscomuns
seriam“forma”, “formato” e“configuração”.
Naobra Gestalt psychology (1929), Köhler afirmou queapalavraeraempregadadeduasmaneirasnaAle
manha. Umaquedenotaaformaou oformato comopropriedadedosobjetos. Nessesentido, aGestalt refere-
-seàspropriedadesgeraisexpressasemquestõescomoangular ousimétrico edescreveascaracterísticascomo
aformatriangular deumafigurageométricaou oritmo deumamelodia. A segundaformadenotaaunida
deou aentidade concreta quetemcomo atributo umaformaou umformato específico. E, nessesentido, a
palavradiz respeito a, digamos, triângulos, enão ànoção do formato triangular dafigura.
Assim, Gestalt pode ser usada para sereferir aobjetos ou àssuas características formais. Alémdisso, o
termo não serestringeaocampo visual nemmesmo atodo ocampo sensorial, podendo abranger aprendiza-
/
gem, pensamento, emoções ecomportamento (Köhler, 1947). E nesse sentido geral efuncional dapalavra
queospsicólogosdaGestalt tentaramlidar comtodaaáreadeatuação dapsicologia.
Oo oo oo
oo oo oo
oo oo oo
oo oo oo
oo oo oo (c)
(a)
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• • • • • •
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(b)
(d)
FIGURA12.3 E x e m p l o s de o r g a n iz a ç ã o perceptual.
5. Simplicidade. Há umatendência devermos afigura como tendo boa qualidadesob ascondições deestí
mulos; apsicologia da Gestalt chama essacaracterística deprãgnanz ou boa forma. Uma boa Gestalt é
simétrica, simples eestável, enão podeser maissimplesnemmais organizada. Os quadrados na Figura
12.1(c) sãoboas Gestalts, porque são claramentepercebidos como completoseorganizados.
6. Figura/fundo. Háumatendênciadeorganizar aspercepçõesdo objeto (afigura) queestásendovisto edo
fundo (abase) sobreo qual eleaparece. A figurapareceser maissubstancial edestacar-sedo seu fundo.
Na Figura 12.1(d), afiguraeo fundo sãoreversíveis; épossível ver doisrostosou umvaso, dependendo
decomo apercepção éorganizada.
Esses princípios de organização não dependemdos processos mentais superiores nemde experiências
passadas, pois estão nos próprios estímulos. Wertheimer chamou-os de fatores periféricos, reconhecendo
tambémque osfatores centrais dentro do organismo influenciamapercepção. Por exemplo, sabe-sequeos
processosmentais superiores defamiliaridade edeatitude afetamapercepção; no entanto, emgeral, ospsi
cólogos daGestalt concentram-semais nos fatoresperiféricos daorganização perceptual do que nos efeitos
daaprendizagemou daexperiência.
Texto o rig in a l
Trecho sobre a psicologia da Gestalt, extraído de The mentalityofapes (1927), de Wolfgang Kohler2
0
c h im p a n z é não re ceb eu da vida a p e n a s a lg u m a aptidão e s p e c ia l para a ju d á -lo a a lc a n ç a r o s objetos c o l o c a d o s no alto, e m p i
lh a n d o m a te ria is de c o n stru ç ã o ; ao contrário, ele é c a p a z de realizar muito por e sf o r ç o próprio, q u a n d o a s c ir c u n s t â n c ia s a s s i m
exigirem e q u a n d o h o u v e r m aterial disponível.
0 s e r h u m a n o adulto tende a não p e rc e b e r a s re ais d ific u ld a d e s do c h im p a n z é diante d e s s a c o n stru ç ã o , por a s s u m i r que o
fato de a c r e s c e n t a r um s e g u n d o m aterial de c o n s t r u ç ã o ao prim eiro é a p e n a s um a repetição do ato de p o s ic io n a r o prim eiro no ch ão
(debaixo do objetivo); que, q u a n d o a prim eira caixa está no chão, é c o m o s e a s u a su p e rfíc ie f o s s e do m e s m o nível do s o lo e, p o r
tanto, o único fator n ovo n e s s e p r o c e s s o de c o n s t r u ç ã o se ria o le v an tam e n to efetivo do material. A s s im , a s ú n ic a s d ú v id a s s e r ia m
se o s a n im a is re alizam o rd e n a d a m e n t e o s e u trabalho, se m a n ip u la m a s c a ix a s d e sa je ita d a m e n te ou de outra forma. [...]
No entanto, a e xistên cia de outra d ificu ld a d e e sp e c ífic a s e tornaria óbvia ao s e o b s e r v a r m a is d e ta lh a d a m e n te a prim eira
tentativa de S u ltã o durante a re a liz a ç ã o d e s s a tarefa: q u a n d o S u ltã o [c o n sid e ra d o o c h im p a n z é m a is inteligente] a p a n h a e levanta
2Trecho extraído de The mentality of apes, de W. Köhler, Londres: Routledge & Kegan Paul, 1927, p. 135-172.
Capítulo 12 A psicologia da Gestalt 301
pela prim eira vez a s e g u n d a caixa, b a la n ç a n d o - a e s t ra n h a m e n te s o b r e a primeira, m a s não a põe em cim a dela. Na s e g u n d a vez,
c o l o c a - a em cim a da que está no chão, c o m o lado m a io r vira d o no se n tid o vertical, a p a re n te m e n te s e m q u a lq u e r h esitação, m a s
a c o n s t r u ç ã o ainda fica muito baixa, já que o objetivo foi pe ndurado, s e m querer, alto dem ais.
A e xperiê ncia continua im ediatam ente, com o objetivo p e n d u ra d o a g o ra a a p ro x im a d a m e n te d o is m e t r o s da lateral, em um
ponto m a is baixo do teto, e com a c o n s t r u ç ã o de S u ltã o m antida no m e s m o lugar. Entretanto, o f r a c a s s o de S u ltã o p a re c e p ro v o c a r
um efeito p o ste rio r pe rturbador: por muito te m p o ele ignora a s caixas, diferentem ente d a s o u tra s vezes, em que a c h a v a um a nova
so lu ç ã o , em ge ra l repetindo p ro n ta m e n te a ação. [...]
M a i s tarde, durante a experiência, um c u r io s o incidente ocorre: o a n im a l volta a a d o ta r o s m é t o d o s a ntigos, tenta p u x a r o
tra ta d o r p e la s m ã o s para c o n d u z i- l o até o objetivo; s e n d o repelido, tenta fazer o m e s m o co m igo , e n o v a m e n t e é rejeitado. Em
se g u id a , o r ie n t a m o s o tratador para que, c a s o S u ltã o tente p u x á -lo novam ente, ele finja ceder, m as, a s s i m que o a n im a l s u b ir n o s
s e u s o m b ro s, deve s e a joelhar e ficar bem baixo.
L o g o i s s o re alm en te acontece: d e p o is de a r r a s t a r o tratador até ficar debaixo do objetivo, S u ltã o s o b e em s e u s o m b r o s e o
h o m e m ra p id a m e n te dobra o s joe lh os. 0 a n im a l sai de cim a dele, r e s m u n g a n d o , s e g u r a - o co m a s d u a s m ã o s p e lo s quadris, e tenta
c o m toda a força e m p u r r á - lo para cima. U m a form a s u rp r e e n d e n t e de tentar a p rim o ra r o in stru m e n to hum ano!
A g o r a que S u lt ã o não tom a m a is c o n h e c im e n to d a s caixas, já que d e s c o b r iu a s o l u ç ã o sozinho, p a re c e ra z o á v e l r e m o v e r o
m o tivo do s e u f r a c a s s o . C o lo q u e i a s c a ix a s um a s o b r e a outra para Sultão, de baixo do objetivo, e xa ta m e n te c o m o ele fizera da
prim eira vez, e deixei-o p e g a r o objetivo.
Q uanto ao e sf o r ç o de S u lt ã o em e m p u rra r o tratador, tentando endireitá-lo, desejo log o de início refutar a a c u s a ç ã o de e q u í
v o c o na interpretação da "leitura do animal"; tra ta -se a p e n a s de um a d e s c r iç ã o do procedim ento, e não há n e n h u m a p o s sib ilid a d e
de equívoco. N o entanto, a fim de evitar q u a lq u e r su sp e ita , por s e tratar de um c a s o iso la d o (suspeita, de q u a lq u e r modo, injustifi
cável, c o n s id e r a n d o que S u lt ã o tenta utilizar tanto o tratador c o m o a mim, não a p e n a s uma, m a s v á r ia s vezes, c o m o um apoio), devo
a c r e s c e n t a r r e s u m id a m e n t e a d e s c r ici ã o de o u tro s c a s o s s e m e lh a n t e s :
S u lt ã o não c o n s e g u e r e s o l v e r o p r o b le m a q u a n d o o objetivo e st á do lad o de fora e a lé m do s e u a lc a n c e ; eu m e e n c o n tro
p e rto dele, de n tro da jaula. D e p o i s de to d o tipo de tentativa f r a c a s s a d a , o a n i m a l a p r o x i m a - s e de mim, s e g u r a o m e u braço,
a r r a s t a - m e em d ir e ç ã o à s g r a d e s , p u x a n d o , ao m e s m o tem po, o m e u b ra ç o c o m toda a fo rç a na s u a direção, e, em s e g u id a ,
e m p u r r a o m e u b ra ç o p e l a s g r a d e s , na d ir e ç ã o do objetivo. C o m o eu n ã o p e g o o objetivo, vai em d ir e ç ã o ao tratador, e tenta
fa zer o m e s m o c o m ele.
M a is tarde, ele repete o procedim ento, a p e n a s com um a diferença: primeiro, ele me c h a m a c o m lam ú rias, c o m o s e e s t iv e s s e
su p lic a n d o , já que d e s s a vez e stou do lado de fora. N e s s e ca so, a s s i m c o m o no primeiro, ofereci tanta re sistê n c ia que o a n im a l
q u a s e não c o n s e g u iu su p e rá -la , e não m e la rg o u até que a m inh a mão, efetivamente, a l c a n ç a s s e o objetivo, m a s não lhe fiz o favor
(para o bem d a s fu tu ra s e x p e riê n c ia s) de levar o objetivo até ele.
D e vo m e n c io n a r ainda que, em um dia quente, o s a n im a is tiveram de e s p e r a r m a is tem po que o n o r m a l pela tigela d'água, de
m o d o que, por fim, e le s s im p le s m e n t e tentaram a g a r r a r a s m ã os, o s p é s ou o s j o e lh o s do tratador e e m p u r r á - lo com toda força em
d ire ç ã o à porta, a trá s da qual c o s t u m a v a ficar g u a r d a d a a jarra d'água. D u ra n te a l g u m tem po, e s s e c o m p o r t a m e n t o t o r n o u - s e
rotineiro; se o h o m e m tentava a lim e n t á - lo s com a s b a n a n a s, C hica c a lm a m e n t e a s tirava da m ã o do tratador e a s c o lo c a v a de lado,
e o e m p u rra v a na direção da porta (Chica e sta v a s e m p r e c o m sede).
Talvez seja um e q u ív o c o p e n s a r que o s c h im p a n z é s não te n h a m n o ç ã o ou que se ja m e s t ú p id o s em re la ç ã o a e s s a s qu e stõe s.
D e v o a c r e s c e n t a r que o s a n i m a i s p e r c e b e m o c o r p o h u m a n o c o m certa facilidade, q u a n d o v e s t id o c o m r o u p a s c o m u n s , c o m o
c a m is a e c a l ç a s e s e m q u a lq u e r tipo de c a sa c o . S e a lg u m a c o isa o s deixa intrigados, e le s in v e stig a m im ediatam ente, e q u a lq u e r
g ra n d e m u d a n ç a na m a n e ira de vestir ou na a p a rê n c ia (por exemplo, u m a barba) faz com que G rande e C hica realizem p r o n t a m e n
te um a in v e stig a ç ã o m inu ciosa .
Comentários
ParaKöhler, essesestudoseoutrossimilaresproporcionavamevidênciasdoinsight, aespontâneaeaparente
apreensão ou compreensão das relações. Sultão, finalmente, obteve o insight do problema depois de várias
tentativas, assimilando asrelaçõesentreascaixaseabananapenduradasobreasuacabeça. A palavraemale
mão queKöhler usouparadescrever essefenômeno foi Einsicht, traduzidaparaoinglêscomo insight ou com
preensão. “Não temnenhumcondicionamento acontecendo”, ele escreveu;
Insight: compreensão ou
percepção imediata.
aocontrário, depoisdedeterminado ponto, oanimal entendeoqueestáocor
rendo, e, então, o comportamento resultante é, logicamente, perfeito (apud
Ley, 1990, p. 182). Emoutro exemplodedescobertasimultâneaeindependente, opsicólogonorte-americano
deanimais Robert Yerkes encontrou evidências, emexperiências comorangotangos, parasustentar o con
ceito de insight, eadenominou “aprendizagemideacional”. Na Figura 12.4, aseguir, vemos umchimpanzé
tentando alcançar umpedaço defrutacomvarasdetamanhos diferentes.
Na década de 1930, Ivan Pavlov repetiu algumas das pesquisas de Köhler, emque o macaco precisava
colocar uma caixasobreaoutraparaalcançar acomidasuspensano teto. Constatou queosanimaislevavam
Capítulo 12 A psicologia da Gestalt 303
diversos meses para resolver o problema. Questionou ahipótese de Köhler de que os macacos obtinhamo
insight da situação e chamou de “caótico” o comportamento dos animais na solução do problema. Pavlov
dissequeasrespostaspor eleobtidasnão eramtão diferentesdaquelasdaaprendizagempor ensaio-e-erro da
pesquisadeThorndike (Windholz, 1997).
Em1974, otratador doschimpanzésdeKöhler, Manuel Gonzalezy Garcia, descreveuapesquisaemuma
entrevista. Contou diversashistóriassobreosanimais, eprincipalmentedeSultão, quecostumavaajudá-lo a
alimentar osoutrosanimais. Gonzalez davaaSultão cachosdebananasparasegurar. “Medianteumaordem,
‘duasparacada’, Sultão caminhavapelorecinto edistribuíaduasbananasparacadaumdosdemaismacacos”
(apudLey, 1990, p. 12-13).
Umdia, Sultão viu o tratador pintando umaporta. Quando o homemsaiu, o animal pegou o pincel e
começouaimitar ocomportamento queobservara. Emoutraocasião, Claus, ofilho caçuladeKöhler, sentou-
-seemfrente dajaula, tentando semêxito empurrar umabananaentreasgrades. Sultão, dentro dagaiolae
aparentemente semfome, girou abanana 90 graus, demodo queafruta pudessepassar entre asbarras, en
quanto Köhler diziaaseufilho queSultão eramaisesperto queele.
Certa vez, Sultão, de algummodo, encorajou Claus asubir bemalto emuma árvore, e o menino se
recusavaadescer, apesar dasordensseverasdeseu pai. Quando Clausfinalmente desceu, Köhler o agarrou,
abaixou seusshorts, ebateu nele. Logo depois disso, Sultão agarrou Köhler eabaixou suascalças. Cerca de
70anos depois, Ao contar essahistóriaparaumentrevistador, osolhos deClausbrilharamdeprazer.
Köhler acreditavaqueo insight eashabilidadespararesolver problemas demonstradospeloschimpanzés
eramdiferentes daaprendizagempor ensaio-e-erro descritapor Thorndike. Köhler criticava o trabalho de
Thorndike, alegando queascondiçõesexperimentaiseramartificiaisepermitiamademonstração apenasde
comportamentos aleatórios dosanimais. Eafirmou queosgatosdascaixas-problema deThorndike não ex
ploravamtodo o mecanismo que os libertava (todos os elementos pertencentes atoda asituação) e, assim,
apresentavamapenas respostasdeensaio-e-erro.
Do mesmo modo, umanimal no labirinto não conseguever todo opadrão ou oformato, masapenas o
corredor queencontra. Portanto, osanimaisnão têmmuitaopçãoanãoser arriscar umcaminhopor vez. Na
304 Historia da psicologia moderna
0 isomorfismo
Satisfeitospor estabelecer queossereshumanospercebemunidadesorganizadasenão conjuntos deelemen
tossensoriais, ospsicólogos daGestalt mudaramo enfoqueparaosmecanismos cerebraisenvolvidosnaper
cepção. Tentaramdesenvolver uma teoriasobre correlatos neurológicos subjacentes das Gestalts percebidas.
Descreviamo córtex cerebral como umsistemadinâmico, emqueoselementosativosinteragememdeter
minado momento. Essaideiacontradiz o conceito desemelhançaentreohomemeamáquina, quecompara
aatividade neural auma central telefônica, conectando mecanicamente asligações sensoriais recebidas de
Capítulo 12 A psicologia da Gestalt 305
acordo comosprincípios da associação. Nessa visão associacionista, o cérebro opera de forma passiva eé
incapaz deorganizar ou modificar ativamenteoselementos sensoriaisrecebidos. Essaúltimateoriatambém
implicaacorrespondência diretaentreapercepção eo seu equivalenteneurológico.
Combaseemsuapesquisa sobre o movimento aparente, Wertheimer sugeriu que aatividade cerebral
é umprocesso integral de configuração. Como o movimento aparente eo real são percebidos de forma
idêntica, os respectivos processos corticais tambémdevemser similares, ou seja, devemocorrer processos
cerebraiscorrespondentes.
Emoutras palavras, deve haver uma correspondência entre aexperiência consciente ou psicológica ea
cerebral subjacente, responsável pelo fenômeno phi. Essaideia édenominada isomorfismo, princípiojá
Isomorfismo: doutrina que afirma
aceito nabiologiaenaquímica. OspsicólogosdaGestalt compararamaper
existir uma co rre sp o n d ê n c ia entre cepção aummapa, no sentido deser idêntica (“iso”) naformaou no formato
a experiência p sico ló g ic a ou (“morfo”) daquilo que representa, semser uma cópia literal. No entanto, a
con scien te e a experiência cerebral
percepção não éumguiaconfiável paraperceber o mundo real.
latente.
Kohler aprofundou aposição deWertheimer notrabalho Static and statio
nary physical gestalts (1920), emqueafirmou que osprocessos corticais secomportamdemodo semelhantea
campos deforça. Sugeriu que, tal como o comportamento deumcampo deforçaeletromagnética emvolta
de umímã, os campos de atividade neurais são estabelecidos por processos eletromecânicos do cérebro em
respostaaosimpulsossensoriais.
A biografia de Lewin
Kurt Lewin (Figura 12.5) nasceuemMogilno, Alemanha, eestudou nasuniversidadesdeFriburgo, Munique
eBerlim. Recebeu o Ph.D. empsicologiadeCarl Stumpf, na University of Berlin, em1914, ondetambém
estudou matemáticaefísica. DuranteaPrimeiraGuerraMundial, serviu no exército alemão efoi ferido em
combate, recebendo amedalhadaCruz deFerro, daAlemanha. Retornou àUniversity of Berlin, ededicou-
-se comtanto entusiasmo àpesquisa da Gestalt arespeito de associação emotivação, que, váriasvezes, foi
considerado colegadostrêsfundadoresdaGestalt. Apresentou umaversão dateoriadecampo aospsicólogos
norte-americanos no International Congress of Psycology, realizado em1929, naYale.
Desse modo, Lewinjá eraconhecido nos Estados Unidos quando chegou àStanford, em 1932, como
professor visitante. No ano seguinte, decidiu deixar aAlemanha por causa da ameaça nazista. Escreveu a
Köhler, dizendo: “Agora acredito que não há alternativapara mimanão ser emigrar, mesmo que aminha
vida sejadespedaçada” (apud Benjamin, 1993, p. 158, 160).3Passou dois anos na Cornell University e, em
seguida, seguiu paraaUniversity of Iowa. Suapesquisaarespeito dapsicologiasocial infantil lherendeu um
conviteparadesenvolver onovo Centro dePesquisaparaaDinâmicadeGrupo (Research Center for Group
Dynamics) no Massachusetts Institute of Technology. Embora tenha falecido poucos anos após aceitar essa
posição, seu programafoi tão eficaz, que o centro depesquisa, agoralocalizado naUniversity of Michigan,
permaneceativo atéhoje.
0 espaço vital
Durante seus30 anos decarreira, Lewin (1936, 1939) dedicou-seàáreaamplamente definida damotivação
humana, descrevendo o comportamento humano natotalidadedeseu contexto físico esocial. Seu conceito
geral depsicologiaeraprático, concentradonasquestõessociaisqueafetamanossavidapessoal eprofissional.
Buscava humanizar asfábricas da época, de modo que o trabalho setornasse mais uma fonte de satisfação
pessoal do queapenas umaforma deganhar avida.
O conhecimento arespeito dateoria decampo dafísicafez Lewin imaginar queasatividadespsico
lógicas deumindivíduo tambémocorrememuma espéciedecampo psicológico, chamado espaço vital,
que compreende todos osacontecimentos do passado, do presente edo futuro que nos afetam. Do pon
to devista psicológico, cada umdessesfatos determina algumtipo de comportamento emuma situação
específica. Dessaforma, o espaço vital consiste na necessidade deaspessoas interagiremcomo ambien
te psicológico.
O espaço vital exibediversosgrausdedesenvolvimento emrazão daquantidadeedo tipo deexperiên
cia acumulados. Como o bebê tempouca experiência, possui poucas regiões diferenciadas emseu espaço
vital. Umadulto extremamenteculto esofisticado édotado deumespaço vital complexo ebemdiferencia
do, exibindo grandevariedadedeexperiências.
Lewin tentou criar ummodelo matemático pararepresentar esseconceito teórico deprocessospsicoló
gicos. Emrazão do interesseemumúnico indivíduo (umúnico caso) enão emgruposnemno desempenho
médio, aanáliseestatísticanão tinhamuito valor paraessefim. Eleescolheu atopologia, umaformadegeo
metria, paracriar umdiagramadoespaçovital, mostrando osobjetivospossíveisdeumapessoaeoscaminhos
queconduziamaessasmetas emqualquer momento determinado.
No mapatopológico, usadoparacriar odiagramadetodasasformasdecomportamento edefenômenos
psicológicos, Lewin usavasetas(vetores) pararepresentar adireção do movimento do indivíduo embuscada
meta. Acrescentouanoção depesoaessasopções (valências), parareferir-seaovalor positivoou negativo dos
objetos dentro do espaço vital. Os objetos atraentes ou que satisfizessemàsnecessidades humanas recebiam
alguém comentou estar surpreso com a habilidade aparente do garçom em lembrar-se do pedido de cada um
sem anotar nada. Algum tempo depois de pagar a conta, Lewin chamou o garçom e perguntou-lhe o que eles
haviam consumido. O garçom, indignado, respondeu que não se lembrava mais. (Ash, 1995, p. 271)
D epois que os clientes pagavam a conta, a tarefa d o garçom term in av a c a tensão desaparecia. Ele não
precisava m ais se lem brar do que cada um tin h a pedido.
A psicologia social
Sua ex trao rd in ária realização na psicologia social foi a criação da dinâm ica de g ru p o , a aplicação dos con cei
tos psicológicos aos com portam entos individual c coletivo. Assim com o o indivíduo c seu am biente form am
u m cam po psicológico, o g ru p o c seu am biente form am o cam po social. O s co m p o rtam en to s sociais resultam
de entidades sociais coexistentes, com o subgrupos, m em bros de g ru p o , barreiras c canais de com unicação. O
co m p o rtam en to coletivo a q ualquer m o m en to e u m a função da situação total do cam po.
L ew in conduziu pesquisas sobre o co m p o rtam en to em várias situações sociais. U m a experiência que se
to rn o u clássica reu nia tipos de liderança autoritários, dem ocráticos c neutros em u m g ru p o de garotos (Lew in,
Lippitt c W h itc, 1939). O s resultados m ostraram que os garotos d o g ru p o au to ritário to rn av am -se b em agres
sivos, en q u an to os do g ru p o dem ocrático eram gentis uns com os o u tro s c com pletavam mais tarefas que os
dos dem ais grupos. A pesquisa de L ew in deu início a novas áreas da pesquisa social e im pulsionou o cresci
m en to da psicologia social.
A lém disso, L ew in enfatizou a pesquisa da ação social, o estudo de problem as sociais relevantes visando a
intro d u ção dc m udanças na sociedade. R e fle tin d o sua preocupação pessoal com questões raciais, conduziu
estudos cm com unidades sobre m oradia integrada, o p o rtu n id ad es iguais dc em p reg o c desenvolvim ento e
prevenção do preconceito na infância. Seu trabalho transform ou essas questões polêm icas cm estudos dc pes
quisa controlados, aplicando o rigor do m étodo experim en tal sem a artificialidade d o laboratório académico.
L ew in prom oveu o tre in a m e n to da sensibilidade dos educadores e dos em presários para reduzir o c o n
flito e n tre grupos c desenvolver o potencial individual. O s grupos dc trein am en to da sensibilidade (grupos-T )
foram precursores dos grupos de en co n tro , que sc to rn aram m u ito populares nas décadas dc 1960 c 1970.
Em geral, os program as e x p e rim en tais c as descobertas das pesquisas de L ew in são m ais accitos pelos
psicólogos d o que m u ito s dc seus conceitos teóricos. Sua in flu ên cia na psicologia in fan til c social foi bas
ta n te considerável, c m uitos dc seus conceitos c técnicas ain d a são usados nos estudos da p ersonalidade c
da m otivação.
QUESTÕES PARADISCUSSAO
3.Sevocê visse umlivro sobre amesa edissesse: “Estou vendo umlivro sobre amesa”, que erro estaria
cometendo, deacordo comTitchener?
4. Descrevaosantecedenteshistóricos dapsicologiadaGestalt.
5. ExpliqueasdiferençasentrearevoltadaGestalt eadosbehavioristascontraapsicologiawundtiana.
6. Como o Zeitgeist nafísicamudou no final do séculoXIX?Como essamudançainfluenciou apsicologia
daGestalt?
7. O queéofenómenophi?Por queapsicologiawundtiana não conseguiaexplicá-lo?
8. Por quealgumaspessoas, erroneamente, acreditavamqueapsicologia daGestalt sededicavasomente à
percepção?
9. Descrevaalgunsprincípiosdaorganização perceptual.
10. De queformaosestudosdaconstânciaperceptual sustentamoponto devistadaGestalt?
11. Por queapalavra Gestalt provocou problemasparao movimento?
12. Dê umexemplo dapesquisadeKöhler sobreinsight nailhadeTenerife.
13. Como aaprendizagempelo insight diferedaaprendizagempor tentativa-e-erro, descritapor Thorndike?
14. Quais fatoresimpediramaaceitação dapsicologiadaGestalt nosEstados Unidos?
15. QuefatoressãousadosnascríticascontraapsicologiadaGestalt?
16. Quais foramosargumentos usadospelapsicologiadaGestalt paracriticar obehaviorismo?
17. Descrevaateoria decampo deLewin eexpliqueainfluênciadafísicanaformulação dessateoria.
18. De quemodo ateoria decampo lidacomamotivação ecomapsicologiasocial?O queéapesquisada
ação social?
19. De quemaneiraapsicologiadaGestalt afetou apsicologiacomo umtodo?